sábado, 17 de janeiro de 2009

6. O Conhecimento na Renascença



Enriquecidos os comerciantes italianos, eles passaram a tudo comprar e a gozar todos os prazeres terrenos disponíveis. Até o céu eles compravam, construindo igrejas, confessando os pecados da vida inteira na hora da morte aos padres que sustentavam, comprando as indulgências para não passarem nem pelo purgatório e comprando recitação diária da missa pela sua alma até o fim dos tempos. O Ocidente cristão começou a apreciar a vida terrena. Olavo Bilac resumiu o espírito dessa época, naquela frase chocante: Terra, melhor que o céu! Homem, maior que Deus!
Assim, Maquiavel no século XV escreveu outra grande verdade. É com virtù (qualidades) e fortuna (sorte) que se consegue ser Príncipe. As qualidades que fazem o Príncipe e mantém o Príncipe são, principalmente, a ambição do Mando, a crueldade assassina contra todos os rivais e familiares deles até o extermínio deles, e a benemerência para com os próprios amigos, aliados e súditos devotados. Mais importante que ser cruel e benemerente é parecer ser cruel e benemerente. Mais, o Príncipe não tem ética: os fins justificam os meios. Cinqüenta anos depois, Etienne de La Boétie acrescentava: só existe Príncipe, porque existe quem aceite ser servo, ou por covardia, ou por hábito, ou por conveniência. Assim já não era mais Deus quem fazia os príncipes. Os Príncipes resultavam de uma sociedade dividida entre uns poucos audaciosos e afortunados e uma multidão de indivíduos acovardados.
A visão da Terra ampliou-se com os Descobrimentos. Os portugueses criaram a estratégia das descobertas geográficas, que é hoje usada na descoberta do espaço extraterrestre: ir e vir, cada vez mais longe, anotar, acumular informações e avançar sempre gradativamente. A Terra não mais se resumia ao Mediterrâneo e às Índias. Compreendia mais continentes e mais oceanos. Havia multidões de pessoas que nunca haviam ouvido falar em Jesus Cristo.
O século XVI foi pródigo de grandes verdades. Lutero declarou que não existem intermediários entre Deus e os indivíduos humanos, todos são igualmente sacerdotes, Deus fala diretamente a todas as pessoas. O Papa não é delegado de Deus, nem dele representante. Contestava o poder do mais supremo dos reis absolutos da época, a organização política mundial multissecular do Ocidente cristão. A revelação divina está toda contida na Bíblia. O Cristianismo seria a religião da inspiração do Espírito Santo e do Livro. Copérnico mostrou a conveniência de se adotar a concepção heliocêntrica do sistema planetário. Galileu criou o método experimental para o conhecimento da Natureza. E abalou a crença cristã com a afirmação de que, usando o telescópio, via que satélites giravam em torno de Júpiter e que Mercúrio girava em torno do Sol. Assim, a Terra não era o centro do Universo. As autoridades cristãs (o Papa, Lutero e Calvino) perceberam que a Terra já não mais era o local mais importante do Universo, nem o Homem deveria ser considerado tão importante, que merecesse a morte de um homem divino. Elas repudiaram ferozmente essas grandes verdades de Copérnico e Galileu.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

5. O Conhecimento na Idade Média



O cristianismo surgiu no mundo helênico greco-romano. Encontram-se fugidios laivos do pensamento dos filósofos gregos, Platão e Aristóteles, nos escritos do modelador da doutrina cristã, Paulo de Tarso. A idéia de uma outra vida, muito superior à presente e eterna, é fundamental na filosofia platônica. Os padres do cristianismo estavam imbuídos da crença cristã, mas eram muitos deles pessoas cultas, que conheciam a filosofia grega. Durante mil e seiscentos anos, a Humanidade comportou-se segundo o modelo ético da concepção monacal da vida, consubstanciada na visão do mundo herdada, aperfeiçoada e legada pelo Papa monge, Gregório Magno, no século VI.
A concepção monacal da existência encara a vida humana terrestre como período probatório, cheio de trabalho e doença, tendo a morte como término. O homem precisa comportar-se eticamente para merecer alcançar, após a morte, o Céu, a vida eterna de felicidade. O homem que não agir eticamente irá, após a morte para o Inferno, a vida eterna de tormentos inimagináveis.

