(escrito para minha sobrinha neta, Joana)
Nasci
em maio de 1926, pouco depois da eleição, em março daquele ano, de Washington
Luís para a presidência do Brasil, carioca de Macaé, mas com raízes políticas
paulistas, pois fora prefeito da cidade de São Paulo e presidente do Estado de
São Paulo.
Naqueles
tempos, chamados de Primeira República, o Brasil era uma República Federativa
de Estados, com ligação bem frouxa entre os Estados Federados, tanto que cada
Estado era governado por um presidente, “20 feudos”, criticavam os tenentistas,
corrente política oposicionista à do presidente do Brasil, de 1922 a 1926, o
mineiro Arthur Bernardes..
Washington
Luís, como candidato paulista, lograra a eleição para substituir na presidência
do Brasil a Arthur Bernardes, mineiro, conforme o pacto, frouxamente observado,
da política “café com leite”, intercalação de paulistas e mineiros na
presidência do Brasil, instituída pelo Presidente Campos Sales no final do
século XIX.
A
década de 1920, quando emergiram o movimento tenentista e a Coluna Prestes, foi
muito turbulenta no Brasil. Washington Luís pretendeu realizar governo
progressista abrindo estradas para conectar os Estados brasileiros e teve,
durante certo tempo, como Ministro da Fazenda, Getúlio Vargas, político do Rio
Grande do Sul.
Naquele
final da década de 20 do século passado, a minha cidade natal Parnaíba, no
Piauí, era uma das mais ricas e importantes cidades do Brasil, mais rica e
importante que a própria capital do Estado do Piauí, Teresina. No litoral norte
do País era o quinto mais importante polo de comércio internacional, precedido
por Manaus, Belém Fortaleza e São Luís. Empresas inglesas e alemãs nela tinham
filiais ou representações, e a Alemanha possuía um consulado, já provido de
ligação radiofônica com a Alemanha na década de 30. O Banco do Brasil
construíra belo edifício de dois andares na principal praça da cidade, a Praça
da Graça, para abrigar a sua agência que era uma das muitíssimo poucas no país
dotadas de Setor de Câmbio, a 13ª.
Para
essa praça, de canteiros floridos, provida de artística pérgula ampla e
iluminada, com piso de pedregulho limoso, cortado por veios d’água reluzentes
que fluíam murmurantes, habitat de minúsculos peixes coloridos e animais outros
anfíbios, o teto apoiando-se sobre quatro formosas e brancas colunas dóricas,
todo o conjunto envolto por trepadeira de folhas intensamente verdes, afluía a
população à tardinha dos domingos, depois da sessão de cinema do Cine Eden, outro
lindo edifício da Praça da Graça. para passear ao redor desta, ao som da banda de música municipal,
localizada no coreto central, ocasião de maravilhoso congraçamento da
comunidade em que os idosos se relacionavam com os amigos, as crianças brincavam
em conjunto e os jovens flertavam e namoravam à vista dos pais!
A
Panair e a Condor, aquela companhia aérea norte-americana e esta alemã, mantinham
linha aérea ligando a cidade ao País com seus hidroaviões, e até o famoso avião
alemão DOX, de doze motores, transitou por Parnaíba, em sua histórica passagem
pelo Brasil em 1931. Eu o vi, por acaso, porque o ano de 1931foi o ano de
falecimento do papai, e ele, já doente terminal, e eu, o filho caçula de cinco
anos, fomos os únicos que ficamos em casa naquela ocasião, já que todos os
outros familiares, inclusive a criada, nove pessoas, haviam saído para assistir
pessoalmente ao pouso da aeronave em Amarração, hoje cidade de Luís Correa, o
local de aterrissagem dos hidroaviões.
Papai
se posicionou sentado na rede em que faleceu, armada no quarto de trás, contíguo
à sala de refeição, de tal forma que através das duas portas, a do quarto e a do
corredor, se abria vista sobre o quintal por onde se viam transitar as
aeronaves no seu voo de partida, sobrevoando as mangueiras de nossa casa. Assim,
ele e eu, atrás dele, sentado no chão de soalho e encostado na parede, pudemos
ver a histórica aeronave. É uma das mais antigas memórias, jamais apagadas de
minha mente! O DOX, eu e meu idolatrado pai, querido pai, inesquecível pai, meu
grande heroi!
