terça-feira, 20 de janeiro de 2009

9. O Que Penso Sobre o Conhecimento


Como Descartes, eu sei que existo. Como Kant, não posso negar os conhecimentos práticos da vida. Como Charles Darwin, estou convencido de que sou um animal. Já afirmaram, e concordo com quem disse que sou um macaco desnudo. A ciência moderna comprova que a diferença genética entre o chipanzé e o homem reduz-se a 1% dos genes!
A teoria da relatividade acabou estendendo a história da evolução para o campo da Cosmologia. O Universo está em expansão, tem história evolutiva de quinze bilhões de anos. Essa história evolutiva é composta por determinismo e acaso. Inicia-se no Big Bang e é conduzida por essa força intrigante, que afasta as galáxias, e por essa força gravitacional, que parece familiar. Mas, a energia gravitacional também tem seus mistérios: como toda energia, ela também seria partícula-onda, mas, até hoje, cientista algum constatou a existência das partículas gravitacionais! No início, para toda partícula de matéria existia uma partícula de anti-matéria. Quando elas se encontravam, elas se destruíam. E como restou toda essa matéria de que o Universo é composto, desaparecida, como está, a anti-matéria que a corresponde? Nos primeiros momentos do Universo, afirmam os cientistas, a assimetria fez surgir mais anti-matéria que matéria!... É a matemática que o afirma...
Seja lá o que tenha acontecido, ninguém sabe, a ciência de hoje nos afirma: as partículas primitivas subatômicas, sob o acaso de forças que atraíam e repeliam, formaram os núcleos e os átomos, formaram os elementos leves e depois os elementos pesados. A Química não é mais que uma continuação da Física. E a Biologia não é mais que uma continuação da Química. O reducionismo é uma probabilidade. É uma teoria. A representação mental, a atividade mental, nada mais seria que a manifestação interna das reações bioquímicas das células nervosas, dessa máquina anatômica e fisiológica, que é o cérebro humano. Steven Rose afirma: Não existe no cérebro nenhum local em que a neurofisiologia misteriosamente se torna psicologia.
O cérebro humano só diferiria do cérebro animal por grau de perfeição. O cérebro humano nada mais seria que o cérebro animal aperfeiçoado, paulatinamente, sob o impulso determinado e também fortuito do processo evolucionista que trabalha a matéria, ao longo de bilhões de anos. As espécies humanas não são separadas por fossos intransponíveis. Pequenas mudanças as separam. É questão de um gene ou muito poucos genes. Afinal de contas, não há como negar que os animais, como os peixes, aves, cachorros, cavalos, bois, elefantes, primatas, sentem, emocionam-se, padecem de estresse, percebem e se intercomunicam. Os elefantes e os chipanzés, entre outros, até apresentam sinais de consciência, tais como se reconhecer diante de um espelho. Os cavalos e os bois percebem a morte dos companheiros e se entristecem com o fato! Dizem que eles não formam aquelas idéias abstratas, universais, que fascinaram Sócrates.
Estarei dentro da teoria evolucionista afirmando que o cérebro humano nada mais é que o órgão de informação, que permite a sobrevivência do indivíduo humano e, assim, da espécie humana, em razão de sua eficiência para a captação dos recursos de sobrevivência. Graças ao cérebro, o Homem sobreviveu e domina o espaço terrestre, numa evolução impressionante, cuja história desde os australopitecos já dura uns seis milhões de anos, desde o Homo Erectus três milhões, enquanto sua própria história de Homo Sapiens parece já alongar-se por duzentos mil anos.
