No dia 20 do corrente mês, Barack
Obama tomou posse na presidência dos Estados Unidos. Eu tenho muito respeito
pelos Estados Unidos. Ninguém tire deles a glória de ter reinstalado na Terra,
nos tempos modernos, o governo democrático, o governo sem rei, mais de dois mil
anos depois que o primeiro governo democrático, o governo sem rei, foi extinto,
com apenas uns trezentos anos de existência! Eles inventaram o Estado do Bem-Estar
Social e erradicaram da face da Terra o nazismo e o fascismo! Eles inventaram a
produção para o consumo das massas, para o povo. E nenhum povo, nem mesmo o
chinês, ultrapassa o norte-americano na inovação e criatividade.
A inovação é a força que dá
início ao ciclo de um tempo de prosperidade. O grande problema de Barack Obama
é fazer voltar os Estados Unidos a produzir. A economia saudável consta de dois
fluxos circulares, consoante ensinaram os Fisiocratas do reinado de Luís XV. Foi
lição econômica, ensinada pelo médico de Madame Pompadour, antes que Adam Smith
inaugurasse o estudo científico dos assuntos econômicos (vejam só!) dissociados
de considerações éticas.
O rio da renda, dizia o felizardo
médico, começa nas Famílias, vai até as Empresas como capital, e volta para as
Famílias na forma de salário, lucro e juros. O rio dos bens começa nas
Empresas, vai até as Famílias na forma de bens de consumo e volta para as
Empresas na forma de matéria-prima.
Até os anos 50, o capital ia para
as empresas européias e, sobretudo, para as americanas. A partir de 60, as
coisas começaram a mudar. A facilidade de transporte de matérias-primas
transferiu a vantagem competitiva para a produção nos locais de consumo. Os
países emergentes, como o Brasil (esse era um dos ofícios da CACEX), por sua
vez, passaram a impedir o ingresso de produtos estrangeiros, se tivessem
similares produzidos internamente. Obrigaram os países industrializados a
fabricar nas regiões subdesenvolvidas e a difundir o conhecimento de
tecnologias. Quase tudo o que temos de tecnologia nuclear haurimos dos norte-americanos
e dos alemães. Ainda agora, estamos obrigando os franceses a transferirem o
conhecimento da tecnologia de produção de navios movidos a energia nuclear.
Assim, nos dias de hoje, a Europa
e os Estados-Unidos ainda produzem mais que qualquer outra região do mundo.
Mas, o resto do mundo, sobretudo Japão, Coréia do Sul, Taiwan, China, Índia,
Rússia, África do Sul e Brasil, são países com significativa produção de
industrializados. Muita renda na forma de salário, juro e lucro fica nesses
países atualmente. Fábricas se fecharam nos Estados Unidos e na Europa,
enquanto firmas japonesas e sul-coreanas diminuem o ritmo de produção. Muito
desemprego. Muitas famílias, muitas pessoas com dificuldade para sobreviver e
sem esperança.
Mas, como Estados Unidos e Europa
consentem que suas empresas deixem de produzir lá e passem a produzir no
exterior? Porque é difícil controlar o espírito de empreendimento, de
enriquecimento, a ambição. As empresas dos países ricos foram produzir no
exterior para produzir mais e com menor custo, lucrar muito mais no exterior do
que nos países de origem. A produção nas regiões subdesenvolvidas é menos
custosa, porque os operários aceitam salário menor. Mais produção e menor
custo, mais venda e lucro maior.
Também os economistas acreditavam
que grande parte desses lucros voltasse aos países de origem. Havia ainda a
idéia de que o mundo dos negócios respeitasse a instituição das marcas e
patentes. Havia ainda outro aspecto interessante. Esperava-se que se
transferissem para os países subdesenvolvidos sobretudo as indústrias sujas,
como a produção de aço e de alumínio, as indústrias com tecnologia defasada já.
As indústrias de ponta e as indústrias limpas se manteriam nos países de
origem. Infelizmente para os norte-americanos e europeus, nos negócios nada se
respeita. Os países emergentes produzem qualquer remédio que os
norte-americanos inventem (os famosos genéricos) e o Brasil compete na produção
de certos tipos de aeronaves até com a Boing e a Airbus.
Estados Unidos e Europa permaneceriam
também como os grandes provedores de serviços, como consultorias, finanças,
pesquisas, ciência, invenções, tecnologia. Na verdade, tudo isso também está
sendo compartilhado pelo resto do mundo. A produção científica hoje em dia,
muito mais do que antes, e a invenção tecnológica são produtos globais.
O mundo de Barack Obama,
presidente, é a cada dia muito mais diferente do mundo de Barack Obama, jovem
mestiço norte-americano do Havaí. Assim mesmo, entendo que ele esteja pretendendo
estimular a produção e o emprego da energia limpa e, como conseqüência, a
intronização da nova economia, a economia com base na produção sustentável.
Pretenderia repetir o que aconteceu na primeira e na segunda fase da revolução
industrial, quando a invenção de novos tipos de energia possibilitou a
transformação da vida humana e a criação de infinitas formas novas de
comodidade de vida bem como de fontes numerosas e maravilhosas de prazer. E
naquela segunda fase os norte-americanos partiram na frente e empolgaram a
liderança social e política da Terra. É assim que entendo a sua ênfase no
investimento de gigantesco capital do Estado norte-americano em energia
renovável de todos os tipos. É assim que entendo aquela exigência do Congresso
Norte-Americano para a concessão do auxílio financeiro à indústria
automobilística: façam o carro que ninguém é capaz de fazer e todo mundo quer
ter.
Por isso já disse neste blog “Pobre Barack Obama”, porque o
empreendimento que lhe cabe liderar é simplesmente gigantesco e as forças que
se lhe contrapõem são hercúleas. Muita coisa se tem ainda a dizer sobre isso.
Mas, há uma que não quero calar: Obama foi eleito para presidir os Estados
Unidos. Ele vai atrás do que interessa aos Estados Unidos. Ele olhará os
problemas da Terra sob a ótica norte-americana. E fico refletindo sobre as
pequenas dimensões da Terra e o enfoque humanístico de Erasmo de Roterdã, que
se julgava um cidadão da Terra!...
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