Os Fisiocratas
Os
Fisiocratas são o conjunto de pensadores que escreveram trabalhos importantes sobre economia opondo-se à ideia
mercantilista de que a riqueza de uma nação consiste no entesouramento da
riqueza (dinheiro), e entendem que
consiste na quantidade de matéria prima disponível para a produção de bens
requeridos pela subsistência humana.
Fisiocracia
significa o poder da Natureza. Os Fisiocratas entendiam que a sociedade é um maquinismo natural, isto
é, produto da Natureza, que, portanto, tem uma maneira própria de funcionar e
produzir aquilo para o qual foi construída. Existe, pois, uma lei natural. Assim,
a sociedade não seria uma criação do Homem, uma organização fabricada pelo
Homem, um produto cultural. Se quiser que a sociedade realize a sua finalidade,
uma vida rica, portanto, é deixa-la funcionar livremente, sem interferências
humanas estranhas à ação da Natureza: “laissez faire, laissez passer (deixa
fabricar, deixar passar=não cries obstáculos alfandegários). “O que farias, se
fosses o rei?” questiona o príncipe francês, e Quesnay responde: “Nada”.
Quesnay
era o médico de Madame Pompadour, a amante famosa de Luís XIV, eo rei francês,
o astro sol da corte mais suntuosa do mundo em sua época. Foi pelo rei
nomeado médico da corte francesa. Ele
concebia a sociedade como um organismo semelhante ao corpo humano que é
vivificado pela circulação sanguínea. A sociedade é vivificada pela circulação
do dinheiro e dos bens, que ele apresentou em 1766 na “Análise do Quadro Econômico”.
Boisguillebert
ensinara que o dinheiro e os bens circulam pelo corpo da sociedade, porque a
despesa do consumo de uma profissão é a receita e o lucro da venda de outra A
riqueza é o volume de dinheiro (renda), que circula, não é o dinheiro que se
entesoura e acumula, pensava ele. Quesnay adota essa ideia, mas adiciona outra
de sua autoria: o dinheiro, que dá a partida para essa circulação do dinheiro
(renda) e reconstitui os bens consumidos, é o dinheiro do capitalista.
Ele
demonstrou esse seu pensamento no Quadro Econômico pulicado 1758. Ele entende que a Economia possui três
atores: o agricultor, o proprietário e o artesão. O proprietário compra produto,
pelo custo do trabalho, do agricultor e do artesão. O agricultor compra produto de outro
agricultor e do artesão, pelo custo do trabalho, e o artesão compra de outro
artesão e do agricultor, também pelo custo do trabalho. É claro, diz Quesnay,
que no final as compras e vendas do artesão, se anulam, porque a manufatura
apenas muda a forma das coisas, não lhes instila valor. A manufatura é estéril.
No final, o artesão está com a mesma renda do início. O proprietário, comprando
do artesão, não ganha nem perde, porque comprou pelo exato valor consumido na
fabricação da manufatura. Mas, na compra que faz do agricultor, pelo valor do
trabalho, ele adquire um bem que vale mais que isso, que é o valor instilado
pela qualidade da terra (há terras mais produtivas e terras menos produtivas,;
há terras que produzem com mais qualidade e outras com menos qualidade). Logo,
no final, o agricultor se acha com o mesmo valor inicial em dinheiro, enquanto
o Proprietário se acha de posse de matérias primas com valor superior ao
inicial: o valor acrescentado pela terra.
Atualizemos
as denominações de Quesnay para que a explicação se torne mais clara:
agricultor é o trabalhador rural, Proprietário é o capitalista e artesão é o
operário. O capitalista paga a ambos apenas o valor do trabalho, o necessário
para a sobrevivência e se apossa do produto do trabalho de ambos. O produto do
trabalho do operário está exato: só vale o seu trabalho. Mas o produto que o
capitalista adquiriu do trabalhador rural vale mais que seu trabalho, tem o
valor instilado pela terra: o capitalista adquiriu um bem por valor inferior ao
que ele vale. O resultado final superavitário das trocas, das operações do
mercado, na forma de matérias primas, isto é, produtos agrícolas e extração
mineral, concentra-se todo na posse do capitalista, o produto líquido nacional. Trabalhador e operário se reencontram, no
ponto final da circulação, na mesma situação inicial de dinheiro (renda). O
capitalista, porém, está mais rico. A riqueza nacional é esse produto líquido
da atividade econômica da nação. Não é a quantidade de ouro, de dinheiro, no
cofre da nação, não é o entesouramento, não é o tamanho do tesouro nacional. A
riqueza da nação vem da terra, tem origem na terra. Fisiocratas, Fisiocracia, o
poder da Natureza.
O
Capitalismo, pois, sintetiza Henri Denis, assenta na circulação permanente do
capital. Ela aumenta a renda do capitalista, a renda da sociedade, a renda
nacional. Ela garantiria o progresso econômico indefinido, segundo o pensamento
fisiocrata. John W. McConnell ensina que os Fisiocratas pensam que a riqueza
nacional se mede pelo montante do produto líquido nacional, e não, como
pretendem os Mercantilistas, pelo tamanho do tesouro nacional.
