domingo, 29 de dezembro de 2019

477. MÃE



Sei que um dia vou partir
Novos rumos e caminhos vou seguir
Mas a você não vou esquecer.

O seu rosto, sua ternura
Em nenhum lugar
Beleza igual vou encontrar
O amanhecer sobre o mar
Não perturba a luz do seu olhar
E a rosa não é mais macia
Que os carinhos de sua mão.

Você me ensinou a sentir, a sonhar
Me ensinou o valor da palavra irmão
E fez bater meu coração.

Pelos caminhos que for
Nunca vou me esquecer de lembrar
Que você foi quem primeiro me amou
Você me fez ser o que sou
Você é só uma, você é única
Você, MÃE, é a dona do meu coração.
  
                Adhemar de Aguiar Rego
      Ano  de 1977
Esta poesia foi escrita para a mãe, pelo meu filho primogênito, um ano antes de falecer, aos dezoito anos de idade, vitima de um câncer ósseo extremamente agressivo. Dele o Diretor do Instituto Guy de Fontgalland, aqui do Rio de Janeiro, no sermão fúnebre da missa dos funerais que o colégio celebrou, disse: "Jamais esqueceremos desse jovem." Adhemar foi um jovem encantador, física e mentalmente. Vivia a vida intensa e sadiamente, rodeado de amigos e amigas, até que o câncer o abateu corporalmente. Suportou a doença heroicamente. Eterna e doída saudade, meu filho querido!
Edgardo

domingo, 22 de dezembro de 2019

476. A Festa do Natal



Livros respeitáveis me revelam que Einstein afirmou: “A realidade é uma imaginação, e persistente imaginação.” Não tenho dificuldade alguma de admiti-lo como verídico, porque me parece dedução lógica da ideia que Einstein formava da realidade e do valor que ele atribuía ao conhecimento humano.

Einstein pensava que a realidade nada mais é que um campo energético em transformação. Tudo é energia. O espaço é energia. O vácuo é energia, E paradoxalmente a massa é energia.  Mera suposição, a mais provável realidade, opinião que pode ser comprovada por mentes competentes através de experiências, mas nada mais é que uma muito judiciosa opinião, a mais viável.

Esse mundo maravilhoso geográfico, social, familiar, econômico, político internacional, histórico, universal, todo esse mundo, seria, pois, uma organização mental da multiplicidade de construções mentais, imaginações individuais de cada homem existente.  O indivíduo humano é que é referência de todas as coisas, confere sentido a cada, coisa, concebe cada coisa segundo sua capacidade perceptiva. Cria-as. O pensamento de Einstein coincide com o de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”, e com o de Sartre ,“O homem se constroi”, com o que Kant também formulou como revolução do pensamento filosófico, conhecemos tão somente o fenômeno.  

A festa de Natal é, portanto, a festa da Vida, a festa da Família, a fábrica das pessoas, como a reconhecia Virginia Satir, que, desde milênios se reúne nessa noite mais longa do ano no hemisfério norte, a noite do nascimento do sol, a noite do início de seu retorno no movimento elíptico em torno da Terra, para comemorar, o fabuloso espetáculo de fatos, cenas, ocorrências, sentimentos, alegrias e tristezas, sorrisos e lágrimas, sensações e pensamentos, luzes, cores, sons, odores e sabores, aconchego e repulsa, acordos e guerras, progresso e retrocesso, que é a Vida.

É a festa do nascimento do Sol, da religação da Luz, do renascimento da Vida, e, na expressão da fé cristã, a troca da roupagem terrena corruptível do corpo individual, pela roupagem incorruptível do corpo celeste místico de Cristo! É a festa anual de celebração do início da construção do Homem Novo, do nascimento do Homem imortal e feliz para toda a eternidade, sonho multimilenar da Humanidade na epopeia babilônica de Gilgamesh, que entendidos interpretam como a mais vigorosa expressão da incessante e eterna insatisfação, a eterna necessidade, a instigar o indivíduo Humano, a Vida: “ Jamais encontrarás o que procuras.”

O Homem está em perpétua construção, perpétua transformação, perpétua iluminação, perpétuo nascimento. A Humanidade está em perpétuo Natal! E o nascimento da Humanidade é o nascimento de tudo, é a Vida! Natal é a celebração da Vida! O Natal é a Festa da Vida!
          

