segunda-feira, 27 de setembro de 2021

527. A Felicidade

 Kant e Hegel ensinaram que EU VIVO O MUNDO QUE EXISTE EM MINHA MENTE. Existe o mundo do interior da casa da vizinha. Esse mundo, eu não vivo. Existe o mundo do mulçumano que mora no Mali. Esse mundo, eu não vivo. Existe o mundo do interior da minha mente. Esse mundo, você não vive. 

Eles ensinaram outra coisa tão importante, quanto essa. A MINHA MENTE CONSTROI O SEU MUNDO. Vou com minha amiga andar por Copacabana e na esquina da rua Santa Clara (ah! Como é gostoso, como sou feliz em recordar o passeio que dei com minha amiga pela Rua Santa Clara, há poucos anos atrás, quando ela aqui esteve!) com Av. Copacabana deparamos com um atropelamento. E eu digo: a culpa foi do motorista. E ela discorda: não, amigo, a culpa foi do pedestre. O que aconteceu: ela construiu a realidade dela e eu construí a minha realidade! Isso é a fonte dos debates, das discussões, das desavenças, das brigas, das ameaças, dos assassinatos, das guerras... 

A realidade é uma só. Mas, cada pessoa forma na sua MENTE A SUA REALIDADE! A Mente não é apenas a cabeça. A Mente é o corpo todo, dos pés à cabeça. É a sensação, é a emoção, é o sentimento, é a paixão, é o interesse, é a atenção, é o sangue, é a pressão do sangue, é a composição do sangue no momento, são os hormônios, são os órgãos de cada pessoa, é o grau de instrução, a formação, a educação, a experiência, a história de vida, as circunstâncias de vida de cada pessoa. Assim, a realidade é uma só. Mas, a REALIDADE VIVIDA É TANTAS QUANTAS SÃO AS PESSOAS QUE EXISTEM! 

Conclusão: cada um é responsável pela VIDA QUE VIVE; cada um é responsável pela SUA SORTE. CADA UM É RESPONSÁVEL POR SER OU NÃO SER FELIZ. 

Estou-lhe dizendo que CADA UM CONSTROI SUA FELICIDADE. 

Para mim a FELICIDADE É UMA FORMA DE SENTIR E VIVER A VIDA. Veja o faquir indiano: ele quer viver deitado em uma cama de pontas de faca!! Por que? Por que se sente infeliz? Alguém me retorquirá: não, mas porque é louco. Pode até ser que seja louco. Que seja anormal, concordo. Mas, que certamente não é infeliz, eu tenho certeza, pois, se fosse infeliz, ele não suportaria essa situação. 

É, por isso, que para mim, Virgílio, o maior poeta latino, que teve a felicidade de poder viver numa vila numa das colinas da cidade de Roma, sem ter que trabalhar, porque era sustentado pelos ricaços da cidade que adoravam a companhia dele e ouvi-lo recitar os lindos poemas, achava que “Feliz é a pessoa que compreende a VIDA e controla todas as suas angústias, o inevitável destino e a tragédia da morte.” 

Cada um tem a sua própria história – E eu sou eu mesmo e minhas circunstâncias!, afirmou Ortega y Gasset. A Vida é MUITO MAIS QUE CADA UM DE NÓS. 

Você ainda é a menina apaixonada. Ele não é mais o rapaz apaixonado por você. Essa é a SUA CIRCUNSTÂNCIA. 

Ou você ENTENDE ISSO, DOMINA ESSA ANGÚSTIA, CURVA-SE A ESSE INEVITÁVEL DESTINO E SERÁ FELIZ, ou você não entende a Vida, não domina essa angústia, continua inconformada com o INEVITÁVEL e será INFELIZ. 

Para ser feliz não se precisa de muita coisa, basta ajustar a MENTE e adotar a FORMA EXATA DE SENTIR E VIVER A VIDA. 

Vocês se apaixonaram. Viveram momentos maravilhosos. Brigaram muito. Você brigava, mas achava que ele sempre permaneceria a seu lado e isso a fazia feliz. Isso era e é sua felicidade: viver sempre ao lado dele. Para ele, as coisas são diferentes: para ele ser feliz é ter uma vida sem dificuldades financeiras e de certo luxo. 

São duas concepções de FELICIDADE QUE NÃO SE JUNTAM DE FORMA ALGUMA. 

