quinta-feira, 22 de agosto de 2019

461.O Homem, Esse Animal Insaciável



A Humanidade é um verme terráqueo! Vive num ponto insignificante, indistinto, desse vasto espaço universal sob a ameaça de destruição de todos os tipos, desde os mortíferos ataques dos microrganismos, passando pelas ameaças de suas próprias armas de guerra atômica; pelo elevadíssimo nível da temperatura climática, atingível, segundo previsões de alguns entendidos, ainda em pleno intervalo da expectativa de vida da jovem geração humana atual, grau abrasante do hábitat natural que condicionou a explosão da própria vida humana sobre a paisagem terráquea; até pelos prováveis gigantescos impactos de asteroides; e findando nos mais que antevistos formidandos entrechoques galácticos; ou em hipercolossal tragada do vizinho  buraco negro da Via Láctea..

O destino da Humanidade é com certeza o fim, numa data, espera-se, longínqua, se a Humanidade, sobretudo, as lideranças políticas, tiver sensatez suficiente, e os pesquisadores científicos e os técnicos inventores possuírem a competência exigida para o perfeito exercício de suas atividades desbravadoras do desconhecido e construtoras do progresso. É, por isso, que não me canso de valorizar o profundo pensamento estoico de Virgílio, o monumental vate latino: “Feliz o homem que compreende a existência e controla toda a sua angústia, o inelutável destino e a tragédia da morte!”

O Homem é verme terráqueo de tremendo poder imaginativo que, destaca Yuval Noah Harari, conseguiu utilizá-lo para eliminar outras espécies animais até fisicamente muito mais poderosas e outras espécies humanas, e, assim, reinar soberano neste minúsculo e insignificante ponto do Universo! Esse poder imaginativo, que elabora instituições de formidável poder criativo e adequado a circunstâncias e propósitos, explica toda a História da Humanidade, especialmente esta última fase, a atual, a Era da Modernidade, estes últimos seiscentos anos dos já duzentos mil anos de existência do Homo Sapiens.

E esse extraordinário poder imaginativo é utilizado permanentemente na tarefa ininterruptamente empreendida para sua sobrevivência, de sorte tal que, no estudo da Economia, afirma Thomas Sowell, a primeira lição é sobre a escassez, observação comprovada na exposição dos manuais dos grandes mestres atuais da matéria, como Krugman e Mankiw. Fato esse explicável por aquele outro, que já consideramos em texto anterior, a Economia radica-se na Psicologia.

Como escassez, se hoje os celeiros se acham abarrotados de alimentos e os armazéns repletos de todo tipo de produtos, até mesmo o vizinho espaço aéreo e a estratosfera são ocupados continuamente pelo Homem e seus mirabolantes artefactos, que satisfazem até os mais estranhos desejos humanos?! É que o homem é um ser insaciável, que passa de um desejo a outro, em permanente estado de necessidade. Até no sono, estado de inconsciência, está em processo de satisfação de uma necessidade. Cada instante da vida humana é a fruição de um bem, a satisfação de uma necessidade, a consecução de uma vantagem. Até o suicídio é a fruição de uma vantagem, de uma utilidade! A Economia se enraíza profundamente no fenômeno psíquico da motivação, aspecto sob o qual os livros modernos de Psicologia estudam as decisões humanas, alheios estes ao conceito tradicional do livre arbítrio, conceito fundamental da Economia liberal, do liberalismo econômico!

O liberalismo econômico funda-se num fenômeno psíquico cuja engrenagem anatômica e fisiológica o homem ainda nem sabe explicar perfeitamente. A vida humana é entendida pelo economista como continuo encadeamento de decisões por obter vantagens, as coisas mais úteis para realizar a vida da forma mais plena e feliz a cada instante, após ponderar o que usufruir e o que renunciar a cada momento da vida, exatamente porque a cada instante da vida há um limite de fruição: não posso tudo fruir ao mesmo tempo. O tempo é limitado para o exercício pleno da vida! O tempo é o bem escasso por excelência!  