Mais. Gregório Magno adotava a idéia de Agostinho, o famoso monge africano, de que Deus conferiu uma organização à sociedade humana: uns poucos nascem para mandar, a grande multidão para obedecer. Todos sofrem, uns mais, outros menos. Assim, a alguns é conferido o papel de reis e de nobres, e à grande maioria é destinado o papel de povo. Uns viverão nos palácios e sendo servidos. A grande maioria viverá nos casebres e servindo. Uns viverão na riqueza e na diversão. Outros viverão na pobreza e no trabalho. Uns conseguirão o Céu na indigência e na doença. Outros conseguirão o Céu no conforto e no prazer. O rei e o nobre apenas terão que ser compadecidos para com o sofrimento do povo. O povo, esse terá que viver conformado com a desgraça. Mas, ambos, nobreza e povo, alcançarão o Céu, se souberem viver no amor recíproco. Foi outra grande verdade.
Mas, a corrente freática da filosofia grega continuou a fluir até que assomou no século XIII nas obras de Tomás de Aquino, que cristianizou Aristóteles. A filosofia, serva da crença cristã, foi outra grande verdade.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

4.O Que É Conhecer?




Uma grande verdade é o contrário de outra grande verdade.
Niels Bohr




O Conhecimento na Filosofia Grega.




Tales de Mileto foi o primeiro a tentar explicar racionalmente o que a Natureza é. Foi uma grande verdade.
Nas suas pegadas prosseguiu uma plêiade de sábios gregos. Passados alguns séculos, outro numeroso grupo de sábios gregos, os sofistas, impressionados com tantas explicações desencontradas da Natureza, todas bem fundamentadas e plausíveis, ficaram convencidos de que não existe um conhecimento certo, único, inquestionável, universal, verdadeiro. Segundo esses filósofos, apenas formamos uma opinião subjetiva e pessoal sobre o que é a Natureza. Não existe, portanto, conhecimento certo nem errado. Existe a opinião individual sobre o que é a Natureza. Foi outra grande verdade.


Sócrates não aceitou a versão sofista. Ele achava que existe o conhecimento certo, verdadeiro, sobre o que é a Natureza. Segundo ele, os sábios, que o antecederam, não alcançaram o conhecimento verdadeiro da Natureza por dois motivos: buscavam-no na própria Natureza, onde o conhecimento verdadeiro não está, e usavam método inadequado para atingi-lo. E explicava: o conhecimento verdadeiro está na mente humana, não na Natureza física. E se chega a ele usando o método, que ele chamava maiêutica. Todos os indivíduos humanos nascem com a mente equipada com o conhecimento verdadeiro, o conhecimento certo: as idéias universais, isto é, as idéias existentes, iguaiszinhas, em toda mente humana. Para que se descubram essas idéias que todos os indivíduos possuem na mente ao nascer, segundo Sócrates, é necessário e suficiente utilizar a maiêutica, isto é, o raciocínio investigativo. A investigação racional conduz todos os homens às mesmas idéias, aquelas idéias com que todos nascem, idéias comuns, portanto, a todos os indivíduos humanos, idéias universais. Foi outra grande verdade.


\Platão explicou que nós temos essas idéias universais inatas, porque nós de certo modo já vivíamos, criados que fôramos como Idéias, antes de nascer atrelados ao corpo. É que, segundo Platão, existem dois mundos: o mundo sensível (o mundo material, a Natureza) e o mundo das Idéias. Este mundo das Idéias é o mundo que merece ser chamado de mundo. O mundo sensível (este em que vivemos) é apenas um arremedo daquele maravilhoso e perfeito mundo das Idéias, o verdadeiro mundo. A mente de cada um nada mais é que a Idéia de cada um que, desde a criação do mundo das Idéias, existia no mundo das Idéias. Num determinado instante do tempo, aquela minha Idéia encarnou-se. Eu nasci e esqueci todas as Idéias Universais que antes contemplava. A maiêutica nada mais faz que relembrar as Idéias que foram esquecidas. Foi outra grande verdade.


