segunda-feira, 12 de abril de 2010

146. O Estado Grande

Estamos criando uma sociedade onde a Cultura e o Conhecimento não figuram entre os principais de seus valores. Até não se tem pejo de, desprovido de Cultura e formação superior, candidatar-se ao exercício daqueles postos que detêm os poderes políticos supremos de decidir o futuro de toda a sociedade.
Não advogo o governo aristocrático. Acho que qualquer cidadão tem o direito de pretender governar o seu país. Perfilho aquele pensamento de Churchill: “A democracia não é uma forma perfeita de governo, mas até hoje a Humanidade não concebeu forma alguma de governo melhor que ela.”
Não é que os países, cuja forma de governo seja a democrática, consigam sempre atingir seus objetivos, ou mesmo sobreviver. Não. O que a democracia tem de bom é que iguala os direitos de todos os cidadãos – todos podem eleger e ser eleitos -, consagra a liberdade de expressão do pensamento, as minorias têm o direito de serem ouvidas e, ao menos em tese, coloca a origem do poder no povo e não na força, na riqueza, nem mesmo no saber.
Acho que o mais modesto cidadão tem o direito de candidatar-se aos mais altos postos políticos de seu país. Mas, nos tempos modernos, ninguém deveria pretender exercer esse direito, sem se preparar para exerce-lo. E essa preparação inclui, a meu ver, cultura ampla, abrangendo informações consistentes sobre os principais debates que a Humanidade já empreendeu nas áreas da Filosofia, da Sociologia, da Ciência Política e da Economia, pelo menos.
Isso serviria, ao menos, para se ter um pouco de prudência ao manifestar-se em público; para se mostrar menos afoito em doutrinar sobre coisas de que não entende nem sequer suspeita que, há séculos, milênios até, a Humanidade sobre elas debate sem as elucidar definitivamente; para não assumir atitudes professorais nessas questões controversas em público e nos diálogos com pessoas de formação cultural notoriamente superior; e para, sobretudo, decidir o que convém ao povo, cujos destinos governa.
Recentemente se disse neste País que se precisa de Estado Grande, porque ele evita a recessão e a depressão econômica. No entanto, o que a doutrina e a história da Ciência Econômica ensinam é que, na Economia de Mercado, o processo econômico sofre oscilações: há os tempos favoráveis e os tempos adversos.
Estado algum acabará com a recessão e a depressão na Economia de Mercado. Diz Paul Krugman que ela é característica do mundo industrial dos nossos tempos. Mas, outros economistas dizem que também na sociedade agrícola existem tempos favoráveis e tempos adversos, em razão de perturbações como as secas, as inundações, os terremotos, os maremotos e outras.
Já a Economia de Comando não conduz à riqueza nem ao progresso no longo prazo, exatamente porque freia a competição, a liberdade e a criatividade. Exemplos recentes da Economia de Comando terminaram ou na mais estúpida conflagração da História, ou no colapso político, ou no colapso econômico, ou em ambos.
Resta-nos o exemplo exitoso da China, economia de mercado sob a diretriz de um Estado Grande. É esse o exemplo que parecem querer seguir os líderes de vários países da América do Sul. Por enquanto, o Estado Chinês, prepotente e superpotência militar nuclear, consegue atrair capitais internacionais, ampliar o mercado doméstico, dominar o mercado mundial de bens de consumo sem notório escrúpulo com respeito às normas do comércio internacional e, até mesmo, controlar a insatisfação popular e reprimir a expressão livre de opinião. Mas, muitos economistas e cientistas políticos encaram a experiência chinesa com dúvidas sobre o sucesso definitivo do projeto híbrido, de economia de mercado e doutrina política única, que as autoridades chinesas vêm executando.
Seja como for, penso que o Estado existe só porque a sociedade dele precisa. As dimensões do Estado, portanto, têm limite: a necessidade da sociedade. E a sociedade existe para que cada indivíduo conquiste uma vida feliz. E a socidade pode precisar de mais e de menos Estado, na medida em que os indivíduos são ou não suficientemente educados para conviver. Na medida em que os indivíduos melhor saibam conviver, menos necessidade de leis, isto é, de Estado, tem a sociedade. O tamanho do Estado está na relação inversa do nível de moralidade da sociedade.

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