sábado, 24 de janeiro de 2009

13. A Crise Financeira Mundial


Estas reflexões sobre o cenário financeiro mundial e brasileiro escrevi em setembro do ano passado e transmiti a amigos, que parecem apreciam os pensamentos que expresso.
Estou ouvindo com muita freqüência pessoas do Governo Brasileiro afirmarem na televisão e nos jornais que o liberalismo acabou no mundo, agora nesta crise, assim como o socialismo acabou no mundo em 1988, com a queda do muro de Berlim.
Primeiro, o socialismo não acabou naquela época. Mudou. E tudo muda constantemente.
Segundo, o capitalismo não vai acabar agora. Vai mudar. E tudo muda constantemente.
Terceiro, a crise atual decorre do fato de que os governos não cumpriram com suas obrigações. A economia do liberalismo total, sem norma alguma senão as normas próprias da riqueza (as normas do mercado), nem mesmo norma ética, foi o liberalismo inicial, aquele de Adam Smith, do século XVIII.
Este liberalismo clássico constituiu as idéias que embasaram a Revolução Industrial e levaram os Estados Unidos à hegemonia mundial, e onde o valor máximo do Homem era a riqueza. Milhões de pessoas morreram nas fábricas, ganhando miséria, envenenando-se na poluição do ar e dos rios, trabalhando vinte horas por dia, desde a tenra idade, enquanto as empresas competiam, inclusive com assassinato de seus donos.
Contra ele insurgiu-se Karl Marx, que propugnou por um comunismo de Estado, enquanto não se atingia o ápice da transformação socialista da sociedade, a saber, a sociedade comunista. O Estado passaria a planejar a sociedade, até a designar o que cada um seria na vida (profissão), onde trabalhar, onde e como morar, o que e como comer, que papel exerceria na sociedade e o que cada um possuiria (comunidade de bens e de mulheres). Nunca me esquecerei daquele representante do governo iugoslavo comunista de Tito, que me convidou para um almoço, a fim de obter algumas informações como: qual a dimensão do apartamento a que eu, gerente da Carteira de Câmbio do Banco do Brasil, tinha direito e a quantos quilos de arroz e de feijão eu tinha direito por mês.
A economia do século XX apareceu com John Maynard Keynes, pretendendo resolver o dilema liberdade com igualdade, e exigindo a interferência do Estado no papel de controlador das atividades monetárias e fiscais, o que aliás sempre fora papel do Estado, desde o século XV. O New Deal de Delano Roosevelt implantou o keynesianismo nos Estados Unidos e ele se tornou a teoria econômica dos governos liberais, em oposição aos socialistas marxistas, até a década de 60 do século passado. Segundo Keynes, o Estado só precisava controlar as atividades monetárias e os seus gastos, segundo as flutuações para cima e para baixo, da atividade econômica, mantendo assim o pleno emprego e a plena atividade da capacidade produtiva.
No final da década de 50, do século passado, Milton Friedman lançou a teoria do neoliberalismo, a saber, o Estado só precisa interferir na área monetária, controlando a flutuação da economia, fornecendo mais dinheiro e menos dinheiro, conforme a atividade econômica diminui ou aumenta excessivamente. Margareth Tchacher e Reagan adotaram essa orientação econômica em seus governos. O sucesso deles contaminou a quase totalidade dos governos: a URSS que se acabou (muro de Berlim de 1988) e até a economia da China de Mao Tsê Tung se liberalizaram. Veio depois a globalização. O Brasil de Lula tem gostado muito da globalização e, sobretudo, a China.
Ora, o que ocorreu agora foi exatamente isso: abandonou-se até mesmo o neoliberalismo de Milton Friedman. Não se controlaram os bancos de investimento, não se controlaram as seguradoras que inventavam que davam segurança aos bancos (o Brasil já havia feito isso na década de 70 e 80 com o IRB dando todo tipo de seguro para exportação brasileira. Lembram-se?). Não se controlaram os bancos comerciais. O ativo de empréstimos dos bancos americanos é superior ao PIB americano. O ativo de empréstimos dos bancos ingleses é superior ao PIB inglês. O ativo de empréstimos dos bancos da Islândia é 50 (cinqüenta) vezes o PIB islandês (a Inglaterra teve que assumir a sua capitalização, porque os bancos ingleses estavam comprometidos com essa farra!).
Assim, a derrocada se deve ao fato de que os governos não seguiram a cartilha do neoliberalismo, a cartilha de Milton Friedman, e muito menos ainda a de Keynes. Preferiram voltar a Adam Smith. A derrocada é do liberalismo clássico. Milton Friedman está dando gargalhadas na sepultura. E retornará com força Keynes. E talvez Galbraith (o mais comunista dos economistas liberais, e o mais liberal dos economistas comunistas) com sua política de renda. Ou talvez ainda, como afirmo no outro artigo (Valor do Trabalho), o liberalismo humanista, isto é, o liberalismo ético.

Nenhum comentário:

Postar um comentário