Aristóteles, discípulo de Platão, não aceitou a explicação do mestre. Realmente é uma explicação muito fantasiosa. Concordava com Sócrates que existe o conhecimento certo, verdadeiro. Mas, Aristóteles não precisava de um outro mundo para explicar o que é conhecimento verdadeiro e como se consegue o conhecimento verdadeiro. O conhecimento verdadeiro, segundo Aristóteles, é um juízo, aquela operação da mente que atribui um predicado a um objeto: o mel é doce (doce predicado, mel objeto). Se o meu juízo corresponde à realidade, ele é verdadeiro, é certo. Se o meu juízo não corresponde à realidade, ele é falso, é errado. A Verdade, a Certeza, está na mente, porque ela é uma qualidade da operação mental, chamada juízo, a qualidade de exata correspondência entre juízo e realidade (objeto, Natureza).
E como se chega ao conhecimento verdadeiro, segundo Aristóteles? Usando-se dois métodos de conhecimento: a indução e a dedução. Através de uma observação rigorosa e correta, consegue-se formar na mente uma imagem sensível exatamente igual àquela do objeto (um indivíduo humano, um cão, a chuva, o rio, etc). As sensações me oferecem uma fotografia fiel dos objetos da Natureza. É o início da indução. Nada está na mente que não tenha vindo dos sentidos: não há idéias inatas. Nisto, portanto, ele se afasta de Sócrates e de Platão.
A razão, outra faculdade da mente e diferente dos sentidos, age sobre as imagens contidas nas sensações e delas extrai a forma, isto é, aquilo que nelas (e nos objetos da Natureza) é comum: animal racional (nas imagens individuais de Pedro, João, etc.), primata antropóide (nas imagens individuais de macacos graúdos). Isso é a idéia (idéia do homem, do macaco graúdo). Uma idéia é a extração da forma (da essência, das propriedades comuns a uma classe de objetos, do que a coisa realmente é). A idéia é a fotografia do objeto, reduzido às propriedades comuns a todo um grupo deles, separadas todas as qualidades individuais. A idéia abstrai de uma classe de coisas as propriedades que lhes são comuns. A idéia é abstrata. É uma abstração. É a parte invariável do objeto, da natureza. É a forma. É a essência. É o que realmente ele é. A idéia universal é o resultado do processo indutivo.
Até aqui tratamos da indução de Aristóteles. A indução é o processo mental de construção das idéias universais. Formadas as idéias, a mente humana passa a raciocinar. O raciocínio é o processo que, segundo determinadas normas, amplia o conhecimento sobre o objeto (a realidade, a Natureza). Através do encadeamento comparativo de juízos rigorosamente corretos, silogísticos, Aristóteles construiu formidável corpo teórico consistente de explicação da Natureza. A Metafísica aristotélica é um conhecimento abrangente da Natureza: conhecimento verdadeiro, conhecimento certo. E nisto Aristóteles concordava com Sócrates: usando-se o método correto chega-se ao conhecimento verdadeiro, conhecimento certo. Aristóteles escreveu um livro, a Lógica, sobre o raciocínio dedutivo correto.
Entre as suas induções fundamentais estava o princípio de identidade (o que é, é; o que não é, não é; isto é, não existe meio-termo entre o ser e o não-ser), o princípio de não-contradição (nada pode ser e não ser, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto). Nada obstante, ele adotou, na base de sua metafísica, o meio-termo entre o ser e o não-ser: o ser é tudo que é (ato, ser em ato) ou pode ser (potência, ser em potência), isto é, o que não é, não é, mas o que é ou é ou pode ser. Esta intuição fundamental da metafísica aristotélica ainda é poderosa em nossos dias. Toda essa discussão mundial e brasileira sobre a utilização das células-tronco na pesquisa médica tem a ver também com essa idéia aristotélica: crença e metafísica, dogma e aristotelismo, Cristo e Aristóteles. Afinal de contas, segundo Aristóteles, desde o primeiro instante do ovo humano produzido no seio de minha mãe, estava lá inteirinho em potência, em potencial, o homem que hoje eu sou. O conhecimento, veremos adiante, por mais lúcido que seja, apresenta sempre nichos de lusco-fusco.
Aristóteles admitia também a teoria geocêntrica do Universo, segundo a qual, quatro séculos depois, Cláudio Ptolomeu elaboraria um esquema explicativo que mereceu mais tarde a adesão das autoridades cristãs. Foi outra grande verdade.


quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

3. Parlamentarismo



O Brasil parece-me ser o parque de diversão dos políticos. Agora, no limiar do terceiro milênio, os políticos brasileiros descobriram que o parlamentarismo é o melhor regime de governo, enquanto o presidencialismo é a fonte das desventuras do desafortunado povo brasileiro.
Todos sabemos que o parlamentarismo teve origem no rei Jorge I da Inglaterra, príncipe alemão, colocado no trono por nobres latifundiários e grandes comerciantes que, anos antes, haviam decapitado Carlos I, revoltados contra o aumento de tributos que pretendia impor-lhes. Jorge I, preguiçoso, não queria dar-se ao trabalho de aprender o idioma inglês nem ao de governar o seu reino. Renunciou ao direito de presidir as reuniões do Gabinete e transferiu para o parlamentar mais destacado os poderes reais de governar a Inglaterra, criando-se assim o posto de primeiro-ministro.
Mais recentemente, há sessenta anos, o presidente Hindemburg nomeou Adolf Hitler primeiro-ministro da República parlamentarista de Weimar. Hitler só foi apeado do governo pela morte na mais apocalíptica conflagração mundial. Escravizou durante treze anos o povo alemão, um dos mais cultos da terra. Produziu a mais pavorosa hecatombe da história das nações. Foi sem dúvida o déspota mais cruel, mais sanguinário e mais desumano da História.
Agora mesmo, ouvimos o relato de corrupção praticada por primeiros-ministros japoneses que se sucedem, sem que se ponha cobro a tão criminoso comportamento. O governo socialista espanhol do primeiro-ministro Gonzalez tem conseguido resistir às incessantes acusações de corrupção que lhe assacam. Pior ainda é o cenário parlamentarista da Itália, onde, ao que parece, nenhum primeiro-ministro democrata, liberal ou socialista, se mostra imune à corrupção. Vasto número de políticos italianos em todos os níveis e das mais variadas ideologias é colhido na prática da corrupção.
Enfim, o mais rico país do mundo, os Estados Unidos, cuja economia supera à dos seis outros mais ricos juntos, é presidencialista!...
A história do parlamentarismo é ruim, hein?!...

(Escrito em 1993)

