quinta-feira, 9 de julho de 2020

502. Karl Marx (continuação)


Além da alienação religiosa, Marx insurgiu-se também contra a alienação do trabalho. O homem difere do animal pelo seu trabalho. A aranha nasce e produz teias para sobreviver. A abelha nasce e coopera numa colmeia para a produção de mel para sobreviver. O homem nasce, concebe interiormente na mente como adaptar a natureza às suas necessidades de sobrevivência e na execução desse trabalho de sobrevivência, em conjunto com os outros homens, se realiza, se faz. O Homem se faz homem através do seu trabalho, do trabalho que é interno a seu ser.  Ora, explicam Reale e Antiseri, Marx entende que no capitalismo, o homem não se constrói através do trabalho, mas apenas obtém os meios de subsistência. Marx acusa o capitalismo, que se funda na propriedade privada, de transformar o operário em mercadoria. É a alienação do trabalho que “Consiste antes de mais nada no fato de que o trabalho é externo ao operário, isto é, não pertence ao seu ser e, portanto, ele não se afirma em seu ser, mas se nega, não se sente satisfeito, mas infeliz, não desenvolve energia física e espiritual livre, mas definha seu corpo e destroi seu espírito.”
À alienação do trabalho conjuga-se a teoria do materialismo histórico: “A produção das ideias, das representações, da consciência, em primeiro lugar, está diretamente entrelaçada à atividade material e às relações materiais dos homens, linguagem da vida real... E do mesmo modo, isso vale para a produção espiritual, como ela se manifesta na linguagem da política, das leis, da moral, da religião etc. de um povo... O modo de produção da vida material condiciona, em geral, o processo social, político e espiritual da vida...com a mudança da base econômica, transforma-se mais ou menos rapidamente toda a gigantesca superestrutura... os homens começaram a se distinguir dos animais quando começaram a produzir seus meios de subsistência, e o de que os indivíduos são dependentes...das condições materiais de sua produção.” E Reale e Antieri concluem: “Tudo isso para dizer que a história verdadeira e fundamental é a dos indivíduos reais, de sua ação para transformar a natureza e de suas condições materiais de vida.”, e, na expressão do próprio Marx em “Miséria da Filosofia”: “O moinho braçal vos dará a sociedade com o senhor feudal, e o moinho a vapor a sociedade com o capitalista industrial.”
Para Marx a realidade é devir, é transformação, é contradição, é processo em três fases: tese, antítese e síntese, ou afirmação, negação e afirmação em permanente processamento: “Para Hegel, o processo do pensamento, que ele transforma até em sujeito independente, com o nome de ideia, é o demiurgo do real, que, por seu turno, constitui somente o fenômeno exterior da ideia ou processo do pensamento.” Marx, todavia, diverge de Hegel: “Para mim, ao contrário, o elemento ideal nada mais é do que o elemento material transferido e traduzido no cérebro dos homens...  As ideias da classe dominante são em cada época as ideias dominantes, isto é, a classe que é a potência material dominante da sociedade é ao mesmo tempo sua potência espiritual dominante.... Desse modo,.. tais ideias e categorias são tão pouco  eternas  quanto as relações que elas exprimem. São produtos históricos e transitórios.”
Assim, no Manifesto do Partido Comunista, de 1848, Marx proclamava: “A história de toda a sociedade que existiu até este momento é história de luta de classes... Toda sociedade se baseou até agora, como vimos, sobre o contraste entre classes de opressores e classe de oprimidos.” E Marx entrevê nos embates entre burguesia e proletariado o anúncio da vitória do proletariado:“ Mas, para poder oprimir uma classe, devem estar asseguradas condições dentro das quais ela possa ao menos viver com dificuldades sua vida de escrava... Mas, o operário moderno, em vez de elevar-se conforme a indústria progride, desce sempre mais abaixo das condições de sua própria classe.” E Marx conclui: “De tudo isso torna-se evidente que a burguesia não está em grau de permanecer ainda muito tempo  como a classe dominante da sociedade e de impor à sociedade as condições de vida da própria classe como lei reguladora... Com o desenvolvimento da grande indústria, portanto, é tirado de sob os pés da burguesia o próprio terreno  sobre o qual ela produz e se apropria dos produtos.  Ela produz em primeiro lugar seus coveiros. Seu ocaso e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis.”
Ora, o ambiente intelectual, político e econômico daqueles tempos abrigava a novidade suscitada pelo socialismo utópico: o problema social, a agitação social, a revolta da classe operária brotavam da injustiça social, que tinha sua origem no direito de propriedade que precisava ser abolido, instaurando-se o comunismo. Marx, contrapunha-lhe o seu socialismo científico, declarando inviável a solução via procedimentos moralistas, já que a agitação social era fenômeno próprio da dinâmica da História consistente na luta de classes, condicionada pelo progresso tecnológico: “O moinho braçal vos dará a sociedade com o senhor feudal, e o moinho a vapor a sociedade com o capitalista industrial.”
(continua)


Nenhum comentário:

Postar um comentário