Minha amiga, decida-se. Trate de ser feliz. E já. MUDE, e já, A SUA FORMA DE SENTIR E VIVER A VIDA. 

Você nem perdeu nem ganhou nada. Você viveu. E, de agora para a frente, trate de continuar vivendo, e vivendo feliz. Adote a FORMA EXATA DE SENTIR E VIVER A SUA VIDA.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

526. Resposta a Uma Amiga

 

Estou satisfazendo ao seu pedido de meu comentário sobre recente carta dos militares, que o autor do e-mail acha ter sido provocada por manifestação do senador Antônio Carlos Magalhães.

Ouvi a manifestação do senador na TV Senado. O manifesto dos militares desconheço. Se ele veio anexo ao e-mail sobre o qual estou discorrendo, não consegui abri-lo. Seja como for, estou manifestando-me sobre o conteúdo do e-mail. 

Em primeiro lugar, o e-mail coloca uma posição filosófica: a evolução como um projeto inteligente em oposição à teoria evolucionista de mera adaptação às transformações da natureza.

A respeito disso, quero manifestar que respeito a posição do autor, mas acho que ele, que demonstra excepcional erudição, diverge muito de mim a respeito do conhecimento. Ele deixou-me a impressão de que pensa que existe um conhecimento definitivamente verdadeiro, no qual todos os homens acabarão concordando, desde que examinem convenientemente um assunto. (Essa é a concepção socrática).

Outros acham que o exame de um assunto poderá conduzir a diversas opiniões verossímeis, isto é, que explicam satisfatoriamente o assunto, podendo até umas explica-lo melhor que outras. Assim, tem-se a explicação dada pelas crendices afro-asiáticas, a dos muçulmanos, a dos budistas, a dos bramanistas, várias dos protestantes (cada seita com sua explicação), a dos católicos, várias dos filósofos (cada um com sua explicação), as dos cientistas. 

Para mim, a melhor explicação das coisas é dada pelos cientistas, porque é o conhecimento mais preciso (tem a precisão da matemática, toda ciência tem que usar a matemática) e o mais comprovado (é comprovado por experimentos e todos poderão repetir os mesmos experimentos e chegar aos mesmos resultados). 

Acontece que a ciência parte do pressuposto de que todos os fenômenos naturais (inclua na natureza o homem e a sociedade humana) têm sua explicação noutros fenômenos naturais. A ciência é uma explicação naturalista da natureza. Ela prescinde (não toma em consideração) do sobrenatural para explicar a natureza . Não nega o sobrenatural. A ciência não aceita explicar a natureza pela intervenção de Deus, simplesmente porque não leva em consideração Deus. A ciência acha que todo fenômeno natural pode ser explicado por outro fenômeno natural e procura esse fenômeno natural explicativo, usando a matemática e o experimento.

Assim, o conhecimento científico é, para mim, o melhor tipo de conhecimento que o homem possui, o mais perfeito. Mas, ele não é absolutamente perfeito. Por isso, ele está a cada dia se renovando, se aperfeiçoando. 

Veja, por exemplo, a Cosmologia (o estudo do Universo, a Astronomia). Aristóteles dizia que a Terra é uma esfera, o centro estático do Universo, que todos os astros giram em torno da Terra e que o mundo supralunar é de natureza diferente (incorruptível) da natureza terrestre (corruptível). Isso permitia fazer cálculos astronômicos (a duração do dia, a duração do ano, o tamanho da Terra, a distância do sol, a posição do sol e das estrelas, etc). 

Ptolomeu (II século EC) dizia que a terra é uma esfera, o centro estático do Universo; que há esferas que giram circularmente em torno da Terra, uma dentro das outras; a maior e mais externa das esferas é o limite do Universo e nelas estão pregadas, fixas, as estrelas; cada uma das esferas internas contém um planeta e uma delas o Sol; os planetas não estão fixos nas respectivas esferas, mas giram circularmente sobre elas. Isso permitia cálculos astronômicos mais precisos. 

Copérnico, no século XVI, afirmou que os planetas e o sol não giram em torno da Terra; disse que a Terra e os planetas giram circularmente em torno do Sol, centro estático do sistema solar de astros. Isso permitiu cálculos astronômicos mais precisos. 

Galileu viu através de um telescópio que Júpiter tem luas, isto é, que astros giram em torno de Júpiter e não em torno da Terra. Confirmou, assim, o sistema heliocêntrico de Copérnico. 