2. Natal 2008

Natal 2008
(Mensagem proferida no almoço da AAFBB de dezembro/2008)
O estábulo. Um sorriso de criança. Um afago de mãe.
Só existe, de fato, uma dádiva: a vida. Tudo mais é conquista. A conquista básica: a sobrevivência com qualidade. Sobreviver é renascer a cada instante. Renascer é mudar. Mudar para melhor.
O mundo está mudando espetacularmente nos dias atuais, com o fracasso de portentosas empresas, com o intercâmbio entre as nações, com a intercomunicação dos indivíduos, a contragosto dos poderes políticos, dos países hegemônicos.
O mais significativo fato da crise atual: dinheiro somente com inovação, disse o Congresso Americano para as montadoras (o carro bioenergético, o carro elétrico, o carro solar, o carro hidrogênico, o carro que ninguém mais seja capaz de fazer). Isto é, aquilo de que o país precisa mesmo é de cérebros, de idéias, de mentes, de pessoas.
Concentremo-nos no aperfeiçoamento de nossas mentes e teremos uma Previ, uma Cassi, um Banco do Brasil e um País muito melhores. Não estou satisfeito com a Previ, nem com a Cassi, nem com o Banco do Brasil nem com o País.
Quero um governo do povo, que sirva o povo e não se sirva do povo. Quero um governo de delegados. Não quero um governo de representantes. A representação é uma farsa. Não quero um governo que se transforme em uma classe privilegiada. Se o povo for fraterno, não precisaremos de leis contra o homicídio. Se o povo for solidário, não precisaremos de leis contra o furto. Se o povo tiver respeito, não precisaremos de leis de proteção aos idosos.
Se os funcionários do Banco forem dedicados ao Banco e competentes, o Banco do Brasil será o melhor e o mais rico banco do Brasil e do mundo. A sociedade brasileira amará e exigirá a sobrevivência do Banco. Nem se cogitaria em transferir a propriedade de associações sem fins lucrativos para inchar o lucro de sociedades com fins lucrativos. As associações sociais não deveriam transformar-se em subsidiárias de empresas, isto é, de sociedades econômicas, à luz da cultura do século do Estado do Bem-estar Social. Ou estou errado?
Se os associados da Previ e a direção do Banco do Brasil se conscientizarem de que o exclusivo interesse dos associados deve nortear as decisões, teremos uma administração irretocável da Previ e não precisaremos pagar ao Governo para nos fiscalizar e orientar. Sustentamos um órgão do Governo! Quem diria!
A Previ será muito mais transparente. Não quero empréstimo. Quero aposentadoria. Não se cobrirão os olhos com as asas na questão da pensão de nossas viúvas e por ocasião dos reajustes das pensões. Será que os defensores dos parâmetros atuais estão convictos de que estão aplicando o imperativo categórico de Kant? Ah! Rei de Uruk, cidade-estado da bárbara Suméria, de seis mil anos atrás, no início da História, ressuscita, reedita a primeira lei da História e ameaça de novo: quem avançar no que pertence às viúvas terá que me enfrentar!
A distribuição dos superávits será automática, através da aplicação de um índice de reajuste de benefícios mais consentâneo com os resultados da Previ e com a realidade inflacionária da terceira idade. Acabemos com esse blá, blá, blá de superávit. É só querer. Isso nutre a existência de messianismos... Nada mais pernicioso para uma democracia, para uma sociedade de cidadãos livres e iguais.
Se os associados da Cassi e a direção do Banco do Brasil se governarem pelo exclusivo interesse dos associados, teremos uma administração irretocável da Cassi e ela preencherá cabalmente a sua finalidade, prestando um serviço de saúde de excelente qualidade, incluindo serviço dentário e hospitalar de excelência.
A Previ, a Cassi, o Banco do Brasil e o Brasil somos nós. Assim, o aperfeiçoamento de tudo isso só se fará se nos convencermos daquela idéia redentora de Sócrates e Jesus Cristo, que não agradou aos poderosos dos seus tempos e incomoda os detentores do poder político de todos os tempos: só existirá, de fato, uma sociedade, quando a mente de cada indivíduo humano for saudável. Eliminar-se-á o risco de repique do surpreendente fenômeno Mardoff, da famosa Bolsa Nasdaq de New York.
E tal sociedade, de fato, será uma associação confortável para todos, apreciada por todos e desejada por todos. Será uma sociedade, como a verdadeira sociedade não pode deixar de ser, uma associação de cidadãos livres e iguais. Iguais nos direitos e iguais nos deveres. Todos seremos igualmente soberanos e igualmente súditos. Nós autolegislaremos.
Desejo-lhes Feliz Natal, um Natal de Verdade! E presenteio-os com Shakespeare: somos feitos da mesma matéria dos sonhos!... Gandhi: Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo. Jill Bolte Taylor, a Cientista que Curou o Próprio Cérebro: Você e eu escolhemos momento a momento quem e como queremos ser no mundo. Einstein: Preciso dispor-me a desistir do que sou para tornar-me o que serei. E eu: A cultura e a civilização da geração que somos foram utopias nas gerações passadas!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

