Este texto é mera manifestação de ideias
que assaltaram a um autodidata da ciência econômica, de conhecimentos
limitados, portanto, sobre a matéria, hauridos, quando, há meio século, se viu
obrigado a compulsar o mais conceituado texto didático da matéria, existente
naquela época, o de Paul Samuelson, para sentir-se orientado nas missões que seu
empregador, o maior banco do Brasil, lhe confiava na extensão do território
nacional e ministros da Fazenda e do Planejamento em missões internacionais de
interesse da Nação.
Acudiram-me à mente de aposentado na
iminência de receber o meu benefício mensal, num mundo impiedosamente atacado
por um vírus assustadoramente mortífero, cujo contra-ataque governamental é a
antissocial norma do isolamento total domiciliar.
O antídoto ministerial, que recebe violenta
repulsa presidencial, adepto do isolamento vertical restrito, exibe retaguarda
científica, assim como a oposição da autoridade máxima do Executivo, no
diagrama da propagação da peste em forma de sino, cujo ápice de contágio e
morte, aquele quer postergar, com a consequente duração do contágio, e este
pretende aceitar para já, com a manutenção igualmente do menor tempo do
contágio.
A opção do ministro justifica-se pela
redução da carga mortífera da peste, em razão da viabilidade de descoberta de
remédios e vacina ao longo da duração prolongada do contágio. Já a opção
presidencial reside no entendimento de que a consequência econômica inevitável
do isolamento total é a intensificação da depressão econômica, desastre ainda
mais insidioso e mortífero que a peste, porque surge invisível da destruição
patente do relacionamento humano, o constitutivo da própria sociedade, por ela
provocada, de todo tipo de troca humano, do mercado – o abastecimento de
víveres -, do sistema de preços, o coração, órgão vital da economia, motor do
relacionamento de subsistência, de sobrevivência. Sabido ademais que apenas se
obtiveram até hoje condicionamentos, que mitigam o duradouro impacto mortífero
e o fácil contágio do HIV, peste igualmente avassaladora e atemorizante, há
quarenta anos ocorrida, ainda agora sem
defesa pela via da imunização preventiva, e sem cura, apenas conseguindo-se o prolongamento
da existência, penosa e dispendiosa, num organismo alquebrado pelas sequelas
devastadoras.
O Presidente entende que o isolamento
vertical viabilizará o funcionamento do mercado, em ritmo menos acelerado, é
verdade, mas em condições de evitar danos ainda mais profundos ao funcionamento
da economia, e com menor custo social de recuperação econômica. Creio que tenha
em sua mente um quadro de tantas tentativas de recuperação econômica
realizadas, há trinta, quarenta anos, neste País, entre elas a fixação de
preços por decreto e o confisco das poupanças.
Então, a perspectiva que o economista
tem do Brasil no momento presente é de que o país ingressou inevitavelmente
numa fase depressiva, cuja intensidade será maior ou menor, e cujo custo social
de recuperação, por conseguinte, será maior ou menor, em consequência das
providências que agora se decidam tomar para bloquear o contágio do covid-19 e
evitar as mortes por ele causadas.
O Panorama internacional imediatamente
precedente à erupção da pandemia já vinha apresentando fatos econômicos
adversos ao pleno funcionamento da economia brasileira, economia periférica ao
comando político e econômico mundial, em lenta fase de desenvolvimento,
caracterizada pelo seu papel de fornecedora de produtos primários para o
mercado internacional - alimentos, minerais preciosos e estratégicos, fibras, minério
de ferro e alumínio, energia elétrica - e fornecedora de produtos secundários e
terciários para o mercado interno.
O cenário econômico mundial já não
transcorria tranquilo, em razão dos ataques mundiais ao poderio financeiro,
econômico, tecnológico e político norte-americano. À guerra tributária entre
Estados Unidos e China veio agregar-se a guerra comercial do petróleo barato da
OPEP ((Arábia Saudita e Rússia) para inviabilizar a produção norte-americana de
petróleo. Recentemente Estados Unidos e China concluíram acordo de tarifas que
gera vantagens concorrenciais para os produtos agrícolas norte-americanos com
relação aos brasileiros.
