Logo
que o Capitão Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República do Brasil, o
noticiário jornalístico propalou que o ex-Presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, erudito de nível
internacional, manifestara a opinião de que o Brasil praticara movimento de
regressão política. Não sei, é óbvio, o que o ínclito personagem de nossa
história nacional e sul-americana retinha na mente quando e se, de fato, emitiu
tal opinião.
Não
me parece estranho que a haja proferido, embora haja sido ele um dos
constituintes mais ativos na redação da atual Constituição nacional, que foi
conscientemente implantada sem o referendo popular e relutantemente introduzida
por uma homenagem à Divindade.
O
fato concreto é que o governo do Capitão orienta-se por um princípio
propositadamente ostensivo, que pretende focar para a estrada que deve seguir
ao longo de seu período governamental: “Brasil acima de tudo e Deus acima de
todos.”
Claro
que esses dois princípios chocam um sábio profundamente informado da evolução
social por que passou o mundo político em permanente mutação. O mundo político
hoje é um mundo intensamente universalizado. Até a Coreia do Norte e o Irã
ameaçam o mundo com armas de longo alcance precisamente teleguiadas e efeitos
mortíferos universais. Sente-se
vivamente a necessidade de uma harmonia universal, porque o mundo hoje é
habitação única, sem separação geográfica e natural, de uma espécie animal, o Homem! Implantou-se
a Liga das Nações em 1919, substituída em 1945 pela ONU, com a pretensão de
agregar toda humanidade numa convivência civilizada, humana, pacífica, onde
todas as discordâncias se resolvessem com justiça, a igualdade das diferenças,
a harmonia dos interesses discrepantes, a paz entre o eu e o outro, de Lacan,
ou o a união entre o sim e o não de Hegel no presente que é mutação, não é
passado nem futuro, simplesmente é, a união entre o indivíduo e o Estado, o indivíduo
feliz e o Estado rico, próspero.
Esse
projeto se acha consagrado no minúsculo artigo 193 que, solitário, é o capítulo
I do título VIII – Da Ordem Social. a finalidade da Constituição brasileira, a
finalidade do Estado, a razão de ser do Estado brasileiro, harmonia entre os
interesses privados e publico, harmonia entre o indivíduo e a coletividade:
Esse projeto se acha expresso na bandeira nacional, a única bandeira
nacional que exibe um dístico, “Ordem e Progresso”, dístico que é parte da
expressão maior em que Augusto Comte, um dos luminares da Humanidade, resumiu o
que ele entendia ser uma sociedade humana, uma sociedade civilizada: “A
Fraternidade como fundamento, a Ordem como meio e o Progresso como objetivo.”
Ali está não apenas como lembrete permanente do que queremos, mas igualmente
como ostentação do orgulho que sentimos em realizar esse projeto grandioso, a
realização de uma coletividade feliz e progressista, onde todos os indivíduos
se sintam realizados e confortáveis, mens sana in corpore sano, “sem dor
no corpo e sem angústia na alma”.
Não me permito, pois, entender os propósitos do combativo militar e
político brasileiro, hoje Presidente da República como um regresso à época dos
soberanos absolutistas do século XVIII, L’État c’est moi”! Muito menos uma
regressão à Idade Média, ao final do primeiro milênio aos tempos do Papa
Nicolau I, o Papa, Vigário de Deus, e Imperador do Mundo, Soberano do Sacro
Império Germano Romano!
Entendo que Jair Bolsonaro, o revoltado capitão, que personificou o
desconforto do povo brasileiro em desesperançoso momento de depressão profunda,
esteja apenas tentando reconduzir a nação para trilha pavimentada por aquele
ideal quase trimilenar de civilização que a Humanidade viu bruxulear, no
paradisíaco território grego e que ora pervade os quatro cantos do planeta.
A
Civilização Ocidental, essa que ora ocupa a totalidade do planeta Terra e nutre
a convivência de toda a Humanidade, brotou como cidades-estados, notadamente a
de Atenas, assim chamada porque se julgava protegida pela deusa da temperança,
da medida, da justiça, da inteligência, da reflexão e da sabedoria. Nela, os
cidadãos, que se julgavam civilizados, se viam diferentes dos bárbaros, isto é,
egípcios, persas, líbios, citas, porque eram livres e sábios. O cidadão grego
não se submetia a outro homem, somente à lei que ele entendia ser a ordem
universal que Zeus, o deus supremo, impusera ao Universo, inclusive a deuses outros e aos homens, a vontade
divina, justa e sábia. Dessa forma, o cidadão grego nada mais fazia que dedicar-se
à ginástica e à dialética, para aperfeiçoar o corpo e a alma, e, assim, são de corpo
e alma, tornar-se o guerreiro habilidoso e corajoso, apto para defender a
Cidade contra os inimigos e o político sábio, capaz de atingir o conhecimento
das leis divinas que regem a Cidade no trabalho dialético de investigação da Justiça
no diuturno convívio harmonioso e feliz dos cidadãos. Cidade feliz e cidadãos
felizes.
Síntese
perfeita do indivíduo e do Estado, da liberdade e da ordem, da liberdade na
ordem para o progresso nacional e universal, bem como para a felicidade e a realização pessoal.
Ed. Muito me ilustram e me provocam os seus pensamentos. Não me considero intelectual, erudito. Mas me esforço para aprender alguma coisa, todos os dias. Você me ajuda neste dever de casa.
ResponderExcluirMuito estimado diretor e sábio
ResponderExcluirTento todos os dias entender um pouquinho mais esta absorvente realidade em que vivo mergulhado e extravaso o pouquinho que na minha ilusão penso que consegui captar. Isso me faz feliz...sou um pouco psiquicamente socrático...só externando o que penso me faz feliz...
Edgardo