quinta-feira, 15 de agosto de 2019

460. A Jovem Ciência Econômica


Há múltiplas definições da ciência econômica. Uma delas é o estudo da produção e da distribuição dos bens e serviços.

A economia, tal qual existe hoje, nem sempre existiu. Durante 130.000 anos, os homens viveram ao relento ou entocados em grutas, e eram meros coletores de frutos e caçadores de animais. A Terra praticamente tudo produzia. Passaram-se outros 20.000 anos, em que o homem aprendeu a comunicar-se através de símbolos, da linguagem, a Revolução Cognitiva.  Transcorreram outros 40.000 mil anos e os homens aprenderam a criar animais, plantar vegetais e guardá-los para satisfazer necessidades futuras, a Revolução Agrícola. A Terra ainda praticamente tudo produzia. Por fim, mais uns 4.000 anos decorridos, ocorre a Revolução Civilizatória, o Homem aprende a viver em grandes grupos, em cidades e a escrever, a comunicar-se por símbolos gráficos representativos de símbolos vocais e de estados interiores da mente. Durante uns l2.000 mil anos, o Homem Civilizado viveu, sobretudo, do que a Terra, propriedade de uns poucos, produzia, coadjuvada pelo trabalho de outro numeroso grupo de homens, os escravos, propriedade daqueles, que negociavam, trocavam entre si, os excedentes a suas necessidades pessoais e familiares. Mais 1.500 anos transcorreram, o primeiro milênio e meio da Era Cristã, em que, sobretudo a Terra produzia e uns poucos eram ricos, os proprietários da Terra, para os quais uma multidão de outros homens trabalhava em troca do sustento para a sobrevivência, em regime de servidão.

Nos últimos séculos desse período, cidadãos de cidades do norte da Itália e, logo posteriormente da Suíça e dos Países Baixos, descobriram que poderiam ser ricos, igualmente tão possuidores de minerais preciosos, dinheiro e bens de todo tipo desejados, valorizados e procurados, quanto os proprietários de terra, somente negociando os bens produzidos pela Natureza e  pelo Homem, produtos agrícolas e manufaturas, até mesmo o dinheiro e os contratos de compra e venda. O comércio enriquece! Um lampejo de liberdade comercial! A produção humana e o comércio livres enriquecem! A produção humana se desenvolveu.

Em 100 anos, os comerciantes ricos das cidades construíram marinhas mercantes que transpuseram os mares interiores da Europa e construíram o mercado planetário. Em 100 anos os países dos comerciantes ricos, Inglaterra e Países Baixos, constroem uma marinha de guerra que transfere a hegemonia política e econômica mundial da Espanha para a Inglaterra. Em 200 anos, os países e principados dos comerciantes ricos, Inglaterra, França, Países Baixos e Norte da Itália consolidam o desenvolvimento do conhecimento científico. Em 300 anos, os comerciantes ricos dos Estados Unidos formam o primeiro país, depois da cidade-estado de Atenas, sem rei, e os comerciantes ricos da França, os burgueses, induzem o povo a decapitar o rei, revolta essa que propaga pelo mundo esse novo estilo de governo, o governo democrático, a Revolução Política. Em 400 anos, os comerciantes ricos transferem grande carga de trabalho dos ombros dos homens, do lombo dos animais, do vento, das quedas d’água, para a máquina a vapor, a eletricidade, para o motor deslocável movido a petróleo, comunica-se instantaneamente pelo telégrafo por fios sobre a terra e sob os oceanos, fala com outras pessoas ausentes, á distância, pelo telefone sem nem as ver, vive à noite em cidades iluminadas feericamente pela eletricidade e entrevê um mundo de divertimento e encanto cinematográfico. O Homem, assombroso feito, já produz mais do que a Terra! O citadino produtor e comerciante é mais rico que o proprietário de terra e deste adquire terra para produzir matéria prima para sua indústria e para enriquecer vendendo seus frutos.

A produção humana construiu palácios, catedrais, fortalezas, armamentos, exércitos, países, marinhas comerciais e bélicas, internacionalizou o Planeta, e até mudou a agricultura, fez as mesas mais fartas e as casas mais opulentas! A atividade comercial humana fez a Terra mais fértil. Revolução industrial! Laissez faire! Laissez passer! (Deixa fazer! Deixa passar!) Produção livre! Comércio livre! Esta foi a revelação assombrosa que provocou o surgimento dessa nova ciência, a Economia: o trabalho humano livre de controle, sem coordenação (laissez faire! laissez passer!), enriquece e faz poderosas as nações! A estupefação de Adam Smith gerou o seu livro famoso, considerado marco inícial da investigação científica, denominada Economia: A Riqueza das Nações! Como pode a  anarquia, a ausência de governo, a desordem gerar a fartura, a opulência, a riqueza, o poder das nações?!

Toda essa fabulosa história recente de poucos séculos passados é, na minha opinião, o que embasa esse mais breve e importante artigo da Constituição Brasileira, e tanto, que também constitui um capítulo, o primeiro, do mais importante título dela, o último, o Título VIII – Da Ordem Social, que enfeixa a fixação do fim para que o Povo Brasileiro decidiu conferir existência ao Estado Nacional, o artigo193:  A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.Como eu amo essa Constituição e como venero esse monumental artigo193!



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