Ontem, os veículos de comunicação informaram que na segunda-feira,
dia 16 do corrente mês, um grupo de pessoas, sob a liderança de personalidades
dos movimentos sociais e sindicais do Estado de Alagoas, invadiu o prédio da
Assembléia Legislativa daquele Estado, e está exigindo a cassação de deputados
acusados de corrupção, há já dois anos, e sem conclusão de julgamento nos
tribunais do País, eleição de 27 deputados, e discussões públicas sobre
educação, saúde, habitação e gastos públicos.
O século XVIII assistiu à revolução das liberdades individuais, o
século XIX à revolução industrial, o século XX à revolução tecnológica e o século
XXI, acredita-se, assistirá à revolução social ou, até mesmo, ao aparecimento
da nova espécie humana. E o que temos a ver com isso? Tudo.
No segundo semestre do ano passado, falei que já se inventara um
colar para captar e transmitir para o telefone celular ou para o monitor de um
computador o pensamento dos surdos. Não é de se estranhar que, no futuro, os
homens usem aparelhos que captem os pensamentos uns dos outros. Acabar-se-á a
privacidade, o segredo. Ninguém poderá impunemente maquinar no recesso de sua
mente a desgraça de outrem ou da Humanidade. Tudo será às escâncaras, o
comportamento e o pensamento. Mas, dir-se-á, isso está muito distante. Será? O
primeiro transplante de órgão, um rim, foi feito pelo médico norte-americano
Joseph Murray em 1954, isto é, há apenas 55 anos (acho que todos nós aqui já
éramos nascidos, e há muito tempo, em 1954). O primeiro transplante de coração
ocorreu há 42 anos na África do Sul. Hoje há até quem viva com um coração
cibernético (há já seis meses) à espera de um transplante do coração. Hoje já
se fazem transplantes de todos os órgãos, exceto o cérebro, em todas as capitais
do Brasil e nas grandes cidades dos Estados mais adiantados. Ah! Hoje, pega-se um notebook qualquer,
posta-se na vizinhança do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal de Justiça ou
de uma empresa qualquer e ouve-se tudo o que pretensamente se está falando em
segredo!... Por isso, acho
que a grande revolução que se está iniciando, a revolução social, ou até mesmo
o aparecimento da nova espécie humana, não vai demorar muito.
Reflitam sobre a nova e estupenda invenção do Homem. Não lhes vou
falar sobre o novo supercomputador que os norte-americanos começaram a
produzir, doze vezes mais potente que o mais potente supercomputador em
funcionamento atualmente. Isso nem é mais tecnologia do futuro é tecnologia do
presente. Falando em terminologia marxista (que também já é passado) seria a
tese (fim do passado) que já deve estar sendo substituída pela antítese (começo
do futuro) que produzirão a síntese (o futuro). No tempo do processo, que é a
existência, tese e antítese constituem o presente, a síntese é sempre passado
ou futuro.
Vou-lhes falar de uma experiência física absolutamente inédita,
realizada pelos norte-americanos nos últimos tempos. Todos os corpos se
deslocam num espaço contínuo: os animais terrestres, os peixes, as aves, o
Homem, os automóveis, os navios, as aeronaves e até as espaço- naves. O Homem
acaba de realizar uma nova façanha na área dos deslocamentos. Era um sonho da
ciência Física não simplesmente empurrar um corpo de um lugar para outro, não
simplesmente fazê-lo dar um salto. O Homem pretendia fazer com que um corpo
(uma quantidade de massa) desaparecesse do lugar onde estava e aparecesse
noutro lugar, por exemplo, eu desaparecesse do Brasil e surgisse no Japão. O
homem acaba de fazer isso com um elétron, no mundo subatômico, é verdade, em
dimensões insignificantes para o mundo real da nossa experiência diária, mas em
dimensão significativa para as distâncias do mundo subatômico, ainda que, é
verdade, muito reduzida. Mas, já conseguiu realizar essa proeza. É o início.
Imaginem nós os homens, num futuro que não se pode ainda vislumbrar,
desaparecer do Rio de Janeiro e aparecer nos maravilhosos hotéis de Dubai!...
Os capitalistas e negociantes vão enlouquecer...
Insisto: e o que isso tem a ver conosco, funcionários do Banco,
aposentados e pensionistas da Previ, e associados da Cassi? Tudo.
Nós estamos vivendo numa sociedade, cujo estilo de organização já se
está acabando, e não estamos percebendo que o processo existencial nos está
deixando para trás. Nos países desenvolvidos não há mais segredo com relação a
salários. Os manuais de organização de empresas insistem que importante para a
produtividade e para o sucesso é a satisfação dos empregados, a comunicação e a
interação entre todos os agentes de produção de uma empresa. A gigantesca crise
financeira que vivemos ensinou que não mais se podem aceitar sigilos, ambientes
de lusco-fusco, nas associações e empresas. Ela também ensinou que não se pode
aceitar a desbragada remuneração de uns poucos às custas da exploração
remuneratória de muitos. Ela ensinou que não podem existir paraísos fiscais,
onde os banqueiros podem fazer o que bem entendem, sem normas que rejam as
atividades bancárias e sem fiscalização. Ela ensinou que para o bem e para o
mal o planeta Terra agora é um espaço comum, contínuo, sem divisórias, único.