Em termos evolucionistas, o cérebro humano é o órgão de informação que permitiu a mais perfeita adaptação de um organismo complexo ao meio ambiente e, assim, conferiu ao Homem o domínio sobre o espaço terrestre. O que estou querendo afirmar é que, para mim, o cérebro é por excelência um instrumento de informações práticas, isto é, tudo o que o cérebro faz é mostrar ao organismo humano o meio ambiente de uma forma muito prática e eficiente para a sua sobrevivência. Nada mais. O cérebro não é o instrumento para obter a verdade. Ele é o instrumento mais útil para descobrir o que é bom para a sobrevivência e o que é ruim para a sobrevivência de um organismo, que a evolução formou.
Afinal de contas, o que diz a ciência? A luz, as cores, o som, a aspereza, a maciez, o odor e o gosto somente existem em nossa mente. Lá fora a luz e as cores são energia eletromagnética. O som só existe em nossa mente. Lá fora o que existe é a vibração do ar. Fora da mente, só existe escuridão e silêncio. A sensação de tato fora da mente é pressão. O odor fora da mente são partículas de matéria, assim como o gosto. Tudo isto, as sensações, só existe em minha mente. Sem dúvida que normalmente são provocadas por coisas que existem lá fora. Mas, elas mesmas, as sensações, são fabricações mentais, produzidas, é verdade, sob estímulos externos, geralmente os mesmos, mas nem sempre os mesmos. Há pessoas que percebem as cores das palavras, dos cheiros, etc. Há pessoas que ouvem as cores. Há pessoas que vêem o que não existe e não vêem o que existe, embora tenham olhos perfeitos. Se a pele e os ossos de uma pessoa são intransponíveis para nós, não o são para milhões de microorganismos. O que será a água para um peixe? Ou a pele para um microrganismo?
E afinal, como ocorrem as sensações? Todos esses estímulos (energia eletromagnética, vibrações aéreas, partículas odoríferas e palatais, energia mecânica da pressão), captados pelos sentidos externos (olho, ouvido, nariz, língua e pele) são transformados num único tipo de energia. o cérebro é uma fábrica com muitos produtos. Sua matéria-prima é a informação: a onda eletromagnética de comprimento específico (visão), a vibração aérea de comprimento específico (ouvido), a molécula orgânica específica (olfato e paladar), a pressão e o calor (tato). A partir disso, as áreas sensoriais do cérebro criam uma idéia do que está situado fora. Essa percepção básica não é o produto acabado do cérebro. O constructo final é uma percepção investida de significado.

Esse significado é o que estamos indo buscar lá fora. Isso é o que importa: o que significa esse estímulo para mim? É útil? É nocivo? Não interessa exatamente o que a coisa é. Não nos interessa a sua realidade. Nem é a realidade o que os nossos sentidos nos fornecem. A mente é um instrumento que capta a informação de utilidade das coisas para a sobrevivência do indivíduo. A mente descobre os objetos que podemos usar, as pessoas a quem podemos amar e lugares aonde podemos ir. Mas, algumas vezes, são enganosos: a poça de água no deserto se revela uma miragem; o homem com machado no canto escuro, uma simples sombra.
Cada órgão realiza essencialmente a mesma tarefa: traduz seu tipo particular de estímulo em impulsos elétricos. De fato, em vez de discriminar um tipo de input sensorial de um outro, os órgãos dos sentidos os tornam mais parecidos. Esses córregos de impulsos elétricos mais ou menos indiferenciados entram no cérebro onde se transformam e um córrego passa a ser visão, outro audição, etc. simplesmente porque estimula neurônios diferentes e percorre vias de neurônios diferentes.
Cada córrego percorre no cérebro caminhos neurais diferentes e é dividido em vários córregos diferentes, processados em paralelo por diferentes módulos cerebrais. Alguns desses módulos estão no córtex cerebral e tornam essas sensações (visão, audição, etc) conscientes. Outros estão no sistema límbico que, gerando reações corporais (contração das artérias, liberação de hormônios, etc), lhes conferem qualidade emocional (a beleza do som, a beleza do desenho, o sabor da comida, etc).