A vida é um encadeamento de decisões, de opções, de aquisições e de renúncias. A Economia, a produção e a distribuição dos bens, é dele consequência, na forma que hoje existe, a economia de mercado, da troca de bens entre os indivíduos, e fulcra-se exatamente nesse ponto nevrálgico das relações humanas: o homem sábio procura a cada instante extrair a maior utilidade do momento presente. Lucro máximo a cada decisão, a cada instante da vida!

Exatamente a máxima que outro grande vate latino, Horácio, legou imorredoura à posteridade e, já adulto, com ela me deparei esculpida no alto da parede de entrada de pequeno negócio em modesto shopping center de Copacabana: “carpe diem!” Usufrui ao máximo do dia de hoje! 

Ciência e arte poética se agregam para fundamentar, em ainda obscura área do conhecimento psicológico e neurológico, toda a doutrina do liberalismo econômico que determina a estrada da vida para bilhões de pessoas, vida feliz, com a satisfação de todos os desejos para alguns, ou vida infeliz, com a privação da satisfação das necessidades mais básicas da vida para muitos!!

A Vida é luta permanente, de todos os instantes, contra a tragédia cotidiana da incerteza! A vida é a angústia, de todos os instantes, da fruição de um presente feliz, o mais feliz, que se prolongue por um futuro de dimensão irremediavelmente incerta!  A morte é certa, certo o fim dessa maravilhosa cornucópia  de incessante turbilhão de luzes, cores, sons, odores, sabores, realizações, fantasias e passatempo, em que consiste a Vida, construção e conquista individual de cada ser humano, mas incerto o seu instante!







quinta-feira, 15 de agosto de 2019

460. A Jovem Ciência Econômica


Há múltiplas definições da ciência econômica. Uma delas é o estudo da produção e da distribuição dos bens e serviços.

A economia, tal qual existe hoje, nem sempre existiu. Durante 130.000 anos, os homens viveram ao relento ou entocados em grutas, e eram meros coletores de frutos e caçadores de animais. A Terra praticamente tudo produzia. Passaram-se outros 20.000 anos, em que o homem aprendeu a comunicar-se através de símbolos, da linguagem, a Revolução Cognitiva.  Transcorreram outros 40.000 mil anos e os homens aprenderam a criar animais, plantar vegetais e guardá-los para satisfazer necessidades futuras, a Revolução Agrícola. A Terra ainda praticamente tudo produzia. Por fim, mais uns 4.000 anos decorridos, ocorre a Revolução Civilizatória, o Homem aprende a viver em grandes grupos, em cidades e a escrever, a comunicar-se por símbolos gráficos representativos de símbolos vocais e de estados interiores da mente. Durante uns l2.000 mil anos, o Homem Civilizado viveu, sobretudo, do que a Terra, propriedade de uns poucos, produzia, coadjuvada pelo trabalho de outro numeroso grupo de homens, os escravos, propriedade daqueles, que negociavam, trocavam entre si, os excedentes a suas necessidades pessoais e familiares. Mais 1.500 anos transcorreram, o primeiro milênio e meio da Era Cristã, em que, sobretudo a Terra produzia e uns poucos eram ricos, os proprietários da Terra, para os quais uma multidão de outros homens trabalhava em troca do sustento para a sobrevivência, em regime de servidão.

Nos últimos séculos desse período, cidadãos de cidades do norte da Itália e, logo posteriormente da Suíça e dos Países Baixos, descobriram que poderiam ser ricos, igualmente tão possuidores de minerais preciosos, dinheiro e bens de todo tipo desejados, valorizados e procurados, quanto os proprietários de terra, somente negociando os bens produzidos pela Natureza e  pelo Homem, produtos agrícolas e manufaturas, até mesmo o dinheiro e os contratos de compra e venda. O comércio enriquece! Um lampejo de liberdade comercial! A produção humana e o comércio livres enriquecem! A produção humana se desenvolveu.

