sábado, 18 de maio de 2019

448. Educar Para Administrar, Governar e Progredir (Texto lido no almoço de março/2010 da AAFBB-Rio)


Época de renovação das diretorias da Previ e da Cassi, as  instituições com a delegação de cuidar da segurança da sobrevivência dos aposentados do Banco do Brasil e seus dependentes, o valor máximo na vida de cada um de nós.

A forma atual do processo da indicação dos diretores é a eleição. Assim, surgem aqueles que querem ser eleitos e se julgam qualificados para essas diretorias. Difundem sua intenção. Muitos até se fazem conhecer, mais ou menos, nessa oportunidade.

Cada pretendente tem suas motivações próprias, as explícitas e as implícitas. Buchanan, um Nobel de Economia, formulou a teoria de que em Política o indivíduo humano age egoisticamente, como em Economia. O importante e o ético, isto é, o aceito na administração dessas instituições é que o interesse próprio não avance contra o interesse da coletividade. Outra qualidade imprescindível é a eficiência.

A eleição é a forma atualmente consagrada do processo de indicação dos gestores dessas instituições. É democrática, dizem. Mas, há diversas formas de eleições democráticas: a brasileira, a norte-americana, a venezuelana, a inglesa, a russa, a chinesa, a cubana. Ninguém ousará afirmar que não há nem haverá outra forma de se indicarem os gestores de instituições, nem outra forma de se organizarem as instituições, a não ser esta, a verticalizada em voga nos dias presentes.

No domingo atrasado, o Globo trazia reportagem com o consultor financeiro do Sr. Abílio Diniz, inclusive para as aquisições do Ponto Frio e da Casas Bahia, o mais bem sucedido consultor de negócios no momento presente no Brasil. Na sua empresa não existe presidente nem diretores. Há gestores, todos investidos de poderes iguais. Ninguém ali manda em ninguém. Tudo se decide democraticamente, no diálogo. A cada semana, os gestores se revezam na gestão dos diferentes portfólios da empresa, empresa com organização horizontalizada. É mais democrática. É novidade. É mudança para melhor. É gestão mais transparente.

E nas eleições deste ano estamos assistindo a uma novidade: AAFBB e ANABB estão compondo chapa única, mas cada delegado representando o pensamento de cada delegante.

No próprio Banco do Brasil, há o processo normal de preenchimento de cargos por concorrência. Mas há também aqueles casos em que a nomeação se faz por escolha. Ano de 1950, o Presidente Clemente Mariani preocupava-se com a administração da Agência Centro de Salvador, capital de seu Estado natal. Confiava no Inspetor Medina. Pede-lhe, então, que indique um funcionário competente para exercer a função de Contador daquela Agência e lhe restabeleça a ordem. O Inspetor não hesita: O atual Contador da agência de Limeira. Não está credenciado pelas instruções do Banco, porque não é nem  Conferente de Seção. Mas, esse é o cara. O Contador da agência da desconhecida Limeira foi nomeado Contador da Agência Centro de Salvador, após entrevista com o Presidente do Banco. Isso, os romanos chamavam clara cum laude notitia, isto é, FAMA. Décadas de 60 a 80, o Banco precisava de um Gerente para criar a Carteira de Câmbio de Conta Própria, Eduardo de Castro Neiva, sem concorrência, foi nomeado. Para abrir a agência de Londres, Neiva, sem concorrência. Para criar a trading company, Neiva, sem concorrência. Para criar a Diretoria das Agências do Exterior, Neiva, sem concorrência. Para criar a Vice-Presidência da Área Externa, Neiva, sem concorrência. Neiva, nunca advogou uma posição de mando para si próprio. Ele chegava lá, porque era o cara. Era a clara cum laude notitia, a FAMA.   

Cada época tem o seu Homem. Há sete mil anos, o Homem não escrevia. Há dez mil anos, não vivia em cidades. Há setenta mil anos, não pintava. Há duzentos mil anos, já existia, mas ainda não falava. Há trezentos mil anos, nem mesmo existia o Homem.

Todos os outros animais nascem com sua essência formada. O Homem é o único animal que se constrói, dizem os filósofos existencialistas. O Homem não é uma essência. É um processo, cada dia uma nova síntese entre tradição e novidade. Para alguns filósofos a democracia não é o governo da maioria, mas a sociedade do diálogo, onde sempre se faz ouvir a novidade, através da voz das minorias. O Direito e a Nação são os espaços do eterno diálogo. É a eterna tentativa da coexistência das gerações, do passado com o futuro, da tradição com o progresso, da transformação sem revolução. É o enigma social expresso na mitologia grega.

Certamente não verei a Previ e a Cassi com gestões horizontalizadas. Nem verei as gestões da Previ e da Cassi democratizadas de tal forma que sejam entregues pelos associados aos seus delegados, através não de batalhas eleitorais, mas através de um diálogo diáfano, porque iluminado exclusivamente pelos raios da FAMA inconteste daqueles, que mereçam ser ungidos com a missão da gestão dos bens, que asseguram a permanência daquilo que constitui o valor máximo na vida de cada um de nós, a sobrevivência própria e dos dependentes. Votarei para as diretorias da Previ e Cassi naqueles que penso conhecer, mas sobretudo em quem se comprometa ser leal aos associados e manter permanente diálogo com eles, sobretudo que infunda confiabilidade através de uma vida que se faça admirada pelo sucesso em realizações em prol da coletividade dos associados.

Mas, os mais novos que me estão ouvindo, esses assistirão a uma nova era. A cultura e a civilização atuais não mais suportam indivíduos humanos que pretendam assumir atitudes de dominação sobre os outros. Fossem os humanos capazes de lidar bem com sistemas políticos isentos de sanções, muito provavelmente não precisariam de muito – ou nenhum – governo, afirma Christoper W. Morris. Em um mundo assim, O Estado não é abolido. Ele morre, afirmou Friedrich Engels. Isso é uma tradição milenar que já se fazia ouvir, na voz do grande legislador de Esparta, Licurgo: A educação, baseada numa concepção exata da vida, transformaria a face da Terra. E a neurociência hoje suspeita que a amoralidade é uma doença. E tem cura. Outras podem ser, muito outras, as relações entre Estado, Banco do Brasil, Previ, Cassi, funcionários do BB e associados da Previ e da Cassi. E serão, um dia...

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso.
Eu não era negro.

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário.

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque não sou miserável.

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho emprego
Também não me importei.

Agora estão me levando
Mas já é tarde
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

                   Bertold Brecht


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