Keppler fez cálculos matemáticos mais precisos sobre a movimentação dos planetas em torno do sol, supondo que eles giram em trajetória elíptica e que o sol ocupa um dos focos dessa elipse. 

Newton afirmou que as leis da física valem para a Terra (gravidade terrestre) e para todo o Universo (lei da gravitação universal), o mundo supralunar não é diferente do mundo terrestre; que a força da gravidade põe os astros em movimento; que a força da gravitação equilibra o Universo e evita a junção de todos os astros num único ponto. Isso permitiu cálculos astronômicos mais precisos. 

Einstein disse que a gravidade não é uma força de atração de um corpo por outro (como pensava Newton), ela apenas encurva (dobra) o espaço-tempo na sua vizinhança; que, portanto, a luz e os planetas seguem numa linha reta nesse espaço-tempo curvo. Isso permitiu cálculos mais precisos do movimento de Mercúrio e dos demais planetas em torno do sol; explicou o desvio da luz das estrelas nas vizinhanças do sol; possibilitou a produção da bomba atômica; explica por que cada coisa tem o seu tempo (o tempo nos satélites artificiais das transmissões a longa distância passa mais rápido – é mais curto – que o tempo na superfície terra), que a massa se transforma em energia e a energia se transforma em massa. 

Assim, o conhecimento do Universo progrediu: nem tudo que Aristóteles afirmou estava errado, muita coisa se corrigiu e muita coisa se acrescentou. Mas, quem pode afirmar que tudo o que Einstein afirmou está certo? Ao contrário, sabe-se que muita coisa tem que ser esclarecida e aperfeiçoada. 

Então, o conhecimento mais perfeito, pois, é o conhecimento científico, que se tem no momento presente. Ele poderá ser diferente, mais perfeito, no futuro.

 

Em segundo lugar, o comentarista fala da teoria evolucionista como algo desprezível. Ora, o evolucionismo, juntamente com a astronomia de Copérnico e a física de Galileu, Keppler e Newton, constituiu a maior revolução na História do pensamento humano. Mudou o rumo da cultura ocidental e da cultura humana. 

Ninguém pode negar que o Universo está em contínua transformação. O Big Bang, ocorrido há 15 bilhões de anos, foi captado em forma de microondas por Panzias e Wilson, ganhadores do Nobel de Física, na década de 30 do século passado. Hubble comprovou na década de 20 que o Universo se expande. Astrônomos comprovaram posteriormente que ele está em expansão acelerada. O sol só surgiu há 5 bilhões de anos. A Terra tem 4,5 bilhões de anos. 

De bola incandescente a Terra passou a ser coberta de vulcões sem atmosfera. Os vulcões proveram-na de atmosfera sem oxigênio. Seres vivos diferentes dos atuais surgiram e transformaram a atmosfera injetando-lhe o oxigênio. Surgiram os micróbios nas águas. Desenvolveram-se formas vivas cada vez mais complexas. Muitas foram desaparecendo. Os continentes, que eram uma só massa de terra (a Pangea), se desmembraram nos continentes que hoje conhecemos. Até que surgiram os primatas, os australopitecos, o homem hábil, o homem erecto, o homem de neandertal e, por fim, a espécie humana que denominamos homem (o homo sapiens sapiens). Não se pode negar que essa evolução ocorre: basta visitar os grandes museus do mundo. Ridículo, insano é negar essa transformação. 

A explicação mais simples, a explicação científica (explicação dessa transformação por outro fenômeno natural) é a explicação de Darwin: na luta pela sobrevivência sobreviveu o organismo (a planta e o animal) mais adaptado ao meio ambiente (ao clima e à alimentação existente). 

Presentemente, na mesma Ilha Galápagos, onde Darwin comprovou sua teoria evolucionista, um casal de cientistas americanos assistiu surpreso à comprovação da teoria de Darwin: eles foram para Galápagos em 70; lá assistiram à chegada de aves alienígenas chamadas de tentilhões; essas aves eram mais aptas para captar os alimentos que os tentilhões nativos; a população dos tentilhões adventícios aumentou consideravelmente e a população dos tentilhões nativos foi reduzida drasticamente; mas, surgiram tentilhões nativos de bico reduzido e mais apto para captar alimento; conseguiram, por isso, recolher mais alimento que os tentilhões adventícios; e essa nova geração de tentilhões nativos, de bico reduzido (mutação genética), voltou a dominar nas terras da Ilha de Galápagos. 

