quinta-feira, 8 de outubro de 2020

514. História do Pensamento Político (continuação)

 

Thomas Paine foi um cidadão inglês que viveu no século XVIII. Cidadão pobre viveu como produtor de espartilho e cobrador de imposto. Inteligente e instruído, interessou-se pela política e relacionou-se com políticos ingleses, franceses e norte-americanos, tendo sido membro da Assembleia Nacional Constituinte Francesa e um dos Pais da Pátria dos Estados Unidos da América. Apesar disso, teve vida muito atribulada, de fuga e de prisão, escapando por sorte da morte na guilhotina da Revolução Francesa.

            Escreveu muitos panfletos sobre política e esta era a opinião que de se próprio tinha: “Sou um lavrador de pensamentos, e tudo o que colho ofereço em doação”.

            Apesar de Pai da Pátria, era mal visto nos Estados Unidos, porque professava o deísmo: “crer que Deus criou uma pluralidade de mundos ao menos tão numerosos quanto as estrelas, torna o sistema cristão tão pequeno e ridículo que sua teologia desfaz-se na mente como penas no ar... se o Ministério Público não puder provar que a Bíblia é o Verbo de Deus, a acusação de blasfêmia é sem realidade e sem fundamento”.

Ele entendia que o indivíduo humano é dotado de direitos naturais e que sociedade e governo são produtos culturais: “Grande parte da ordem reinante na humanidade não é efeito de nenhum governo. Ela tem origem nos princípios da sociedade e na constituição natural dos homens. Ela existia antes do governo e existiria se a formalidade do governo fosse abolida.,, A sociedade é produzida a partir de nossa vontade e o governo a partir de nossa maldade...”

Tinha plena consciência de que os indivíduos possuem mentalidade própria. Cada um constroi seu próprio conjunto de pensamentos e sentimentos: “Os ricos, em meio ao conforto e abundância, pensarão talvez que tracei um retrato contrário à natureza; mas, se pudessem descer nas regiões frias da necessidade, ao círculo polar da pobreza, perceberiam que as opiniões mudam com o clima. Existem hábitos de pensamento próprios a cada condição, e é precisamente a descobri-los que se deve dedicar o estudo do gênero humano.”

Proclamava os direitos naturais do indivíduo humano, sobretudo a liberdade e a igualdade política: “a proteção da pessoa humana é mais sagrada do que a proteção da propriedade... nossos comerciantes de seres humanos (uma mercadoria não natural) devem conhecer a maldade do tráfico de escravos, seja se escutarem a razão, seja se escutarem os ditames de seus corações... Que heresia o título de sagrada majestade aplicada a um verme que no meio do seu esplendor se desfaz em pó!... what nobility really means is noability.”

Thomas Paine é considerado o pensador mais responsável pela implantação do regime político da república, pelo regime democrático, pela igualdade política, pelo valor unitário do voto: “Que heresia o título de sagrada majestade aplicada a um verme que no meio do seu esplendor se desfaz em pó!... what nobility really means is noability. A sociedade é produzida a partir de nossa vontade e o governo a partir de nossa maldade... O sol nunca brilhou sobre uma causa de valor maior...  Nós temos toda oportunidade, toda inspiração à nossa frente, para criarmos a constituição mais nobre, mais pura, da face da terra.... Nós temos em nosso poder a chance de fazer com que o mundo comece de novo... O nascimento do novo mundo está em nossas mãos.”.

(continua)

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

513. História do Pensamento Político (continuação)

 

 

            Emanuel Kant foi alemão de família modesta, religiosa, educado por pais responsáveis e mãe extremamente carinhosa e preocupada com a educação do filho. O interesse de Kant concentrou-se no saber, no conhecimento. Sua vida consistiu em estudar e ensinar. Foram-lhe oferecidas oportunidades outras de melhorar sua situação financeira, e ele preferiu ampliar seu conhecimento, de modo que um seu biógrafo afirmou que a vida de Kant foi a concentrada atenção “no conhecimento sem preconceitos da natureza e no valor moral dos homens,” de modo que na lápide de seu túmulo foi inscrito um pensamento seu como resumo de sua vida: “o                                                                                 céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim.”

            Segundo Kant, todos os homens possuem a consciência de que convivem com outras pessoas e que todos têm consciência de certas máximas que valem para todos, por exemplo, todos os homens precisam trabalhar para sobreviver.  Esse juízo, essa máxima é um imperativo categórico, isto é, tem validade universal, vale sem exceção alguma. Assim a moralidade consiste em que a ação humana aqui e agora é tal que é exatamente aquela que nessa determinada circunstância todas as pessoas deveriam praticar: “Age de modo que a máxima de tua vontade possa valer sempre, ao mesmo tempo, como princípio de legislação universal... Age de modo a considerar a humanidade, seja na tua pessoa, seja na pessoa de qualquer outro, sempre também como objetivo, e nunca como simples meio... Age de modo que a vontade, com sua máxima, possa ser considerada como universalmente legisladora em relação a si mesma.”

            Ora, se o homem precisa de uma lei para agir é que ele é autônomo, livre. Ele não é como a Natureza que se acha ativada, determinada permanentemente. O homem, ao contrário pode agir ou não agir, pode agir de várias maneiras, pode agir moralmente ou imoralmente. O conhecimento da liberdade, pois, é deduzido da consciência que se tem da moralidade, do imperativo categórico que nos dirige.

            Assim, a sociedade é o habitat, o ambiente em que viceja a Humanidade, o conjunto das pessoas livres e iguais que operam na realização de sua felicidade, que é revelada a cada pessoa de forma diferente, que somente ela percebe. Assim, “a doutrina que diz que o bem estar público é a lei suprema do Estado ainda é válida e tem autoridade. Mas, o bem estar público que exige a primazia se encontra precisamente naquela constituição legal que garante a todos a sua liberdade dento da lei.”

            O Estado existe, pois, para garantir a liberdade das pessoas dentro da lei “de modo que cada um fique livre para buscar sua felicidade naquilo que julgar melhor, desde que não viole a liberdade e os direitos dos outros sujeitos.” Na realidade, portanto, o Estado consiste no consentimento do povo, isto é, de toda população: “Pois, se a lei não fosse tal que todo o povo pudesse concordar com ela, ela seria injusta, mas, se fosse pelo menos possível que o povo pudesse concordar com ela, seria nosso dever considera-la justa.” O Estado “funda-se numa coalisão de das vontades de todos os indivíduos numa nação.”. As leis devem ser  “a vontade do povo.”

(continua)