sábado, 17 de janeiro de 2009

6. O Conhecimento na Renascença



Enriquecidos os comerciantes italianos, eles passaram a tudo comprar e a gozar todos os prazeres terrenos disponíveis. Até o céu eles compravam, construindo igrejas, confessando os pecados da vida inteira na hora da morte aos padres que sustentavam, comprando as indulgências para não passarem nem pelo purgatório e comprando recitação diária da missa pela sua alma até o fim dos tempos. O Ocidente cristão começou a apreciar a vida terrena. Olavo Bilac resumiu o espírito dessa época, naquela frase chocante: Terra, melhor que o céu! Homem, maior que Deus!
Assim, Maquiavel no século XV escreveu outra grande verdade. É com virtù (qualidades) e fortuna (sorte) que se consegue ser Príncipe. As qualidades que fazem o Príncipe e mantém o Príncipe são, principalmente, a ambição do Mando, a crueldade assassina contra todos os rivais e familiares deles até o extermínio deles, e a benemerência para com os próprios amigos, aliados e súditos devotados. Mais importante que ser cruel e benemerente é parecer ser cruel e benemerente. Mais, o Príncipe não tem ética: os fins justificam os meios. Cinqüenta anos depois, Etienne de La Boétie acrescentava: só existe Príncipe, porque existe quem aceite ser servo, ou por covardia, ou por hábito, ou por conveniência. Assim já não era mais Deus quem fazia os príncipes. Os Príncipes resultavam de uma sociedade dividida entre uns poucos audaciosos e afortunados e uma multidão de indivíduos acovardados.
A visão da Terra ampliou-se com os Descobrimentos. Os portugueses criaram a estratégia das descobertas geográficas, que é hoje usada na descoberta do espaço extraterrestre: ir e vir, cada vez mais longe, anotar, acumular informações e avançar sempre gradativamente. A Terra não mais se resumia ao Mediterrâneo e às Índias. Compreendia mais continentes e mais oceanos. Havia multidões de pessoas que nunca haviam ouvido falar em Jesus Cristo.
O século XVI foi pródigo de grandes verdades. Lutero declarou que não existem intermediários entre Deus e os indivíduos humanos, todos são igualmente sacerdotes, Deus fala diretamente a todas as pessoas. O Papa não é delegado de Deus, nem dele representante. Contestava o poder do mais supremo dos reis absolutos da época, a organização política mundial multissecular do Ocidente cristão. A revelação divina está toda contida na Bíblia. O Cristianismo seria a religião da inspiração do Espírito Santo e do Livro. Copérnico mostrou a conveniência de se adotar a concepção heliocêntrica do sistema planetário. Galileu criou o método experimental para o conhecimento da Natureza. E abalou a crença cristã com a afirmação de que, usando o telescópio, via que satélites giravam em torno de Júpiter e que Mercúrio girava em torno do Sol. Assim, a Terra não era o centro do Universo. As autoridades cristãs (o Papa, Lutero e Calvino) perceberam que a Terra já não mais era o local mais importante do Universo, nem o Homem deveria ser considerado tão importante, que merecesse a morte de um homem divino. Elas repudiaram ferozmente essas grandes verdades de Copérnico e Galileu.

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