No
decorrer do século XX, além de implantar-se o primeiro governo comunista na
Rússia, propalou-se pelo Mundo o instituto da previdência social. Um dos marcos
relevantes dessa história foi a adoção do wellfare state pelo Presidente
Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos
da América.
O
Welfare state norte-americano fazia parte do New Deal, a nova política
econômica, com que o Presidente Roosevelt, sob as luzes das ideias keynesianas,
pretendia soerguer a economia de seu País, arrasada pela crise do final da
década de 20 do século passado. Aqui no
Rio de Janeiro em 1936, em discurso no Palácio do Itamarati, ele fez justiça ao
Presidente Vargas, revelando que nada mais fizera do que adotar políticas já
praticadas pelo Governo Brasileiro.
A
partir de então, o Governo não mais se restringia ao papel negativo, de não
coibir a iniciativa particular dos negociantes nem tributá-los excessivamente,
mas também passava a desempenhar papel ativo, não apenas de corrigir desvios, mas
até de preveni-los e estimular iniciativas promissoras de progresso e de
interesse coletivo.
O
Welfare State, o Estado do Bem Estar Social, propugnado sobretudo por Gunnar
Myrdal, prêmio Nobel de Economia em 1974, adotado por muitos países europeus após
a Segunda Guerra Mundial, alcançou prodigioso sucesso durante 30 anos. Esses países
– Noruega, Finlândia, Suécia, Suiça, Alemanha, Dinamarca, Holanda - ainda
persistem mantendo alto nível de conforto e classificados entre os de melhor
índice de desenvolvimento humano. Gastos públicos com ensino, com salário justo
e digno, com a saúde do cidadão, com a
sobrevivência de incapacitados não são simples despesas, são
investimentos, que geram eficiência e progresso.
Nada
obstante, a crise econômica de 1980 foi diagnosticada como a crise do Estado do
Bem Estar Social, e a Primeira Ministra inglesa, Margareth Tatcher e o
Presidente norte-americano, Ronald Reagan, decidiram adotar políticas de limitada interferência no
mercado, reduzindo os investimentos públicos, cortando ao máximo os
investimentos sociais e restringindo a interferência econômica do Estado
praticamente à ativa política monetária, o neoliberalismo.
Agora, em
2018, por ocasião da campanha política para eleição de um novo Governo, o Brasil
se descobriu mergulhado em gravíssima crise econômica, causada, sobretudo, por
dois motivos, corrupta utilização das instituições e exacerbado descontrole dos
gastos públicos. Jair Messias Bolsonaro, cidadão nascido em Glicério, modesta
cidade paulista, é filho
de um praticante do ofício de dentista, que perambulou por diversas cidades
desse Estado para conseguir renda para sustento da família, com ascendência de
modestos colonos italianos que para o Brasil migraram a fim de usufruir
melhores condições de vida. Adolescente irrequieto e de aproveitamento mediano
nos estudos, Bolsonaro abraçou a carreira militar, atingiu o posto de capitão, provocou
problemas disciplinares e optou por reformar-se e dedicar-se à vida política.
Nas
duas décadas de vida política, Bolsonaro personificou a luta pela defesa dos
costumes tradicionais, da família tradicional, da ordem, do patriotismo e da
religião. O ideário de Bolsonaro e as aspirações da maioria do povo brasileiro por moralidade e democratização política e moderação nos gastos públicos convergiam. Operou-se, então, fato inédito na
História Universal: um candidato preso em casa, convalescente de um atentado
mortal, sem condições de propaganda na praça pública e com restrito acesso aos
meios amplos de comunicação – jornais, rádio e televisão – consegue eleger-se
presidente do Brasil, uma das dez maiores economias do Mundo.
Bolsonaro
conseguiu comunicar-se com o povo via internet, via celular. Granjeou-lhe a
confiança com promessa de moralidade pública, repressão à criminalidade,
contração dos gastos públicos, moderada remuneração do serviço público e
progresso em benefício de todos.
Já
decorreram dois meses e meio de governo Bolsonaro e, de fato, muitas
providências já foram tomadas pelo novo presidente da República: redução do
número de ministérios, escolha de ministros notoriamente comprometidos com o
progresso do País, proposta de lei anticorrupção e projeto de reforma da
Previdência Social.
Apesar da
intensa crítica da mídia institucionalizada em geral, entendo tratar-se de belo
e elogiável início de governo, embora não me haja preenchido todas as
expectativas, notadamente no tocante ao projeto da Previdência Social. È
exatamente sobre essa matéria que pretendo tecer meus comentários.
