segunda-feira, 17 de junho de 2019

452. A Visita de Trump ao Reino Unido



Noticiam que o Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, acaba de fazer festiva visita ao Reino Unido. A primeira vez que ouvi o nome de Trump foi em 1983, quando eu acabava de realizar missão para o meu País, que me fora confiada pelo meu notável e magnífico empregador, o Banco do Brasil.

Meio de tarde radiosa de sol de fins de setembro, início do outono, apenas chegados de Washington, percorríamos a Quinta Avenida de New York com destino à Agência do Banco do Brasil, quando eu e meus dois companheiros da CACEX, somos surpreendidos por altissonante música festiva que partia de um dos prédios laterais ao nosso itinerário. Curiosos, fomos ajuntar-nos à vasta aglomeração de pessoas que se formara à entrada do arranha-ceu.  No amplo salão de entrada feericamente iluminado e decorado, fervilhava a multidão de proeminentes convidados que se movimentavam e se comunicavam efusivamente, subiam e desciam nas escadas rolantes do edifício, e se deliciavam com os variadíssimos quitutes e bebidas expostos sobre as mesas luxuosamente ornadas e  espalhadas em  profusão pelo recinto.

Transcorridas mais de três décadas, assisto pela televisão à eleição de Trump à Presidência dos Estados Unidos, ao seu controvertido governo e, por fim, a essa festiva reunião com os chefes de Estado do Reino Unido, França e Alemanha.  Maravilhoso encontro! Esses quatro países comprometem-se a por fim às guerras! A História marcará essa data como a mais importante do século XXI EC! A data em que esses países tradicionalmente belicosos resolvem abdicar dos seus instintos genocidas.

A História começou na Mesopotâmia, quando o Homem principiou a escrever. A História das civilizações da Ásia Menor e do Norte da África foi a História de pilhagem, guerra e escravidão. Essa mesma história é o relato das civilizações grega e romana. Na Idade Média, até a religião  pretendeu propagar-se por meio da conquista armada, não apenas a muçulmana, como a cristã. Os países da Europa formaram--se por meio de guerras, afinal a Terra era a fonte da riqueza. Terra, géia, solo fértil, a deusa em cujo ventre se gera a Vida e de cujo ventre o trabalho humano retira todos os bens. Inquisição, onde até santos foram queimados e torturados. Guerras de quatro, dez, trinta, cem anos, guerras após guerras, para conservar, recuperar e conquistar terra!  Os impérios europeus se formaram nas piratarias oceânicas e nos embates terrestres e navais que se alastraram por todos os continentes. O Brasil foi pontilhado de norte a sul por fortificações portuguesas, que defendiam a propriedade do rei luso, contra as potências europeias e os habitantes indígenas, que o conquistador tentava escravizar para produzir, acumular e, sobretudo, consumir riqueza obtida através do trabalho desumano. O próprio país norte-americano deve a vasta extensão territorial às conquistas militares sobre a França e o México. 

Hoje, atemorizados por incontrolável destruição planetária de conjuntura bélica de armas nucleares, reconhecem a necessidade imperiosa de resolverem os litígios de maneira pacífica, através de negociações racionais e justas, através de acordos, de maneira digna de cidadãos de um mundo realmente civilizado.  É claro, e muito de lamentar, que aí, nessa brilhantíssima e seleta reunião de líderes mundiais, esteja faltando um importantíssimo país europeu, de longa e tremenda tradição militar e servidão, a Rússia.  Completar-se-ia o quadro desejado de segurança mundial, se nessa gloriosa solenidade estivessem também presentes e compartilhando do compromisso de paz, países como China, Coreia do Norte e Irã.  Nada obstante todas essas omissões, este dia D de 2019 será doravante lembrado como a grande data mundial, onde históricas, proeminentes e poderosas nações belicistas reconheceram a estupidez da guerra, e se comprometeram com a agenda civilizatória da paz em qualquer circunstância.