O
capitalista é como o coração humano: este é o motor da circulação sanguínea,
enquanto aquele é o motor da circulação do dinheiro e dos bens. O motor
capitalista da nação não para, está sempre acionado pela ambição do lucro, do
aumento da riqueza, pela certeza de que há sempre possibilidade de venda
lucrativa do produto, porque as necessidades humanas são inesgotáveis,
infinitas, há sempre mercado para toda produção, como afirmava Quesnay: “Não é
o consumo das produções que falta numa nação, onde a maior parte dos cidadãos
nunca consome tanto quanto desejaria consumir; é o bom preço que falta quando
não está assegurado por livre concorrência do comércio.” Quesnay subentendia
que a superprodução é impossível. Ele não entendia que a procura econômica, a
demanda é uma procura efetiva isto é, uma necessidade com poder de compra, com
dinheiro em ação.
Essa
é, pois, a oposição fundamental entre Mercantilismo e Fisiocracia, o conceito
de riqueza nacional: o tesouro nacional para o Mercantilismo e a produção
primária para a Fisiocracia. As principais consequências econômicas também são opostas: para
o Mercantilismo, a riqueza é uma propriedade do rei, do Estado e, portanto,
pela população deve ser produzida sob o comando do rei, do Estado - Comércio e Protecionismo -; para a Fisiocracia, a riqueza é produção da Terra, propriedade do
Capitalista e copropriedade do rei, do Estado – livre comércio, livre mercado (laissez faire, laissez passer),
livre do comando estatal, da interferência estatal. A análise econômica de
Quesnay é o primeiro estudo de
macroeconomia na História.
Até
aqui as ideias econômicas. Henri Denis, todavia, esclarece que para os
Fisiocratas a Economia era uma ciência do Homem e que, por isso, englobava o
estudo da política, da sociedade e da moral. A Fisiocracia, diz ele,
poder-se-ia sintetizar na famosa frase de Linguet: “Um só Deus, um só príncipe,
uma só lei, um só imposto, uma só medida.” Deus fabricou essa máquina que é a Natureza.
Injetou-lhe um funcionamento, que é a lei natural. Erigiu um princípio de ordem
para a sociedade social, que é o monarca absoluto, o coproprietário da riqueza que
é propriedade do capitalista, e que precisa governa-la segundo a norma natural
estabelecida por deus, para que a riqueza atinja a medida natural, nada mais
prescrevendo que o imposto único sobre a renda do capitalista. Capitalista
rico, Estado rico e poderoso.
Os
Fisiocratas formam uma escola econômica, cujo chefe foi François Quesnay, ao
qual se agregam vultos como Dupont de Nemour, Le Mercier de La Rivière e o Abbé
Baudeau.
(Colamos no blog do Dr. Medeiros)
ResponderExcluirWILSON LUIZ disse...
[...] Talvez não seja tão ruim assim, em dezembro/2019 o índice BOVESPA fechou com valorização de 6,85% no mês, a ação da VALE foi ainda melhor, valorizou 8,91% no mesmo período.
10 de fevereiro de 2020 23:22 (blogue do Dr. Medeiros)
- Prezado WILSON LUIZ,
Parece-nos um equívoco a afirmação acima! Por oportuno, lembramos que coisa semelhante foi dita por um distinto colega de blog: a valorização do "Via Varejo".
Sustentamos naquela ocasião no blog do Dr. Medeiros (16 de janeiro de 2020 16:35) que o importante é focarmos no "valor fundamental", não no preço.
Parece-nos que levar o preço nas alturas não é o problema principal. Neste sentido, o “lendário especulador norte-americano”, Jesse Livermore, dizia:
Não há sentido em aumentar os preços das ações a um nível muito alto se você não pode induzir o público a tirar as ações de sua mão mais tarde. Na realidade, o único momento em que um vendedor pode ganhar dinheiro grande vendendo uma ação é quando esta ação está alta demais. E você pode apostar seu último centavo na certeza de que os grandes acionistas não vão proclamar este fato para o mundo. (10)
Adicionalmente, apresentamos no "TERCEIRA VIA", do Professor Ari, o seguinte devaneio (29 de dezembro de 2019 08:45):
"TEXTO A.6.1. III.4.7. Uma maneira de comprovarmos que o tempo de vida do hodierno capitalismo bursatil brasileiro pode ter chegado ao seu fim"
(10) LEFÈVRE, Edwin. Reminiscências de Um Especulador Financeiro. Tradução e Revisão Técnica do Dr. Roberto Luis Troster. São Paulo : Makron Books, 1994. Originalmente publicado em 1923 ;
P.S. A ação da Vale já devolveu os 8,91% e mais um pouco...
Oxalá sua previsão se realize.
ResponderExcluirEdgardo Amrim Rego