O
opúsculo “Da Caixa Montepio À PREVI” narra a história da Caixa de Previdência
dos Funcionários do Banco do Brasil, associação criada por 52 (cita os nomes de
apenas 51) responsáveis, clarividentes e preocupados colegas com a situação de
abandono em que ficavam, eles falecidos, os seus dependentes, naqueles
longínquos e liberais tempos de fim do
século XIX. Decidiram, mortos, amparar seus dependentes necessitados, vivos. E
conseguiram no início do século passado.
Essa
narrativa entendo que atinja o ápice de sua nobreza quando revela que, no ano
de 1913, os acionistas do Banco consideraram uma indignidade não proporcionar
aos funcionários aposentadoria proporcional ao tempo de serviço em caso de
invalidez, e integral com trinta anos de serviço.
No
ano de 1920, o sucesso da Caixa Montepio, administrada pelos próprios
funcionários e sob supervisão do Banco, era tal que o Banco do Brasil obrigou
todos os seus empregados nela ingressar.
Criado o IAPB em 1934, a Caixa Montepio, já então PREVI, com novo
Estatuto, entrou em regime de liquidação, permitida a permanência dos
associados, que percebiam aposentadoria superior à paga pelo IAPB. A PREVI,
desde então, passou a pagar, além das pensões, também, mas por conta do Banco,
a aposentadoria integral dos seus associados, e a complementação da
aposentadoria dos novos funcionários. Já
no início da década de 20 do século passado, a Caixa Montepio se preocupava com
o equilíbrio financeiro de longo prazo, tendo sido contratados, por conta do
Banco, dois técnicos para fazer o cálculo atuarial.
Distante
praticamente 100 anos do início da década de 20 do século passado, guardo a revista PREVI, de novembro de 2016,
apenas de pouco mais de um ano já transcorrido, onde se divulga que a PREVI
havia promovido, no mês de outubro anterior, o 17º Encontro PREVI de Governança
Corporativa, reunindo cerca de 400 pessoas: presidentes, Ceos. conselheiros,
gestores de recursos e de instituições
do mercado de capitais, de órgãos reguladores, de fundos de pensão e de
empresas participadas da PREVI. O tema do Encontro anual – trata-se, pois, de
evento anual promovido pela
PREVI – foi o impacto das megatendências no destino das empresas.
Quanta
coisa aí mudou, conforme apenas essa informação inicial da revista. A Caixa
Montepio era um assunto dos funcionários, por eles administrado, ao qual, nada
obstante, o Banco se sentia atrelado e, por isso, queria supervisionar: “Tudo o
que for concernente à Caixa Montepio reger-se-á estritamente pelos presentes
Estatutos, que não podem ser alterados senão por deliberação de Assembleia
Geral Extraordinária dos associados e aprovação da Diretoria do Banco.” (Artigo
2º) Já hoje, quem mais manda na PREVI é o Governo, pois a Previdência Social
Complementar se tornou uma instituição, um regime jurídico, que, em pleno
Estado Democrático, lhe extinguiu o Corpo Social e a aparelhou com uma
administração paritária, onde, nada obstante, o Empregador tem o voto de
minerva. Admite-se mesmo como procedimento normal que o preceito constitucional
do Pleno Acesso seja considerado compatível com um compromisso assinado de
sigilo, imprescindível para a posse do cargo, que, entendem os diretores
eleitos, abarca até suas relações com os representados.
Nos
idos da década de 20 do século passado, as despesas com o cálculo atuarial
foram assumidas pelo Empregador, nada obstante a ótima situação financeira da
Caixa Montepio, enquanto nos tempos atuais, a PREVI, sociedade sem fim
lucrativo, destinada a produzir renda para o sustento de incapacitados para o
trabalho, por motivo de invalidez ou velhice, precisa arcar com os custos
anuais de um evento de tamanha magnitude, além de proporcionar alto nível de
remuneração aos administradores, nível de ceos de grandes empresas bancárias, e
contribuir para o pagamento do salário de seleto grupo de dezenas de altos
funcionários públicos da Previdência Social Complementar.