Essa
memória do DOX é precedida por outras, certamente de 1930, como a do
entusiástico comício, realizado pela caravana política da Aliança Liberal no Largo da Santa Casa, na confluência das
Ruas Pedro II e Coronel Pacífico, num início de noite daquele ano, quando
Batista Luzardo, magnífico tribuno gaúcho, pronunciou eloquente discurso
frequentemente aplaudido com palmas e gritos de apoio pela assistência, expondo o
programa de governo que Getúlio Vargas, candidato pela Aliança, prometia realizar,
se eleito fosse presidente do Brasil. Meses passados, caminhão, entulhado de
revolucionários, portando lenço vermelho no pescoço, transitava barulhento pela
rua em frente de minha casa, que certamente eram partidários da Aliança Liberal,
comemorando a vitória da Revolução de 1930, chefiada por Getúlio Vargas, candidato
no pleito para a Presidência do Brasil derrotado pelo candidato paulista, Júlio
Prestes, mas empossado presidente depois de chefiar a vitoriosa Revolução de
30, que centralizou e modernizou a República Brasileira.
Papai,
filho de latifundiários do interior do Piauí, pai e mãe, foi atraído, ainda na
adolescência, pela vida comercial e social pujante de Parnaíba, e veio morar e
trabalhar com abastado parente, que mantinha uma das mais importantes casas
comerciais de varejo da cidade. Logo ele se tornou capaz de montar uma das duas
principais lojas de varejo da cidade, a dele e a Loja da Chaleira, equivalentes
aos supermercados de hoje. A loja de papai vendia no varejo produtos que a
empresa de comércio internacional de meus tios, José de Castro e Áudax,
importava da Inglaterra, Alemanha, Holanda, França e Estados Unidos, bem como produtos
que os primos latifundiários de Miguel Alves, Esperantina, Barras, Campo Maior,
Piracuruca, Periperi e Cocais exportavam.
A
ampla residência que ele edificou para moradia era amostra dos negócios que ele
fazia e do amplo conhecimento agrícola que adquirira na sua adolescência. O
teto da casa e o assoalho eram de madeira de lei do interior do Estado. O
revestimento das paredes, os móveis e todo o utensílio de casa eram de origem
estrangeira. O amplo quintal era um pomar com um jardim na entrada. Os filhos e
os amigos vizinhos, divertíamo-nos à sombra do mangueiral. Saboreávamos manga
de chupa, de massa, espada e rosa; banana, araticum (a mais saborosa fruta do
mundo, quando adoçada com açúcar!), romã, caju, laranja, lima, limão, tangerina,
sapoti, umbu, tamarindo, ata, goiaba; na época de chuva plantávamos milho e
feijão. À tarde, deitava-me num degrau
da escadaria da entrada da casa para olhar o movimento das nuvens e extasiar-me
com a modificação de seu desenho, ou, mais á tardinha, fruir do maravilhoso
odor exalado pelo jasmim, em meio às dálias, margaridas e rosas do jardim,
aguardando, às seis horas, os sinos da Igreja Matriz, do autoritário,
apavorante e verboso vigário, Padre Roberto, badalar os sons que alertavam para
a hora de proferir a reza diária da Ave Maria, em louvor da mãe de Deus.
Entende-se,
pois, porque meus pais eram bem relacionados na cidade, e porque minha mãe,
viúva já, foi convidada pelo compadre José Narciso, certamente pelo ano de 1931
ou 32, para participar do jantar em homenagem ao General Juarez Távora, um dos
principais líderes do movimento tenentista e o líder da Revolução de 30 no
Norte do Brasil, que estava passando pela cidade em campanha política e se hospedara
na casa do compadre, chefe político da Revolução na cidade. Mamãe participou da
homenagem, acompanhada da filha mais velha, a jovem e brilhante normalista
Edmée, afilhada de José Narciso, e retornou para casa impressionada com a
estatura do homenageado, cuja cabeça, dizia ela às amigas, excedia, de muito,
ao cimo do espaldar da cadeira de embalo em que se achava sentado.
