domingo, 3 de maio de 2009

110. A Classe Política


Em 1982, Michael Novak, americano, ex-jesuíta, especialista em filosofia política, escreveu o livro “O Espírito do Capitalismo Democrático”.
Ali, ele fala sobre vários grupos sociais no regime capitalista. Afirma que os líderes morais e intelectuais, tais como os sacerdotes, os filósofos, os cientistas e os artistas, vêm nele perdendo status. Fala da remuneração excepcional que percebem os atletas e os artistas de entretenimentos. Ressalta que a classe dominante do capitalismo é a dos comerciantes. E avança conceitos sobre os líderes políticos que realizam seus projetos pessoais de poder e riqueza através do domínio do setor público, de onde controlam o setor privado. O setor privado se submete a leis, concebidas e aplicadas pelos políticos que detêm o poder de coação.
A conquista das posições políticas se faz mediante promessas de vantagens sempre crescentes, acima dos recursos à disposição da sociedade, porque os custos dos projetos incidem sobre a sociedade, não constituindo ônus próprio dos políticos, continua ele. O Estado assume cada vez mais elevadas responsabilidades em decorrência do que ele chama de suborno político para obtenção do voto que guinda o político ao poder.
O progresso econômico, ou o enriquecimento do povo e da nação, é, sem dúvida, o resultado de vontade política, mas sobretudo de vontade e criatividade empresariais. Mas, como explicou von Harbeler, em cada época, existe um máximo de produção alcançável, determinado pela quantidade dos meios de produção (recursos naturais, capital e população) disponível. E quanto maior for a quantidade de recursos naturais e população, e menor a quantidade de capital, tanto menos eficiente é o esforço de enriquecimento.
O Brasil é um país pobre, isto é, pouco capitalizado. O Brasil tem muita gente para usar poucas máquinas e limitada tecnologia em vasta extensão territorial. O Brasil produz pouco para a população e o território que possui. A população e o território exigem do Brasil fabuloso capital para a sociedade auferir aceitável padrão de vida. A formação de capital (máquinas e tecnologia) é função da poupança, isto é, da renúncia do povo ao consumo e aplicação desses recursos poupados na produção de máquinas e tecnologia que, mais tarde, gerarão mais bens de consumo.
Já disse alguém que poupar é o último dos luxos. O pobre despoupa. E só se poupa, quando a renda excede as necessidades normais. Este é o problema fundamental do Brasil: a poupança é muito escassa para a fabulosa soma de capital que a população e o território brasileiros necessitam.
Prometer consumo adequado, isto é, comida, roupa, habitação, transporte, energia, comunicação, saneamento, terra, educação, remédio, hospital, saúde etc. para todos os brasileiros, em curto prazo, é ilusão engendrada na ignorância do processo físico da produção. Se tudo isso pudesse ser criado com a mera vontade política, não haveria país pobre e subdesenvolvido. Não se ouve falar de paternidade responsável, nem de criar-se opinião pública nesse sentido. Milton Friedman afirmou que político de sucesso é o que diz o que o povo quer ouvir. Mas, como ele, penso que a política do Estado protetor, ao contrário do que se alardeia, conduz o País a empobrecimento maior. Transferir para o Estado a responsabilidade pelo sustento do povo é promover a irresponsabilidade pessoal, a acomodação, o crescimento demográfico, a ineficiência. É superexcitar expectativas e diminuir a produção. É cair na ilusão de que em país pobre pode haver Estado rico que miraculosamente faça todos os habitantes abastados. O bem-estar é antes de tudo responsabilidade individual. É conquista de cada dia, porque o sustento e a sobrevivência do indivíduo humano não são dádivas da natureza nem da sociedade. São conquistas arrancadas à natureza pelo trabalho e pela tecnologia.
Como Ludwig von Mises, penso que o político é o especialista em administrar a coisa pública e elaborar leis que expurguem a violência e implantem a paz, garantidas a liberdade e a concorrência numa sociedade baseada no contrato. Representante do povo para promulgar as leis que o povo quer, ele não pode, segundo julgo, contribuir para deformar a opinião pública, direcionando-a para rotas opostas aos verdadeiros interesses do povo.
(Publicado em "A Libertação", Parnaíba-PI, nos dias 14 e 19.11.1986)

Nenhum comentário:

Postar um comentário