Cada área cortical própria de cada sentido dirige seu córrego de informações, agora já por ela processadas, para as áreas de associação, onde as percepções sensoriais são reprocessadas conjugando-se com informações outras de experiências anteriores armazenadas (percepção de faca associada a de comer, cortar, etc), e tornam-se percepções plenamente desenvolvidas, significativas. O que temos agora na mente foi desencadeado por estímulos do mundo exterior, mas não é um reflexo fiel daquele mundo - pelo contrário é uma construção ímpar.
Todo cérebro constrói o mundo de maneira ligeiramente diferente de qualquer outro, porque cada cérebro é diferente. A visão de um objeto externo variará de pessoa para pessoa porque não existem duas pessoas que tenham precisamente o mesmo número de células de movimento, células sensíveis ao vermelho ou células de linha reta. Em cada caso, os dados brutos serão idênticos, mas a imagem levada à consciência é diferente. Quando a diferença é muito acentuada e torna a convivência impossível ou inviabiliza a sobrevivência individual, diz-se que esse indivíduo está doente, é um anormal. O voto que vale é o que viabiliza a sobrevivência e contribui para formar o voto da maioria.
Cada um cria o seu universo. Cada um tem um universo na cabeça. Cada um vive, se movimenta e se relaciona no seu universo. Em geral, esses universos são muito parecidos, apesar de divergentes em milhões de minúcias. Outros universos são muito diferentes.
Assim também, quando a ciência aplica três teorias diferentes (a teoria quântica, a física newtoniana e a teoria da relatividade) para explicar a Natureza, ela está elaborando um constructo útil para a sobrevivência do indivíduo e da espécie Humana. Visões utilitárias também são as partículas-ondas, a matéria escura, a energia escura, a identificação de energia com massa, a identificação de gravidade com massa inercial, o espaço-tempo, o tempo como dimensão do espaço, a gravidade como deformadora do espaço, a anti-matéria, o big bang e as leis naturais.
Isso tudo são modelos, mapas, modos de entender a Natureza e torná-la útil à sobrevivência do indivíduo e da espécie humana. Quem garante que essas teorias sobreviverão por muito tempo? Será mesmo que seja inteligível dizer-se que energia eletromagnética, a luz, é uma perturbação que se movimenta pelo vácuo? Os próprios cientistas dizem que a ciência é um modo de entender as coisas. Heisenberg demonstrou que jamais o homem poderia conhecer o estágio inicial de um processo físico atômico, porque o instrumento de medida do estágio inicial, o comprimento da luz, o modificava, ou na posição da partícula atômica ou em sua velocidade. O aparelho humano de investigação da Natureza, o cérebro, não perturba a Natureza, mas a transforma quando a capta para conhecê-la. Jamais amaríamos o rosto de pavoroso queijo suíço, que a teoria quântica diz ser o de uma mulher. Nem nos agradariam os beijos de milhões de átomos. Nem nos seduziria o seu silêncio.
Também a arte, essa linguagem emotiva, tem a sua importância utilitária, agregando os indivíduos no culto da beleza e aliviando o estresse. A beleza é atração, é convivência, é sobrevivência do indivíduo e da espécie humana.
O conhecimento será sempre um processo, que só se extinguirá quando a Humanidade se extinguir, se não for substituída por outra espécie mais evoluída. Sombrias são presentemente as perspectivas de permanência da vida sobre a superfície terrestre. O tipo de cultura adotada pela Humanidade, com o predomínio do valor econômico, sem qualquer sentido de adaptação ao meio ambiente, está conduzindo a Humanidade para a auto-destruição. O espírito da época atual é o capitalismo liberal, maquiavelicamente globalizante, isto é, enquanto interessa ao capital dos países hegemônicos, ultrapassado que foi o espírito econômico implantado por John Keynes, que se preocupava com o paradoxo liberdade e igualdade, e posto em prática pelo New Deal de Delano Roosevelt. O Brasil se vangloria de estar exportando o seu próprio solo (as lindas colinas rochosas e verdejantes de Minas Gerais e do Pará) para a China e para o mundo.