Isso posto, assistindo pela televisão ao encontro preliminar de Trump com a Primeira Ministra inglesa, permito-me uma segunda reflexão sobre o significado desse encontro em que foi afirmada a íntima identidade de interesses entre esses dois Estados, que no passado sacrificaram milhares de cidadãos nos campos de batalha, um lutando pela consecução da própria soberania e o outro na tentativa de preservar o maior império mundial então existente. Hoje compartilham do mesmo interesse e adotam a mesma política de controle e seleção populacional, contendo a vaga colossal da imigração que os ameaça invadir, depauperar e arruinar-lhes o bem-estar social e degradar o alto nível de felicidade da população.

Estados Unidos, presentemente, o segundo maior PIB mundial, apenas superado, pelo da China, é considerado pelo Fundo Monetário Internacional, critério de Paridade do Poder de Compra (PIB per capita, custo de vida e inflação) apenas o 12º país mais rico do mundo, enquanto o Reino Unido é apenas o 28º e a China não aparece nem entre os 50 mais ricos, classificada que é entre os países em desenvolvimento.

JÁ o World Happiness Report, anualmente publicado pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável, entidade criada pela ONU, com a finalidade de promover o desenvolvimento do bem-estar humano, e considerado o mais amplo e perfeito conceito de riqueza e progresso nacional, usa o índice de felicidade mundial (PIB per capita, expectativa de vida, segurança social, confiança popular no Governo, confiança popular nas instituições estatais, percepção de liberdade e generosidade), que coloca os Estados Unidos na 18ª e o Reino Unido na 19ª posição mundial.

Como se nota, a ONU e os mais credenciados sábios da atualidade adotam atualmente os conceitos ensinados por Abraham Maslow sobre as necessidades e motivações humanas bem como as de Martin Seligman sobre a vida feliz, que a Psicologia assimilou como conhecimento científico, e contemplam tanto a renda pessoal como a seguridade social (previdência, assistência à saúde e amparo às múltiplas deficiências humanas), como elementos imprescindíveis de uma sociedade rica, progressista, desenvolvida e feliz..

Assim, entendo que o apoio, dado por Trump naquele encontro ao Brexit liderado pela Primeira Ministra britânica, tinha como fundamento a política antiimigratória por ambos resolutamente adotada, fechando as fronteiras de seus países à vaga colossal e indistinta de alienígenas que tenta neles adentrar, deteriorando súbita e tragicamente os níveis de riqueza, bem-estar e felicidade desses dois povos. A população desgraçada do Mundo tenta o ingresso gratuito nos paraísos terrestres mais ambicionados! Nada surpreendente.

Indiscutivelmente é prioritária e sábia a adoção das políticas de aumento do PIB e da seguridade social. Os fatos estão a gritar pela implantação de uma política de seguridade sadia, técnica, de fato securitária, no Brasil, haja vista notícia do que ocorre em Minas Gerais, publicada esta semana, e provocando angustiante suspeita da enormidade dos desvios que podem ocorrer em Brasília: "Levantamento feito pelo G1 no Portal da Transparência do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais mostra que o maior salário do mês de abril foi de um servidor aposentado, que recebeu R$ 249.835,38. O segundo maior vencimento, de um analista de controle externo, foi de R$ 109.384,67. O ex-presidente e conselheiro do Tribunal Cláudio Terrão, que pode ter que devolver o dinheiro do mestrado, teve o terceiro maior rendimento: R$ 96.864,99. Pelo menos 19 servidores do TCE, órgão que é responsável pelo controle da gestão dos recursos públicos e municipais, receberam, líquido, acima de R$ 35.462,00, considerado teto constitucional."

Não se pode, entretanto, prescindir da política populacional. Assim vem conduzindo-se o governo chinês, que até pouco considerava crime o segundo filho de um casal e atualmente admite até dois filhos por casal, simultaneamente, entretanto, enfatizando a preferência por competente e audaciosa política de produção de riqueza. Claro que, mesmo a ritmo elevado de crescimento do PIB, a consecução da meta ambicionada de país rico e feliz, exige tempo dilatado e superação de muitos obstáculos, sobretudo de insatisfação e impaciência populacional. Mais em consonância com o sentimento político da sociedade atual, no entanto, é a política populacional do governo de Singapura, que garante previdência, assistência à saúde e instrução completa (até ensino superior completo) para o  primeiro filho. Todos os filhos, a partir do segundo, somente usufruirão da segurança estatal, na medida das disponibilidades financeiras do Estado.

