Quando recebi a notícia do falecimento de
Alexandre, fiquei tão triste que senti a necessidade de isolar-me. Não tinha o
que dizer para ninguém. Eu gostava da companhia dele, de conversar com ele, de
jogar conversa fora, conversa fiada. Poucos dias antes, no telefone, ele
tentara, veja só!, convencer-me de que o Vasco iria evitar o rebaixamento. O
Vasco era um dos assuntos inevitáveis em nossos encontros. Marucha me contou
que ele não se separou das recordações do Vasco.
O retraimento foi reação irracional,
porque, afinal de contas, neste momento o que devemos fazer é estar presente
para transmitir solidariedade. E para isso o instrumento de que dispomos é a palavra.
Faço parte do mundo. A morte também faz
parte do mundo. Mas, o falecimento do Alexandre me espreme o coração e o sumo
da tristeza sobe pela garganta e atinge a vista sob a forma de lágrimas. Os
passos de Alexandre deixaram marcas na minha vida, as marcas da convivência
amiga de quarenta anos.
Vultos famosos da literatura antiga
deixaram pensamentos altamente depreciativos a respeito da vida. Chegaram mesmo
a afirmar ser preferível não nascer a nascer. O faustoso rei francês, Luís XV,
afirmou no fim da vida: nada vale a pena. De fato, o bom da
vida é simplesmente viver. O mesmo tipo de existência para um é felicidade,
para outro é infelicidade. Alguém afirmou que o nosso cérebro é o melhor
brinquedo já criado: nele se encontram todos os segredos, inclusive o da
felicidade.
De fato, se bem examinarmos, o que
realmente existe de valor é fabricado pela nossa mente. Fora da mente humana,
só existe escuridão e silêncio. Tudo o que vale a pena é fabricado pela nossa
mente: a luz, as cores, o som, as palavras, a música, as sensações, os
sentimentos e os pensamentos, sobretudo isto, o significado. Tem razão, pois,
quem disse que a felicidade depende de nosso pensamento. E entre esses produtos
maravilhosos da mente encontra-se a amizade, prazerosa convivência entre
indivíduos humanos, maravilhoso produto da mente humana. A amizade é uma das
maiores fontes de felicidade.
A respeito de Alexandre, mais do que
ninguém, você, R... e L... darão razão a quem disse: o homem não morre
quando deixa de viver, mas sim quando deixa de amar. Alexandre sempre
viverá no coração de vocês e dos amigos. E vocês três e os amigos dele
entenderão a frase de Carlos Drumond de Andrade: Eterno é tudo aquilo
que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica e
nenhuma força jamais o resgata!
Você, prima querida, a respeito de
Alexandre repetirá a frase soberba de Carlos Drumond de Andrade: Difícil
é sentir a energia transmitida, aquela que toma conta do corpo como uma
corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa. E essa corrente elétrica
manteve vocês dois unidos durante várias décadas, porque vocês souberam mais
que juntar anos à vida, acrescentar vida aos anos. Tenho certeza,
prima, de que soubemos, ao longo dos anos, antes de sua ausência definitiva,
expressar-lhe por gestos e atitudes o que lhe queríamos dizer, o quanto nos
interessava dizer o que dessa forma lhe dissemos tantas vezes, isto é, quão
preciosa para nós era a sua amizade tranqüila, cheia de mineirice.
Por tudo isso, como disse Carlos
Drumond de Andrade, difícil é dizer adeus. Especialmente, quando
esse adeus se estende por tempo tão indefinido que nos enche de saudade, a
falta que fica ali instigantemente presente.
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