“Eu sou eu e minhas circunstâncias.”
Ortega y Gasset
Aprecio a
AAFBB. Aprecio o almoço dos aposentados na terceira quarta-feira do mês,
promovido pela AAFBB, aqui, na sede da Associação, no Rio de Janeiro. Por
quanto tempo essa oportunidade de reunião nos estará proporcionada? O trânsito
congestionado de nossas grandes cidades me suscita a suspeita de que, dentro de
muito poucos anos, esse almoço mensal estará inviabilizado. Estaremos
circunscritos, no máximo, a perambular pelo nosso próprio bairro. Ou os
transportes urbanos assumirão outra forma, e assumirão, ou os nossos encontros
passarão a virtuais nos espaços de relacionamento proporcionados pela Internet!...
A AAFBB de
hoje, proprietária do edifício-sede na Rua Araújo Porto Alegre, sempre me provoca
a nostálgica lembrança dos idos de 70 do século passado, quando, por vezes, me
deparava com os simpáticos e admiráveis velhinhos aposentados, reunidos na modesta
saleta que o Banco lhes proporcionava para um encontro fraternal, ali na
galeria do Edifício do Comércio na Avenida Rio Branco. E a idéia disseminou-se
pelo Brasil afora. A primeira AAFBB foi a do Rio de Janeiro? Ou o Rio de
Janeiro importou a idéia renovadora de alguma outra região do Brasil? Não sei. Admiráveis,
queridos e simpáticos velhinhos, que nos precederam com tanta galhardia e
sabedoria! Que estupenda realização, inclusive patrimonial, é hoje a AAFBB! Foram
profícuos trabalhadores e cidadãos brasileiros. Merecem as nossas homenagens!
A AAFBB não é
mais a única associação de aposentados do Banco do Brasil. Hoje outras
associações similares existem. Há até associações de funcionários da ativa e
aposentados mais poderosas financeira e politicamente do que a AAFBB. Existe
até federação!... Uma característica da civilização atual é a liberdade,
liberdade de expressão e liberdade de associação. Nenhuma outra, entretanto,
tem o prestígio de ser a primeira associação de aposentados do Banco do Brasil
e nenhuma possui a sua tradição. Ela porta a imagem das antigas gerações de
funcionários, que merecem o tributo de nossa admiração, gratidão e simpatia!
A liberdade é um
valor e um direito fundamental do indivíduo humano na civilização atual. Por
incrível que pareça, ao refletir-se sobre o lema da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – liberdade
é expressão da diversidade humana! Somos todos diferentes. Não somos iguais.
Quem afirma é a Biologia Genética e a Psicologia. Costumo dizer que nada há de
mais diferente do que uma mente humana de outra mente humana. Cada indivíduo
constrói o seu mundo, inexoravelmente diferente do mundo do indivíduo que vive
a seu lado. Isso é o que quis expressar Ortega y Gasset: Eu sou eu e minhas circunstâncias. E esses mundos costumam, por
vezes, entrechocar-se, como se entrechocam as galáxias nos espaços. Os
entrechoques das galáxias nem os percebemos, por mais formidáveis que sejam.
Mas os entrechoques de nossos mundos individuais provocam até comoções
devastadoras, motins, revoluções sociais. São eles que promovem as
transformações, que melhoram ou pioram as nossas existências!
Tenho a
satisfação de expressar as minhas idiotices, naqueles almoços mensais, já que a
diretoria da AAFBB o permite e os participantes do ágape são constrangidos a
ouvi-las. Seja como for, fica-me sempre a impressão de que elas agradam a
alguns. Por isso, decidi redigir uma série de pequenos artigos sobre a CASSI,
sob título inspirado no livro “Elogio à Loucura”, do grande humanista dos
séculos XV e XVI, Erasmo de Roterdã, o grande mestre da Universidade de
Louvain, cidade em
cuja Faculté Saint Albert tive a felicidade de estudar
Teologia, durante dois anos.
O Humanismo
foi uma era de revolução civilizatória, onde a humanidade abandonou a concepção
medieval de que este nosso planeta é um vale de lágrimas, e adotou a concepção
moderna de que a Terra é o palco em que cada indivíduo humano aparece, se
realiza e cede a vez para outro ator. A vida é uma passagem, uma passagem de
gerações. Nada é definitivo. Tudo passa. É uma passagem que devemos tornar
muito feliz, porque é, de fato, o bem que nos é proporcionado, e por uma vez
só. Olavo Bilac ousou expressar este pensamento neste verso formidando: Terra, melhor que o Céu. Os gregos
pensavam que somos comandados pelo deus Cronos, isto é, pelo Tempo que devora
todos os homens, substituindo as gerações indefinidamente.
O livro “O
Elogio à Loucura” é uma crítica sarcástica à cultura e às instituições da Idade
Média: a religião, as leis, a organização social, o poder político, o Rei, a
Justiça, e, sobretudo, a Igreja. Erasmo entendia que tudo isso é relativo. O
conhecimento, o bem, a cultura, a civilização, a Terra e o Universo, tudo é
relativo. As instituições são relativas. A CASSI é relativa. Ela pode mudar,
Ela muda. Nós o constatamos.
Expressarei
aqui meus pensamentos. São pensamentos limitados. Reportam-se a poucos
assuntos. Mas, acho que eles têm que ser afirmados, ao menos como um ideal a
ser alcançado ou um projeto a ser perseguido. Serão idiotices, sem dúvida. Como
loucuras eram o que descreveu Erasmo. Só que hoje nós vivemos as loucuras que
Erasmo proferiu. Espero que, no amanhã bem próximo, ainda usufrua de idiotices
realizadas, como as que lhes descreverei, porque não mais existirá um longo
amanhã para mim, um velhinho idiota de 82 anos hoje,
Idiotia,
explica Aurélio, é uma limitação mental que estaciona o desenvolvimento
cerebral ao nível dos três anos de idade e provoca malformações orgânicas.
Lembrem-se: o que eu porventura aqui escrever são idiotices. Vocês certamente
perdoarão o que proferir uma criança de três anos!...
Ah!... outra
coisa, por mais diferentes que sejamos, a civilização, o estilo de vida em
convivência de toda uma comunidade humana, nos conduz em direção à igualdade.
Civilização é convivência. Convivência é associação, troca recíproca,
coexistência pacífica de culturas diferentes e de indivíduos diferentes.
Assim caminha
a Humanidade para a Civilização, para a Igualdade, partindo da igualdade dos
direitos fundamentais – fundamentos para a existência de associação humana – para
a Igualdade de membros conscientes e ativos da Humanidade, a mais perfeita e
poderosa forma de realização da vida. Igualdade de que nos vamos aproximando,
sem nunca atingi-la totalmente, através da cada vez mais estreita convivência, viabilizada
pela atitude de aceitação das diferenças e de valorização do outro, do
diferente e do novo.
Caro Edgardo Amorim Rego,
ResponderExcluirTambém gosto muito da AAFBB, da sua sede, de seu espaço dos aposentados e de seus memoráveis almoços.
Sempre escrevo sobre a AAFBB atual.
Vá até.
Quero o conhecer pessoalmente.
Grande abraço
Adaí Rosembak
Estimado Adaí
ResponderExcluirJá mal saio de casa. Minha médica não me deixa sair sem companhia e minha mulher, de 79 anos, não me deixa sair sem ela.
Estou sentindo falta de seus textos.
Um abraço fraterno do
Edgardo