1. Mudaremos

(Exposição feita no almoço da AAFBB, de novembro/08)
Na primeira quarta-feira deste mês, no almoço da AAPBB, o nosso estimado colega, ex-presidente do Banco do Brasil, o Cagliari, fez uma palestra, expondo o temor de que essa instituição venha a desaparecer tal qual ela é, instrumento governamental de progresso nacional. Desenvolveu a idéia de que as associações de funcionários e aposentados do Banco têm interesse na continuação do Banco tal qual ele foi, pilar necessário de desenvolvimento econômico e social do País. Conclamou, por isso, todas as associações de funcionários e ex-funcionários do Banco a que se unissem em torno daquela instituição. Isso seria bom para o Banco, para o País, para as associações, para os funcionários, para os aposentados e para os pensionistas. Colocou o assunto em debate pela assistência.
Expus meu pensamento naquela ocasião. Disse que a mudança é a inexorável Lei do Universo: Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. O Banco mudou. O Brasil mudou. Nós mudamos. E como mudamos!
Nós tínhamos, portanto, que aceitar a realidade, o Banco Comercial, e construir essa mudança do Banco e nossa, dos aposentados e pensionistas. Eu entendia que a resplendorosa mudança do Banco consistiria na mudança das pessoas, dos funcionários, dos aposentados e dos pensionistas. Essa transformação trará qualidade para o Banco, qualidade de que a sociedade brasileira não quererá prescindir. E, assim, o Banco continuará, mudado.
Por quê? Porque o Banco do Brasil de fato são as pessoas, os acionistas, os funcionários e (por que não?) os aposentados e os pensionistas. Por que o que de fato existe é o que está na minha cabeça. Só na minha cabeça existe a luz, as cores, os sons, a música, a festa, o prazer, o sofrimento, a tristeza, o triunfo, a derrota, o amor, o ódio, a amizade, o companheirismo, a traição, a moral, a ética, os interesses, a família e a sociedade. Ai! Os interesses, os que agregam e os que desagregam! Fora de minha cabeça, diz a ciência, tudo é escuridão e silêncio.
Vamos refletir um pouco. Poucas coisas há tão importantes quanto as leis, a Constituição e os códigos. O que são as Leis! São os livros que os juízes consultam? Não. Aqueles livros são celulose borrada de tinta, são troncos de árvores manchados de produto químico líquido. Os cientistas dirão: são átomos, são gigantescos vazios onde coexistem bilhões de minúsculos, invisíveis sistemas planetários! As leis serão isso mesmo? Não, as leis não são os livros. As leis só existem na minha cabeça, na cabeça dos juízes, na cabeça de vocês, na cabeça das pessoas. É nas cabeças que se acham as leis e os julgamentos.
O que isso significa? Significa que a única coisa importante é o indivíduo humano, o povo. Os hinos nacionais pretendem lembrar-nos o que é importante em nossa pátria. Geralmente eles exaltam a riqueza de recursos naturais e o destemor na defesa da soberania nacional: Gigante pela própria natureza, és belo, és forte, impávido colosso... Mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta... O hino da Finlândia, porém, exalta precisamente o seu povo: somos um país pobre, que não tem ouro. O recurso que temos é o nosso povo. E esse país pobre, sem recursos materiais, que importa toda a matéria-prima e alimento que necessita é, pelo índice de desenvolvimento humano, o décimo-primeiro mais desenvolvido país do mundo, no conjunto de cento e noventa e cinco países. A Finlândia, de fato, tem Homens, melhor dito, a Finlândia é composta de Homens, de cérebros, de cabeças.
O judaísmo diz: quem faz as pessoas honestas e desonestas é a Lei, quem cumpre a Lei é honesto, quem não a cumpre é desonesto. Quem cumpre a Lei, Deus abençoa; quem a descumpre, Deus mata. Jesus Cristo discordou e, por isso, morreu como um bandido na cruz: quem faz o homem honesto ou desonesto não é a Lei, mas a mente de cada pessoa, o espírito de Deus, dizia ele. O homem que se enxerga livre e igual aos demais não precisa de lei, nem de Estado, repetiram (vejam só!) os Anarquistas do século XIX, isto é, quase dois mil anos depois de Jesus Cristo.
Transponhamos tudo isso para a nossa realidade, isto é, Banco do Brasil, PREVI, CASSI, AAFBB, ANAB, AAPBB. O Banco do Brasil fomos nós. O Banco do Brasil é, no presente, os acionistas e os funcionários da ativa. A PREVI e a CASSI somos nós, os que nos acomodamos. Mas, nós podemos e precisamos mudar. Tudo isso mudará, o Banco do Brasil, a PREVI e a CASSI. Nós os mudaremos, quando as nossas cabeças mudarem.
Num artigo sobre a CASSI, que redigi em setembro, eu ressaltava as atitudes paradoxais do Banco do Brasil. Obrigou-me em 1958 a ingressar na CASSI, ainda que o próprio Banco mantivesse assistência médica própria para os funcionários. Cinqüenta anos depois, tergiversava em regularizar as contas da CASSI que as próprias negaças do Banco, afirmavam alguns entendidos, haviam levado ao desequilíbrio.
