sexta-feira, 9 de abril de 2010

145. Eu Sou Eu e Minhas Circunstâncias

Por que existimos? Há várias respostas. Eu prefiro a da convergência de circunstâncias favoráveis. Por que sobrevivemos? Prefiro aquela das circunstâncias favoráveis, juntamente com a iniciativa pessoal. Vivo nesta época em que a Humanidade goza de maior longevidade. Habito uma cidade onde não ocorrem terremotos nem tsunâmis. O trânsito ainda não me armou ciladas. Sobretudo, a Natureza me equipou com esse maravilhoso aparelho de informações, que é a Mente. E eu procuro usar a minha Mente para descobrir o que me faz bem, a fim de obte-lo, e o que me faz mal, a fim de evita-lo.
A Mente é estranho e precioso aparelho de informação. Ela nos faz conhecer o meio ambiente, sob o estímulo de energias geradas pelos objetos circundantes, as quais a atingem e provocam a reação cognitiva e a de preservação pessoal. A minha mente é muito parecida com a de todos os outros homens que existem e que existiram. Mas, a Mente não é um aparelho que se replica igualzinho em todos os indivíduos.
A Mente se modificou ao longo do tempo. Já houve a mente do homem das savanas africanas. A mente do homem das cavernas. A mente do homem andarilho. A mente do homem do fogo e da linguagem. A mente do homem místico das pinturas rupestres. A mente do homem da caça e da coleta. A mente do homem nômade do pastoreio. A mente do homem agrícola e da matemática. A mente do homem urbano e da escrita. A mente do homem da arte e da cultura. A mente do homem filósofo e político. A mente do cenobita. A mente do homem burguês. A mente do homem das descobertas. A mente do homem científico. A mente do homem industrial. E temos hoje a mente do homem do conhecimento, da informação e da comunicação.
A mente do homem de hoje é o estuário de todas essas mentes, as mentes que evoluíram, adaptando-se ao meio ambiente, e conseguiram, inclusive com a solidariedade de outros animais, o sucesso na corrida competitiva pela sobrevivência. Várias outras mentes humanas se extinguiram por carência de adaptação. Nós não temos garantido o sucesso na corrida pela sobrevivência. Nós temos que consquista-la, adaptando-nos e conseguindo parceiros que nos auxiliem nessa tarefa básica da sobrevivência. O sucesso na competição pela sobrevivência, também conta com parceiros, isto é, com iguais através do sentimento de amizade, da concórdia, isto é, do compartilhamento do mesmo coração, do espírito de grupo.
Assim, como existe uma Mente para cada época da História, também cada indivíduo humano tem a sua mente, parecida com a de qualquer outro indivíduo humano, mas também muito diferente da mente de qualquer outro indivíduo. A mente de cada indivíduo é formada por todas as circunstâncias que o envolvem, desde a fecundação até a morte. A mente do indivíduo humano é a sua história, que é indiscutivelmente única, singular. Cada indivíduo humano é o produto de indiscernível tessitura de infinitas circunstâncias, que produziu sua constituição genética, e da seqüência constituída por todas as experiências existenciais próprias. A mente humana é um processo. A cada dia, a cada hora, a cada instante ela se modifica.
Essa afirmação da Neurociência parece abstrata e inócua. Mas, de fato, ela é prenhe de resultados práticos e cotidianos. Ela é poderosa para a compreensão e cura das divergências e dos desentendimentos entre os indivíduos humanos. Ela é esclarecedora e corretiva dos comportamentos anti-sociais. Ninguém é dono da Verdade. Nós possuímos opiniões, conhecimentos subjetivos da realidade, que até podem ser conhecimentos bem fundamentados. Haverá sempre convergências e divergências entre as mentes de duas pessoas. Conviver é saber administrar as divergências. É querer enriquecer a própria mente compartilhando a visão do Mundo construída pela mente alheia. Conviver é ampliar os horizontes da minha representação mental do Universo.
Essa afirmação da Neurociência, portanto, esclarece a respeito da força poderosa de construção da harmonia social que é a Educação e, sobretudo, do poder modelador de indivíduos superiores, que é um meio ambiente social pacífico, cooperativo e progressista. Ela nos informa sobre a riqueza da coletividade humana, do espetáculo que é a singularidade do indivíduo humano. Ela esclarece quão difícil é conhecer-se e compreender o outro, mas que isso interessa à sobrevivência pessoal e da coletividade humana.

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