Para mim, a grande lição desta crise consiste, em resumo, no
significado expresso nestas duas palavras: consenso mundial. Essa é a igualdade
do futuro, a aceitação da diversidade, a convivência da diversidade, a
diversidade argamassada numa humanidade solidária através do entendimento, sem
qualquer concessão à arbitrariedade e à violência. A violência organiza a
sociedade pela coação, pela extinção do outro, da diversidade, da pluralidade. Poderia
mesmo dela resultar, porventura, alguma associação, alguma sociedade? Ou a
sociedade é fruto do entendimento entre os diversos, entre os plurais, que
partem do princípio fundamental de que nela todos são iguais? Não pode existir
hegemonia do país militarmente ou economicamente mais poderoso. Aliás, a ONU
foi criada, há quase sessenta anos, sob essa idéia da formação do consenso
universal mundial. Infelizmente, ela foi organizada segundo a concepção da
época, segundo a qual, algumas nações detinham mais direitos que outras. Mas, quem
entrará satisfeito e pacificamente numa sociedade ou associação, aceitando que
o outro pode mais? Só aceito estar em sociedade e associação em que todos
mandam e todos obedecem, em que todos trabalham e todos usufruem, em que todos
têm os mesmos direitos e todos têm os mesmos deveres.
Não posso aceitar que uns poucos do Governo mandem em mim. Para mim, Governo é
um conjunto de mandatários meus, não de representantes. Mandatários fazem o que
nós mandamos. Como aliás disso se vangloriava Atenas na voz de Péricles: sou
livre porque não obedeço a outro homem, mas me submeto somente à Lei que eu
faço. Não posso admitir que uma maioria mande em mim, porque sou livre e quero
permanecer livre em qualquer associação ou sociedade de que participo. Só posso
admitir a Lei que eu, juntamente com todos os outros cidadãos ou sócios, a
fizer. Não aceito maioria mandando em minoria. Há algo fundamentalmente podre na
democracia da maioria. Minoria, evidentemente, não pode ter o comando de uma
associação. Mas, que minoria ingressará numa associação onde ela será
massacrada pela maioria? A Lei, que ela só deveria ser o Governo, deve ser
formulada por todos, através do debate, num consenso final, numa aprovação por
todos. Não num gesto de submissão, de derrota. Mas, num gesto do triunfo da
inteligência, do conhecimento, do respeito, de reconhecimento e exaltação do
bem comum. Por isso, nação e associações não deveriam gerar as suas normas
através de processos que estimulem, já no nascedouro, a divergência e a
oposição. É triste e trágica a existência de partidos. Isso é sinal de
barbarismo. O homem civilizado é apartidário. Ele é essencialmente solidário. Nada
na sociedade e na associação pode brotar de força desagregadora. Tudo nela tem
que brotar da argamassa da força agregadora, niveladora. Tudo tem que ser
revisto. Tudo vai ser revisto, no mundo futuro, numa sociedade do conhecimento,
onde tudo será claro, iluminado, transparente.
Temos muito que fazer nas nossas associações Previ, Cassi, AAFBB,
ANABB, AAPBB, etc. Vamos fazer dessas associações, associações realmente de
parceiros, de iguais, de consenso no bem comum. Vamos começar por dois
processos: o processo da eleição dos corpos administrativos, sem partidos, sem
propaganda, através da indicação de mandatários, por escolha livre de todos os
sócios daqueles em quem eles confiam, que eles através do debate e do consenso
identificarem como os que devem ser investidos do mandato de administração; e que
se torne flexível o índice de reajuste dos benefícios na Previ, de modo que sejam
diferentes os índices para os tempos de alto, baixo e até negativo nível de
atividade econômica e a eles ajustados. Isso eliminará o risco de ruína dessas
instituições, ao mesmo tempo que na Previ acabará praticamente com a esdrúxula
fabricação de superávits. O mundo de transparência, de interesse coletivo, de
respeito é o meio ambiente em que brota espontaneamente a convivência, que se
alça em solidariedade, que dá nascimento ao consenso, a única argamassa
possível de uma associação de indivíduos livres e dignos.
Prezado Edgardo,
ResponderExcluirSeus textos são preciosos e pretendo ler e reler a todos. Este último, p.ex., o mundo que você anteviu em 2009, é atualíssimo. Li o primeiro parágrafo e imediatamente pensei no que poderá acontecer se agora no segundo trimestre de 2019, formos surpreendidos com milhares de bandidos livres (1*) para dar continuidade aos seus malfeitos, à espera de um último julgamento no STF. 1* Os bandidos pobres continuarão presos, na medida em que são condenados definitivamente em primeira instância, pois não têm dinheiro para contratar bons advogados e recorrer das decisões até o STF.
Ora, se isso acontecer, muito provavelmente muitos brasileiros estarão dispostos a invadir o prédio do STF, lá em Brasília, assim como os alagoanos invadiram o prédio da Assembleia Legislativa de Alagoas, em 2009. Em 2009...
Grande abraço,
Genésio - Uberlândia/MG.
Em tempo: Somente no início de dez/2018 é que tive o prazer de conhecer o seu blog, quando de uma visita ao blog do professor Ary.
Genésio
ResponderExcluirVocê já é meu conhecido através dos questionamentos que publica no blog do Mestre Ari.Creia que me sinto honrado com sua leitura de textos que publico na esperança de contribuir para que se cancelem tantas injustiças que, ao longo dos anos, se vêm cometendo contra os Participantes da PREVI.
Edgardo