segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

480. O Início da Ciência Econômica: o Mercantilismo.



No texto 472 vimos que a Humanidade, entre os séculos XIV e XVII EC passou por transformação profunda da mentalidade, do que pensa sobre si mesma, sobre a vida, sobre a existência, sobre o Universo. A Terra não é mais o centro do Universo. O Estado não é mais uma organização outorgada por Deus. Ele é uma construção humana.  A vida terrena não é mais um período de prova de submissão a Deus. Ela é o fugaz período da existência do indivíduo humano.  O Homem é o mais perfeito dos seres da Natureza e tem o poder de autoconstruir-se, e, portanto, de planejar e realizar uma vida boa.
     
Assim, vimos que, concumitantemente com a modificação da mentalidade, transformava-se seu comportamento, de modo que, impulsionado por vigorosa ambição, o Homem promoveu cultura e civilização bem diferentes, onde predominava a ambição de fruir de uma vida boa. A principal ambição daqueles tempos era a vida boa, A vida boa que se fruía nas cidades-estados e nos reinos, sobretudo por parte dos burgueses e das cortes. Os burgueses, os fidalgos e os reis haviam-se lançado no desenfreado empreendimento da construção da própria vida boa.

A novidade daquela época, a novidade espetacular, revolucionária, que toda a Europa constatava e vivenciava era que o comércio (comprar barato e vender caro) gerava a riqueza e que a riqueza gerava a vida boa bem como os reis e países poderosos. David S. Landes, em “A Riqueza e a Pobreza das Nações”, descreve como os comerciantes das cidades italianas desciam até a nascente do Nilo e aventuravam-se até os confins da Pérsia para comprar mercadorias – sedas, tecidos, especiarias, mantimentos, minérios e marfim- e adquirir ouro e prata. Will Durant descreve a extraordinária didática das persistentes e curtas viagens por entre as ilhas e ao longo do litoral africano, adotada pela escola de navegação organizada pelo Infante D. Henrique, que preparou Portugal para enfrentar façanha mais atemorizante, dizem os entendidos, que a hodierna viagem à Lua: as lendas apavorantes; a ampla realidade desconhecida e imprevisível de água e firmamento, calmarias e tempestade, escassez de água potável e alimento; a monotonia da diuturna convivência de uma população de aventureiros de baixíssimo nível educacional e ético ao longo de dias, semanas, meses, anos, em embarcações diminutas e sem acomodações confortáveis; fome e doença; encontros com populações de feições, cultura e língua diferentes, amistosas e desconfiadas umas, espertas e negociadoras e belicosas outras; o mero e inaceitável assentamento em terras já habitadas por outras gentes.

Os principados italianos tinham a amplitude e a tranquilidade do Mar Mediterrâneo para relacionarem-se com o mercado ofertante, bem como os rios navegáveis da Europa para atingir o mercado demandante. Mas Espanha e Portugal, a Península Ibérica, isolada, ao Norte, fisicamente pela cordilheira dos Pirineus, e ao sul, politicamente, pelo invasor árabe muçulmano, abria suas portas apenas para o tenebroso Oceano Atlântico. A Espanha, através de relacionamentos familiares avançou para Leste e estendia sua soberania sobre várias ilhas mediterrâneas, alcançando até a Sicília no sul da península italiana. Portugal, porém, somente contava com sua tecnologia de navegação oceânica de vanguarda, que estendia seu comércio à Inglaterra, à Alemanha e aos Países Baixos, os grandes centros comerciais do Mundo, Antuérpia, Amsterdã e Roterdã.

Cristóvão Colombo tentou várias vezes, sem sucesso, dissuadir reis portugueses da ideia de alcançar as Índias contornando a África e abraçar a sua proposta de financiar uma expedição pela rota oposta na direção Oeste. Ele tentava aliciá-los propondo regressar com as naus carregadas de metais preciosos, ouro e prata. Os reis portugueses não se deixaram persuadir pelo marinheiro genovês. Mas, ele teve sucesso em convencer, contra a opinião do conselho régio, a notável rainha de Espanha, Isabel de Castela, que financia quatro expedições de Colombo à América que ele persistia em afirmar que eram as Índias e de onde trazia ouro e prata.