A desaceleração da economia chinesa,
cuja demanda é o motor atual da economia mundial, produzira efeitos depressivos
na economia nacional, provocando medidas expansionistas de política monetária
que baixaram os juros básicos para 3% a.a. A arma do preço do petróleo cria
dificuldade para a atividade econômica da Petrobras, a principal empresa
brasileira, produtora de óleo fóssil a altos custos. Fundos de pensão poderosos
já vinham tomando medidas de recuperação de seu patrimônio desfalcado por
administração fraudulenta, às custas de sacrifício previdenciário significativo
de seus participantes.
O cenário econômico nacional, pois, baixista
de juros, parcialmente desfavorável à formação de poupança, o nutriente dos
fundos de pensão, fornecedores dos complementos de benefícios previdenciários,
torna-se universal, atingindo as Bolsas de Valores e todo o mercado financeiro,
na ocorrência de paralisia total da economia, e o desastre econômico maior será
quanto mais longo o isolamento total for. Desastre sempre recuperável, é certo,
mas com sacrifícios enormes e tragicamente dramáticos sobre a vida das pessoas.
Se o isolamento total perdurar um mês,
um fundo de pensão que desembolse anualmente R$6 bilhões em benefícios, somente
arcará com despesa mensal de R$500 milhões e despesas administrativas de um
mês, obtendo os recursos em negociação num mercado de títulos adverso. Mas, se
o isolamento total perdurar um trimestre ou um semestre, os valores de
benefícios se avolumam para R$1,5 bilhão e R$3 bilhões, a oferta mensal de
títulos continua a mesma no mercado, enquanto a demanda efetiva se se evaporará
mensalmente cada vez mais com a aceleração da redução mensal dos poupadores,
dos aplicadores, os demandantes efetivos de títulos. A negociação dos títulos tornar-se-á
mais difícil a cada mês acrescido de isolamento,
em mercado cada mês menos interessado. O pagamento dos benefícios se torna a
cada mês problema maior, até o momento em que se torne problema insolucionável.
Aeroportos, rentáveis oportunidades de
aplicação financeira, já sentem a redução de suas rendas, em razão da violenta
queda da atividade do transporte aéreo. A mais importante exportadora de
minério brasileira já vinha arcando com vultoso aumento de despesas, em razão
de indenizações decorrentes de desastre ecológico de sua responsabilidade e de
providências necessárias para evitar que desastres semelhantes se repitam em
dezenas de tanques-barragem de resíduos minerais outros por ela mantidos. O
ramo elétrico tem sua rentabilidade controlada pelo governo sob o critério do
interesse social do complexo produtor nacional, bem como do baixo poder
aquisitivo de vasta maioria da população, acrescendo-se que um dos gigantes do fornecimento
elétrico é empresa recente, fase que costuma produzir renda em dimensões
impróprias para distribuição do lucro.
Todas as circunstâncias acima descritas já
tornam a administração de um fundo de pensão, numa época de normalidade
econômica, não apenas uma ciência, mas uma arte para administradores de alto
gabarito gerenciar. Imagine-se o que essa administração significará, caso
ocorra paralisação total da economia por dois, três, seis meses!... Exigem-se
administradores geniais, com a capacidade do mitológico Mídias de tudo
transformar em ouro!... Numa fase depressiva da economia, tudo se vende a preço
baixo, tudo se compra na “bacia das almas”. Aqui, na cidade do Rio de Janeiro,
já há UPA (Unidade de Pronto Atendimento) sem médico e hospital do Estado em
que o heroico grupo de enfermeiros, que vem arriscando a vida para arrancar vidas
das garras vorazes do conavírus 19, não recebeu o salário de março. Em toda a
extensão do território nacional, os consultórios médicos e os escritórios de
advocacia já se acham fechados. Os negócios cotidianos de subsistência,
inclusive os financeiros, estão-se
realizando, em grande maioria, e em muitas especialidades exclusivamente,
mediante atendimento robótico dos clientes, e, na maioria das vezes, mudo!...
O futuro próximo, de curto prazo, do
funcionamento da Previdência complementar brasileira, sucesso ou fracasso,
depende da política isolacionista, que agora adotar o governo brasileiro, na
minha modesta opinião de leigo em economia.