Em 100 anos, os comerciantes ricos das cidades construíram marinhas mercantes que transpuseram os mares interiores da Europa e construíram o mercado planetário. Em 100 anos os países dos comerciantes ricos, Inglaterra e Países Baixos, constroem uma marinha de guerra que transfere a hegemonia política e econômica mundial da Espanha para a Inglaterra. Em 200 anos, os países e principados dos comerciantes ricos, Inglaterra, França, Países Baixos e Norte da Itália consolidam o desenvolvimento do conhecimento científico. Em 300 anos, os comerciantes ricos dos Estados Unidos formam o primeiro país, depois da cidade-estado de Atenas, sem rei, e os comerciantes ricos da França, os burgueses, induzem o povo a decapitar o rei, revolta essa que propaga pelo mundo esse novo estilo de governo, o governo democrático, a Revolução Política. Em 400 anos, os comerciantes ricos transferem grande carga de trabalho dos ombros dos homens, do lombo dos animais, do vento, das quedas d’água, para a máquina a vapor, a eletricidade, para o motor deslocável movido a petróleo, comunica-se instantaneamente pelo telégrafo por fios sobre a terra e sob os oceanos, fala com outras pessoas ausentes, á distância, pelo telefone sem nem as ver, vive à noite em cidades iluminadas feericamente pela eletricidade e entrevê um mundo de divertimento e encanto cinematográfico. O Homem, assombroso feito, já produz mais do que a Terra! O citadino produtor e comerciante é mais rico que o proprietário de terra e deste adquire terra para produzir matéria prima para sua indústria e para enriquecer vendendo seus frutos.

A produção humana construiu palácios, catedrais, fortalezas, armamentos, exércitos, países, marinhas comerciais e bélicas, internacionalizou o Planeta, e até mudou a agricultura, fez as mesas mais fartas e as casas mais opulentas! A atividade comercial humana fez a Terra mais fértil. Revolução industrial! Laissez faire! Laissez passer! (Deixa fazer! Deixa passar!) Produção livre! Comércio livre! Esta foi a revelação assombrosa que provocou o surgimento dessa nova ciência, a Economia: o trabalho humano livre de controle, sem coordenação (laissez faire! laissez passer!), enriquece e faz poderosas as nações! A estupefação de Adam Smith gerou o seu livro famoso, considerado marco inícial da investigação científica, denominada Economia: A Riqueza das Nações! Como pode a  anarquia, a ausência de governo, a desordem gerar a fartura, a opulência, a riqueza, o poder das nações?!

Toda essa fabulosa história recente de poucos séculos passados é, na minha opinião, o que embasa esse mais breve e importante artigo da Constituição Brasileira, e tanto, que também constitui um capítulo, o primeiro, do mais importante título dela, o último, o Título VIII – Da Ordem Social, que enfeixa a fixação do fim para que o Povo Brasileiro decidiu conferir existência ao Estado Nacional, o artigo193:  A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.Como eu amo essa Constituição e como venero esse monumental artigo193!



quinta-feira, 8 de agosto de 2019

459. Economia e Psicologia



Abro o livro “O Livro da Economia”, editado em 2012 na Inglaterra por um grupo de estudiosos, interessados em assuntos econômicos. Leio, nas páginas iniciais da introdução a seguinte citação de Galbraith, prolífico economista canadense, que prestou relevante contribuição para o êxito da monumental atividade econômica  norte-americana durante a Segunda Guerra Mundial: “Na economia esperança e fé coexistem com grande pretensão científica e também um desejo profundo de respeitabilidade.”

A respeitabilidade, no meu entender, reside no fato de que a economia é uma ciência que surge numa sociedade em que se decide acabar com a pirataria, com a violência, com a extorsão. O solo social, onde viceja a Economia, é o da convivência pacífica, onde todos os homens se aglomeram abdicando do uso da violência. Não há lugar para o príncipe poderoso e esperto de Maquiavel. Foi essa a grande, e ainda hoje respeitada intuição de Bismarck, ao erigir o instituto da Previdência Social: pacificar para existir, sobreviver e progredir. A Previdência é valioso meio de construção da sociedade!

A Economia, portanto, é uma ciência que analisa o comportamento de uma sociedade altamente civilizada, de uma sociedade que soube aglutinar multidão de desiguais, e é competente para permanentemente sanar descontentamentos e estancar surtos de desagregação, ocorrências inevitáveis, porque a sociedade é a convivência de milhões de desiguais, em contínua expressão de desejos, convergentes ou divergentes, gerando milhões de complacências e também de conflitos: a mesma alimentação, ou não; o mesmo trabalho, ou não; o mesmo descanso, ou não.