Os reis de Portugal, então, intensificam sua tentativa de chegar às Índias pela rota Leste e Vasco da Gama consegue realizar o projeto lusitano, iniciando o primeiro império colonial da História, que durou um século e colocou Portugal à frente de todas as nações, nesse período. O rei de Portugal sarcasticamente envia ao rei espanhol carta, descrevendo as terras indianas por Portugal descobertas, precisamente em acordo com as expectativas, ao contrário das que estavam sendo percorridas por Colombo. Portugal desde a primeira viagem de Vasco da Gama interessou-se pelo comércio.

 Logo, as duas nações, Espanha e Portugal. trataram de excluir os demais países europeus, de se beneficiarem dessa fonte de enriquecimento, as terras recém-contatadas a Leste e a Oeste, o abastecimento de ouro e prata e o comércio de mercadorias, principalmente especiarias. Assim, essas duas nações foram beneficiadas, com a repartição das terras descobertas entre elas, por decisões dos Papas Sisto IV, Nicolau V e, por fim, Alexandre VI, papa espanhol,  concluindo-se na demarcação do Tratado de Tordesilhas.

Por essa época, a fé de muitos príncipes europeus na soberania universal da Igreja já não lhes era tão profundamente arraigada na mente que os submetessem, quando os interesses materiais e políticos fossem contrariados pelo Papa. Assim, os reis europeus, sobretudo dos Países Baixos, Inglaterra e França desenvolveram suas frotas navais e lançaram-se também nas rotas líquidas dos vastos mares oceânicos, à cata de ouro e prata ou estabelecendo bases de comércio. O rei de Portugal reclamou do rei francês o seu desrespeito pela repartição papal das terras do Mundo entre Portugal e Espanha, e este galhofeiramente lhe indagou em que parte do testamento de Adão se acha essa repartição registrada.  

Como se vê, os reinos daqueles anos da Renascença já se dedicavam com o máximo empenho na criação de um império colonial, com a finalidade da   acumulação de ouro e prata, ou extraindo-os da própria terra agregada ao seu domínio, ou através do comércio internacional.  Os reinos queriam ser poderosos. Para ser poderosos, queriam ser ricos. Para ser ricos, queriam ter dinheiro, isto é, ouro e prata. Para ter ouro e prata, eles queriam ter colônias, de onde extrair ouro e prata, ou mercadoria para comerciar, recebendo ouro e prata pelas mercadorias fornecidas. As cidades da Itália ensinaram ao Mundo que se fica rico através do comércio. E logo o hábito do comércio se espalhou pela continente europeu.

Durante quase um século Espanha e Portugal se colocaram como as mais ricas nações da Europa, acumulando ouro e prata, e Portugal, à frente de todas as nações, a mais rica, precisamente mediante o comércio das especiarias, até que surgissem os primeiros tratados sobre economia, redigidos por comerciantes ou por conselheiros reais.  O foco desses estudos, portanto, era a riqueza. A finalidade era saber como se deveria proceder para enriquecer, sobretudo, o rei. O pressuposto básico desses estudos era o conceito de riqueza. Essa fase moderna inicial do pensamento econômico, apelidou-se de Mercantilismo, “a primeira tentativa de produzir-se uma teoria econômica da Sociedade: o fim da sociedade é a riqueza e os meios de conseguir a riqueza são os negócios comerciais dos cidadãos, expandidos sob o amparo do poder do Estado”, explica Henri Denis. Compulsando os livros sobre História da Ciência Econômica,  encontra-se vasta lista de autores incluídos no grupo Mercantilismo.

A Ciência Econômica, portanto, surgiu em razão de um fato histórico: os grandes e poderosos reinos surgidos nos séculos finais da Idade Média, precisavam ser poderosos e, sobretudo, ricos. Poderoso para subsistir, em meio a impérios rivais e ambiciosos. Rico, para ser poderoso, e subsistir em meio a súditos ambiciosos e igualmente aspirantes a uma vida boa.

