quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

11. Mensagem a um Senador


Eu acompanho de longe a trajetória de V. Exª, desde a década de 70 do século passado.
V. Exª sempre mereceu minha admiração e respeito. Mas, o pronunciamento, que V. Exª fez no Senado Federal, na última quarta-feira, deixou-me um misto de satisfação e decepção.
Concordo com V. Exª que é triste ver o partido de V. Exª aceitar orgulhosamente o papel de acólito no cenário da política brasileira. Mas discordo quando V. Exª afirma que o Governador José Serra não pode ser o próximo presidente da república brasileira, porque é paulista, já que os paulistas vêm governando o País há dezesseis anos seguidos.
Acho que o Estado de origem de um presidente é irrelevante. O necessário e importante é que ele seja competente, correto e patriota. Por outro lado, será que o Presidente Lula é realmente paulista? Não seria ele um Presidente híbrido? Híbrido não de paulista e nordestino, mas de sindicalismo paulista e nordestino? A maioria dos votos que recebe no próprio Estado de São Paulo não seria de nordestinos?
Acho também interessante o que V. Exª expressou acerca da forma como o partido de V. Exª deveria escolher o candidato do Partido à Presidência da República. Penso, em primeiro lugar, que basear o Governo do País em partidos políticos é uma forma anti-social. O Governo nunca será de todos. Será sempre de uma facção. Teremos sempre uma Pátria fracionada. Ainda mais que os partidos têm donos e esses líderes acabam impondo os nomes preferidos deles para candidatos à presidência da república e selecionando-os para os demais cargos eletivos. É democracia que o povo escolha entre os nomes selecionados pelos donos dos partidos? Isso repugna-me como uma farsa.
Mas, V. Exª retrucar-me-ia com a frase famosa de Churchill: A democracia é uma péssima forma de governo, mas até hoje nada se inventou de melhor. E eu lhe retorno com os sonhos de Barack Obama: Change we need. Vamos tentar algo novo. Vamos acabar com os partidos políticos. Vamos acabar com representantes (que palavra horrorosa! Será que, de fato, um indivíduo humano pode representar outro indivíduo humano?). Que farsa mais odiosa é essa, contemplar-se, a cada biênio, um grupo de indivíduos, que ninguém sabe quem eles são, apresentar-se na televisão suplicando: votem em mim, que eu sou o tal! Isso é ridículo, pretensioso e no limite da morbidez e do mau-caráter.
Voltemos para a democracia direta dos atenienses. Iniciemos as eleições nas comunidades, nas cidades. Todos os cidadãos juntos. Sem partidos. Os candidatos não serão os oferecidos, mas os escolhidos. Os eleitos não serão representantes, mas delegados. Passaremos depois aos Estados e depois ao País. Então teremos um Governo, que dirá: eu sou governo porque fui de fato escolhido pelo Povo e porque sou conhecido do povo e porque o povo, de fato, confia em mim. Nesse tipo de eleição os grandes crimes seriam a violência, a truculência opressora dos brutamontes e a sub-reptícia esperteza dos conchavos.
V. Exª diria: isso é utopia. E retrucar-se-ia: tudo o que nós vivenciamos hoje foi outrora utopia. Nós vivemos a utopia dos que nos precederam.
Vamos tentar viver a verdadeira democracia, não porque a democracia seja o melhor tipo de governo, mas porque a democracia é a mais justa, a mais correta forma de governo. Um dia, não os países, mas o planeta Terra, se esta velha Gaia não for antes destruída pelo próprio homem, será administrado por governos eleitos desta forma onírica!

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