Uma amiga me enviou um email sobre as
desordens sociais que hoje acontecem na França. Ela me pediu que escrevesse
algo sobre essa realidade francesa atual. Eu estou ousando transmitir-lhes o
que escrevi àquela amiga.
Nada disso me assusta. Ao contrário, isso
é a Humanidade. Cada indivíduo humano é a sede de um ímpeto de sobrevivência.
Qualquer obstáculo à própria sobrevivência ele tenta eliminar. Qualquer pessoa
que tente competir na consecução dos meios da vida que ele quer ter, ele tenta
preterir ou civilizadamente negociando, ou dominando pela intimidação, ou
eliminando mesmo. Um exemplo: a grande maioria dos cariocas quer morar numa
linda mansão na praia do Leblon, contemplando aquela portentosa paisagem
marítima. A praia do Leblon só comporta uns poucos. Ninguém tem dinheiro para
negociar o terreno e construir uma mansão. Mas, alguns têm dinheiro para
comprar um lindo apartamento ou um razoável apartamento. Uns ganham o dinheiro
honestamente, outros explorando a população vendendo o amor de Deus, outros
roubam dos sócios, outros assaltam os bancos, outros desfalcam as empresas,
outros subtraem o dinheiro do Governo, outros assassinam um sócio rico ou até a
própria mãe velhinha aposentada.
O importante para esses marginais todos é
que não possam ser alcançados nem pelas possíveis vítimas nem pelos protetores
das vítimas (a Sociedade, o Estado, a Ordem Jurídica). A mentalidade dos
marginais é simplesmente esta: o importante é que eu viva com a mais alta
qualidade de vida material e para isso usarei qualquer meio, ainda que ilegal.
Para ter essa mais alta qualidade de vida, tudo arrostarei até a coação da Lei
e a possibilidade de minha própria eliminação pela provável vítima. O
importante é fazer de tal modo que nem a Lei me alcance, nem a minha vítima
consiga defender-se.
Estes são os vitoriosos na vida: uns
poucos vitoriosos dentro da Lei, mas em grande número vitoriosos à margem da
Lei. A grande maioria conforma-se com o dinheiro ganho dentro da Lei e nem
pensa em realizar essa qualidade de vida (morar na praia do Leblon). Uns poucos
tudo arrostam para realizar suas ambições. Essa explicação não é minha: assim
falou Maquiavel!!! É a lei do mais forte ou do mais esperto...
Os nossos pais (os seus, os de minha
mulher, os meus...) nos ensinaram a ser civilizados, isto é, a viver numa
cidade, isto é, numa sociedade, onde há diferença de pessoas em riqueza e
poder, numa convivência pacífica decorrente da ordem imposta por um governo (a
Lei), e onde se utiliza a escrita e se desenvolvem as atividades artísticas e
científicas.
Nossos pais nos deram essa cultura de
valorizar, na vida prática, esse tipo de sociedade e nós a desenvolvemos como
um valor nosso. A grande maioria não teve essa cultura. Ou recebeu e
desenvolveu outra cultura ou teve mesmo a anticultura.
A Neurociência diz que a grande qualidade
da mente humana é ser plástica, isto é, ela se amolda às circunstâncias da
vida. Portanto, ela se amolda à Cultura que recebe. O grande problema atual é
exatamente esse: CULTURA. Transformar a mente humana infundindo-lhe uma cultura
que não apenas não destrua a sociedade (a convivência dos seres humanos), mas,
muito mais, não destrua o ÚNICO PONTINHO DO UNIVERSO ONDE EXISTE A VIDA
INTELIGENTE!
Essa é uma portentosa transformação:
aceitar a cultura do desenvolvimento sustentável, muito, mas muito mesmo,
diferente da cultura que nos últimos séculos a Humanidade vem desenvolvendo.
Até certo ponto, existir é pensar. Se
destruímos a Terra, destruímos o único ser inteligente que existe no Universo.
Assim, destruímos o próprio UNIVERSO!
Nenhum comentário:
Postar um comentário