O conceito básico da teoria mercantilista é, pois, o conceito de riqueza. Riqueza para o Mercantilista era, antes de tudo, o dinheiro (o tesouro= ouro e prata), porque o dinheiro tudo adquire, os bens de consumo e armas para guerra, inclusive paga os mercenários contratados para a guerra, faz os impérios fortes. É provável que a maioria entendesse que a abundância de bens de consumo fosse mais importante que o dinheiro. Mas, para os reis e para os reinos, sobretudo, o mais importante era o dinheiro, que por tudo se troca, tudo compra.

É amplo o elenco de personalidades incluídas nesse grupo de pioneiros da teoria econômica, o Mercantilismo: Azpilcueta, Tomás de Mercado, Botero, Jean Bodin, Antoine de Monchretien, James Steuart, William Petty, Jean Baptiste Colbert e outros muitos. Mas, três são principalmente citados como os principais vultos do Mercantilismo: Antonio Serra, Antoine de Monchretien e, o mais importante, Thomas Mun.

O Livro da Economia resume o Mercantilismo em duas palavras: comércio e protecionismo. E explica :
A riqueza consiste na posse do ouro (dinheiro); logo,
 a riqueza de uma nação é medida pelo tamanho de seu tesouro (a quantidade de ouro existente nos cofres do reino); logo,
a exportação enriquece a nação (enche o tesouro)
a importação    empobrece a nação (esvazia o tesouro);
ora, a quantidade de ouro existente no mundo é fixa, inalterável;
logo, o que uma nação ganha, a outra perde;
logo, o rei precisa promover a exportação e impedir a importação.

Entendo, pois, que Wikipédia haja resumido corretamente o Mercantilismo nos seguintes princípios:
Incentivos às manufaturas
  Produzir tudo o que possível for, e com o maior valor agregado, e exportar o excedente ao consumo interno..
Protecionismo alfandegário
  Promoção da exportação, sobretudo de manufaturas, e aos meios nacionais de transporte.
  Restrição à importação, dificultando e até impedindo a importação de bens estrangeiros.
Balança comercial favorável
O esforço era para exportar mais do que importar, de modo que os ingressos de moeda fossem superiores às saídas, deixando boa situação financeira.(Soma zero, isto é, volume do comércio mundial seria inalterável, fixo, a vantagem de uma nação seria desvantagem da outra)
Colônias de exploração
Suprimento de matéria prima barato e monopólio de comércio.                  Formaram-se dessa forma os impérios.

Antoine de Montcrethien era um mercantilista puro extremado: advogava a autossuficiência da França e vituperava a permissão para qualquer importação. Mas, seu conceito de riqueza não se atinha exclusivamente à abundância de ouro, incluía igualmente a abundância de todos os bens necessários para a subsistência. E John W McConnell adiciona que Montchretien entendia que a principal finalidade do Estado é fazer que haja abundância de bens materiais à disposição de todos os cidadãos. E arremata que, por isso, os estudos econômicos passaram a denominar-se Economia Política.

                          








  

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

479. Homenagem a Mariana, Bacharel Magna cum Laude


No dia 9 do corrente mês de janeiro de 2020, recebeu, com extraordinário brilhantismo, na PUC desta cidade do Rio de Janeiro, o diploma de bacharel na Ciência de Relações Internacionais, minha neta, Mariana, cujos estudos acompanhei, desde a pré-alfabetização até o final dos quatro anos de curso universitário.

Em comemoração a esse fato glorioso para Mariana e familiares, coloco neste meu blog a capa e o Prefácio de um livro que projetei produzir, mas não realizei, para uso e recordação de Mariana.


  
                       Bem Vinda,
    MARIANA!
  