De fato, Galbraith realça com razão, que a ciência econômica se nutre, fincando suas raízes nas regiões da mente em que imperam esperança e fé robustas na capacidade humana de construir uma Humanidade, onde convivam, civilizadamente, sem desconfianças mútuas, abdicando de armamentos genocidas, Trump. Bolsonaro, Maduro, Merkel, Isabel II, Putin, Xi Jimping, Kim Jong-Um, Benjamjn Netanyahu e aiatolá Hassan Rohani.

Mas, a Economia não se ocupa em analisar o conteúdo mental desse comportamento. Isso é o objeto próprio de estudo da Psicologia. A  Economia assume como realidade a autonomia humana individual, a tão falada e tão sagrada liberdade humana, apanágio da dignidade humana individual! Essa questão é debate entre psicólogos e neurocientistas. A Economia prescinde da disputa investigativa sobre a realidade do livre arbítrio humano. Concorda-se sobre o óbvio: todo ato humano é predeterminado. Tudo que fazemos é produzido por ação imediata de uma força. E as forças, conscientes ou inconscientes,  atuam aos milhões, aos bilhões no interior de nosso organismo gerando insaciáveis e incessantes necessidades e provocando ações direcionadas a assegurar a persistência na vida ou melhorá-la, progredir.

A Economia concentra-se em conhecer como funciona esse mecanismo básico de produção e distribuição de bens para satisfazer as necessidades mais básicas dessa pirâmide de oito níveis que Abraham Maslow identificou na mente humana: sobrevivência e segurança.

Razão, pois, assiste ao grande pensador Galbraith em afirmar que a Economia é uma ciência envolvida em fé, fé no relativo valor do conhecimento humano, fé na Psicologia e na Neurologia, e, sobretudo, esperança em que possa contribuir para um futuro mais feliz e esplendoroso para a Humanidade.

Costumamos lançar confiante olhar de esperança e reverência para a  Ciência médica, porque nos conserva a vida reparando os desgastes anatômicos e fisiológicos do corpo e da mente.  Não menor reverência merece a Economia que nos assiste cotidianamente, persistentemente em preservar e melhorar a vida, fornecendo-nos tudo de que precisamos para tentar sobreviver, até o remédio e o médico, porque a Vida é aquela que nós os homens a fazemos, EU E MINHAS CIRCUNSTÂNCIAS, como ensinou Ortega Y Gasset.

A Economia é uma conquista, uma conquista de todos, eu e minhas circunstâncias! Fé, Esperança e trabalho, de TODOS!







quarta-feira, 31 de julho de 2019

458. A Felicidade do Cidadão Grego



Logo que o Capitão Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República do Brasil, o noticiário jornalístico propalou que o ex-Presidente do Brasil,  Fernando Henrique Cardoso, erudito de nível internacional, manifestara a opinião de que o Brasil praticara movimento de regressão política. Não sei, é óbvio, o que o ínclito personagem de nossa história nacional e sul-americana retinha na mente quando e se, de fato, emitiu tal opinião.

Não me parece estranho que a haja proferido, embora haja sido ele um dos constituintes mais ativos na redação da atual Constituição nacional, que foi conscientemente implantada sem o referendo popular e relutantemente introduzida por uma homenagem à Divindade.

O fato concreto é que o governo do Capitão orienta-se por um princípio propositadamente ostensivo, que pretende focar para a estrada que deve seguir ao longo de seu período governamental: “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos.”

Claro que esses dois princípios chocam um sábio profundamente informado da evolução social por que passou o mundo político em permanente mutação. O mundo político hoje é um mundo intensamente universalizado. Até a Coreia do Norte e o Irã ameaçam o mundo com armas de longo alcance precisamente teleguiadas e efeitos mortíferos universais.  Sente-se vivamente a necessidade de uma harmonia universal, porque o mundo hoje é habitação única, sem separação geográfica e natural,  de uma espécie animal, o Homem! Implantou-se a Liga das Nações em 1919, substituída em 1945 pela ONU, com a pretensão de agregar toda humanidade numa convivência civilizada, humana, pacífica, onde todas as discordâncias se resolvessem com justiça, a igualdade das diferenças, a harmonia dos interesses discrepantes, a paz entre o eu e o outro, de Lacan, ou o a união entre o sim e o não de Hegel no presente que é mutação, não é passado nem futuro, simplesmente é, a união entre o indivíduo e o Estado, o indivíduo feliz e o Estado rico, próspero.