  


sábado, 14 de dezembro de 2019

475. O Futuro do Mercosul



A cidade grega foi uma sociedade fantástica. Num almoço mensal da AAFBB, há poucos anos, em que tive o privilégio de me manifestar na presença de nossa ilustre liderança, o colega Sasseron, em razão de minha argumentação, que se baseava nesse inconteste fato histórico, me contestou alegando a existência do trabalho escravo naquela estupenda sociedade.

Indiscutivelmente a cidade grega era uma civilização muito mais avançada do que todas as que antes existiram e que então existiam. Produto humano, todavia, não podia ser destituído de uma das características dessa produção, que é apresentar-se permanentemente inacabada, em estado de gestação, de continuada transformação para melhor ou para pior.

A cidade grega era a sociedade do cidadão grego. E o cidadão grego era o homem nela nascido, educado e domiciliado que a prezava tanto que admitia contribuir para o pagamento de sua manutenção e fazer a guerra quando dela necessitasse a cidade.

O cidadão grego era o homem rico, dono de latifúndios, porque naqueles tempos a riqueza consistia na posse de terra. O homem grego não estava ocupado no trabalho corporal. O esforço corporal era produzido pelos animais e pelos escravos, seres estes comparáveis aos animais.

O cidadão grego não era, todavia, uma pessoa ociosa. Ele estava ocupado na realização do cidadão ideal, o homem de mente sã num corpo são. Ele se exercitava nos exercícios atléticos, na arte da guerra e no trabalho da cultura, a saber, o estudo das ciências, na produção de poesias, de peças teatrais, e da música. O comércio e a própria produção de palácios e templos, de esculturas e pintura, trabalhos braçais e manuais, não constituíam ocupação de homens ociosos, homens ricos, donos de terra, cidadão grego. Eram ocupação de homens livres, mas não do cidadão grego.

Os cidadãos gregos dedicavam-se, com muito esmero, ao estudo da dialética e da oratória, que lhes eram ensinadas pelos filósofos, os sofistas. Estes eram menosprezados pelos grandes sábios, os grandes filósofos, como Sócrates, Platão e Aristóteles. Os sofistas eram filósofos céticos que descriam da capacidade de o indivíduo humano obter a Verdade, o conhecimento certo, o conhecimento único e universal de cada coisa. Eles admitiam que o conhecimento humano jamais passaria de uma opinião individual, própria, subjetiva das coisas. O importante, pois, era que o indivíduo possuísse uma opinião interessante e altamente proveitosa dos assuntos sob consideração, e soubesse expô-la com poderosa, perspicaz e convincente dialética. Os sofistas eram os professores dos cidadãos gregos, que a cada quinzena se esmeravam na utilização da oratória para convencer os parceiros nas reuniões na ágora, onde debatiam os assuntos de interesse da Cidade, formulavam as leis e as promulgavam. Trabalhar para a cidade, colaborar com o deus da cidade para a sua perenidade, bem-estar e glória, descobrir os planos concebidos para a cidade e realiza-los era a única ocupação reservada para o cidadão grego!

Como se vê, o povo grego era o povo mais evoluído daqueles tempos, os últimos séculos da era pré-cristã. Lançou a semente da civilização atual, a civilização da liberdade, da dignidade da pessoa humana, da igualdade, da justiça, da convivência racional, do Estado de direito, do conhecimento, do progresso, do bem-estar social e do patriotismo.

Nada obstante tudo isso, as cidades gregas não prevaleceram. Alexandre, da Macedônia, educado por Aristóteles, um dos três maiores sábios da Grécia, forma um exército capaz de vencer as tropas gregas e impõe outro destino à Humanidade.

Sob a influência da recordação desse fato histórico é que minha mente repassa tantos episódios de minha quase centenária existência: final da hegemonia inglesa, ascensão norte-americana, tentativa de supremacia alemã e japonesa, segunda guerra mundial, guerra fria russa e norte-americana, supremacia norte-americana, supremacia norte-americana e chinesa, dispersão do poderio bélico nuclear.