·      A VIDA é uma CONQUISTA!
· RESPEITO é a regra áurea da conduta humana.
MUITO CARINHO e BEIJOS
dos avós
Marucha e Edgardo
18/05/97





PREFÁCIO


Este livro é escrito para você, Mariana, com muito amor e carinho, pelo seu avô Edgardo. Pretende descrever-lhe o grande amor e expectativa de seus pais e avós que  cercaram o seu nascimento e acompanharam o seu desenvolvimento. Revelar-lhe quanto você foi desejada. Dizer-lhe sobre coisas de sua vida que você viveu, pequenina e inconsciente, e que, crescida, certamente terá curiosidade de saber. Falar-lhe da persistente e intensa preocupação de seus pais e avós com seu bem-estar e formação, ao longo de sua vida. Descrever-lhe as alegrias e o enlevo que você nos proporcionou e as preocupações que ensejou.
Este livro pretende ser o melhor presente de seus avós paternos, Marucha e Edgardo. Constituirá, sem dúvida, trilha de luz e calor humano que cortará as paisagens de um trecho de sua vida, provavelmente o primeiro ou primeiros trechos. Percorrendo-a, você sentir-se-á acompanhada e protegida. Compreenderá o sentido de sua vida e quanto ela foi e é preciosa para os seus familiares. Conhecer-se-á a si própria e perceberá a direção que a norteia na vida. Você entenderá que, pessoa do povo como bilhões de seres humanos, você é especial e preciosa para nós e para você, porque em geral os indivíduos são importantes para algumas pessoas: as da família e alguns poucos conhecidos.
Este livro tem a pretensão de vir a ser o mais belo e importante para você. Propõe-se preencher-lhe as horas vazias. Fazer-lhe companhia nos momentos de solidão. Revelar-lhe o amor em todos os instantes. Infundir-lhe coragem nas ocasiões decisivas. Ele é escrito para perpetuar a imagem e a presença dos avós, Marucha e Edgardo, junto de você.
Mariana, quando você compreender o amor, você perceberá a mensagem que os seus avós paternos, Marucha e Edgardo, lhe querem transmitir com este livro: Mariana, nós a amamos muito, muito mesmo!...
Marucha e Edgardo
03/09/97
ano de mariana

















segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

478. Mensagem


Senhor, enquanto tantos, por aí, agradecem à sorte e a pessoas pelas coisas boas que lhes acontecem e praguejam também pelo seu azar,

Eu, Pai, agradeço a Ti o que recebi e Te louvo, Senhor, pelo que quis e não consegui, porque sei que quando for chegada a hora tudo me virá Dele por Ti.

Pai, enquanto tantos choram por coisas fúteis e sem valor, eu Te peço que faças de mim não um fotógrafo, mas sim um explorador.

Eu Te agradeço, Pai, por poder ver um novo amanhecer, enquanto tantos agonizam.

Poder ajudar, dar a minha mão para alguém se erguer, enquanto outros fecham suas mãos e aprisionam seu coração.

Eu Te agradeço, Pai, por Tu a cada dia me dares força para seguir em frente, enquanto tantos se apoiam em mágicas que aos poucos se desfazem.

Eu Te agradeço, Pai, por Tu a cada dia me abrires uma nova porta, porta de alegria, sabedoria e compreensão através de Tua palavra, enquanto tantos não conseguem transpor suas próprias portas por elas permanecerem eternamente fechadas.

Obrigado, Pai, por Teu filho, Jesus, que morreu na cruz para me salvar.

Obrigado, Pai, por eu Te conhecer e amar.

Obrigado por eu ser Teu filho e irmão de Jesus.

E, Pai, só tenho uma coisa a Ti pedir. Eu Te peço palavras, palavras para mostrar a todos que Tu, meu Deus, és real, és um Deus de amor e paz, um Deus que nos criou, não um Deus criado por nós.


Adhemar de Aguiar Rego

                                                         Ano de  1978
NB. Mais uma homenagem ao meu filho Adhemar, nesta publicação de um texto, escrito no ano de seu falecimento, sob a influência religiosa da mãe e dos mestres do educandário Guido de Fontgalland, do Rio de Janeiro.




domingo, 29 de dezembro de 2019

477. MÃE



Sei que um dia vou partir
Novos rumos e caminhos vou seguir
Mas a você não vou esquecer.

O seu rosto, sua ternura
Em nenhum lugar
Beleza igual vou encontrar
O amanhecer sobre o mar
Não perturba a luz do seu olhar
E a rosa não é mais macia
Que os carinhos de sua mão.