E
trata-se de um evento de governança corporativa, isto é, pessoa jurídica,
associação e, especialmente, empresa. Ante a proibição legal de que a EFPC
desenvolva qualquer outra atividade, até mesmo de assistência à saúde, causa-me
estranheza o fato de a PREVI envolver-se com a administração de tantas
empresas, ao que parece, dezenas delas, e algumas das mais importantes, do
País, e a tal ponto que necessite promover anualmente tão amplo e importante Encontro.
O
Encontro proporcionou as palestras de personalidades importantes de nosso meio
nacional intelectual e profissional, inclusive cinco professores
universitários, gabaritados com curso, magistério e até mesmo exercício da
profissão na Alemanha e França, bem como extensa produção de trabalhos e livros
científicos, e uns quatro famosos Ceos.
Coisas
importantes ocorreram neste curto decurso de menos do que ano e meio, algumas
até insuspeitadas para nossos indiscutivelmente competentes conferencistas, que
afinal se propunham apenas manifestar tendências assumidas pela marcha da
Humanidade.
Indiscutível
a transferência do trabalho para a máquina automática e eletrônica. Mas, como
essa transferência se processará com menor sofrimento do desemprego, da
miséria? A geração presente é que, sem consulta-la, lança a geração futura no
mundo, e dela necessita para encerrar a vida com menos sofrimento. É
indignidade suprimir a vida daqueles que um dia ousamos trazer ao mistério da
existência consciente. A subsistência humana é responsabilidade pessoal e
coletiva, individual e de geração. O progresso, já ensinou Joseph Schumpeter,
se ergue sobre os escombros do passado. Só interessa um futuro que seja melhor
que o presente. Nada obstante, é crime construir o futuro com a fome, o
desemprego das gerações presentes. Os compromissos assumidos precisam ser
cumpridos. As cláusulas futuras dos contratos não são meras expectativas, são
direitos e obrigações. Nos tempos primitivos, os esquimós resolviam o problema
da subsistência com a eliminação da vida dos progenitores. No albor da
civilização, os gregos solucionavam o problema da superpopulação arremessando
ao mar, do ápice dos rochedos, os recém-nascidos do sexo feminino. Já agora nos
tempos modernos tenta-se evitar a guerra, reluta-se em adotar o aborto e
usam-se os métodos preventivos anticoncepcionais. Não se tolera a
insensibilidade, a tortura, a maldade, o sofrimento, porque a Vida é luz,
cores, sons, festa e felicidade. A vida é uma ação votiva, uma promessa, um
compromisso de felicidade assumido pela Humanidade. A pessoa humana tem
dignidade, a suprema dignidade!
Outro
conferencista reportou-se ao problema energético e ressaltou “a mobilidade
energética, mercado livre, geração distribuída e eficiência energética.” Esse
assunto de energia é fundamental para o progresso humano. O tipo de energia
diferencia até o tipo de cultura e contribui de forma significativa para elevar
o nível civilizatório. A mobilidade energética, com a criação do motor a
combustão interna, proporcionou a fabricação do automóvel, do avião e dos hipercargueiros
marítimos que unificaram a superfície terrestre. Há cerca de 30 anos atrás, dei
contribuição a um amigo, que viajava pelo Mundo, participando de eventos
continentais e globais de discussão dos destinos da Humanidade, e que naqueles
tempos do início da telefonia móvel, entrevia a Humanidade sob influência
gradativamente menor do Estado e da Província, e mais enraizada na cidade e no
indivíduo: o Mundo de cidades e cidadãos. De fato, o Mundo situa-se ainda muito
distante desse estágio social e político. No Ocidente, porém, parece-me clara a
tendência para uma sociedade altamente individualizada e politicamente
igualitária, reduzidos os partidos políticos a agremiações de cidadãos
partícipes de idêntica ideologia, mas
individual, direta e democraticamente atuantes na solução dos problemas da cidade.
Quanto mais amplo o conhecimento, quanto mais ampla a ciência, quanto mais
ampla a tecnologia, mais importante e mais eminente e mais autônomo se torna o
indivíduo, o cidadão. O cidadão civilizado é uma singularidade que precisa e
sabe conviver.