Penso que o Brasil necessita de política desenvolvimentista abrangente, de promoção da riqueza e da seguridade populacional. Creio que política de desenvolvimento concentrada somente no aumento da riqueza é ilusória e destinada ao fracasso. Temos vasta população ignorante, ociosa e de baixa produtividade. E estamos nos propondo a adotar uma política que enfraquece o estímulo da seguridade e da confiança no Estado. Lamentável, desastroso equívoco, no meu entendimento, amparado na orientação da ONU, forjada no pensamento dos sábios e da ciência contemporânea.

Lester Thurow, professor de Economia no MIT, escreveu em 1992 um livro, obra científica de Economia de sucesso mundial, cujo título, Cabeça a Cabeça, encarava a competição comercial entre Estados Unidos, Europa e Japão, como uma chegada de corrida de cavalos numa disputa ganha pela cabeça do animal! Perfilhando fundamentos analíticos muito próximos à pirâmide de motivações erigida por Abraham Maslow, ele exalta a supremacia das empresas japonesas no mundo dos negócios,  que não se restringem apenas a explorar o instinto consumista básico da sobrevivência de seus funcionários, mas também os instintos superiores produtivos de vida plena e vida significativa de Martin Seligman. Estes tão potentes quanto aquele, e fornecem formidanda e vitoriosa energia aglutinadora à empresa. 

Releio Lester Thurow e restauro em minha memória o Banco do Brasil de minha Agência de São Luís do Maranhão, aquela centena de funcionários em trabalho contínuo, intenso e diário de seis, oito horas de trabalho, bem como a centena de funcionários da Carteira de Câmbio, na Direção Geral, no Rio de Janeiro, afogada em trabalho bancário e recebendo outros afazeres mais, porque a alta administração pública, frustrada com os fatos, percebia não existir outro local na República, que  o Banco do Brasil, onde ser mais bem e fielmente desempenhados! Nesta, eu, gerente, assisti ao primeiro surto de loucura de um jovem senhor, meu subordinado, e recebi a noticia da enfermidade mortal de um Assistente de Gerente, ambos amparados por política de seguridade social, previdência e assistência à saúde, que, à semelhança das empresas japonesas, os motivava a ufano e insano labor diário, e constituíra o decisivo motivo de seu ingresso no Banco do Brasil. Na adversidade implacável e definitiva da vida, na hora da incapacidade total, corporal e mental,  eles, de fato, não se sentiram sozinhos e irremediavelmente desamparados. Como confiaram diuturnamente, o ombro amigo, reconhecido e poderoso do empregador amparou-os incontinente e forneceu-lhes todas as condições de um final de vida digno, cumprindo o compromisso que com eles assumira e fora o estímulo para tão extraordinária, prolongada e produtiva dedicação. Como  a Bolsa de Valores de Londres, aquele magnífico Banco do Brasil não se omitiu, apresentou-se reafirmando: Aqui estou. Sou leal. “ Minha palavra é um contrato”, e acrescentando como os médicos sem fronteiras franceses: “Você não está só!”

Resulta da contemplação de todo esse cenário interior, miscelânea de fatos atuais e  rememorações de longínquo passado, a minha convicção  de que não apenas é pavoroso erro a transição do regime da previdência social do regime securitário de prêmio tripartite para o da capitalização individual, juntamente com o reforço de política econômica ancorada na produtividade de empresas operadas por trabalhadores estimulados exclusivamente pelo valor da renda presente, excluído qualquer sentimento de perenidade da segurança existencial ao longo das incertezas e infortúnios da vida, como se faz urgente e imperioso adotar-se política populacional  de elevado nível de esclarecimento que compatibilize a dimensão da população com o nível real do PIB, agregando-lhe simultaneamente  alto grau de produtividade, política que necessita inculcar,  como base, a responsabilidade esclarecida pela procriação de seres humanos capacitados a assumirem o próprio destino, a formação de um cidadão pleno, operoso e feliz.    

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