Você me ensinou a sentir, a sonhar
Me ensinou o valor da palavra irmão
E fez bater meu coração.

Pelos caminhos que for
Nunca vou me esquecer de lembrar
Que você foi quem primeiro me amou
Você me fez ser o que sou
Você é só uma, você é única
Você, MÃE, é a dona do meu coração.
  
                Adhemar de Aguiar Rego
      Ano  de 1977
Esta poesia foi escrita para a mãe, pelo meu filho primogênito, um ano antes de falecer, aos dezoito anos de idade, vitima de um câncer ósseo extremamente agressivo. Dele o Diretor do Instituto Guy de Fontgalland, aqui do Rio de Janeiro, no sermão fúnebre da missa dos funerais que o colégio celebrou, disse: "Jamais esqueceremos desse jovem." Adhemar foi um jovem encantador, física e mentalmente. Vivia a vida intensa e sadiamente, rodeado de amigos e amigas, até que o câncer o abateu corporalmente. Suportou a doença heroicamente. Eterna e doída saudade, meu filho querido!
Edgardo

domingo, 22 de dezembro de 2019

476. A Festa do Natal



Livros respeitáveis me revelam que Einstein afirmou: “A realidade é uma imaginação, e persistente imaginação.” Não tenho dificuldade alguma de admiti-lo como verídico, porque me parece dedução lógica da ideia que Einstein formava da realidade e do valor que ele atribuía ao conhecimento humano.

Einstein pensava que a realidade nada mais é que um campo energético em transformação. Tudo é energia. O espaço é energia. O vácuo é energia, E paradoxalmente a massa é energia.  Mera suposição, a mais provável realidade, opinião que pode ser comprovada por mentes competentes através de experiências, mas nada mais é que uma muito judiciosa opinião, a mais viável.

Esse mundo maravilhoso geográfico, social, familiar, econômico, político internacional, histórico, universal, todo esse mundo, seria, pois, uma organização mental da multiplicidade de construções mentais, imaginações individuais de cada homem existente.  O indivíduo humano é que é referência de todas as coisas, confere sentido a cada, coisa, concebe cada coisa segundo sua capacidade perceptiva. Cria-as. O pensamento de Einstein coincide com o de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”, e com o de Sartre ,“O homem se constroi”, com o que Kant também formulou como revolução do pensamento filosófico, conhecemos tão somente o fenômeno.  

A festa de Natal é, portanto, a festa da Vida, a festa da Família, a fábrica das pessoas, como a reconhecia Virginia Satir, que, desde milênios se reúne nessa noite mais longa do ano no hemisfério norte, a noite do nascimento do sol, a noite do início de seu retorno no movimento elíptico em torno da Terra, para comemorar, o fabuloso espetáculo de fatos, cenas, ocorrências, sentimentos, alegrias e tristezas, sorrisos e lágrimas, sensações e pensamentos, luzes, cores, sons, odores e sabores, aconchego e repulsa, acordos e guerras, progresso e retrocesso, que é a Vida.

É a festa do nascimento do Sol, da religação da Luz, do renascimento da Vida, e, na expressão da fé cristã, a troca da roupagem terrena corruptível do corpo individual, pela roupagem incorruptível do corpo celeste místico de Cristo! É a festa anual de celebração do início da construção do Homem Novo, do nascimento do Homem imortal e feliz para toda a eternidade, sonho multimilenar da Humanidade na epopeia babilônica de Gilgamesh, que entendidos interpretam como a mais vigorosa expressão da incessante e eterna insatisfação, a eterna necessidade, a instigar o indivíduo Humano, a Vida: “ Jamais encontrarás o que procuras.”

O Homem está em perpétua construção, perpétua transformação, perpétua iluminação, perpétuo nascimento. A Humanidade está em perpétuo Natal! E o nascimento da Humanidade é o nascimento de tudo, é a Vida! Natal é a celebração da Vida! O Natal é a Festa da Vida!
          