O
Piauí era governado por um interventor, nomeado por Getúlio Vargas, o militar
cearense Landri Sales, homem de confiança do General Juarez Tavora, e também
figura proeminente na Revolução no Norte do País. O Coronel José Narciso, que
já fora prefeito da cidade, e Hugo Napoleão do Rego, primo e deputado federal,
falecido papai, trataram de amparar a família de mamãe, obtendo a nomeação, de
minha irmã Edmée, que já concluíra o curso normal, para secretária do Ginásio
Parnaibano que, com a União Caixeiral, eram os dois estabelecimentos de mais
alto nível de ensino da cidade naquela época. João, o filho primogênito, viajou
até Belém, onde foi hospedado, enquanto se submetia ao concurso para o Banco do
Brasil, pelo tio Jorge, irmão de papai, que possuía uma rede de açougues
naquela capital. Aprovado, foi nomeado para trabalhar em João Pessoa na
Paraíba. Conseguiu permutar a localização com um paraibano que fora nomeado
para trabalhar em Parnaíba. Mamãe e meu irmão Einar liquidaram a loja de comércio
de papai. Assim, a família estruturou a renda de sustento, a partir de então: a
renda da aplicação da soma, resultante
do valor do seguro de vida, que papai fizera, com o da liquidação da loja, em
farmácias, acrescida do salário dos dois filhos mais velhos. Nada comparável
com o nível que papai mantinha quando vivo.
Naquela
época, uma Estrada de Ferro ligava Teresina a Parnaíba. A linha férrea seguia
pela principal via pública da cidade, a Avenida Getúlio Vargas, nome que lhe
foi aplicado após 1930, replicando medida, assumida por muitas cidades
brasileiras, de assim nomear uma de suas vias públicas, a partir da Revolução.
A ferrovia, pois, findava na mole do cais do Porto Salgado ou Porto das Barcas.
Era ali que se localizava o coração pulsante da economia parnaibana e piauiense
naqueles tempos: centenas de canoas, dezenas de barcaças entulhadas de
mercadorias, veleiros, navios gaiolas motorizados, que faziam o trajeto total
do Rio Parnaíba nos dois sentidos, até o porto marítimo de Tutoia, já no Estado
do Maranhão. Lá existiam armazéns, estaleiros e a alfândega. Era uma azáfama de
trabalhadores, estivadores e marinheiros, com que se misturava a meninada da
cidade, porfiando por perpetrar o mais ousado e acrobático mergulho nas águas
barrentas de correnteza portentosa do Rio Igaraçu, o braço do Delta do Parnaíba
que banha a cidade de Parnaíba, saltando do alto de algum daqueles veículos.
Aquele
ambiente já começara a ser agitado pela atividade do Partido Comunista,
comandado nacionalmente pelo ex-militar Carlos Prestes, e nos meados da década
de 30 dirigido, na cidade, por Aldy Mentor, advogado maranhense, orador brilhante
e inflamado. No lado oposto do espectro político, funcionava a Ação
Integralista Brasileira, orientada pelo lema Deus, Pátria e Família, fundada
pelo escritor Plínio Salgado, e adotando táticas de arregimentação e atuação
importadas do fascismo italiano e nazismo alemão. Em Parnaíba, ela era chefiada
por meu tio, Zeca Brandão, exímio farmacêutico, proprietário da melhor farmácia
da cidade, localizada também na Praça Jonas Correa, a linda e pequena praça do mercado,
como a loja de papai..
