Na primeira
quarta-feira deste mês, no almoço da AAPBB, o nosso estimado colega,
ex-presidente do Banco do Brasil, o Cagliari, fez uma palestra, expondo o temor
de que essa instituição venha a desaparecer tal qual ela é, instrumento
governamental de progresso nacional. Desenvolveu a idéia de que as associações
de funcionários e aposentados do Banco têm interesse na continuação do Banco
tal qual ele foi, pilar necessário de desenvolvimento econômico e social do
País. Conclamou, por isso, todas as associações de funcionários e
ex-funcionários do Banco a que se unissem em torno daquela instituição. Isso
seria bom para o Banco, para o País, para as associações, para os funcionários,
para os aposentados e para os pensionistas. Colocou o assunto em debate pela
assistência.
Expus meu
pensamento naquela ocasião. Disse que a mudança é a inexorável Lei do Universo:
Nada se cria, nada se perde, tudo se
transforma. O Banco mudou. O Brasil mudou. Nós mudamos. E como mudamos!
Nós tínhamos,
portanto, que aceitar a realidade, o Banco Comercial, e construir essa mudança
do Banco e nossa, dos aposentados e pensionistas. Eu entendia que a resplendorosa
mudança do Banco consistiria na mudança das pessoas, dos funcionários, dos
aposentados e dos pensionistas. Essa transformação trará qualidade para o
Banco, qualidade de que a sociedade brasileira não quererá prescindir. E,
assim, o Banco continuará, mudado.
Por quê? Porque
o Banco do Brasil de fato são as pessoas, os acionistas, os funcionários e (por
que não?) os aposentados e os pensionistas. Porque o que de fato existe é o que
está na minha cabeça. Só na minha cabeça existe a luz, as cores, os sons, a
música, a festa, o prazer, o sofrimento, a tristeza, o triunfo, a derrota, o
amor, o ódio, a amizade, o companheirismo, a traição, a moral, a ética, os
interesses, a família e a sociedade. Ai! Os interesses, os que agregam e os que
desagregam! Fora de minha cabeça, diz a ciência, tudo é escuridão e silêncio.
Vamos refletir
um pouco. Poucas coisas há tão importantes quanto as leis, a Constituição e os
códigos. O que são as Leis! São os livros que os juízes consultam? Não. Aqueles
livros são celulose borrada de tinta, são troncos de árvores manchados de
produto químico líquido. Os cientistas dirão: são átomos, são gigantescos
vazios onde coexistem bilhões de minúsculos, invisíveis sistemas planetários! As
leis serão isso mesmo? Não, as leis não são os livros. As leis só existem na
minha cabeça, na cabeça dos juízes, na cabeça de vocês, na cabeça das pessoas. É
nas cabeças que se acham as leis e os julgamentos.
O que isso
significa? Significa que a única coisa importante é o indivíduo humano, o povo.
Os hinos nacionais pretendem lembrar-nos o que é importante em nossa pátria. Geralmente
eles exaltam a riqueza de recursos naturais e o destemor na defesa da soberania
nacional: Gigante pela própria natureza,
és belo, és forte, impávido colosso... Mas,
se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta...
O hino da Finlândia, porém, exalta
precisamente o seu povo: somos um país pobre, que não tem ouro. O recurso
que temos é o nosso povo. E esse país pobre, sem recursos materiais, que
importa toda a matéria-prima e alimento que necessita é, pelo índice de desenvolvimento
humano, o décimo-primeiro mais desenvolvido país do mundo, no conjunto de cento
e noventa e cinco países. A Finlândia, de fato, tem Homens, melhor dito, a
Finlândia é composta de Homens, de cérebros, de cabeças.
O judaísmo diz:
quem faz as pessoas honestas e desonestas é a Lei, quem cumpre a Lei é honesto,
quem não a cumpre é desonesto. Quem cumpre a Lei, Deus abençoa; quem a
descumpre, Deus mata. Jesus Cristo discordou e, por isso, morreu como um
bandido na cruz: quem faz o homem honesto ou desonesto não é a Lei, mas a mente
de cada pessoa, o espírito de Deus, dizia ele. O homem que se enxerga livre e
igual aos demais não precisa de lei, nem de Estado, repetiram (vejam só!) os
Anarquistas do século XIX, isto é, quase dois mil anos depois de Jesus Cristo.
Transponhamos
tudo isso para a nossa realidade, isto é, Banco do Brasil, PREVI, CASSI, AAFBB,
ANAB, AAPBB. O Banco do Brasil fomos nós. O Banco do Brasil é, no presente, os
acionistas e os funcionários da ativa. A PREVI e a CASSI somos nós, os que nos
acomodamos. Mas, nós podemos e precisamos mudar. Tudo isso mudará, o Banco do
Brasil, a PREVI e a CASSI. Nós os mudaremos, quando as nossas cabeças mudarem.
Num artigo
sobre a CASSI, que redigi em setembro, eu ressaltava as atitudes paradoxais do Banco
do Brasil. Obrigou-me em 1958
a ingressar na CASSI, ainda que o próprio Banco
mantivesse assistência médica própria para os funcionários. Cinqüenta anos
depois, tergiversava em regularizar as contas da CASSI que as próprias negaças
do Banco, afirmavam alguns entendidos, haviam levado ao desequilíbrio.
