Época
de renovação das diretorias da Previ e da Cassi, as instituições com a delegação de cuidar da segurança
da sobrevivência dos aposentados do Banco do Brasil e seus dependentes, o valor
máximo na vida de cada um de nós.
A
forma atual do processo da indicação dos diretores é a eleição. Assim, surgem
aqueles que querem ser eleitos e se julgam qualificados para essas diretorias. Difundem
sua intenção. Muitos até se fazem conhecer, mais ou menos, nessa oportunidade.
Cada
pretendente tem suas motivações próprias, as explícitas e as implícitas.
Buchanan, um Nobel de Economia, formulou a teoria de que em Política o
indivíduo humano age egoisticamente, como em Economia. O importante
e o ético, isto é, o aceito na administração dessas instituições é que o
interesse próprio não avance contra o interesse da coletividade. Outra
qualidade imprescindível é a eficiência.
A
eleição é a forma atualmente consagrada do processo de indicação dos gestores dessas
instituições. É democrática, dizem. Mas, há diversas formas de eleições
democráticas: a brasileira, a norte-americana, a venezuelana, a inglesa, a
russa, a chinesa, a cubana. Ninguém ousará afirmar que não há nem haverá outra
forma de se indicarem os gestores de instituições, nem outra forma de se organizarem
as instituições, a não ser esta, a verticalizada em voga nos dias presentes.
No
domingo atrasado, o Globo trazia reportagem com o consultor financeiro do Sr.
Abílio Diniz, inclusive para as aquisições do Ponto Frio e da Casas Bahia, o
mais bem sucedido consultor de negócios no momento presente no Brasil. Na sua
empresa não existe presidente nem diretores. Há gestores, todos investidos de
poderes iguais. Ninguém ali manda em ninguém. Tudo se decide democraticamente, no
diálogo. A cada semana, os gestores se revezam na gestão dos diferentes
portfólios da empresa, empresa com organização horizontalizada. É mais
democrática. É novidade. É mudança para melhor. É gestão mais transparente.
E
nas eleições deste ano estamos assistindo a uma novidade: AAFBB e ANABB estão
compondo chapa única, mas cada delegado representando o pensamento de cada
delegante.
No
próprio Banco do Brasil, há o processo normal de preenchimento de cargos por
concorrência. Mas há também aqueles casos em que a nomeação se faz por escolha.
Ano de 1950, o Presidente Clemente Mariani preocupava-se com a administração da
Agência Centro de Salvador, capital de seu Estado natal. Confiava no Inspetor
Medina. Pede-lhe, então, que indique um funcionário competente para exercer a
função de Contador daquela Agência e lhe restabeleça a ordem. O Inspetor não
hesita: O atual Contador da agência de
Limeira. Não está credenciado pelas instruções do Banco, porque não é nem Conferente de Seção. Mas, esse é o cara.
O Contador da agência da desconhecida Limeira foi nomeado Contador da Agência
Centro de Salvador, após entrevista com o Presidente do Banco. Isso, os romanos
chamavam clara cum laude notitia, isto
é, FAMA. Décadas de 60 a 80, o Banco precisava de
um Gerente para criar a Carteira de Câmbio de Conta Própria, Eduardo de Castro
Neiva, sem concorrência, foi nomeado. Para abrir a agência de Londres, Neiva,
sem concorrência. Para criar a trading company, Neiva, sem concorrência. Para
criar a Diretoria das Agências do Exterior, Neiva, sem concorrência. Para criar
a Vice-Presidência da Área Externa, Neiva, sem concorrência. Neiva, nunca advogou
uma posição de mando para si próprio. Ele chegava lá, porque era o cara. Era a clara cum laude notitia, a FAMA.
Cada
época tem o seu Homem. Há sete mil anos, o Homem não escrevia. Há dez mil anos,
não vivia em cidades. Há
setenta mil anos, não pintava. Há duzentos mil anos, já existia, mas ainda não
falava. Há trezentos mil anos, nem mesmo existia o Homem.
Todos
os outros animais nascem com sua essência formada. O Homem é o único animal que
se constrói, dizem os filósofos existencialistas. O Homem não é uma essência. É
um processo, cada dia uma nova síntese entre tradição e novidade. Para alguns
filósofos a democracia não é o governo da maioria, mas a sociedade do diálogo,
onde sempre se faz ouvir a novidade, através da voz das minorias. O Direito e a
Nação são os espaços do eterno diálogo. É a eterna tentativa da coexistência
das gerações, do passado com o futuro, da tradição com o progresso, da
transformação sem revolução. É o enigma social expresso na mitologia grega.
Certamente
não verei a Previ e a Cassi com gestões horizontalizadas. Nem verei as gestões
da Previ e da Cassi democratizadas de tal forma que sejam entregues pelos
associados aos seus delegados, através não de batalhas eleitorais, mas através
de um diálogo diáfano, porque iluminado exclusivamente pelos raios da FAMA inconteste daqueles, que mereçam
ser ungidos com a missão da gestão dos bens, que asseguram a permanência
daquilo que constitui o valor máximo na vida de cada um de nós, a sobrevivência
própria e dos dependentes. Votarei para as diretorias da Previ e Cassi naqueles
que penso conhecer, mas sobretudo em quem se comprometa ser leal aos associados
e manter permanente diálogo com eles, sobretudo que infunda confiabilidade
através de uma vida que se faça admirada pelo sucesso em realizações em prol da
coletividade dos associados.
Mas,
os mais novos que me estão ouvindo, esses assistirão a uma nova era. A cultura
e a civilização atuais não mais suportam indivíduos humanos que pretendam
assumir atitudes de dominação sobre os outros. Fossem os humanos capazes de lidar bem com sistemas políticos isentos
de sanções, muito provavelmente não precisariam de muito – ou nenhum – governo,
afirma Christoper W. Morris. Em
um mundo assim, O Estado não é abolido.
Ele morre, afirmou Friedrich Engels. Isso é uma tradição milenar que já se
fazia ouvir, na voz do grande legislador de Esparta, Licurgo: A educação, baseada numa concepção exata da
vida, transformaria a face da Terra. E a neurociência hoje suspeita que a
amoralidade é uma doença. E tem cura.
Outras podem ser, muito outras, as relações entre Estado, Banco do Brasil,
Previ, Cassi, funcionários do BB e associados da Previ e da Cassi. E serão, um
dia...
Primeiro
levaram os negros
Mas
não me importei com isso.
Eu
não era negro.
Em
seguida levaram alguns operários
Mas
não me importei com isso
Eu
também não era operário.
Depois
prenderam os miseráveis
Mas
não me importei com isso
Porque
não sou miserável.
Depois
agarraram uns desempregados
Mas
como tenho emprego
Também
não me importei.
Agora
estão me levando
Mas
já é tarde
Como
eu não me importei com ninguém
Ninguém
se importa comigo.
Bertold Brecht
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