Naqueles
primeiros anos da década de 30 e do
Governo Revolucionário, o ambiente operário vivia a euforia da nova política que criara os Ministérios do Trabalho e da
Educação, as autarquias previdenciárias e leis trabalhistas geradoras de um
elenco de direitos mundialmente admirado, tanto que, em 1936, aqui no Rio de
Janeiro, em discurso no Palácio do Itamaraty, Franklin Delano Roosevelt,
Presidente dos Estados Unidos, o Presidente do New Deal e do Welfare State, o
maior vulto da História mundial no século XX, não teve pejo de confessar que
nada mais fizera que trilhar caminhos abertos e indicados pelo Presidente
brasileiro!
Por
vezes, logo no início da manhã, depois de degustar o café, sempre servido com
muito carinho e quitutes variados e saborosos por uma tia de mamãe que, viúva
sem descendentes, aceitara o convite de residir com meus pais, e meu irmão José
alcunhara de “Mãe Minha”, a tia Carlotinha, eu ia assistir à chegada do trem em
sua viagem diária que se iniciava em Teresina. Aquele ano de 1932 gravou-me
indelével na memória a chegada de um vagão apinhado de jovens militares
carregando mochila e cantil, empunhando fuzil, que deveriam seguir para o sul e
combater os revoltosos paulistas, autointitulados constitucionalistas.
Normalmente,
nos dias de semana, de manhã cedo, após o café, a partir de 1933, e, já
alfabetizado por minha linda e suave mãe, a mais adorável mãe que já existiu no
Mundo, juntava-me a meus dois irmãos, José e Izabel, para ir assistir às aulas no
Grupo Escolar Municipal Miranda Osório, a mais conceituada escola primária da cidade,
dirigida pela severíssima Dª Raquel, irmã do delegado de polícia da cidade, a
qual punia cada erro com um dolorido bolo de palmatória! Logo no ano seguinte, transfiro-me para o Grupo
Escolar Municipal João Cândido, que se abrira, quase defronte da casa de meus
pais, num lindo e amplo sobrado, de dois andares, de paredes amarelas e grades
verdes. Ele era dirigido pela linda Professora
Ester Sampaio, futura freira e superiora de convento, irmã do lindo, sábio e
queridíssimo Padre Antônio Sampaio. Minha professorinha, cuja meiga e linda fisionomia
ainda hoje me encanta, me ensinava com muito carinho, e, sussurrava-se, era namorada
de meu irmão Einar. No vasto terraço ladrilhado da entrada do edifício, assistíamos
perfilados ao hasteamento da bandeira nacional
no início dos trabalhos diários, cantando o Hino Nacional e o Hino à Bandeira, e,
no meio da manhã, fazíamos exercícios de ginástica. Nas grandes datas
nacionais, Independência e República, desfilávamos pelas principais vias públicas
da cidade.
Numa
tarde de1934 ou 1935, minha mãe me conduziu pela mão, o filho caçula, até o
Porto Salgado para acompanhá-la, na despedida do primo, Ademar Neves, filho da
meiga, loira e rosada tia Madalena, que todos os anos mamãe nos fazia visitar, eu
e meu irmão José, e ela nos recebia com indizível carinho e presenteava com
deliciosas guloseimas, na sua casa na Praça Jonas Correa, aquela mesma praça
onde papai tinha a sua loja e outro filho de tia Madalena, Anísio, mantinha “O
Paraíso das Noivas”, fina loja de produtos que as mulheres precisam adquirir para
a festa de casamento. Ademar, comerciante,
professor, poeta, musicista, compositor, prefeito de Parnaíba entre 1931/34, cuja brilhante
administração lhe granjeou o título de “O Remodelador da Cidade”, compositor da
música do Hino da Parnaíba. estava partindo para o Rio de Janeiro, e acenava
com um lenço, da amurada de um navio fluvial, após encerrar discurso de
despedida, para a grande multidão que lhe fora prestar homenagem de gratidão
pela bela administração da cidade, que perfizera.