Por fim, o comentarista fala que o marxismo e outras teorias são conseqüências da teoria evolucionista de Darwin. Não duvido. Mas, é do conhecimento geral que Darwin se inspirou no livro Riqueza das Nações de Adam Smith, o pai da ciência econômica, o economista da liberdade econômica, da livre concorrência e do capitalismo. Por outro lado, o Capital de Marx teve a sua época e deixou marcas indeléveis no pensamento e na cultura, de tal forma que, nos dias de hoje, temos em todos os países do mundo os partidos políticos socialistas e os partidos da social democracia (a chamada terceira via, entre o capitalismo e o comunismo). 

Concluindo: respeito a opinião do comentarista sobre o evolucionismo, mas acho-a muito parcial (mais parcial que a Igreja católica, que procurou adaptar o evolucionismo à doutrina cristã) e pouco científica; mas, é um pensamento bem estruturado e bem exposto; o comentarista tem erudição. 

Já sobre o que ele fala sobre a atitude atual das forças armadas brasileiras, acho que ele tem razão: os tempos são outros, a sociedade humana transformou-se muito nestes últimos 40 anos. A mentalidade pacifista da cultura européia não aceita a iniciativa da beligerância, nem mesmo por parte do Estado. A sociedade norte-americana divide-se entre Bush e os democratas. Já o mundo mulçumano advoga a solução dos problemas via terrorismo. A América do Sul aceita a violência como arma dos marginalizados e não aceita a força como defesa legal da sociedade. Parece-me que as forças armadas brasileiras estão muito conscientes dessa nova sociedade: temos que fazer o que o povo politizado quer, mesmo que seja ignorante, manipulado pelos interesses políticos de espertalhões, mesmo que essa orientação nos conduza ao desastre social e político, porque a sociedade somos todos e o Estado existe para dar paz à sociedade fazendo a vontade da maioria. 

Essa visão pacifista da elite mundial dominante tem história evolutiva milenar: Confúcio, Buda e Cristo. Antes deles, os gregos guerreiros achavam que os homens primitivos (os solitários coletores e caçadores de alimentos) eram silvícolas, que os habitantes de aldeias eram bárbaros e que os habitantes de cidades eram civilizados (urbanos). Essa visão pacifista de que a civilização faz o homem urbano, educado, civilizado e apto para o convívio em sociedade assumiu forma moderna com Thomas More, Erasmo de Roterdâ e os humanistas do início do segundo milênio da Era Cristã. Os Iluministas franceses colocaram no convívio social pacífico, consensual, o máximo da perfeição humana. A violenta Revolução Francesa procurava paradoxalmente a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Os grandes nomes do mundo contemporâneo são Gandhi e Luter King. Os mais respeitados políticos atuais são Kenedy, Gorbachov, Bill Clinton, Hilary Clinton, John Blair, Chirac. 

O ideal humanista da Terra para todos os homens, da convivência consensual entre os homens, vai paulatinamente, muito paulatinamente, com passo milenar, se tornando o pensamento fundamental da sociedade humana, a marca da civilização. E nisso o comentarista tem razão: não há mais ambiente no Brasil para a revolução militar como a de 64. Há, ainda, para a revolução de massa de Evo Morales. Mas, acho que nem esta se sustentará por muito tempo. 

Os tempos modernos são os tempos do Lula, os tempos da democracia, os tempos do Brasil de todos. Pode até ser o Brasil dos ignorantes e dos pobres, o Brasil do atraso, mas é o Brasil de todos. Acho que a sociedade humana marcha para uma forma de governo mais democrática ainda. Acho que vamos marchar para a forma de governo dos Anarquistas: democracia é participação, não é representação. Não se fez, há pouco no Brasil, um plebiscito sobre armas? 

A informática e os celulares permitirão participação maior ainda da população no governo. A forma de governo será menos representativa. Acho que toda representação é corrupta. E quanto mais forte a representação, mais corrupção. A informática e os celulares difundirão a educação. Quanto mais educação, maior a responsabilidade que cada indivíduo quererá assumir e mais sociabilidade. Acho que o mundo passará por grande transformação e para melhor. Isso levará talvez milênios... se não acabarem antes com a Terra numa guerra atômica!