Esse projeto se acha consagrado no minúsculo artigo 193 que, solitário, é o capítulo I do título VIII – Da Ordem Social. a finalidade da Constituição brasileira, a finalidade do Estado, a razão de ser do Estado brasileiro, harmonia entre os interesses privados e publico, harmonia entre o indivíduo e a coletividade:

Esse projeto se acha expresso na bandeira nacional, a única bandeira nacional que exibe um dístico, “Ordem e Progresso”, dístico que é parte da expressão maior em que Augusto Comte, um dos luminares da Humanidade, resumiu o que ele entendia ser uma sociedade humana, uma sociedade civilizada: “A Fraternidade como fundamento, a Ordem como meio e o Progresso como objetivo.” Ali está não apenas como lembrete permanente do que queremos, mas igualmente como ostentação do orgulho que sentimos em realizar esse projeto grandioso, a realização de uma coletividade feliz e progressista, onde todos os indivíduos se sintam realizados e confortáveis, mens sana in corpore sano, “sem dor no  corpo e sem angústia na alma”.

Não me permito, pois, entender os propósitos do combativo militar e político brasileiro, hoje Presidente da República como um regresso à época dos soberanos absolutistas do século XVIII, L’État c’est moi”! Muito menos uma regressão à Idade Média, ao final do primeiro milênio aos tempos do Papa Nicolau I, o Papa, Vigário de Deus, e Imperador do Mundo, Soberano do Sacro Império Germano Romano!

Entendo que Jair Bolsonaro, o revoltado capitão, que personificou o desconforto do povo brasileiro em desesperançoso momento de depressão profunda, esteja apenas tentando reconduzir a nação para trilha pavimentada por aquele ideal quase trimilenar de civilização que a Humanidade viu bruxulear, no paradisíaco território grego e que ora pervade os quatro cantos do planeta.

A Civilização Ocidental, essa que ora ocupa a totalidade do planeta Terra e nutre a convivência de toda a Humanidade, brotou como cidades-estados, notadamente a de Atenas, assim chamada porque se julgava protegida pela deusa da temperança, da medida, da justiça, da inteligência, da reflexão e da sabedoria. Nela, os cidadãos, que se julgavam civilizados, se viam diferentes dos bárbaros, isto é, egípcios, persas, líbios, citas, porque eram livres e sábios. O cidadão grego não se submetia a outro homem, somente à lei que ele entendia ser a ordem universal que Zeus, o deus supremo, impusera ao Universo, inclusive  a deuses outros e aos homens, a vontade divina, justa e sábia. Dessa forma, o cidadão grego nada mais fazia que dedicar-se à ginástica e à dialética, para aperfeiçoar o corpo e a alma, e, assim, são de corpo e alma, tornar-se o guerreiro habilidoso e corajoso, apto para defender a Cidade contra os inimigos e o político sábio, capaz de atingir o conhecimento das leis divinas que regem a Cidade no trabalho dialético de investigação da Justiça no diuturno convívio harmonioso e feliz dos cidadãos. Cidade feliz e cidadãos felizes.

Síntese perfeita do indivíduo e do Estado, da liberdade e da ordem, da liberdade na ordem para o progresso nacional e universal, bem como para  a felicidade e a realização pessoal.



terça-feira, 23 de julho de 2019

457. Os Sinos Ainda Dobram Por Alexandre


Quando recebi a notícia do falecimento de Alexandre, fiquei tão triste que senti a necessidade de isolar-me. Não tinha o que dizer para ninguém. Eu gostava da companhia dele, de conversar com ele, de jogar conversa fora, conversa fiada. Poucos dias antes, no telefone, ele tentara, veja só!, convencer-me de que o Vasco iria evitar o rebaixamento. O Vasco era um dos assuntos inevitáveis em nossos encontros. Marucha me contou que ele não se separou das recordações do Vasco.

