Neste
mundo contemporâneo da economia capitalista, o trabalhador produz a riqueza,
mas ela pertence ao capitalista. O indivíduo humano produz, mas somente tem
valor o que a sociedade ambiciona. O indivíduo humano produz, mas somente é
admitido no mercado, a sociedade da riqueza, quem produz algo ambicionado. O marketing
estimula a geração de pessoas e só admite a sua eliminação por processo natural,
criminalizando até mesmo a opção pela autoextinção em situação de extrema
carência. O capitalismo precisa do trabalhador, não como a pessoa que ele é,
mas como fator de produção, que é valorizado pela riqueza que produz, pela
riqueza que acrescenta à propriedade do capitalista, o dono da riqueza
produzida pelo trabalhador.
A
ciência econômica nada mais é que uma análise da economia que existe e
avaliação de todos os tipos de economia que já existiram. As economias mudaram
à medida que os indivíduos humanos mudaram. E outras formas econômicas surgirão
à medida que a cultura humana se amplie e a civilização se refine.
A
Constituição Brasileira de 1988 fundou um Estado democrático do bem-estar
social, cujo primado não cabe ao capital, mas ao trabalho. (Artigo 193)
Trata-se, pois, da organização de uma sociedade mais refinada, de uma sociedade
que tem raízes numa cultura e civilização que teve início há cerca de três mil
anos, quando o povo helênico se imaginou pertencente à família dos deuses,
gerado no divino abraço eterno do firmamento (Urano) com a terra (Geia). Essa ideia
da origem divina da Humanidade foi herdada pelo
povo romano, que reverenciava seu imperador como um deus e punia os
cristãos com a morte, porque recusavam prestar-lhe o culto da adoração. Nada
obstante, o cristianismo propagou-se por toda a Europa, reformulando a cultura
e a civilização, graças à pregação paulina da divinização do indivíduo humano (Romanos
9: “...o Espírito de Deus habita em vós...”e 12: “Todos os que são conduzidos
pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus.”).
Essa
ideia multimilenar de uma predominância humana sobre todas as coisas voltou a
sofrer influência dos primórdios da filosofia grega no início do segundo
milênio da Era Cristã e, sob a influência de Emanuel Kant e as informações da
Ciência, constitui a estrutura da cultura e da civilização contemporânea, a tal
ponto que levou Olavo Bilac, naquela que julgo a mais importante poesia por ele
escrita, “A Alvorada do Amor”, irromper num verso excepcionalmente sintético,
porém blasfemo, horripilante e insano para uma mente religiosa: “Terra, melhor
que o céu! Homem, maior que Deus!”.
O
homem é a medida de todas as coisas, afirmou Protágoras. A partir de então, há
dois mil e seiscentos anos, o Homem passou a compreender o Mundo, a sua
existência e a sua dignidade. Esse pensamento de Protágoras, repensado por
Emanuel Kant, que tinha a consciência de haver, como Copérnico, revolucionado também
a cultura humana, já que invertera a centralidade do Universo do objeto
conhecido, a Natureza, para o sujeito conhecedor, o homem: o homem cria o
Universo em que vive.
O
valor das coisas é um julgamento humano, que é uma medida, porque é uma
comparação, uma avaliação. O que é um valor? É o que é útil, o que é bom para
alguma coisa. Mas, as próprias coisas, tais quais exatamente as vivencio, são
criações minhas. Cada pessoa cria o seu mundo. O mundo, que crio (eu crio a
luz, eu crio o som, eu crio o medo, eu crio o amor, eu crio o ódio, eu crio a alegria,
eu crio o prazer, eu crio a dor, eu crio o sofrimento, eu crio a palavra, eu
crio o pensamento, eu crio o julgamento, eu crio a verdade, eu crio o bem e o
mal)) e em que vivo, é, via de regra, muito semelhante ao do outro, que está ao
meu lado, cria e em que vive, mas não é exatamente igual.
A
convivência entre as pessoas é convivência de mundos diferentes. Por vezes, é
até convivência de mundos muito diferentes. Há pessoas que vêem pessoas e até
monstros que somente elas vêem, que ouvem vozes que somente elas ouvem, que vivenciam coisas que somente elas
vivenciam. Os seres mais importantes do mundo, portanto, são os seres que criam
os mundos, a saber, os seres humanos.
A
sociedade, pois, é a convivência de mundos semelhantes e até bem diferentes. Assim,
o mais importante na sociedade são os indivíduos humanos, os criadores do
universo vivente. São os senhores do universo. São a medida do bem e do mal, da
verdade e do erro. São seres autônomos, livres, senhores de seu mundo, um mundo
indevassável. A pessoa humana, pois,
ostenta o máximo valor entre as coisas do Universo. A dignidade da pessoa
humana, portanto, é suprema, é absoluta.
Dignidade
é o respeito, a reverência, a veneração que o valor de um indivíduo inspira.
Quanto mais valioso o indivíduo, mais digno ele é. Ora, nada pode superar o
poder de criar o mundo. A dignidade corresponde ao grau de excelência de uma
pessoa. Excelência é a superação, o valor supremo. Pessoa humana, o criador do mundo, é a
superação suprema, a máxima excelência. A pessoa humana orna-se da máxima
dignidade.
Foi
por isso que a Constituição Brasileira fundou o nosso Estado, a nossa sociedade
organizada, no valor da pessoa humana, o valor supremo do Universo. O Estado
Brasileiro existe para que o indivíduo humano viva com a dignidade do criador
do Universo, realizando-se e criando um mundo venturoso, enquanto hígido, e
indefectivelmente certo de que a geração de seus descendentes cumprirá
respeitosa, reconhecida e lealmente o contrato previdenciário de uma existência
condigna nos anos de invalidez e incapacidade.
O
valor supremo da pessoa humana impõe que, ao longo de toda a sua existência, se
comporte com a máxima dignidade - conduta ética irrepreensível – e usufrua de
condição de vida confortável, isto é, numa sociedade organizada, democrática,
operosa e do bem-estar social.
É,
pois, incompreensível, absurdo, nos dias atuais, e ante as cláusulas do
contrato constitucional brasileiro, que se pretenda colocar sob a
responsabilidade do assistido – o incapacitado, o inválido – o ônus
previdenciário de sua sobrevivência, tanto mais que, desfalcado seja pelo
motivo que for, esse seguro já foi pago, na época de atividade e nos valores
tecnicamente calculados que lhe foram impostos, e colocado pela LC 109/2001 sob
a supervisão do Patrocinador, o proprietário de toda a renda, e a fiscalização
do Estado.
Segundo o deputado Efraim, os fundos de pensão escancaram “a face mais cruel dos escândalos petistas, que é roubar do aposentado”.
ResponderExcluirÉ afronta à entidade da mais alta excelência do Universo. É a mais alta vilania concebível.
ResponderExcluirEdgardo