É imperioso que a Humanidade se reoriente no sentido da vida, como valor supremo da existência, no sentido da sobrevivência individual e coletiva. O século XX foi um tempo de extraordinárias conquistas nesse sentido também. A descoberta dos antibióticos. Os avanços na medicina preventiva, a descoberta de fármacos para o combate às doenças infecciosas, coronarianas, arteriais e degenerativas, o progresso da técnica cirúrgica e os transplantes de órgãos aumentaram extraordinariamente a expectativa de vida humana.
A ciência agora se volta para a leitura do DNA, esse livro que descreve os segredos da constituição da máquina da vida e informa o seu modo de funcionamento. Alguns dizem que a Humanidade está perigosamente afoita ao adentrar o espaço divino do conhecimento. Outros alegam impedimentos éticos para essa aventura. Outros afirmam, como tentamos expor neste artigo, que tudo é relativo e todo conhecimento é subjetivo, e, portanto, cada época tem o espírito que a impulsiona e estabelece os costumes aceitáveis, que se convertem em normas morais e mandamentos legais e jurídicos.
Já se fazem clonagens de animais. Já se inoculam genes de aranha em cabras para produzir teias de aranha em abundância e usá-las na fabricação de coletes resistentes a projéteis de armas de fogo. Já se faz a fecundação in vitro de seres humanos. Já se escolhe o sexo, a cor dos olhos e outras características do filho que se deseja. Isso é eugenia, alguns objetam. E daí? Por que Hitler fez a eugenia perversa, não se pode fazer a eugenia benéfica?
Acho que, por mais que alguns queiram obstar a manipulação dos genes humanos, ninguém impedirá a Humanidade de avançar nesse sentido. Ela irá construir seres humanos cada vez mais perfeitos. Nascerão indivíduos humanos com telômeros mais perfeitos, capazes de viver trezentos anos como as tartarugas. Nascerão indivíduos humanos imunes ao câncer, ao diabetes e às doenças de Alzheimer e Parkson.
Mais importante ainda. Muitos psicólogos ensinam que o indivíduo humano é a resultante da hereditariedade (DNA) e do meio ambiente. Ortega y Gasset expressou essa opinião naquela frase famosa: Eu sou eu e minhas circunstâncias. A influência das circunstâncias é tão grande, todavia, que os psicólogos afirmam que até a localização dos gêmeos no útero da mãe provoca diferença entre eles.
É verdade que existem alguns psicólogos que afirmam (e lembram a teoria da tabula rasa de Locke) que todos nascemos iguais, todos nascemos com aptidão para tudo, a mente humana é plasticidade total, a hereditariedade nada significa para o que somos e seremos, tudo depende unicamente do meio ambiente, da educação, da cultura: os indivíduos são produto exclusivamente da sociedade. Acho isso muito exagerado, muito ideológico, e prefiro ficar com a ampla maioria dos neurocientistas que afirmam a influência da hereditariedade e do meio ambiente na constituição do indivíduo humano.
Neurocientistas afirmam que até o comportamento anti-social, em cerca de 15% dos indivíduos, tem origem na constituição genética. Se isso é um fato científico, vemos que a manipulação genética terá influência até na cura de males sociais e no aperfeiçoamento da sociedade. Claro que tudo tem seu risco. Não se poderia construir uma espécie humana para dominar e outra espécie humana para servir? uma espécie humana de senhores e outra de escravos? O erro, a meu ver, não está na eugenia. O erro está no mau uso dela. Já o deus Asclépio dos gregos possuía duas filhas, Higiéia (a deusa da medicina preventiva) e Panacéia (a deusa da medicina curativa). O próprio deus grego preferia os cuidados da Higiéia aos da Panacéia.
