segunda-feira, 4 de maio de 2020

493. Malthus (continuação)


William Godwin foi brilhante filósofo e escritor inglês, incluído no grupo dos iniciadores do movimento anarquista, com a publicação do seu estudo intitulado ‘Investigação Acerca da Justiça Política”. Malthus, que exalta a liberdade de expressão do pensamento, escreve o “Ensaio Sobre a População” exatamente, como ele próprio confessa, para refutar teses defendidas por Godwin.
Godwin enaltece a propriedade coletiva e considera a propriedade privada a origem de todos os males sociais: “o espírito de opressão, o espírito de servidão, o espírito de fraude, são as consequências imediatas da administração estabelecida da propriedade: “Hostil ao aperfeiçoamento intelectual, nutre os vícios da inveja, malícia e vingança. O homem livre, numa sociedade onde a abundancia dos bens é propriedade comum e igualmente repartida, não seria corroído pelo princípio mesquinho do egoísmo... Ninguém se preocuparia em prover suas necessidades e reservar bens para garantir a subsistência, a intenção do bem geral a todos proveria satisfatoriamente.” Inexistiriam inimigos e “a filantropia resumiria o império que a razão lhe atribui”. A mente libertar-se-ia das preocupações materiais para dedicar-se inteiramente ao trabalho intelectual.  Enfim, ao aperfeiçoamento das atividades extrativas no restrito espaço terrestre já então explorado, agregar-se-á o vastíssimo espaço ainda não explorado, e a humanidade teria garantida por muitos séculos a sua subsistência.
Malthus atacou essa ideia de Godwin de que o homem poderia viver num ambiente de superabundância de bens. Pura imaginação, afirmou Malthus, porque essa situação de abundância provocaria, reforçada também pela eliminação da fome, vício, peste e guerra  - as causas da diminuição da população -, a explosão do aumento populacional que jamais será acompanhado pelo ritmo do aumento da alimentação.
Assim, enquanto imperasse a abundância, ninguém se importaria com o comportamento do vizinho, mas, sobrevinda a época da penúria, ninguém estaria disposto a repartir o necessário e imprescindível para sua subsistência. Nada cederia, senão em troca por alguma vantagem. A violência, a opressão e a fraude se instalariam no comportamento humano, de modo que parecem geradas por leis inerentes à natureza humana, e não consequências de regulamentação humana. Surgiriam, então, as regulamentações da propriedade privada. “o melhor, embora inadequado, remédio para os males que estariam pressionando a sociedade.” Estabelecida a propriedade privada, as famílias com proliferação acima do sustentável conteriam membros em situação de penúria, porque destituídos do direito de exigir por justiça qualquer parcela do superávit das outras famílias.
Enfim, Malthus o rebate com o que se convencionou apelidar a armadilha malthusiana: o impulso sexual provoca aumento da população maior que o aumento de alimentos, irrompendo, por consequência, a carestia; a fome, então, reduz a população pela morte, quando, enfim, se restabelece a normalidade populacional no nível da pobreza.
O Estado do Bem Estar Social, portanto, eliminando a fome e a morte, e promovendo a saúde, incentiva a proliferação, mantém a carestia e impede a existência da normalidade social, pensava Malthus.
Galveas encerra a sua análise da contestação de Malthus ao pensamento de Godwin, ressaltando que aquele, embora considerasse necessária a existência “de uma classe de proprietários e de uma classe de trabalhadores”, não inferia, contudo “que o estado atual de desigualdade da propriedade é necessário e útil à sociedade.” Pelo contrário, deve ser considerado um mal... mas se um governo poderia, com vantagens para a sociedade, interferir ativamente para reprimir a desigualdade de fortunas, é questão duvidosa...” Cita a consideração de Malthus sobre o plano de igualdade entre os dois agentes de uma troca amigável sejam quais forem, e encerra o estudo da contestação à Godwin com esta assertiva de Malthus: “mesmo os maiores inimigos do comércio e das manufaturas, e eu não me considero muito amigo deles, devem reconhecer que, quando eles foram introduzidos na Inglaterra, a liberdade veio de rastro.”
(continua)

2 comentários:

  1. Colamos no blog do Professor Ari o seguinte:

    A expressão que mais temos escutado na mídia e nas redes sociais ultimamente é novo normal. Por tal expressão entende-se o mundo depois que este voltar a certa forma de normalidade. Neste sentido, gostaríamos de fazer referência ao nosso comentário de 16/01/2020 neste prestigiado blog: sabíamos naquele momento que duas coisas estavam por vir: uma pesada correção estava por ocorrer nas Bolsas e tal correção seria iminente. Naturalmente, não sabíamos naquele momento que a causa destas duas coisas seria o covid-19. Entretanto, acreditamos ser oportuno tecermos algumas considerações sobre os motivos para naquela época termos as expectativas, acima mencionadas. (1) sabíamos que o mundo financeiro estava em crise. E tal crise não vinha do fato de que a regras do jogo financeiro haviam sido contornadas, mas do fato de que elas haviam sido seguidas; (2) ademais, sabíamos que o colapso estava próximo pois a psicologia do mercado isto indicava. Neste sentido, a análise técnica dava sinais por meio de indicadores do próprio mercado.

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  2. Com efeito, há muitos fatores que provocam as crises, entre eles a exploração financeira.
    Edgardo Amorim Rego

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