quarta-feira, 18 de abril de 2012

181.Censo Escolar 2011

Acabo de ler uma reportagem na UOL sobre o Censo Escolar 2011, que indica que “Mais de um milhão de jovens estão “presos” no ensino fundamental...” E acrescenta a opinião do Professor Tufi Machado Soares, especialista em fluxo escolar: “Uma das causas disso é a forte reprovação,... isso ocorre, pelo menos, porque ele não aprendeu o que deveria.”

O artigo prossegue e o Professor Soares “aponta a progressão continuada nos primeiros anos do fundamental como uma das maneiras para reduzir a distorção: A reprovação deve ser uma opção extrema a ser adotada pela escola. Sou contra a reprovação nos primeiros anos escolares, não vejo motivo para reprovar um aluno.”

No final do ano de 1970, o Banco do Brasil me enviou a Londres para fazer um estágio de seis meses num banco inglês. O Banco do Brasil não pretendia propriamente aperfeiçoar-me na prática bancária. Isso, é claro, não estava descartado. Mas, o objetivo mesmo era obter conhecimento da prática bancária inglesa, já que acabara de inaugurar naquele ano a sua agência em Londres e, é óbvio, adquirir conhecimento mais profundo do que os bancos praticavam na rotina diária, em praças mais evoluídas como a de Londres.

Cheguei a Londres, com minha mulher e meus dois filhos, à meia noite de gélida sexta feira outonal britânica. Através de relacionamentos de meu sogro, já tinha apartamento alugado no bairro de Goldersgreen, para onde nos conduziu um daqueles famosos táxis ingleses. Na segunda feira, antes de me apresentar ao banco inglês, eu e meus dois filhos, o primogênito com 10 anos e o caçula com 8, pegamos o famoso ônibus inglês de dois andares, que nos deixou na porta da escola pública mais próxima de nossa residência.

Entrei na escola, sem qualquer dificuldade, e pedi para falar com o diretor. Não demorou nada e ele já estava ali na minha frente, com a maior simplicidade, todo ouvidos para me escutar. Expliquei-lhe que acabara de chegar a Londres, com a família, para permanência de seis meses. Não queria que meus filhos ficassem seis meses no ócio, sem estudar. Pretendia, portanto, que fosse facultada a meus dois filhos a frequência à escola pública inglesa, durante esse período. Achava que isso seria de grande utilidade para a formação deles.

Não percebi nenhuma hesitação da parte do diretor escolar inglês. Com a máxima prontidão e naturalidade, respondeu-me: “Seus filhos já estão aceitos na escola. Eles já ficarão aqui hoje. O senhor pode seguir tranquilo para o trabalho. As aulas começam todos os dias às 9 horas e terminam às 16:30 h, de segunda a sexta feira. Eles almoçam aqui na escola. O senhor não tem que fornecer material algum para o estudo deles, nem tem contribuição nenhuma a pagar para a escola. Todo o material é fornecido pela escola. O ensino é totalmente grátis. Eles não levam dever algum para fazer em casa. ELES TÊM QUE APRENDER AQUI NA ESCOLA!”

Acompanho o estudo de minha neta, hoje uma adolescente de 15 anos, desde o primeiro dia de creche na AABB aqui no Rio de Janeiro. QUANTA DIFERENÇA, QUANTA DISTÂNCIA DAQUELA ESCOLA DE LONDRES! Só quero deixar bem claro: “NÃO É NA ESCOLA QUE MINHA NETA APRENDE!”

Estou plenamente consciente de que o Professor Tufi Machado Soares entende de ensino muito mais que eu. Eu também fui professor, secundário e universitário. Mas, isso faz muito tempo... nas décadas de 50 e 60 do século passado! Concordo com ele: “A criança e o adolescente não devem ser reprovados.” Só que o ensino deve ser tal que eles de fato aprendam, e não possam ser reprovados. Mas, se estou entendendo bem as coisas como elas de fato estão acontecendo neste meu adorado País, muitas crianças e adolescentes estão passando de ano, sem de fato apresentarem o conhecimento desejável. Lá adiante, de tanto passar de ano sem o conhecimento necessário, são apanhados numa armadilha sem qualquer condição de saída nas condições concretas existentes!

Uma multidão de brasileiros complexados, incapacitados e infelizes para o resto da vida! Que contribuição darão eles para a sociedade? Quem é, de fato, o responsável por tanta desgraça definitiva, individual e social?!

2 comentários:

  1. Bravíssimo! Estupendo seu comentário. É retrato do que acontece HOJE no Brasil. Sou professor no segundo grau e alguns alunos(as) reprovam sim, já no primeiro ano, fruto de aprovações automáticas no primeiro grau, especialmente nas séries finais.

    We should do like the principal did at London Public School, in 1970, as you said in your text.

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    1. Prezado amigo e colega, admirável PROFESSOR Ari.
      Obrigado pelo seu comentário. Ah! Se as nossas escolas fossem uma sociedade de cidadãos, de um lado, crianças, adolescentes e jovens adquirentes de hábitos de VIDA e de CONVÍVIO, e, outro, adultos, devotados a formar cidadãos para o CONVÍVIO e para VIDA!

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