sexta-feira, 28 de maio de 2021

525. O Atraso de Bolsonaro

             Fernando Henrique Cardoso reagiu à máxima (“Brasil acima de todos. Deus acima de tudo.”) que o Presidente Bolsonaro consagrou como resumo da orientação que pretende imprimir ao seu período de governo presidencial brasileiro, com uma palavra: “Atraso”.

            Entendemos que o cientista, ex-presidente do Brasil, se referia a regredir o Brasil num período multissecular, extenso de mais de dois mil anos, já que pretende governar o Brasil, na Era Moderna com mentalidade da Era Cristã.

Os evangelistas Lucas e Mateus disseram que Jesus ensinou a oração do Padre Nosso: “Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso reino. Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai-nos nossas dívidas assim como perdoamos aos nossos devedores. Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Maligno.”

Essa oração é oração paulina, oração que resume a concepção que Paulo de Tarso, judeu e cidadão romano, possuía do Mundo e da Vida. Essa concepção está repleta de irracionalidades, pensamentos que não resistem ao princípio da contradição, tais como um homem, Jesus, um judeu que foi julgado criminoso pelo seu povo, o povo judeu, e condenado à morte, é deus e criador do Universo!

Essa oração nos diz que existe um deus, ser absoluto e Pai amantíssimo, que tudo criou para manifestar a sua grandeza e riqueza, para sua glória!

 Assim, existem três reinos: o reino de Deus, o reino celeste, reino espiritual e eterno, o reino da Perfeição infinita, o reino da Verdade e do Bem; o reino terrestre da Humanidade, contaminada pelo vírus do mal, introduzido pelo pecado de Adão; e o reino do Maligno, o Inferno, local de sofrimentos infinitos, onde se padece o sofrimento infinito da ausência de Deus!

Ela também revela que o Maligno tenta persuadir o homem a não observar os mandamentos divinos, um dos outros inumeráveis mistérios que compõem a doutrina cristã católica.

 O reino terrestre terá um fim, que consistirá na fusão dele com o reino de Deus, após o Juízo final, quando Jesus voltará à Terra, para encerrar o reino terrestre, lugar e tempo de prova, para premiar quem na vida terrestre cumpriu os mandamentos divinos e castigar com pena eterna os que a eles não se sujeitaram (“Ele descerá de lá dos céus com suas milícias angélicas, em chamas de fogo para fazer justiça àqueles que não reconhecem a Deus e aos que não obedecem ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus. Terão como castigo a pena eterna, longe da face do Senhor e de sua suprema glória. Naquele dia ele virá e será a glória de seus santos e a admiração de todos os fieis e vossa também, porque crestes no testemunho que vos demos.” Tessalonissenses 2-1-7/16), conquanto tal fidelidade seja uma Graça divina, pura benevolência divina para alguns dos homens (“Com esse pensamento rezamos sem cessar por vós, para que vosso Deus vos faça dignos de sua vocação e com poder cumpra toda a sua vontade para o bem e a obra de vossa fé. Para que seja glorificado o nome de Nosso Senhor Jesus em vós e vós nele, segundo a graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo.” Ibidem-11/12). Essa graça Deus reserva, todavia, para poucas pessoas (“Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.” Mateus 22-14).  

Nada obstante, Jesus preocupa-se com a satisfação das necessidades da subsistência, da vida terrena. E como tudo é feito e doado ao homem por deus, ele inclui na oração a petição da dádiva dos bens de subsistência (“O pão nosso de cada dia nos dai hoje.”). Ingressam na oração como meio provedor de vida, não como elemento constitutivo da felicidade, pois esta somente se goza no reino de Deus, como dádiva divina eterna aos poucos escolhidos por Deus para viver honestamente no reino terreno, o período de provação, segundo os seus mandamentos.

A oração do Pai Nosso, pois, coloca a felicidade humana na outra vida e no outro reino, o reino de Deus, após a morte. Os bens materiais não integram as condições e fatores que produzem a felicidade humana. A felicidade humana é resultado de um estado mental, a contemplação de deus, doação de Deus, inteiramente graciosa, não resultante de mérito algum, totalmente graciosa, como explicou Jesus, a pedido dos discípulos, no sermão das Bem-aventuranças: Bem-aventurados os pobres de espírito,( o homem é a incapacidade, tudo deve a deus, até sua capacidade); os que choram (quem sofre e procura em Deus a força de suportar o sofrimento alcança o consolo nesta vida e a felicidade na vida eterna); os  mansos (os que  não sentem o ímpeto de reagir com violência à violência alheia, porque sabem que somente de Deus vem que são o que são); os que têm fome e sede de justiça (a felicidade não é o gozo de bens materiais , mas da vida em conformidade com a vontade divina, que, justo, confere a cada um o conforto de vida segundo o critério de sua Justiça, ainda nesta vida terrena, mas plenamente na vida eterna); os misericordiosos; os puros de coração (os que possuem personalidade pura, o íntimo da personalidade, do eu, desse feixe de pensamentos, emoções e motivações, é puro, sem defeito, sem maldade); os pacificadores; os que sofrem perseguição por causa da justiça (do comportamento honesto);  quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, falarem todo mal contra vós por minha causa; exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus.     

