Felicito-a
hoje, no dia dos seus setenta anos, tomando emprestadas as produções de alguns
poetas famosos.
Inicio,
utilizando-me de uma poesia de Olavo Bilac, dizendo-lhe que para mim nada
existe de mais grandioso na face da Terra, que o amor entre o Homem e a Mulher,
e isso é tão impressionante que na primeira lenda bíblica, a da criação, no
Gênesis, elaborada há uns cinco mil anos, lá está, veja só, que Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de
Deus o criou, macho e fêmea o criou, isto é, o Amor é a Criação, o Amor é Tudo, o Amor é o Universo.
Criação
Olavo Bilac
Há no amor um momento de
grandeza,
Que é de inconsciência e de
êxtase bendito:
Os dois corpos são toda a
Natureza,
As duas almas são todo o
Infinito.
É um mistério de força e de
surpresa!
Estala o coração da terra,
aflito;
Rasga-se em luz fecunda a esfera
acesa,
E de todos os astros rompe um
grito.
Deus transmite o seu hálito aos
amantes:
Cada beijo é a sanção dos Sete
Dias,
E a Gênese fulgura em cada
abraço;
Porque, entre as duas bocas
soluçantes,
Rola todo o Universo, em
harmonias
E em glorificações, enchendo o
espaço!
Assim,
folgo em renovar hoje, no dia que completa 70 anos, através de lindos versos do
poeta do amor, o grande Vinicius de Moraes, a confissão que lhe fiz, perante a
sociedade e o Estado, há cinqüenta e um anos, numa radiosa manhã da cidade de
São Luís do Maranhão, na igreja de Nossa Senhora dos Remédios :
Amo-te tanto,
meu amor... não cante
O humano
coração com mais verdade...
Amo-te como amigo
e como amante
Numa sempre
diversa realidade.
Amo-te afim,
de um calmo amor prestante,
E te amo
além, ...,
Amo-te,
enfim, com grande liberdade
Dentro da
eternidade e a cada instante.
(Soneto do Amor Total)
Eu te amo,
Maria, eu te amo tanto
Que o meu
peito me dói como em doença
E quanto mais
me seja a dor intensa
Mais cresce
na minha alma teu encanto.
(Soneto de
Contrição)
Eu sem você
Não tenho
porquê
Porque sem
você
Não sei nem
chorar
Sou chama sem
luz
Jardim sem
luar
Luar sem amor
Amor sem se
dar
Eu sem você
Sou só
desamor
Um barco sem
mar
Um campo sem
flor
Tristeza que
vai
Tristeza que
vem
Sem você, meu
amor, eu não sou ninguém.
(Samba em
Prelúdio)
Vai tua vida
Teu caminho ê
de paz e amor
Ah, tua vida
É uma linda
canção de amor.
Abre teus
braços e canta
A última
esperança
Esperança
divina
De amar em
paz.
Se todos
fossem iguais a você
Que maravilha
viver
Uma canção
pelo ar
Uma mulher a
cantar
Uma cidade a
cantar
A sorrir, a
cantar, a pedir
A beleza de
amar
Como o sol
Como a flor
Como a luz
Amar sem
mentir
Nem sofrer
Existiria a
verdade
Verdade que
ninguém vê
Se todos
fossem no mundo
Iguais a
você.
(Se todos
fossem no mundo iguais a você)
Mesmo
assim, não me furtarei a tomar de empréstimo versos de Luís de Camões, porque,
na minha opinião, ninguém soube como ele expressar a intensidade de um amor
humano:
I
Julga-me a gente toda por
perdido,
vendo-me, tão entregue a meu
cuidado,
andar sempre dos homens
apartado,
e dos tratos humanos esquecido.
Mas eu, que tenho o mundo
conhecido,
e quase que sobre ele ando
dobrado,
tenho por baixo, rústico,
enganado,
quem não é com meu mal
engrandecido.
Vão revolvendo a terra, o mar e
o vento,
busquem riquezas, honras, a
outra gente,
vencendo ferro, fogo, frio e
calma;
que eu só em humilde estado me
contento,
de trazer esculpido eternamente
vosso fermoso gesto dentro
n'alma.
II
Olhos fermosos, em quem quis
Natura
mostrar do seu poder altos
sinais,
se quiserdes saber quanto
possais,
vede-me a mim, que sou vossa
feitura.
Pintada em mim se vê vossa
figura,
no que eu padeço retratada
estais;
que, se eu passo tormentos
desiguais,
muito mais pode vossa fermosura.
De mim não quero mais que o meu
desejo:
ser vosso; e só de ser vosso me
arreio,
porque o vosso penhor em mim se
assele.
Não me lembro de mim quando vos
vejo,
nem do mundo; e não erro, porque
creio,
que, em lembrar-me de vós,
cumpro com ele
III
Quando da bela vista e doce
riso,
tomando estão meus olhos
mantimento,
tão enlevado sinto o pensamento
que me faz ver na terra o
Paraíso.
Tanto do bem humano estou
diviso,
que qualquer outro bem julgo por
vento;
assi, que em caso tal, segundo
sento,
assaz de pouco faz quem perde o
siso.
Em vos louvar, Senhora, não me
fundo,
porque quem vossas cousas claro
sente,
sentirá que não pode merecê-las.
Que de tanta estranheza sois ao
mundo,
que não é de estranhar, Dama
excelente,
que quem vos fez, fizesse Céu e
estrelas.
Encerro
esta confissão, valendo-me de versos de Cora Coralina, para afirmar-lhe que, de
fato, não me atraiu o fascínio de realizações que me tornassem célebre na
história de nossa sociedade, embora, sem dúvida, fui celebridade em minha
época, você sabe, inclusive com retrato exibido com honra pelo Eximbank dos
Estados Unidos na revista comemorativa do seu cinqüentenário. Meus planos
sempre se concentraram na nossa vida familiar. E, por isso, você verá abaixo,
concluo com versos de Fernando Pessoa, onde o grande poeta sintetiza notável
visão da existência humana, fecunda em.revérberos de felicidade.
NÃO SEI...
Não sei... se a vida é curta...
Não sei...
Não sei...
se a vida é
curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura...
enquanto durar.
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura...
enquanto durar.
Cora Coralina
Ah, o mundo é quanto nós
trazemos.
Existe tudo porque
existo. Há porque vemos.
E tudo é isto, tudo é
isto!
Fernando
Pessoa
Afinal, essa
visão nos induz a pensar como Renan (O homem não se improvisa) e mais
recentemente repetiu Sartre em pensamento mais afortunado (Tudo existe, mas o
Homem, ele constrói a sua própria essência!). O que outros de forma mais vulgar
também expressam, quando afirmam que a felicidade é o processo existencial, é a
viagem, não é o destino!
Um beijo de
quem muito a admira e ama
NOTA.- Composição produzida para comemorar os 70 anos de aniversário natalício, então completados por minha mulher.
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