E agora eu
fico refletindo lá, na minha cabeça. Toda essa celeuma sobre distribuição de
superávits só existiu, em grande parte, porque os diretores da PREVI, o Banco
do Brasil e o Governo quiseram. Vejam bem. A correção anual tanto dos nossos
benefícios quanto das reservas matemáticas é feita anualmente pelo mais baixo
índice de inflação. É evidente que ele é insuficiente, não reflete a nossa
inflação. A cada ano nós, os aposentados e pensionistas, ficamos mais pobres. A
cada ano, a conta de reservas matemáticas fica mais deprimida. A cada ano,
todavia, a PREVI gera mais superávits. E a expectativa de vida? Está ela, de
fato, compatível com a realidade dos aposentados e viúvas?
Quem ganha com
essa política financeira? Os administradores da PREVI, o Banco do Brasil, os
acionistas do Banco do Brasil e o Governo. Quem perde? A PREVI e nós, os
associados, os aposentados e os pensionistas. Isso não precisa de explicação.
Se o índice de reajuste anual fosse o da verdadeira inflação, os superávits
seriam muito mais reduzidos. Os associados estariam satisfeitos e o mal-estar
entre as partes interessadas seria muito menor. A repartição de grande parte do
indigitado superávit teria sido automática. Haveria muito menos a repartir. E
tudo seria muito mais justo, mais ético, mais técnico e mais prudente.
Nós estamos
situados em uma esquina da História. Ou seguimos o modelo atual (o da economia
hegemônica, o da riqueza autônoma) e desapareceremos, os indivíduos e a espécie
humana, ou dobraremos a esquina e sobreviveremos numa sociedade bem diferente
da atual (o da economia humanista, o da economia ética). Há mais de setenta
anos, Franklin Delano Roosevelt afirmou: "Nós sempre soubemos que o interesse impróprio
insensato era moralmente ruim; agora nós sabemos que é economicamente
ruim". Os governantes das vinte mais
ricas nações do mundo acabam de reunir-se em Washington para resolver a maior
crise econômica já experimentada pela Humanidade. Entre as medidas aprovadas
está a da moralização da atividade financeira global: transparência e integridade (isto é, moralidade) nos negócios
financeiros e remuneração comedida dos executivos.
Vejam como era a farra dos executivos. Há dois anos, uma
das dez maiores firmas norte-americanas faliu pouco depois de seu presidente, o
responsável pela desastrosa administração, aposentar-se recebendo gigantesca
participação acionária na empresa, além de um palácio na Califórnia, outro na Flórida
e um castelo na Alemanha, e mais uns trocados para manter e acrescer todo esse
patrimônio. Agora mesmo, o presidente de outra prestigiadíssima instituição
financeira, o mais fabuloso prestidigitador das finanças no mundo atual, o
Midas moderno das finanças, ganhava fábulas de dinheiro para edulcorar produtos
servidos à elite dos investidores globais, numa manipulação tão ultra-realista
que quebrou a maior empresa financeira norte-americana, e levou de roldão o
sistema financeiro mundial.
Esta é a mais
importante esquina da História, mais importante que a esquina da Era Agrícola,
que a esquina da Era Cristã, que a esquina da Era Renascentista, que a esquina
da Era Industrial. Estamos vivendo a esquina crucial da Humanidade: ou ela
segue reto e se extingue, ou dobra a esquina e a novidade salva-la-á.
Quero acreditar
na sensatez humana. A Mente não existe para a Verdade. A Mente existe para a
sobrevivência. A verdade científica nada mais é que modelos bem construídos
pela Mente, para que a Humanidade se equipe de instrumentos mais eficazes para
prolongar a sobrevivência. Modelos temporários, que se sucedem, ao sabor do
apetite do deus Cronos.
Um dia no
futuro, os nossos descendentes, se decidirmos dobrar a esquina do Tempo,
contemplarão a nossa era presente, como uma daquelas épocas de loucura. E eles
contempla-la-ão com certo espanto, porque terão dificuldade para entender que
se possa dar mais valor ao econômico do que à vida, que o lucro seja valor
superior à saúde. Terão dificuldade para entender que se acolha sem inconformismo
a decisão de canalizar recursos de entidades sem fins lucrativos para
sociedades com fins lucrativos. Jamais imaginei em minha vida assistir, justamente
após o final do século do Estado do Bem-estar Social, à opção pelo lucro do
capital, numa alternativa esquisita com o direito de propriedade da velhice.
Até que os
fatos não parecem tão estranhos assim, já que tudo isso que acontece se deve ao
espírito da época da globalização, comandada pela busca desenfreada do maior
lucro, onde ele estiver, produzido pelo menor nível de salário!... Mesmo que
seja às custas dos empregos no país de
origem do capital! Pobre Barack Obama!
Palmas para essa parte do artigo, sr. Edgardo: "Quem ganha com essa política financeira ? Os administradores da Previ, o Banco do Brasil, os acionistas do Banco do Brasil e o Governo. Quem perde ? A Previ e nos , os associados, os aposentados e os pensionistas ...". Acrescento ao ganho dos administradores o Bônus (renomeado) e ao ganho do Banco a indevida meação no superávit.
ResponderExcluirFeliz Natal e prospero ano novo.
José Carlos,
ResponderExcluirComo você e a LEI, penso que nós, os Participantes, somos os únicos que devemos ganhar!
Edgardo