O retraimento foi reação irracional, porque, afinal de contas, neste momento o que devemos fazer é estar presente para transmitir solidariedade. E para isso o instrumento de que dispomos é a palavra.

Faço parte do mundo. A morte também faz parte do mundo. Mas, o falecimento do Alexandre me espreme o coração e o sumo da tristeza sobe pela garganta e atinge a vista sob a forma de lágrimas. Os passos de Alexandre deixaram marcas na minha vida, as marcas da convivência amiga de quarenta anos.

Vultos famosos da literatura antiga deixaram pensamentos altamente depreciativos a respeito da vida. Chegaram mesmo a afirmar ser preferível não nascer a nascer. O faustoso rei francês, Luís XV, afirmou no fim da vida: nada vale a pena. De fato, o bom da vida é simplesmente viver. O mesmo tipo de existência para um é felicidade, para outro é infelicidade. Alguém afirmou que o nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado: nele se encontram todos os segredos, inclusive o da felicidade.

De fato, se bem examinarmos, o que realmente existe de valor é fabricado pela nossa mente. Fora da mente humana, só existe escuridão e silêncio. Tudo o que vale a pena é fabricado pela nossa mente: a luz, as cores, o som, as palavras, a música, as sensações, os sentimentos e os pensamentos, sobretudo isto, o significado. Tem razão, pois, quem disse que a felicidade depende de nosso pensamento. E entre esses produtos maravilhosos da mente encontra-se a amizade, prazerosa convivência entre indivíduos humanos, maravilhoso produto da mente humana. A amizade é uma das maiores fontes de felicidade.    

A respeito de Alexandre, mais do que ninguém, você, R... e L... darão razão a quem disse: o homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de amar. Alexandre sempre viverá no coração de vocês e dos amigos. E vocês três e os amigos dele entenderão a frase de Carlos Drumond de Andrade: Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força jamais o resgata!

Você, prima querida, a respeito de Alexandre repetirá a frase soberba de Carlos Drumond de Andrade: Difícil é sentir a energia transmitida, aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa. E essa corrente elétrica manteve vocês dois unidos durante várias décadas, porque vocês souberam  mais que juntar anos à vida, acrescentar vida aos anos. Tenho certeza, prima, de que soubemos, ao longo dos anos, antes de sua ausência definitiva, expressar-lhe por gestos e atitudes o que lhe queríamos dizer, o quanto nos interessava dizer o que dessa forma lhe dissemos tantas vezes, isto é, quão preciosa para nós era a sua amizade tranqüila, cheia de mineirice.

Por tudo isso, como disse Carlos Drumond de Andrade, difícil é dizer adeus. Especialmente, quando esse adeus se estende por tempo tão indefinido que nos enche de saudade, a falta que fica ali instigantemente presente.














           

segunda-feira, 15 de julho de 2019

456.A Sociologia Explica! (Texto lido no almoço de setembro de 2012, da AAFBB)


Muita atividade em Brasília da FAABB e AAFBB junto à SPPC e à autarquia PREVIC.

Seminário da ANABB em Brasília no início deste mês de setembro, onde falaram o Secretário titular da SPPC e um assessor do Ministro da Fazenda, o Prof. Dr. Ricardo Pena, considerado uma das mais influentes personalidades na ORGANIZAÇÃO DO REGIME DA PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR.

Temos uma sinopse do que ele falou. Não sabemos o que ele realmente falou.

Segundo suspeito, da leitura da sinopse, ele defendeu a REVERSÃO DE VALORES.

Não se sabe se houve debate com o palestrante e como decorreu esse debate.

Muitas coisas me chocam naquela sinopse da palestra cujo título é “Resolução CGPC nº 26, de 2008 e o “Instituto” da Reversão de Valores”:

Entre os três objetivos da Resolução 26 coloca a “Proteção dos Participantes e Assistidos” (e eu que pensava que fosse a proteção do Patrocinador!)

A omissão de importantes artigos da LC 109, a Lei Básica da Previdência Complementar, mormente o artigo 19, o MAIS IMPORTANTE ARTIGO DA LC 109.

Diante da composição do CNPC, três conselheiros do Governo, um dos Participantes e três dos Patrocinadores, isto é, quatro a três pro Participantes, como pode o interesse dos Participantes ter perdido?