E para ressaltar a importância ímpar
dessa decisão econômica governamental, encerro estas considerações com a
citação do célebre pensamento de Karl Marx, gravado sobre o gesso da lápide de
seu túmulo no cemitério de Soho em Londres: “O importante não é explicar, é
produzir”. O importante é criar valor. Conferir utilidade às coisas. cooperar
com a Natureza para que tudo ao nosso redor se transforme em objetos que
satisfaçam às nossas necessidades e proporcionem a nossa sobrevivência num
ambiente de bem estar. E faço-o, quem diria!, para glorificar precisamente o
sistema capitalista de mercado competitivo, de nossos dias atuais, que ele
combatia, reunião de bilhões de compradores e vendedores mundiais, de todas as
nacionalidades, que produziu o espetáculo soberbo do máximo de bem estar humano
já registrado até hoje na História, e. contrariando o seu vaticínio da extinção
do capitalismo, com a inclusão de Rússia e China, como negociantes
proeminentes, países outrora adeptos do regime de planificação econômica.
O isolamento social total é o antípoda
do mercado competitivo. É a destruição do sistema circulatório do organismo
social. É a morte da Humanidade pela anemia da fome e pela inexistência da
assistência de urgência para as necessidades gerais curativas.
A. [...] Devemos pôr fim a esta concepção errônea, que se baseia na idéia de que o futuro poderia ser descrito objetivamente ex ante, da mesma forma que os pressupostos do modelo de equilíbrio geral Arrow-Debreu. Com base nisso, é então possível calcular um valor verdadeiro, aquele que corresponde à expectativa matemática de lucros futuros. Na realidade das economias capitalistas, essa suposição não se mantém. É até absurdo.*
ResponderExcluir*E ainda assim, é o que se mantém por toda a moderna abordagem formalizada das finanças! (28)
B. [...] Na falta de qualquer ativo real capaz de cobrir os rendimentos anunciados, Ponzi oferecia a seus primeiros clientes o capital aportado pelos que vinham depois. A sustentabilidade do conjunto supunha, portanto, a manutenção infinita do fluxo de novos clientes. [...] O segredo da bolha é a adesão especulativa. Investimentos de alta rentabilidade atraem aplicadores cada vez mais comuns — portanto, cada vez menos esclarecidos, porém mais numerosos. (14)
(14)diplomatique.org.br/o-mundo-refem- das-finanças/
(28) www.parisschoolofeconomics.com/orlean-andre/depot/publi/RAP2004tBOUR.pdf;
A + B = A Bolsa é uma pirâmide financeira. Entretanto, toda pirâmide financeira tende a deixar de existir..
Discordo. A ciência econômica não se baseia na previsão do futuro, com base na imutabilidade das condições presentes, mas exatamente no contrário, na mutabilidade da mudança, e sobretudo na identificação da TENDÊNCIA, do que mais está agora influenciando e, portanto, PROVAVeLMENTE CONSTITUIRÁ O FUTURO, O AMANHÃ.
ResponderExcluirEdgardo
Concordo. Entretanto, além da tendência devemos olhar a psicologia do mercado. Neste sentido, parece-nos oportuno a leitura do artigo abaixo, disponibilizado no site Infomoney:
ResponderExcluir"Pessoas físicas aumentam a presença na Bolsa, mas reduzem o valor investido"
Ademais, a "lei do valor", é uma baliza para validar, ou não, a tendência. Neste sentido, o seguinte fragmento de texto encontrado na literatura técnica:
ResponderExcluir[...] “A reversão bursátil, portanto, deve ser interpretada como uma forma de um lembrete da existência da lei do valor, que segue sua trilha INDEPENDENTEMENTE DAS TENDÊNCIAS ECONÔMICAS . O que diz esta lei? Duas coisas bem simples: que há um valor que é apenas aquele criado pelo trabalho e que não se pode distribuir mais valor do que aquele criado. Esta lei não exclui as fases de alta bursátil, porque introduz uma distinção básica entre os fluxos de renda e os ganhos correspondentes à valorização dos patrimônios”. A riqueza virtual pode evoluir de forma perfeitamente extravagante, desde que não reivindique ser convertida em poder de compra e dar origem a reivindicações de renda incompatíveis com a criação de valor real. (45) (maiúsculo nosso)
(45) hussonet.free.fr/mhz.pdf;
Discordo totalmente. O valor das coisa é o valor utilidade, juntamente com o valor trabalho, enquanto custo de produção. A miscelânea desses dois, sob a influência da quantidade do produto e da urgência da satisfação, é que produz o valor das coisas, realidade psíquica, portanto, subjetiva, do momento, que hoje existe e ontem não existiu e amanhã outra será, medida pelo preço, valor corrente, do momento presente.
ResponderExcluirEdgardo
Este comentário foi removido pelo autor.
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