Possuo
uns oito compêndios de Economia. Entre eles o de Paul Samuelson, professor do
MIT, prêmio Nobel de Economia, divulgador da teoria keynesiana: o Estado pode e
deve interferir no mecanismo econômico nacional, através de intervenções
fiscais e monetárias, sempre que este apresentar ineficiência de funcionamento.
O
compêndio de Paul Samuelson foi editado pela primeira vez em 1955. Aquele, que
adquiri em 1979, é da 8ª edição brasileira desse mesmo ano. O livro que leio,
na fotografia aposta neste blog, é exatamente o livro do imortal economista
norte-americano. Senti necessidade de possuir noções de Economia para melhor
desincumbir-me das tarefas que o Banco do Brasil me confiara.
Os
compêndios, que adquiri mais recentemente, foram publicados já no início deste
século, o de N. Gregory Namkiw, professor da Universidade de Harvard, e o de
Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, professor da Universidade de Princeton.
Esses
três livros nada mais pretendem que iluminar para o leitor o acervo de
conhecimentos que a Humanidade detém sobre essa área de atividade humana que se
abarca com a palavra, a ideia de Economia.
Fascina-me
a coincidência que constato na primeira lição dos mestres, a definição de
Economia. Paul Samuelson lista seis definições. Economia é o estudo da riqueza,
definição inspirada no título do primeiro livro de Economia, Riqueza das
Nações, de Adam Smith, o fundador da ciência econômica. Economia é o estudo de
como melhorar a sociedade, definição que suscita sentimento de veneração,
admiração e gratidão pela Economia e pelos economistas. Economia é o estudo dos
homens em sua atividade comum, ganhando e desfrutando a vida, definição do
grande Alfred Marshall, aquele que forneceu a linguagem matemática à Economia.
Em
seguida, Paul Samuelson apresenta sua longa definição, fulcrada na de Alfred
Marshall, contendo, ademais, os adendos de exatidão de uma mente científica
excepcional: “Economia é o estudo de como os homens e a sociedade decidem, com
ou sem a utilização do dinheiro, empregar recursos produtivos escassos, que
poderiam ter aplicações alternativas, para produzir diversas mercadorias ao
longo do tempo e distribuí-las para consumo, agora e no futuro, entre diversas
pessoas e grupos de sociedade. Ela analisa os custos e benefícios da melhoria
das configurações de alocação de recursos.” Mais adiante, na explicação do que
é Economia, Paul Samuelson esclarece: “A Economia Política mostra às pessoas de
que modo, se realmente o quiserem, poderão trocar a quantidade de bens pela
qualidade da vida.”
Os
dois outros supracitados autores adotam a famosa definição de Economia, dada
por Alfred Marshall: “Economia é um estudo da humanidade nos negócios comuns da
vida.” A vida do homem livre é extensa teia de opções, toma-lá-dá-cá.
Eis,
indiscutivelmente, o que os mestres nos estão dizendo: estamos apenas tentando
entender como funciona esse mercado que existe nas sociedades que se dizem
livres, os mercados em que, em geral, você é livre para escolher o que fazer, possuir
coisas, adquirir coisas e trocar coisas.
A
primeira lição da Economia para mim é esta: o Economista não cria, não inventa
a Economia; ele é um cientista, ele estuda, analisa o que existe.
Há
várias sociedades nos tempos atuais, mais ou menos livres. Há a Coreia do
Norte, que não sei se é uma sociedade livre, parece-me que não é. Há Cuba, que
pouco conheço, parece-me uma sociedade pobre, onde a individualidade é sufocada
e vive em condições que me parecem insatisfatórias. Existe a ampla maioria de Estados
Democráticos, onde os indivíduos são teoricamente submetidos unicamente à lei,
formulada por delegados temporários da população, com restrita e distante
interferência do poder público NOS NEGÓCIOS COMUNS DA VIDA de cada indivíduo.
É
sobre a análise dessa amplíssima parte da humanidade, quase a totalidade da
humanidade, que compreende inclusive a China e a Rússia, que o Economista se
debruça para analisar como funciona esse curioso mecanismo econômico, a
economia de mercado.
