sábado, 14 de dezembro de 2019

475. O Futuro do Mercosul



A cidade grega foi uma sociedade fantástica. Num almoço mensal da AAFBB, há poucos anos, em que tive o privilégio de me manifestar na presença de nossa ilustre liderança, o colega Sasseron, em razão de minha argumentação, que se baseava nesse inconteste fato histórico, me contestou alegando a existência do trabalho escravo naquela estupenda sociedade.

Indiscutivelmente a cidade grega era uma civilização muito mais avançada do que todas as que antes existiram e que então existiam. Produto humano, todavia, não podia ser destituído de uma das características dessa produção, que é apresentar-se permanentemente inacabada, em estado de gestação, de continuada transformação para melhor ou para pior.

A cidade grega era a sociedade do cidadão grego. E o cidadão grego era o homem nela nascido, educado e domiciliado que a prezava tanto que admitia contribuir para o pagamento de sua manutenção e fazer a guerra quando dela necessitasse a cidade.

O cidadão grego era o homem rico, dono de latifúndios, porque naqueles tempos a riqueza consistia na posse de terra. O homem grego não estava ocupado no trabalho corporal. O esforço corporal era produzido pelos animais e pelos escravos, seres estes comparáveis aos animais.

O cidadão grego não era, todavia, uma pessoa ociosa. Ele estava ocupado na realização do cidadão ideal, o homem de mente sã num corpo são. Ele se exercitava nos exercícios atléticos, na arte da guerra e no trabalho da cultura, a saber, o estudo das ciências, na produção de poesias, de peças teatrais, e da música. O comércio e a própria produção de palácios e templos, de esculturas e pintura, trabalhos braçais e manuais, não constituíam ocupação de homens ociosos, homens ricos, donos de terra, cidadão grego. Eram ocupação de homens livres, mas não do cidadão grego.

Os cidadãos gregos dedicavam-se, com muito esmero, ao estudo da dialética e da oratória, que lhes eram ensinadas pelos filósofos, os sofistas. Estes eram menosprezados pelos grandes sábios, os grandes filósofos, como Sócrates, Platão e Aristóteles. Os sofistas eram filósofos céticos que descriam da capacidade de o indivíduo humano obter a Verdade, o conhecimento certo, o conhecimento único e universal de cada coisa. Eles admitiam que o conhecimento humano jamais passaria de uma opinião individual, própria, subjetiva das coisas. O importante, pois, era que o indivíduo possuísse uma opinião interessante e altamente proveitosa dos assuntos sob consideração, e soubesse expô-la com poderosa, perspicaz e convincente dialética. Os sofistas eram os professores dos cidadãos gregos, que a cada quinzena se esmeravam na utilização da oratória para convencer os parceiros nas reuniões na ágora, onde debatiam os assuntos de interesse da Cidade, formulavam as leis e as promulgavam. Trabalhar para a cidade, colaborar com o deus da cidade para a sua perenidade, bem-estar e glória, descobrir os planos concebidos para a cidade e realiza-los era a única ocupação reservada para o cidadão grego!

Como se vê, o povo grego era o povo mais evoluído daqueles tempos, os últimos séculos da era pré-cristã. Lançou a semente da civilização atual, a civilização da liberdade, da dignidade da pessoa humana, da igualdade, da justiça, da convivência racional, do Estado de direito, do conhecimento, do progresso, do bem-estar social e do patriotismo.

Nada obstante tudo isso, as cidades gregas não prevaleceram. Alexandre, da Macedônia, educado por Aristóteles, um dos três maiores sábios da Grécia, forma um exército capaz de vencer as tropas gregas e impõe outro destino à Humanidade.

Sob a influência da recordação desse fato histórico é que minha mente repassa tantos episódios de minha quase centenária existência: final da hegemonia inglesa, ascensão norte-americana, tentativa de supremacia alemã e japonesa, segunda guerra mundial, guerra fria russa e norte-americana, supremacia norte-americana, supremacia norte-americana e chinesa, dispersão do poderio bélico nuclear.

Um fato me parece indiscutível, as duas áreas geográficas desnuclearizadas, a América Latina e o Continente Africano não têm a menor chance de decidir o próximo passo da História. Pacificamente, a direção imediata da História está sendo decidida pelos Estados Unidos e China. Belicamente, o primeiro passo da História será dado por qualquer das nações nuclearizadas, entre as quais avultam como mais fortes candidatas, no momento, Coreia do Norte, Israel, Estados Unidos e Irã.

Não tenho informação sobre o que restaria da Terra, depois da ocorrência de uma conflagração atômica mundial. Creio que a normalização da vida  e da sociedade humana só ocorreria passados séculos. Aí, então, África e América Latina surgem como candidatos a palcos da reconstrução da História... A vida é um acidente frágil e raro, mas persistente...

A aceleração dos passos normais do progresso do Mercosul está, na minha opinião, fortemente freada por sua posição geográfica. Entendo o que se passava pela mente do Presidente Nestor Jost, quando em fins de 1969 me levou com ele à África (África do Sul, Moçambique e Angola), mercados próximos, numa tentativa de incrementar o fluxo de comércio próximo e confiável entre o Brasil e a África.... Persistente sonho de certas lideranças brasileiras, com fortes obstruções, sobretudo sociais.

E ainda exigiria concomitante e extraorninário desenvolvimento científico, técnico e econômico brasileiro.  


3 comentários:

  1. Caro, Edgar, li o teu texto, que primor!A guerra nuclear principal se daria entre cinco superpotências nucleares hoje, EUA, Russia, Reino Unido, China e França, ão as principais potências com grandes arsenais e mísseis hipersônicos, que voam a 12.000 KM por hora e e alcançam200 a 400Km de altitude, a maioria carrega de oito a doze ogivas de bombas de hidrogênio, ou seja, em questão de meia-hora o mundo todo estaria devastado, Leia sobre a Tzar bomba da URSS em 1961, de lá para cá a tecnologia de miniaturização de ogivas avançou muito!Os países com maiores sobreviventes seriam os que mais possuem Bunkers, reserva de água, alimentos, trajes e filtros para barrar a radiação, e os países que mais tem bombas nucleares são justamente os que mais possuem esses bunkers, a América Latina e África são alvos fáceis de queimar, sem recursos para suportar um inverno nuclear nem os efeitos da contaminação do solo, água, ar.Seria terra arrasada, mas se algo permite a sobrevivência, e a elite mundial sabe disso, são esses bunkers, com espessas camadas de concretos, aço, portas de vedação, filtros para descontaminação do ar e água, muita água estocada em galões, poços impermeáveis, e, mais ainda, muita comida em estoque, e armas muitas armas para afastar invasores, sejam civis ou militares.Grande abraço!

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  2. Estimado Paulo
    Obrigado pela informação.
    Edgardo Amorim Rego

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  3. https://www.youtube.com/watch?v=fBgP9nq7bv4

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