E
esse tema se conecta estreitamente com outro, que, penso, haja sido a mais
importante palestra do Encontro. Ilustre professor universitário e escritor
prolífico abriu o Encontro afirmando: “Os Estados Unidos continuarão a ser a
principal potência por muitos anos, mas não sem a concorrência de outros países
emergentes como a China ou a Rússia, que se reconstroem como influência
global.”
Sem
dúvida, os Estados Unidos, já importante país no início do século passado, acresceu
sua presença internacional entre as duas Grandes Guerras, e passou a locomotiva
mundial após a Segunda Grande Guerra, posto esse de que ainda não foi
desbancado. Aquela tese levantada no Encontro recorda-me um evento semelhante, ocorrido
há cerca de 30 anos. Na década de 80 do século passado, o Banco do Brasil
figurava entre os dez maiores bancos do Mundo. Entendo, pois, que lhe haja sido
confiada a exposição de uma tese sobre o assunto mais importante em debate nos
meios financeiros mundiais naqueles dias, num encontro mundial de banqueiros
que estava marcado para realizar-se m Lima, capital do Peru: “O Futuro do
Dólar”.
Nos
meios financeiros internacionais ouvia-se diariamente o vaticínio da derrocada
do dólar e da necessidade de se substituir o dólar por uma cesta de moeda dos
principais países como moeda de troca internacional. Até hoje, desconheço o motivo
por que fui escolhido para redigir esse trabalho para o Presidente do Banco.
Sei que ele foi aprovado sem ressalvas por um professor famoso de Economia da
Universidade de Brasília, a quem eu, o Chefe de Gabinete da Presidência e um
funcionário da Assessoria Econômica da Presidência tivemos de submete-lo para revisão
definitiva. O vigor de uma moeda, afinal, é o reflexo especular de uma
economia. É a imagem de sua presença no mercado internacional, tal qual a renda
é a contraface do produto nacional, da riqueza nacional. Os Estados Unidos são
o mais importante player do mercado internacional e ainda continuarão sendo por
muitos anos, graças ao seu mercado de consumo, sua indústria de ponta, bem
assim o gênio liberal, criativo e empreendedor de seu povo, o afã incontrolável
por um nível de vida sempre mais alto. É liderança indiscutível em avanço
tecnológico, a tal ponto que significativa maioria dos prêmios Nobel de
ciências vêm sendo concedidos a norte-americanos ou cientistas estrangeiros que
trabalham nos Estados Unidos. Seus produtos de ponta difundem-se pelos mercados
do Mundo proporcionando condições de vida superiores para toda Humanidade e
seus artefatos atingem satélites e planetas, promovendo investigações pioneiras
em toda extensão do sistema solar bem como promovem observações que abarcam
todo o Universo no tempo e no espaço. É o país com a mais vasta e a mais conceituada
rede de Universidades. É o país que possui hoje a mais vasta e a mais barata reserva
de energia petrolífera da Terra, condição excepcional para o desenvolvimento
econômico atualmente.
Indiscutivelmente
um grande Evento anual. Os fundadores da PREVI, se hoje vivos, surpreender-se-iam
com a associação que criaram. Tudo passa!... Mas quantas indagações, como
modesto surpreso participante, não mais associado como antigamente, porque o
Estado me cassou esse direito, me
invadem a mente a respeito desse Evento promovido por uma EFPC!
Obrigado caro senhor Edgardo, pelo que acabei de ler e que provocou reflexões e perguntas.
ResponderExcluirPrezado amigo e colega Edgardo.
ResponderExcluirExtremamente valioso seu depoimento sobre esse marcante encontro. Melhor, ainda, porque enriquecido pelos seus adendos pessoais. Depoimentos de quem viveu e compreendeu a História.
Aos 87, pouco menos que seus longevos anos, acho maravilhosa a felicidade de nossas memórias, que nos permitem avaliar, com lucidez e competência, e navegar pelo grande oceano do passado, do presente e do futuro. Grande abraço, pela excelente leitura que me proporcionou. Cordialmente, Aristophanes.
José Carlos e diretor Aristophanes
ResponderExcluirAs manifestações dos amigos enriquecem este espaço de convivência e lhe conferem prestígio.
Edgardo