Naqueles
anos, um dos mais importantes habitantes de Parnaíba era o bisavô de Joana,
Celso Nunes, sócio de James Frederick Clark, tetravô de Joana, na Casa Inglesa,
a maior empresa do Estado do Piauí de então. Grande amizade ligava Celso Nunes
a Henrique José Couto e filhos, os famosos neurologistas Deolindo Nunes Couto e
Bernardo Nunes Couto. Henrique José Couto, piauiense, desembargador no
Maranhão, fundador e professor da Faculdade de Direito da Universidade do
Maranhão, Secretário Geral no Governo de Magalhães de Almeida, governo que
reorganizou o Poder Judiciário maranhense, era sobrinho do grande jurista
brasileiro Clovis Bevilaqua, autor do primeiro Código Civil brasileiro, em cuja
residência viveu, enquanto estudou Direito, até formar-se na Faculdade de
Direito de Recife. Henrique José Couto foi eleito Deputado Federal pelo
Maranhão para a Assembleia Constituinte, que em 1934 proporcionou nova
Constituição para o Brasil, onde se previa um Poder Legislativo formado de um grupo
de representantes políticos e outro de representantes classistas, como a constituição fascista
italiana.
Nesse
ínterim, forma-se a Aliança Nacional Libertadora, de maioria comunista e
socialista, que promoveu em 1935 uma revolução no Nordeste, violentamente
sufocada pelo Governo. Inicia-se, então, viés crescente de repressão e
violência estatal. Promulga-se a Lei de Segurança Nacional. Criam-se a Comissão
Nacional de Repressão ao Comunismo e o Tribunal de Segurança Nacional. O
Governo fecha a Aliança Nacional Libertadora. Aldy Mentor desaparece da cena
política de Parnaíba. Ouvia falar que havia sido preso. Acredito que sim, já
que a repressão ao Comunismo era de tal violência que, em 1936, narra o
historiador Bóris Fausto, a polícia invadiu o Congresso para prender cinco
deputados que haviam apoiado a Aliança Libertadora ou simplesmente manifestado
simpatia por ela.
De
fato, recordo-me do verdadeiro pavor e enorme ponderação que sentia envolver as
conversas entre as pessoas adultas de minha família, quando, naqueles anos,
eventualmente, muito raramente, pois, era imperioso evita-lo, o assunto era
político, por mais tangencialmente que fosse. Notícia política se transmitia,
mesmo no interior das casas, aos cochichos, com receio de que o som
ultrapassasse os limites da residência, e algum passante, cogitando ter ouvido
alguma conspiração, levasse ao conhecimento da autoridade, o fato da conversa,
imaginando ter auscultado alguma conspiração. No ano de 1937, transferi-me de
Parnaíba para a Escola Apostólica dos Padres Jesuítas em Baturité, no Estado do
Ceará, onde, recluso e dedicado aos estudos, vivi anos alheio aos assuntos
sociais e políticos do País. Dez anos, porém, transcorridos, aqui no Estado do
Rio de Janeiro, num sítio em Monerat, local
de férias dos jovens religiosos estudantes jesuítas de Nova Friburgo, tive o ensejo
de participar de uma conversa com o Deputado Bandeira, que doara o sítio aos Jesuítas,
na qual relatou violências cometidas pela censura do Governo Vargas, na
imprensa escrita e falada, onde chegava ao paroxismo de quebrar maquinismos,
arrestar livros e jornais, prender e espancar jornalistas, bem como da polícia
de Filinto Müller, que se subordinava diretamente a Getúlio Vargas, o qual o
manteve durante horas encerrado numa geladeira simplesmente pelo fato de expressar opiniões opostas à política do Presidente Getúlio
Vargaas..
Em
1937, eu já isolado em Baturité, ocorre no Rio de Janeiro a intentona de partidários
da Ação Integralista contra o governo de Getúlio Vargas. Violentamente
reprimida, o partido político é declarado extinto e meu tio Zeca Brandão, que a
chefiava em Parnaíba, sente-se coagido a transferir-se de Parnaíba para Recife,
onde vence concurso para catedrático da
Faculdade de Farmácia da Universidade de Pernambuco. Poucos anos decorridos, ele
morre quando se dedicava à pesquisa na área de antibióticos, área essa franquiada
com a então recente produção da
penicilina, que salvou a vida de milhões de vítimas da Segunda Guerra Mundial.