Por que o CNPC DEVERIA SER QUATRO A TRÊS PRÓ PARTICIPANTES? Por causa do artigo 3º-VI: “O Estado deve decidir no interesse dos Participantes e Assistidos.”

Estamos há 24 anos regidos por uma Constituição do Bem Estar Social, da SOCIAL DEMOCRACIA!

Estamos há DEZ ANOS COM UM GOVERNO DOS TRABALHADORES!

Dois votos do Governo foram de MINISTROS FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL!

A Sociologia explica!


segunda-feira, 8 de julho de 2019

455. Mensagem a um Líder (Redigida no ano 2010)


Amigo

Nos meus sonhos utópicos, gostaria de ver todos os participantes, aí inclusas as pensionistas, congregados em uma única associação, onde todos debatêssemos, com ampla clarividência e em plena consciência de igualdade, os nossos interesses de aposentados e pensionistas. Que fôssemos obcecados por esse objetivo único: os nossos interesses de aposentados e pensionistas no curto e no longo prazo.

Isso é impossível? Não, absolutamente não. Temos hoje a Internet. Ela já se insere nos celulares, que já são, no Brasil, utilizados em número superior ao da própria população brasileira. Possuímos hoje um espaço de convívio virtual para todo o universo de brasileiros, quanto mais para a população de participantes e assistidos da Previ.

Você sabe também quanto insisto por que as nossas associações, a começar por essa nossa associação global dos funcionários da ativa e aposentados, sejam de fato democráticas, que todos dela participem ativamente, que todos sejam ouvidos, que todos se manifestem, que todos tenham plena consciência do que falam e do que ouvem. E, assim, se construa uma mente comum (era o ideal de Rousseau e Péricles afirmou que era a realidade de Atenas de sua época) e uma vontade comum sobre o que queremos a respeito da Previ e da Cassi.

Isso é impossível? Não. Isso já acontece em muitas pequenas cidades dos Estados Unidos e da Suíça.

Amigo, isso pode acontecer, se nós quisermos, se nós formos apóstolos competentes da construção de uma sociedade, cujos sócios sejam lúcidos, sinceros, leais, transparentes, despidos de motivações egoísticas e movidos pelos interesses do grupo, sem vaidades, iluminados por uma ética de respeito à dignidade e à igualdade social humana bem como de valorização da palavra dita e ouvida, como direito de todos, e, sobretudo, reverenciando como o mais alto dos valores da sociedade a construção de um pensamento e de uma vontade comum.

Entristece-me, entrar num site de uma das três dezenas de associações de funcionários do Banco do Brasil e ler os despautérios com que se insultam colegas (que fazem muito e o que podem) bem como assistir às manifestações de ânsia por empréstimos, quando o que de fato nos interessa e nos redime é a renda.

Dito, tudo isto, lamento que somente umas poucas associações se tenham incorporado para dialogar com o Banco do Brasil e a representação (cujos componentes me merecem o mais alto respeito pelo que são e pelo que foram na história do Banco do Brasil recente) não tenha recebido o aval de todas as associações e de todos os participantes e assistidos da Previ. Infelizmente ainda não soubemos e não quisemos construir a Nação Satélite.

Estou entendendo que o interesse realmente era levar ao Banco do Brasil uma opinião legal e tecnicamente consistente a respeito da Resolução 26. Mostrar ao Banco do Brasil que ela é uma excrescência, um aborto jurídico. O estudo elaborado pelo colega Rui Brito me pareceu esplêndido, irretorquível.

A peça introdutória apresentou apenas alguns dos diversos assuntos que merecem ser revistos na gestão da Previ e no relacionamento entre Previ, Banco do Brasil, Governo e participantes. Esse relacionamento é muito complexo, envolve muitos interesses, interesses vitais para nós participantes, interesses políticos infelizmente, interesses econômicos. É assunto para estudo minucioso feito por técnicos, em continuado processamento, e transformado em propostas facilmente compreendidas pelos componentes da Nação Satélite e por eles abraçadas num pensamento e numa vontade comum.

Um abraço do colega e amigo que o admira, e muito

Edgardo