E fico meditando: onde chegará a Humanidade? Alain Touraine falou que a revolução do século XX foi a revolução dos costumes, que teve seu ápice na revolução da liberdade sexual de 1968. De fato, a liberdade dos costumes é tão evidente, que a tradicional idéia da família já se acha ultrapassada e o sexo já se está tornando algo tão humano que está passando a ser um ato público legalmente admitido, realizável em locais públicos, como na Holanda. E fico imaginando a invenção das maternidades cibernéticas, onde se construirão os próprios filhos, fecundados em clínicas especializadas em DNA eugênico selecionado e onde serão também gestados, porquanto os japoneses já estão também aperfeiçoando o útero eletrônico. A atividade sexual nesses futuros tempos será reconhecida simplesmente como atividade recreativa e de prazer.
Vimos que o conhecimento tem uma longa história. Ao longo dos tempos, os conhecimentos se acumularam e se modificaram. Já foi dito por um grande cientista que a transformação do conhecimento não se deve ao fato de que uma teoria científica antiga é vencida por outra mais nova. O que ocorreria, de fato, é que os adeptos das antigas teorias morrem e só restam vivos os adeptos das novas teorias. Humor à parte, o que vemos é que o conhecimento humano sofre contínuas alterações e, por vezes, profundas alterações.
Entendo que o mais bem fundamentado conhecimento humano é o científico. Ele tem a precisão matemática e a comprovação do experimento ou da observação. Mas, ele não passa de um modelo mental que explica de tal forma os fenômenos naturais em que estamos imersos, que nos permite prever o futuro, conhecida a situação presente. Nada mais que isso. E à medida que a Humanidade sobrevive, ela é capaz de observar melhor a Natureza e precisa formular novos modelos que permitam representar melhor a situação presente e antever a situação futura. A ciência é transitória, é momentânea, porque nada mais é que a forma como a mente humana, ampliada a sua capacidade de perscrutar a Natureza com os aparelhos atualizados da tecnologia de informação, entende a Natureza que ela capta à sua maneira. A Natureza captada pela mente não é exatamente a mesma coisa que a Natureza em si. Entre tantas ambigüidades, que descobrimos na História da Ciência, quero aqui recordar apenas aquela: a nossa mente, ampliada a sua capacidade de captação da Natureza com os aparelhos da tecnologia atual da informação, só capta 4% daquilo que é o Universo, e com tanto lusco-fusco, como vimos! Sobre os restantes 96%, apenas suspeita que existam. Nada mais.
Esclareçamos o nosso entendimento. A filosofia moderna, por ampla maioria, discorda de Aristóteles no que seja a verdade. É simplesmente impossível para o Homem comparar a idéia com o objeto externo, e concluir que a idéia é a exata representação do objeto externo. Qualquer objeto de conhecimento é uma criação mental. Nunca a mente alcançará o objeto externo exatamente como é, para compará-lo com a idéia. Ou, pelo menos, sempre existe um fundamento sólido para a dúvida. Os seres vivos sobrevivem simplesmente porque eles estão dotados da capacidade de obter do meio ambiente informações úteis à sobrevivência. Assim o microorganismo retira o nutriente do meio ambiente e refuga as toxinas. Seres vivos mais complexos estão dotados de um sistema específico para obter a informação útil do meio ambiente: o sistema nervoso. O sistema nervoso animal, em geral, capta as informações do meio ambiente, forma uma imagem sensível do meio ambiente e procura as situações favoráveis à sobrevivência e foge das situações adversas.
