segunda-feira, 31 de julho de 2017

388.Os Quatro Princípios Basilares da Civilização Contemporânea


Aristóteles difundiu a informação de que Tales foi o primeiro a professar a doutrina de que “os princípios de todas as coisas são apenas os materiais”. Aceita-se, assim, que TALES, DE MILETO, cidade grega, no início do século VI AEC, haja afirmado que o Mundo é o que nele se observa, a explicação do Mundo deve ser procurada na própria Natureza, o Mundo é auto explicativo. Esse pensamento de Tales é o início da filosofia e da ciência.

Um século passado, no final desse século VI AEC, Heráclito, de Éfeso, cidade grega, afirmou:
“Tudo flui e nada permanece”. “A guerra é o pai de todas as coisas.” “Aquilo que está em oposição se concilia; das coisas diferentes nasce a mais bela harmonia e tudo é criado pelos contrários. Tudo é um.” “Todas as coisas são troca de fogo, e o fogo uma troca de todas as coisas...” “Esta ordem que é idêntica para todas as coisas, não foi feita por nenhum dos deuses nem dos homens, mas existia sempre e é e será fogo eternamente vivo, que segundo a medida se acende e segundo a medida se apaga.” “Existe uma só sabedoria: reconhecer a inteligência que governa todas as coisas através de todas as coisas.”

A Cultura contemporânea assume todas essas ideias. O Universo é transformação e a Humanidade é parte desse processo cósmico, que se desenvolve segundo determinadas regularidades que podem até alcançar a precisão matemática. Essa medida, essa ordem, essa inteligência é uma propriedade da Natureza. Nietzsche, o filósofo do pos-modernismo, desenvolveu a intuição de Heráclito, numa desenfreada apoteose do super-homem, de sua autonomia, do individualismo, do liberalismo. O Super-homem é a medida de todas as coisas. A justiça e o direito são a vontade do Super-homem. Essa é a filosofia do liberalismo.

Uns cinquenta anos transcorridos, em meados do século V AEC, Protágoras, de Abdera, cidade grega, afirmou: “O Homem é a medida de todas as coisas.” “...cada um de nós é a medida das coisas que são e que não são; mas existe uma diferença infinita entre homem e homem, e exatamente por isso as coisas parecem e são de um jeito para uma pessoa e, de outro jeito, para outra pessoa.”

Protágoras afirmou que o conhecimento é um ato pessoal do indivíduo humano, que esse ato é uma atividade de observação da Natureza, que o resultado dessa atividade depende dos aparelhos de observação de que o corpo de cada indivíduo humano está dotado. E essa aparelhagem difere infinitamente de indivíduo para indivíduo. Noutras palavras, o conhecimento é a criação de uma imagem mental do Mundo. Essa imagem mental é que, de fato, existe para o indivíduo. O Mundo em que se vive, de fato, é o Mundo fenomenológico interior, mental, de cada indivíduo. Cada indivíduo fabrica o seu Mundo. Existem tantos Mundos quantos indivíduos existem.

Kant revolucionou a Filosofia e refundou a Cultura fornecendo desenvolvimento moderno a essa dimensão subjetiva do pensamento, do conhecimento.

Por fim, Sócrates afirmou a sabedoria humana consiste na incessante atividade de sua racionalidade. O homem se constrói e constrói o Mundo, em permanente interação com os outros homens. O Mundo fenomenológico do homem sábio se imbrica com o Mundo fenomenológico de todos os outros homens sábios. Sócrates confirmou a individualidade, a liberdade, a autonomia, a diversidade, a ordem, a contingência, a naturalidade, ressaltando a criatividade e a racionalidade, e aditando a sociabilidade, a ponderosíssima contribuição da aculturação no processo de construção do Mundo fenomenológico, o Mundo individual, o Mundo que é a Vida, o Mundo que conta.

As ideias básicas da Civilização contemporânea, portanto, reportam-se aos primitivos filósofos gregos – o Mundo é criação mental fenomenológica do indivíduo humano em função, sobretudo, da influência da aculturação.

Foram essas ideias que embasaram as teorias que compõem a curta história da Sociologia: a racionalidade, a ordem e o altruísmo, de Augusto Comte; o poder acultural das estruturas sociais, de Émile Durkheim; o conflito de classes de Karl Marx; o poder das ideias, valores e crenças, do indivíduo, da ação social, de Max Weber; o individual e o social, no interacionismo simbólico de George Herbert Mead.

O Estado que não entender essa ideia tão clara e tão simples, que não entender a compatibilidade do individual com o social, a imbricação do liberalismo com o socialismo, não estará atualizado, modernizado, reformado. Não será democrático nem progressista.  Fracassará inapelavelmente nesta Era da Informação. Não compartilhará do processo acultural que cria o Mundo fenomenológico da Civilização Contemporânea.




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