Aristóteles
difundiu a informação de que Tales foi o primeiro a professar a doutrina de que
“os princípios de todas as coisas são apenas os materiais”. Aceita-se, assim, que
TALES, DE MILETO, cidade grega, no início do século VI AEC, haja afirmado que o
Mundo é o que nele se observa, a explicação do Mundo deve ser procurada na
própria Natureza, o Mundo é auto explicativo. Esse pensamento de Tales é o
início da filosofia e da ciência.
Um
século passado, no final desse século VI AEC, Heráclito, de Éfeso, cidade
grega, afirmou:
“Tudo
flui e nada permanece”. “A guerra é o pai de todas as coisas.” “Aquilo que está
em oposição se concilia; das coisas diferentes nasce a mais bela harmonia e
tudo é criado pelos contrários. Tudo é um.” “Todas as coisas são troca de fogo,
e o fogo uma troca de todas as coisas...” “Esta ordem que é idêntica para todas
as coisas, não foi feita por nenhum dos deuses nem dos homens, mas existia
sempre e é e será fogo eternamente vivo, que segundo a medida se acende e
segundo a medida se apaga.” “Existe uma só sabedoria: reconhecer a inteligência
que governa todas as coisas através de todas as coisas.”
A
Cultura contemporânea assume todas essas ideias. O Universo é transformação e a
Humanidade é parte desse processo cósmico, que se desenvolve segundo
determinadas regularidades que podem até alcançar a precisão matemática. Essa
medida, essa ordem, essa inteligência é uma propriedade da Natureza. Nietzsche,
o filósofo do pos-modernismo, desenvolveu a intuição de Heráclito, numa desenfreada
apoteose do super-homem, de sua autonomia, do individualismo, do liberalismo. O
Super-homem é a medida de todas as coisas. A justiça e o direito são a vontade
do Super-homem. Essa é a filosofia do liberalismo.
Uns
cinquenta anos transcorridos, em meados do século V AEC, Protágoras, de Abdera,
cidade grega, afirmou: “O Homem é a medida de todas as coisas.” “...cada um de
nós é a medida das coisas que são e que não são; mas existe uma diferença
infinita entre homem e homem, e exatamente por isso as coisas parecem e são de
um jeito para uma pessoa e, de outro jeito, para outra pessoa.”
Protágoras
afirmou que o conhecimento é um ato pessoal do indivíduo humano, que esse ato é
uma atividade de observação da Natureza, que o resultado dessa atividade
depende dos aparelhos de observação de que o corpo de cada indivíduo humano
está dotado. E essa aparelhagem difere infinitamente de indivíduo para
indivíduo. Noutras palavras, o conhecimento é a criação de uma imagem mental do
Mundo. Essa imagem mental é que, de fato, existe para o indivíduo. O Mundo em
que se vive, de fato, é o Mundo fenomenológico interior, mental, de cada
indivíduo. Cada indivíduo fabrica o seu Mundo. Existem tantos Mundos quantos
indivíduos existem.
Kant
revolucionou a Filosofia e refundou a Cultura fornecendo desenvolvimento
moderno a essa dimensão subjetiva do pensamento, do conhecimento.
Por
fim, Sócrates afirmou a sabedoria humana consiste na incessante atividade de
sua racionalidade. O homem se constrói e constrói o Mundo, em permanente
interação com os outros homens. O Mundo fenomenológico do homem sábio se
imbrica com o Mundo fenomenológico de todos os outros homens sábios. Sócrates
confirmou a individualidade, a liberdade, a autonomia, a diversidade, a ordem,
a contingência, a naturalidade, ressaltando a criatividade e a racionalidade, e
aditando a sociabilidade, a ponderosíssima contribuição da aculturação no
processo de construção do Mundo fenomenológico, o Mundo individual, o Mundo que
é a Vida, o Mundo que conta.
As
ideias básicas da Civilização contemporânea, portanto, reportam-se aos
primitivos filósofos gregos – o Mundo é criação mental fenomenológica do
indivíduo humano em função, sobretudo, da influência da aculturação.
Foram
essas ideias que embasaram as teorias que compõem a curta história da
Sociologia: a racionalidade, a ordem e o altruísmo, de Augusto Comte; o poder
acultural das estruturas sociais, de Émile Durkheim; o conflito de classes de
Karl Marx; o poder das ideias, valores e crenças, do indivíduo, da ação social,
de Max Weber; o individual e o social, no interacionismo simbólico de George
Herbert Mead.
O
Estado que não entender essa ideia tão clara e tão simples, que não entender a
compatibilidade do individual com o social, a imbricação do liberalismo com o
socialismo, não estará atualizado, modernizado, reformado. Não será democrático
nem progressista. Fracassará
inapelavelmente nesta Era da Informação. Não compartilhará do processo
acultural que cria o Mundo fenomenológico da Civilização Contemporânea.
Nenhum comentário:
Postar um comentário