Mil anos transcorridos, um monge compõe, inspirado nessas ideias, a oração da Salve Rainha, a terceira mais rezada oração pelos cristãos católicos romanos: “Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A vós bradamos os degredados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia pois advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei. E depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto de vosso ventre. Ó clemente! ó piedosa! ó doce sempre Virgem Maria! Rogai por nós Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.”

O homem é um ser degradado, intrinsecamente mau, corroída a sua natureza pela herança da culpa de Adão e Eva. Seus pensamentos, emoções e desejos de vida terrena confortável, prazerosa e alegre, tudo que hoje a Psicologia ensina como produção do sistema nervoso sob influência das condições vividas pelo organismo humano, são ilusões provocadas pelo Maligno, que insiste em tentar fazer abortar o plano divino da criação, a glorificação de Deus.

Essa mentalidade criou os eremitas dos primeiros tempos do cristianismo e os monges das abadias e conventos da Idade Média. Estes passavam a vida orando diante do ostensório da hóstia consagrada, o corpo real de deus, Jesus Cristo, na expectativa de serem incluídos no restrito grupo dos escolhidos para habitar o Reino dos Ceus.  

Bem diversa é a concepção que o homem moderno alimenta com relação à existência e à vida. Ele tem consciência de que existe e vive no planeta Terra, um astro do sistema solar. O sistema solar faz parte do Universo, que é o conjunto de todos os seres existentes. O Universo é caracterizado pela multiplicidade e transitoriedade dos seres que o compõem. O Universo se acha em permanente transformação segundo determinadas leis. Tudo começa e tudo acaba. Tudo é devir.

O Homem percebe-se como ser vivo e dominante na superfície terrestre. Essa predominância se deve à riqueza da sua vida mental, dotada de racionalidade, emotividade, sensibilidade, necessidade e atividade que lhe proporciona amplas condições de conseguir a sobrevivência própria individual e da espécie.

O homem é um ser silvestre, brotou da selva, mas não quer viver na selva.  Ele quer conforto e a satisfação de todas as suas necessidades. O homem moderno não mais entende a felicidade nem mesmo como o poeta romano Virgílio: “Feliz é o homem que compreende a existência e domina todas as suas angústias, a inevitabilidade do destino e a tragédia da morte.” Ele pretensiosamente tenta até mesmo conseguir eximir-se da lei da finitude. A felicidade na Terra é tentativa consciente ou inconsciente de todos os indivíduos humanos, até dos suicidas, num gesto de violenta e irracional tentativa de consegui-la.

A felicidade nestes tempos da Era moderna é concebida como um estado de vida terrena que um cidadão romano, há dois mil e poucos anos, deixou descrita numa gravação no piso de um anfiteatro e um boêmio do povo no século passado reescreveu num depósito de lixo de Montmartre: “amar, comer, beber e cantar, isso é ser feliz.” E a genial loucura de Nietzsche reconhece a laicidade da Era Moderna, que recoloca a felicidade na vida terrena. 

Com muito mais precisão e sabedoria, Epicuro sintetizou a ideia fundamental da civilização da Era moderna: “(A felicidade é uma vida) sem dor no corpo e sem angústia na alma.” A felicidade é estado de vida na existência terrena, que consiste na satisfação de todas as necessidades humanas, materiais e mentais.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

524. A Disputa pela Hegemonia Econômica Mundial.

             O plano econômico de Joe Biden para os USA: 3 trilhões de dólares em investimento, metade em infraestrutura e metade na área social.

Os USA entrarão em ritmo de progresso igual ao da China?!   

 A ciência econômica ensina que a economia é um comboio que faz o trajeto pendular entre as estações população e empresas. Aqui compram-se os fatores produtivos e lá os bens de subsistência. Quanto mais produtiva uma nação, mais rica ela é e mais confortável a vida da população.

O comboio é puxado pela locomotiva do consumo da população. A locomotiva é movida pela energia do investimento das empresas.

Os USA tem mediana população com formidável poder de consumo. A China, o contrário.

 Os USA precisam de mercado externo. A China tem mercado interno e externo, este principalmente os USA, além de ampla possibilidade de expandir o mercado interno. OS USA precisam do mercado da América Latina, África e Oceania.

A luta econômica USA e China recrudescerá. A China tem a vantagem da mão-de-obra barata. Os USA tem vantagem do petróleo barato e da liderança tecnológica.

A força de empuxo da locomotiva dos USA conseguirá manter-se por longo prazo? Muitos bens de consumo são de duração média e longa. Não nutrem a permanência do empuxo econômico.

No longo prazo, a locomotiva norte-americana me parece sofrer mais resistência que a chinesa, enquanto no curto prazo a dificuldade da China é maior, porque logo os USA se estarão abastecendo internamente de bens de consumo mais barato do que os ofertados pela China e provavelmente de qualidade superior.