Atentem
bem. Não o apelidam de Economia de livre mercado. Contrapõem-no à economia de
comando. Aquela não possui um comando central que normatize TODA ATIVIDADE
PRODUTIVA E DISTRIBUTIVA DE BENS (o que se produz, quanto se produz, quem
produz, onde se produz, como se produz, etc, etc; onde se entrega, quem
entrega, quanto entrega, quando entrega, etc, etc; quem recebe, onde recebe,
quanto recebe, quando recebe, etc, etc).
Essa
economia de comando já foi tentada ao longo da História. A Rússia, a Europa
Oriental e a China tentaram-na recentemente e não a suportaram por longo tempo.
Alegaram que ela não era capaz de abastecer a sociedade dos bens que fazem a
vida suportável, agradável e feliz.
A
História relata que a Humanidade já adotou várias formas de Economia e que a
Economia varia na medida em que o próprio homem se transforma. Houve a Economia
do homem primitivo caçador e coletor, a Economia do Pastoreio, a Economia das
Primeiras Civilizações, a Economia Greco-romana, a Economia feudal, a Economia
Capitalista Comercial da Idade Média, a Economia de Comando experimentada no
século passado e a Economia Capitalista do mundo atual, industrializado e
financeiro.
O
economista estuda a Economia que aí está, a Economia de Mercado, e explica o
seu funcionamento, esclarecendo o seu sucesso e apontando os seus defeitos.
Fascína-o, sem dúvida, o fato fundamental de que a atividade genuinamente
egoísta da busca do bem-estar individual redunde, no final, no bem-estar da
sociedade. Percebe, todavia, que a lei básica da Economia de Mercado é a
eficiência, isto é, que só quem é eficiente, quem é capaz de produzir um valor,
um Bill Gates ou um Neimar, tem lugar na Economia de Mercado, produz valor e
participa do valor. A Economia de Mercado tem um conceito muito restrito de
equidade: só quem produz valor merece compartilhar do valor, e na medida do
valor que produz. Na Economia de Mercado
não há lugar para os menos dotados que o destino vomitou por aí nas vielas da existência.
John Kenneth Galbraith, um dos grandes
economistas do século passado, no seu genial livro da História da Economia, A Era
da Incerteza, narra a escabrosa mentalidade existente no final do século XIX e
início do século XX sobre a atividade econômica, nela entrevista a seleção
natural eliminando as classes pobres através do mecanismo da Economia de
Mercado. Narra a gloriosa estada de Herbert Spencer em 1882 nos Estados Unidos:
“Em toda parte foi ele acolhido e
reverenciado por homens que viam, em sua própria seleção como ricos, a melhor
prova de que a raça humana estava sendo melhorada." Entre esses ricos
Galbraith coloca nomes gloriosos da história econômica norte-americana: “...os
homens que lesaram os seus clientes ou usuários de seus produtos ou serviços
saíram-se muito melhor junto ao público, e suas respectivas famílias
conseguiram alta distinção social. Isso se aplica a Vanderbilt. Foi o que
aconteceu também em outros setores de atividade, onde encontramos os nomes de
Rockefeller, Carnegie, Morgan, Guggenheim, Mellon, que fizeram fortuna
produzindo a baixo custo, suprimindo a concorrência e vendendo caro. Todos eles
fundaram dinastias da mais alta reputação. Todos se tornaram, com o passar do
tempo, nomes extremamente respeitáveis...Esbulhar os investidores – outros
capitalistas – foi algo que ficou atravessado na garganta do público. Mas, a
rapinagem pública – o esbulho do povo em geral – embora criticada na época, com
o tempo adquiriu um aspecto de alta respeitabilidade, de elevada distinção social. Mesmo durante suas vidas,
muitos dos mais notáveis praticantes dessa técnica granjearam a reputação de
impolutos homens de bem, tementes a Deus.”
O economista, pois, explica o que existe
e até aconselha medidas que melhorem o funcionamento da Economia e desaconselha
providências que lhe são nocivas.
O economista sabe que o Homem é um ser
em transformação. Sabe que o homem se faz. Ele sabe, pois, que a Economia é uma
ciência em estado de permanente revisão, porque ela é o estudo da Humanidade
nos negócios comuns da vida.