A
Humanidade é um verme terráqueo! Vive num ponto insignificante, indistinto,
desse vasto espaço universal sob a ameaça de destruição de todos os tipos,
desde os mortíferos ataques dos microrganismos, passando pelas ameaças de suas próprias
armas de guerra atômica; pelo elevadíssimo nível da temperatura climática,
atingível, segundo previsões de alguns entendidos, ainda em pleno intervalo da
expectativa de vida da jovem geração humana atual, grau abrasante do hábitat
natural que condicionou a explosão da própria vida humana sobre a paisagem
terráquea; até pelos prováveis gigantescos impactos de asteroides; e findando nos
mais que antevistos formidandos entrechoques galácticos; ou em hipercolossal
tragada do vizinho buraco negro da Via
Láctea..
O
destino da Humanidade é com certeza o fim, numa data, espera-se, longínqua, se
a Humanidade, sobretudo, as lideranças políticas, tiver sensatez suficiente, e
os pesquisadores científicos e os técnicos inventores possuírem a competência
exigida para o perfeito exercício de suas atividades desbravadoras do
desconhecido e construtoras do progresso. É, por isso, que não me canso de
valorizar o profundo pensamento estoico de Virgílio, o monumental vate latino:
“Feliz o homem que compreende a existência e controla toda a sua angústia, o
inelutável destino e a tragédia da morte!”
O
Homem é verme terráqueo de tremendo poder imaginativo que, destaca Yuval Noah
Harari, conseguiu utilizá-lo para eliminar outras espécies animais até
fisicamente muito mais poderosas e outras espécies humanas, e, assim, reinar
soberano neste minúsculo e insignificante ponto do Universo! Esse poder
imaginativo, que elabora instituições de formidável poder criativo e adequado a
circunstâncias e propósitos, explica toda a História da Humanidade,
especialmente esta última fase, a atual, a Era da Modernidade, estes últimos
seiscentos anos dos já duzentos mil anos de existência do Homo Sapiens.
E
esse extraordinário poder imaginativo é utilizado permanentemente na tarefa
ininterruptamente empreendida para sua sobrevivência, de sorte tal que, no
estudo da Economia, afirma Thomas Sowell, a primeira lição é sobre a escassez,
observação comprovada na exposição dos manuais dos grandes mestres atuais da
matéria, como Krugman e Mankiw. Fato esse explicável por aquele outro, que já
consideramos em texto anterior, a Economia radica-se na Psicologia.
Como
escassez, se hoje os celeiros se acham abarrotados de alimentos e os armazéns
repletos de todo tipo de produtos, até mesmo o vizinho espaço aéreo e a
estratosfera são ocupados continuamente pelo Homem e seus mirabolantes
artefactos, que satisfazem até os mais estranhos desejos humanos?! É que o
homem é um ser insaciável, que passa de um desejo a outro, em permanente estado
de necessidade. Até no sono, estado de inconsciência, está em processo de
satisfação de uma necessidade. Cada instante da vida humana é a fruição de um
bem, a satisfação de uma necessidade, a consecução de uma vantagem. Até o
suicídio é a fruição de uma vantagem, de uma utilidade! A Economia se enraíza
profundamente no fenômeno psíquico da motivação, aspecto sob o qual os livros
modernos de Psicologia estudam as decisões humanas, alheios estes ao conceito
tradicional do livre arbítrio, conceito fundamental da Economia liberal, do
liberalismo econômico!
O
liberalismo econômico funda-se num fenômeno psíquico cuja engrenagem anatômica
e fisiológica o homem ainda nem sabe explicar perfeitamente. A vida humana é
entendida pelo economista como continuo encadeamento de decisões por obter
vantagens, as coisas mais úteis para realizar a vida da forma mais plena e
feliz a cada instante, após ponderar o que usufruir e o que renunciar a cada momento
da vida, exatamente porque a cada instante da vida há um limite de fruição: não
posso tudo fruir ao mesmo tempo. O tempo é limitado para o exercício pleno da
vida! O tempo é o bem escasso por excelência!
A
vida é um encadeamento de decisões, de opções, de aquisições e de renúncias. A
Economia, a produção e a distribuição dos bens, é dele consequência, na forma
que hoje existe, a economia de mercado, da troca de bens entre os indivíduos, e
fulcra-se exatamente nesse ponto nevrálgico das relações humanas: o homem sábio
procura a cada instante extrair a maior utilidade do momento presente. Lucro
máximo a cada decisão, a cada instante da vida!
Exatamente
a máxima que outro grande vate latino, Horácio, legou imorredoura à posteridade
e, já adulto, com ela me deparei esculpida no alto da parede de entrada de
pequeno negócio em modesto shopping center de Copacabana: “carpe diem!” Usufrui
ao máximo do dia de hoje!
Ciência
e arte poética se agregam para fundamentar, em ainda obscura área do
conhecimento psicológico e neurológico, toda a doutrina do liberalismo
econômico que determina a estrada da vida para bilhões de pessoas, vida feliz, com
a satisfação de todos os desejos para alguns, ou vida infeliz, com a privação da
satisfação das necessidades mais básicas da vida para muitos!!
A
Vida é luta permanente, de todos os instantes, contra a tragédia cotidiana da
incerteza! A vida é a angústia, de todos os instantes, da fruição de um
presente feliz, o mais feliz, que se prolongue por um futuro de dimensão irremediavelmente
incerta! A morte é certa, certo o fim
dessa maravilhosa cornucópia de
incessante turbilhão de luzes, cores, sons, odores, sabores, realizações,
fantasias e passatempo, em que consiste a Vida, construção e conquista
individual de cada ser humano, mas incerto o seu instante!