Um fato me parece indiscutível, as duas áreas geográficas desnuclearizadas, a América Latina e o Continente Africano não têm a menor chance de decidir o próximo passo da História. Pacificamente, a direção imediata da História está sendo decidida pelos Estados Unidos e China. Belicamente, o primeiro passo da História será dado por qualquer das nações nuclearizadas, entre as quais avultam como mais fortes candidatas, no momento, Coreia do Norte, Israel, Estados Unidos e Irã.

Não tenho informação sobre o que restaria da Terra, depois da ocorrência de uma conflagração atômica mundial. Creio que a normalização da vida  e da sociedade humana só ocorreria passados séculos. Aí, então, África e América Latina surgem como candidatos a palcos da reconstrução da História... A vida é um acidente frágil e raro, mas persistente...

A aceleração dos passos normais do progresso do Mercosul está, na minha opinião, fortemente freada por sua posição geográfica. Entendo o que se passava pela mente do Presidente Nestor Jost, quando em fins de 1969 me levou com ele à África (África do Sul, Moçambique e Angola), mercados próximos, numa tentativa de incrementar o fluxo de comércio próximo e confiável entre o Brasil e a África.... Persistente sonho de certas lideranças brasileiras, com fortes obstruções, sobretudo sociais.

E ainda exigiria concomitante e extraorninário desenvolvimento científico, técnico e econômico brasileiro.  


sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

474. O Segredo da Dinamarca


Em 2012 a jornalista inglesa Helen Russell mudou-se com o marido, que obtivera emprego lá, para a Dinamarca que, no ano anterior fora classificada como a nação mais feliz do Mundo pela ONU.

Conceituada jornalista, correspondente do The Guardian e com coluna no The Telegraph, dedicou-se a descobrir a razão por que a Dinamarca era o país mais feliz do mundo. E revelou a sua descoberta, no livro que publicou em 2015, “O Segredo da Dinamarca”, um dos livros mais vendidos na Inglaterra.

Listou 10 motivos, entre eles, a confiabilidade do cidadão dinamarquês: a pessoa que está a seu lado, você pode não conhecê-la, mas você pode confiar nela; ela não lhe fará nenhum mal; se encetar algum relacionamento com você, é certamente um relacionamento benéfico. Você vive com sensação de segurança.

Outro motivo é a igualdade de condição econômica, porque o imposto de renda progressivo (atinge até 51% das rendas mais altas) faz as remunerações mais altas apresentarem pouca diferença com relação às mais baixas.

Uma terceira razão é a proteção do Estado, que paga toda a formação que o cidadão desejar (paga até 80% da renda do cidadão que deseja estudar para mudar de profissão), paga a previdência social para os cidadãos inabilitados por doença ou acidente e proporciona o mais moderno tratamento médico-hospitalar para os doentes.

O cidadão dinamarquês ama o seu Estado, aprecia pagar a enorme carga tributária que paga. e se sente feliz. Vive, no entanto, em um país de clima terrivelmente adverso (seis meses enfurnado em casa, ao abrigo do frio do inverno de  -22º, país reduzido a duas produções naturais, pescado num mar, metade do ano, e couro de marta). Até aqui o texto redigido por minha mulher, em suas mensagens entre amigos no chat telefônico.

Permito-me acrescer mais um motivo, retirado da leitura do livro, o resumo da sensação experimentada na sua leitura. Vivenciei a emoção de conhecer um povo que valoriza a sua sociedade, que percebe que o Estado funciona para proporcionar-lhe uma Vida Boa, e entende que isso só pode viabilizar-se se ele retribuir com trabalho responsável e  relacionamento respeitoso que contribuam para essa vida boa. Evita que sua convivência inflija injusto prejuízo a qualquer outro concidadão. Extrai-se a impressão de que o povo dinamarquês possui elevado nível de educação. Ele realiza, de fato, o ideal de felicidade preconizado pelos sábios contemporâneos, “uma vida boa, sem dor no corpo e sem angústia na alma”, O cidadão trabalha moderadamente, mas é excepcionalmente produtivo. A Dinamarca poderia também ufanar-se de seu povo, como faz a Finlândia, que já foi também a primeira nação do Mundo pelo Índice da Felicidade Nacional,. A Finlândia, outro país pequeno e de reduzida capacidade produtiva, exalta o seu povo no seu hino nacional que diz ser a riqueza do país e a sua glória.