E agora eu fico refletindo lá, na minha cabeça. Toda essa celeuma sobre distribuição de superávits só existiu, em grande parte, porque os diretores da PREVI, o Banco do Brasil e o Governo quiseram. Vejam bem. A correção anual tanto dos nossos benefícios quanto das reservas matemáticas é feita anualmente pelo mais baixo índice de inflação. É evidente que ele é insuficiente, não reflete a nossa inflação. A cada ano nós, os aposentados e pensionistas, ficamos mais pobres. A cada ano, a conta de reservas matemáticas fica mais deprimida. A cada ano, todavia, a PREVI gera mais superávits. E a expectativa de vida? Está ela, de fato, compatível com a realidade dos aposentados e viúvas?
Quem ganha com essa política financeira? Os administradores da PREVI, o Banco do Brasil, os acionistas do Banco do Brasil e o Governo. Quem perde? A PREVI e nós, os associados, os aposentados e os pensionistas. Isso não precisa de explicação. Se o índice de reajuste anual fosse o da verdadeira inflação, os superávits seriam muito mais reduzidos. Os associados estariam satisfeitos e o mal-estar entre as partes interessadas seria muito menor. A repartição de grande parte do indigitado superávit teria sido automática. Haveria muito menos a repartir. E tudo seria muito mais justo, mais ético, mais técnico e mais prudente.
Nós estamos situados em uma esquina da História. Ou seguimos o modelo atual (o da economia hegemônica, o da riqueza autônoma) e desapareceremos, os indivíduos e a espécie humana, ou dobraremos a esquina e sobreviveremos numa sociedade bem diferente da atual (o da economia humanista, o da economia ética). Há mais de setenta anos, Franklin Delano Roosevelt afirmou: "Nós sempre soubemos que o interesse impróprio insensato era moralmente ruim; agora nós sabemos que é economicamente ruim". Os governantes das vinte mais ricas nações do mundo acabam de reunir-se em Washington para resolver a maior crise econômica já experimentada pela Humanidade. Entre as medidas aprovadas está a da moralização da atividade financeira global: transparência e integridade (isto é, moralidade) nos negócios financeiros e remuneração comedida dos executivos.
Vejam como era a farra dos executivos. Há dois anos, uma das dez maiores firmas norte-americanas faliu pouco depois de seu presidente, o responsável pela desastrosa administração, aposentar-se recebendo gigantesca participação acionária na empresa, além de um palácio na Califórnia, outro na Flórida e um castelo na Alemanha, e mais uns trocados para manter e acrescer todo esse patrimônio. Agora mesmo, o presidente de outra prestigiadíssima instituição financeira, o mais fabuloso prestidigitador das finanças no mundo atual, o Midas moderno das finanças, ganhava fábulas de dinheiro para edulcorar produtos servidos à elite dos investidores globais, numa manipulação tão ultra-realista que quebrou a maior empresa financeira norte-americana, e levou de roldão o sistema financeiro mundial.
Esta é a mais importante esquina da História, mais importante que a esquina da Era Agrícola, que a esquina da Era Cristã, que a esquina da Era Renascentista, que a esquina da Era Industrial. Estamos vivendo a esquina crucial da Humanidade: ou ela segue reto e se extingue, ou dobra a esquina e a novidade salva-la-á.
Quero acreditar na sensatez humana. A Mente não existe para a Verdade. A Mente existe para a sobrevivência. A verdade científica nada mais é que modelos bem construídos pela Mente, para que a Humanidade se equipe de instrumentos mais eficazes para prolongar a sobrevivência. Modelos temporários, que se sucedem, ao sabor do apetite do deus Cronos.
Um dia no futuro, os nossos descendentes, se decidirmos dobrar a esquina do Tempo, contemplarão a nossa era presente, como uma daquelas épocas de loucura. E eles contempla-la-ão com certo espanto, porque terão dificuldade para entender que se possa dar mais valor ao econômico do que à vida, que o lucro seja valor superior à saúde. Terão dificuldade para entender que se acolha sem inconformismo a decisão de canalizar recursos de entidades sem fins lucrativos para sociedades com fins lucrativos. Jamais imaginei em minha vida assistir, justamente após o final do século do Estado do Bem-estar Social, à opção pelo lucro do capital numa alternativa esquisita com o direito de propriedade da velhice.
Até que os fatos não parecem tão estranhos assim, já que tudo isso que acontece se deve ao espírito da época da globalização, comandada pela busca desenfreada do maior lucro, onde ele estiver, produzido pelo menor nível de salário!... Mesmo que seja às custas dos empregos no país de origem do capital! Pobre Barack Obama!

Bacharel em Filosofia





Bacharel em Filosofia pelas faculdades dos jesuítas, em Nova Friburgo e São Leopoldo. Cursei dois anos de Teologia na Faculté Saint Albert em Louvain. Regressei ao Brasil. Ingressei no Banco do Brasil. Nas décadas de 70 e 80, ocupei altos postos de administração dessa instituição e aposentei-me, após trinta e um anos de serviço, como diretor do Banco Brasileiro Iraquiano. Ensinei Filosofia no Instituto de Educação do Recife, no Seminário Arquiepiscopal e na Universidade Católica de São Luís do Maranhão.