Há
múltiplas definições da ciência econômica. Uma delas é o estudo da produção e
da distribuição dos bens e serviços.
A
economia, tal qual existe hoje, nem sempre existiu. Durante 130.000 anos, os
homens viveram ao relento ou entocados em grutas, e eram meros coletores de
frutos e caçadores de animais. A Terra praticamente tudo produzia. Passaram-se
outros 20.000 anos, em que o homem aprendeu a comunicar-se através de símbolos,
da linguagem, a Revolução Cognitiva. Transcorreram
outros 40.000 mil anos e os homens aprenderam a criar animais, plantar vegetais
e guardá-los para satisfazer necessidades futuras, a Revolução Agrícola. A
Terra ainda praticamente tudo produzia. Por fim, mais uns 4.000 anos
decorridos, ocorre a Revolução Civilizatória, o Homem aprende a viver em
grandes grupos, em cidades e a escrever, a comunicar-se por símbolos gráficos
representativos de símbolos vocais e de estados interiores da mente. Durante uns
l2.000 mil anos, o Homem Civilizado viveu, sobretudo, do que a Terra,
propriedade de uns poucos, produzia, coadjuvada pelo trabalho de outro numeroso
grupo de homens, os escravos, propriedade daqueles, que negociavam, trocavam
entre si, os excedentes a suas necessidades pessoais e familiares. Mais 1.500
anos transcorreram, o primeiro milênio e meio da Era Cristã, em que, sobretudo
a Terra produzia e uns poucos eram ricos, os proprietários da Terra, para os
quais uma multidão de outros homens trabalhava em troca do sustento para a
sobrevivência, em regime de servidão.
Nos
últimos séculos desse período, cidadãos de cidades do norte da Itália e, logo
posteriormente da Suíça e dos Países Baixos, descobriram que poderiam ser
ricos, igualmente tão possuidores de minerais preciosos, dinheiro e bens de
todo tipo desejados, valorizados e procurados, quanto os proprietários de terra,
somente negociando os bens produzidos pela Natureza e pelo Homem, produtos agrícolas e manufaturas,
até mesmo o dinheiro e os contratos de compra e venda. O comércio enriquece! Um
lampejo de liberdade comercial! A produção humana e o comércio livres
enriquecem! A produção humana se desenvolveu.
Em
100 anos, os comerciantes ricos das cidades construíram marinhas mercantes que
transpuseram os mares interiores da Europa e construíram o mercado planetário.
Em 100 anos os países dos comerciantes ricos, Inglaterra e Países Baixos,
constroem uma marinha de guerra que transfere a hegemonia política e econômica
mundial da Espanha para a Inglaterra. Em 200 anos, os países e principados dos
comerciantes ricos, Inglaterra, França, Países Baixos e Norte da Itália
consolidam o desenvolvimento do conhecimento científico. Em 300 anos, os
comerciantes ricos dos Estados Unidos formam o primeiro país, depois da
cidade-estado de Atenas, sem rei, e os comerciantes ricos da França, os
burgueses, induzem o povo a decapitar o rei, revolta essa que propaga pelo
mundo esse novo estilo de governo, o governo democrático, a Revolução Política.
Em 400 anos, os comerciantes ricos transferem grande carga de trabalho dos
ombros dos homens, do lombo dos animais, do vento, das quedas d’água, para a
máquina a vapor, a eletricidade, para o motor deslocável movido a petróleo,
comunica-se instantaneamente pelo telégrafo por fios sobre a terra e sob os
oceanos, fala com outras pessoas ausentes, á distância, pelo telefone sem nem
as ver, vive à noite em cidades iluminadas feericamente pela eletricidade e entrevê
um mundo de divertimento e encanto cinematográfico. O Homem, assombroso feito,
já produz mais do que a Terra! O citadino produtor e comerciante é mais rico
que o proprietário de terra e deste adquire terra para produzir matéria prima
para sua indústria e para enriquecer vendendo seus frutos.
A
produção humana construiu palácios, catedrais, fortalezas, armamentos,
exércitos, países, marinhas comerciais e bélicas, internacionalizou o Planeta,
e até mudou a agricultura, fez as mesas mais fartas e as casas mais opulentas!
A atividade comercial humana fez a Terra mais fértil. Revolução industrial!
Laissez faire! Laissez passer! (Deixa fazer! Deixa passar!) Produção livre!
Comércio livre! Esta foi a revelação assombrosa que provocou o surgimento dessa
nova ciência, a Economia: o trabalho humano livre de controle, sem coordenação
(laissez faire! laissez passer!), enriquece e faz poderosas as nações! A
estupefação de Adam Smith gerou o seu livro famoso, considerado marco inícial
da investigação científica, denominada Economia: A Riqueza das Nações! Como
pode a anarquia, a ausência de governo,
a desordem gerar a fartura, a opulência, a riqueza, o poder das nações?!
Toda
essa fabulosa história recente de poucos séculos passados é, na minha opinião,
o que embasa esse mais breve e importante artigo da Constituição Brasileira, e
tanto, que também constitui um capítulo, o primeiro, do mais importante título
dela, o último, o Título VIII – Da Ordem Social, que enfeixa a fixação do fim para
que o Povo Brasileiro decidiu conferir existência ao Estado Nacional, o artigo193:
“A ordem social tem como base o primado
do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.” Como eu amo essa
Constituição e como venero esse monumental artigo193!
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