Antes,
porém, permitam-me, porque considero
importante, refletir sobre o slogan de campanha eleitoral e de governo, do
Presidente Bolsonaro: “Brasil acima de tudo! E Deus acima de todos!” Esse lema
propugnaria uma filosofia e um projeto de vida opostos aos que estariam sendo
impingidos no povo brasileiro e que poderiam ser sintetizados no famoso verso
de Olavo Bilac: “Terra melhor que o céu, Homem maior que Deus!”
A
história da Humanidade pode ser intuída como a tensão entre a singularidade e a
universalidade, a multiplicidade e a unidade, a individualidade e a
coletividade, a liberdade e a autoridade, a criatividade e a permanência, o
progresso e a tradição, o nacionalismo e o universalismo, o teísmo e o
humanismo.
A multiplicidade
das cidades gregas foi sucedida pelo império universal de Alexandre Magno, sucedido pela multiplicidade dos estados
helênicos, sucedido pelo império universal romano, sucedido pela multiplicidade das tribos germânicas,
sucedidas pelos feudos medievais, sucedidos pelo Sagrado Império Romano
Germânico, sucedido pelos modernos impérios europeus, sucedidos, enfim, por
centenas de Estados sob a tênue unidade de um fórum universal de debates,
compromissos e orientações, dominado por cinco superpotências, que apenas
aguardam, cada uma de per si, a oportunidade por instaurar um império
universal.
Cada vez
mais, com o passar do tempo, fortalece-se, em razão do aumento da população, da
intensificação dos relacionamentos internacionais, da estreitíssima convivência
entre os povos e da incontrolável influencia da vida de uma nação sobre a vida
das demais, a ideia de que a Terra, ou parte dela, as florestas, águas e todas
as riquezas do solo nacional, não são propriedade de um povo, mas propriedade da
Humanidade É a filosofia universalista
que se vê disseminada nos livros e nas universidades, e tenta-se, quando
interessa, por em prática nos relacionamentos internacionais, sobretudo, por
parte das superpotências.
É contra
isso, em defesa do território nacional, da pátria brasileira que
Bolsonaro quer rever a política ora adotada pelo Brasil no tocante às terras
indígenas, à Amazônia, ao território nacional. É essa defesa da riqueza
nacional, do bem estar nacional, da soberania nacional, do nacionalismo, o
problema subjacente à política discrepante, adotada por países europeus,
o brexit e Estados Unidos, bem como ao atual relacionamento de Colômbia,
Brasil e muitos outros países latino americanos com o atual governo
venezuelano.
“Brasil
acima de tudo!” é uma política nacionalista, é uma atitude moral e de
responsabilidade perante a vida e seus compatrícios. “Terra melhor que o céu!”
é uma política universalista, é uma atitude de fruição e descompromissada, como
aquela do anônimo parisiense que gravou numa lixeira o seu programa
existencial: “comer, viver, vagar e festejar, isso é viver!”
“Deus
acima de todos!” é o indicativo de uma origem sobrenatural, propositada,
planejada. Alá é grande! O homem é pequeno!”lembra-me a reunião inicial de
negócios no Irã, precedida por uma cerimônia religiosa, quando lá estive em
1983, numa missão como Superintendente da CACEX. Somos todos irmãos, oriundos
do mesmo ser sublime e eterno que nos produziu para a realização de uma cidade
sobrenatural e destinados ao desempenho de papeis diversos na vida terrena,
organizada, hierarquizada, de desiguais, inclusive de infortúnio e de
assistência, onde a vida de trabalho, retidão, sucesso e cooperação é prenúncio da eleição para a cidadania
celestial. “Homem maior que Deus!” O homem é um produto da Natureza, que é
eterna! Talvez, um fortuito fenômeno de uma Natureza que funcione como o fole
de um acordeão, entre o máximo de expansão e um mínimo de extensão quântica. A
dignidade da pessoa humana, valor máximo da Natureza, é o paradigma da
atividade e dos relacionamentos humanos, das associações humanas, do Estado e
da Moral, Somos todos iguais, porquanto animal racional,
cujo aparelho cognitivo possibilitou o domínio do planeta Terra, atuando no
sentido de obter o aumento da duração da existência e a elevação do nível de
qualidade de vida individual: vida mais
longa, sem dor no corpo e sem angústia na mente, vida mais longa com bem estar e
felicidade, vida plena, significativa e feliz.
(continua).
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