  


sábado, 14 de dezembro de 2019

475. O Futuro do Mercosul



A cidade grega foi uma sociedade fantástica. Num almoço mensal da AAFBB, há poucos anos, em que tive o privilégio de me manifestar na presença de nossa ilustre liderança, o colega Sasseron, em razão de minha argumentação, que se baseava nesse inconteste fato histórico, me contestou alegando a existência do trabalho escravo naquela estupenda sociedade.

Indiscutivelmente a cidade grega era uma civilização muito mais avançada do que todas as que antes existiram e que então existiam. Produto humano, todavia, não podia ser destituído de uma das características dessa produção, que é apresentar-se permanentemente inacabada, em estado de gestação, de continuada transformação para melhor ou para pior.

A cidade grega era a sociedade do cidadão grego. E o cidadão grego era o homem nela nascido, educado e domiciliado que a prezava tanto que admitia contribuir para o pagamento de sua manutenção e fazer a guerra quando dela necessitasse a cidade.

O cidadão grego era o homem rico, dono de latifúndios, porque naqueles tempos a riqueza consistia na posse de terra. O homem grego não estava ocupado no trabalho corporal. O esforço corporal era produzido pelos animais e pelos escravos, seres estes comparáveis aos animais.

O cidadão grego não era, todavia, uma pessoa ociosa. Ele estava ocupado na realização do cidadão ideal, o homem de mente sã num corpo são. Ele se exercitava nos exercícios atléticos, na arte da guerra e no trabalho da cultura, a saber, o estudo das ciências, na produção de poesias, de peças teatrais, e da música. O comércio e a própria produção de palácios e templos, de esculturas e pintura, trabalhos braçais e manuais, não constituíam ocupação de homens ociosos, homens ricos, donos de terra, cidadão grego. Eram ocupação de homens livres, mas não do cidadão grego.

Os cidadãos gregos dedicavam-se, com muito esmero, ao estudo da dialética e da oratória, que lhes eram ensinadas pelos filósofos, os sofistas. Estes eram menosprezados pelos grandes sábios, os grandes filósofos, como Sócrates, Platão e Aristóteles. Os sofistas eram filósofos céticos que descriam da capacidade de o indivíduo humano obter a Verdade, o conhecimento certo, o conhecimento único e universal de cada coisa. Eles admitiam que o conhecimento humano jamais passaria de uma opinião individual, própria, subjetiva das coisas. O importante, pois, era que o indivíduo possuísse uma opinião interessante e altamente proveitosa dos assuntos sob consideração, e soubesse expô-la com poderosa, perspicaz e convincente dialética. Os sofistas eram os professores dos cidadãos gregos, que a cada quinzena se esmeravam na utilização da oratória para convencer os parceiros nas reuniões na ágora, onde debatiam os assuntos de interesse da Cidade, formulavam as leis e as promulgavam. Trabalhar para a cidade, colaborar com o deus da cidade para a sua perenidade, bem-estar e glória, descobrir os planos concebidos para a cidade e realiza-los era a única ocupação reservada para o cidadão grego!

Como se vê, o povo grego era o povo mais evoluído daqueles tempos, os últimos séculos da era pré-cristã. Lançou a semente da civilização atual, a civilização da liberdade, da dignidade da pessoa humana, da igualdade, da justiça, da convivência racional, do Estado de direito, do conhecimento, do progresso, do bem-estar social e do patriotismo.

Nada obstante tudo isso, as cidades gregas não prevaleceram. Alexandre, da Macedônia, educado por Aristóteles, um dos três maiores sábios da Grécia, forma um exército capaz de vencer as tropas gregas e impõe outro destino à Humanidade.

Sob a influência da recordação desse fato histórico é que minha mente repassa tantos episódios de minha quase centenária existência: final da hegemonia inglesa, ascensão norte-americana, tentativa de supremacia alemã e japonesa, segunda guerra mundial, guerra fria russa e norte-americana, supremacia norte-americana, supremacia norte-americana e chinesa, dispersão do poderio bélico nuclear.

Um fato me parece indiscutível, as duas áreas geográficas desnuclearizadas, a América Latina e o Continente Africano não têm a menor chance de decidir o próximo passo da História. Pacificamente, a direção imediata da História está sendo decidida pelos Estados Unidos e China. Belicamente, o primeiro passo da História será dado por qualquer das nações nuclearizadas, entre as quais avultam como mais fortes candidatas, no momento, Coreia do Norte, Israel, Estados Unidos e Irã.