O homem está dotado de um sistema nervoso mais sofisticado e mais poderoso, sobretudo o cérebro. Ele capta as informações do meio ambiente e forma a imagem sensível do meio ambiente. Guarda muita coisa dessa imagem na memória. E manipula essas imagens da memória produzindo as fantasias, as imagens fantasiosas. A atividade mais poderosa do cérebro humano, a mente, manipula as sensações, as memórias e as fantasias e produz as idéias, as teorias, as doutrinas, as imagens racionais, que permitem distinguir com maior perfeição o que é útil à sobrevivência do indivíduo humano para adquiri-lo agora e no futuro, bem como o que é nocivo à sobrevivência do indivíduo humano para evitá-lo agora e no futuro. Atente-se bem para como funciona essa busca ou construção de significado realizada pela mente humana. Vê-se um homem armado com um fuzil. Aquilo pode significar para umas pessoas: ele tem segurança. E pode significar para outras pessoas: ele não vai sobreviver por muito tempo. Um jovem bomba-suicida dos muitos que existem pelo mundo afora, hoje em dia. Para alguns: um idiota. Para outros: um mártir. Então, constrói-se toda essa teoria quântica e toda essa teoria da relatividade para extrair da Natureza um conjunto de significados, capaz de me permitir a construção de uma estação espacial que me permita um mundo de realizações, em breve. Quem sabe? Colonizar a lua, ou transformá-la no depósito de lixo da Humanidade! E a mente humana produz os mais sofisticados modelos matemáticos que permitem atribuir significado ao mundo caótico das condições atmosféricas de tal forma que posso prever com grande antecipação os eventos climáticos futuros. E também ao mundo das incertezas financeiras, de modo a alcançar a riqueza mediante a aplicação da teoria matemática do jogo, não sem correr o risco de até uma hecatombe econômica e social!...
E ainda há a linguagem, esse instrumento de compartilhamento de informações entre os indivíduos humanos, que possibilita a formação da sociedade. E o que era informação para a sobrevivência individual torna-se informação para a sobrevivência individual e coletiva. Forma-se a cultura, o patrimônio mental coletivo do passado e do presente da Humanidade. E cada cultura condiciona um estilo diferente de coexistir que se chama Civilização. A linguagem está na base da cultura e da civilização. Ela é a chave da sobrevivência humana, desde que ela seja entendida e valorizada no sentido positivo de veículo de informação dos conteúdos mentais significativos do que é e do que não pode ser de interesse do Homem.
Os gregos explicavam o tempo através de um mito, o mito de Cronos. Acreditavam que no princípio existiu apenas o Caos, uma força primitiva, um mundo sem forma. Ele gerou Érebos e Nix (a noite). E tinha três irmãos: Eros, Tártaro e Gaia (ou Géia, a Terra). A Terra gerou Urano (o Firmamento) e outros deuses. A união de Gaia com Urano gerou vários filhos, entre eles Cronos (o Tempo).
Urano fora informado de que um dos filhos o destronaria. Por isso, sempre que um filho nascia, ele o ocultava no corpo de Gaia. É uma representação mítica da frase bíblica: és pó e a pó hás de voltar. Não suportando as dores do sepultamento, Gaia apelou para que os filhos pusessem fim ao comportamento brutal de Urano. Cronos acatou a suplica de Gaia e entrou em luta com o pai, armado com uma foice fornecida por Gaia. Ele emasculou Urano e lançou os testículos do pai sobre a Terra. Respingos caíram sobre o Mar Egeu e da espuma formada brotou Afrodite, a deusa do amor. Naquele instante, o Firmamento se separou da Terra.
Cronos ocupou o trono de Urano e foi informado de que um filho também o substituiria no governo de seu império. Por isso, ele passou a devorar todos os filhos que a esposa Réia gerava, para evitar a sua deposição. Esse é, de fato, o papel mais evidente e temido, exercido pelo Tempo: a sucessão das gerações e das coisas, tudo passa. Réia revoltou-se com a atitude do marido. Obteve a solidariedade do filho Zeus, que destronou o pai Cronos. Zeus não só se tornou o deus supremo do Olimpo, como também conquistou a imortalidade para os deuses. Cronos ainda hoje modifica tudo no Universo. A cada instante, modifica também o conhecimento humano, a Ciência.



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