Não tenho informação sobre o que restaria da Terra, depois da ocorrência de uma conflagração atômica mundial. Creio que a normalização da vida  e da sociedade humana só ocorreria passados séculos. Aí, então, África e América Latina surgem como candidatos a palcos da reconstrução da História... A vida é um acidente frágil e raro, mas persistente...

A aceleração dos passos normais do progresso do Mercosul está, na minha opinião, fortemente freada por sua posição geográfica. Entendo o que se passava pela mente do Presidente Nestor Jost, quando em fins de 1969 me levou com ele à África (África do Sul, Moçambique e Angola), mercados próximos, numa tentativa de incrementar o fluxo de comércio próximo e confiável entre o Brasil e a África.... Persistente sonho de certas lideranças brasileiras, com fortes obstruções, sobretudo sociais.

E ainda exigiria concomitante e extraorninário desenvolvimento científico, técnico e econômico brasileiro.  


sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

474. O Segredo da Dinamarca


Em 2012 a jornalista inglesa Helen Russell mudou-se com o marido, que obtivera emprego lá, para a Dinamarca que, no ano anterior fora classificada como a nação mais feliz do Mundo pela ONU.

Conceituada jornalista, correspondente do The Guardian e com coluna no The Telegraph, dedicou-se a descobrir a razão por que a Dinamarca era o país mais feliz do mundo. E revelou a sua descoberta, no livro que publicou em 2015, “O Segredo da Dinamarca”, um dos livros mais vendidos na Inglaterra.

Listou 10 motivos, entre eles, a confiabilidade do cidadão dinamarquês: a pessoa que está a seu lado, você pode não conhecê-la, mas você pode confiar nela; ela não lhe fará nenhum mal; se encetar algum relacionamento com você, é certamente um relacionamento benéfico. Você vive com sensação de segurança.

Outro motivo é a igualdade de condição econômica, porque o imposto de renda progressivo (atinge até 51% das rendas mais altas) faz as remunerações mais altas apresentarem pouca diferença com relação às mais baixas.

Uma terceira razão é a proteção do Estado, que paga toda a formação que o cidadão desejar (paga até 80% da renda do cidadão que deseja estudar para mudar de profissão), paga a previdência social para os cidadãos inabilitados por doença ou acidente e proporciona o mais moderno tratamento médico-hospitalar para os doentes.

O cidadão dinamarquês ama o seu Estado, aprecia pagar a enorme carga tributária que paga. e se sente feliz. Vive, no entanto, em um país de clima terrivelmente adverso (seis meses enfurnado em casa, ao abrigo do frio do inverno de  -22º, país reduzido a duas produções naturais, pescado num mar, metade do ano, e couro de marta). Até aqui o texto redigido por minha mulher, em suas mensagens entre amigos no chat telefônico.

Permito-me acrescer mais um motivo, retirado da leitura do livro, o resumo da sensação experimentada na sua leitura. Vivenciei a emoção de conhecer um povo que valoriza a sua sociedade, que percebe que o Estado funciona para proporcionar-lhe uma Vida Boa, e entende que isso só pode viabilizar-se se ele retribuir com trabalho responsável e  relacionamento respeitoso que contribuam para essa vida boa. Evita que sua convivência inflija injusto prejuízo a qualquer outro concidadão. Extrai-se a impressão de que o povo dinamarquês possui elevado nível de educação. Ele realiza, de fato, o ideal de felicidade preconizado pelos sábios contemporâneos, “uma vida boa, sem dor no corpo e sem angústia na alma”, O cidadão trabalha moderadamente, mas é excepcionalmente produtivo. A Dinamarca poderia também ufanar-se de seu povo, como faz a Finlândia, que já foi também a primeira nação do Mundo pelo Índice da Felicidade Nacional,. A Finlândia, outro país pequeno e de reduzida capacidade produtiva, exalta o seu povo no seu hino nacional que diz ser a riqueza do país e a sua glória.