sexta-feira, 8 de maio de 2009

115. Câmbio e Economia (continuação)


A sociedade existe porque a vida individual se torna muito melhor em sociedade, inclusive quanto à abundância de bens de consumo. Em sociedade, cada indivíduo pode consumir mais, isto é, pode viver melhor porque os produtos de consumo são mais abundantes. E há mais abundância porque cada indivíduo pode produzir mais. E a produção é maior, porque cada indivíduo pode dedicar-se à produção daquilo que produz com mais competência e eficiência.
O nível de vida, ou de riqueza, é medido pelo nível de consumo. Só há nível elevado de consumo, se há elevado nível de produção. E só há elevado nível de produção, se há elevado nível de especialização. E só pode haver especialização, se há troca, isto é, comércio, mercado. O consumo, o comércio, a produção, a especialização e o mercado são elementos característicos da sociedade humana atual, sobretudo da sociedade ocidental. Quanto maior o mercado, disse Adam Smith, maior a especialização, e, por isso, maiores a produção e o consumo, e mais elevado o nível de vida, isto é, mais rica a sociedade, a nação, o mundo.
Façamos uma digressão, porque atual. Adam Smith disse que a sociedade civil não se fulcra na caridade, isto é, no sentimento de compaixão, condescendência, simpatia ou amor. A sociedade se forma na base das vantagens que o indivíduo encontra na sociedade. A sociedade é condição para melhor vida individual. Cada um, procurando o seu interesse, acaba entendendo-se com as outras pessoas, e dá-se a harmonia de interesses. É a sociedade dos homens livres e responsáveis. É a sociedade dos infinitos contratos e consensos. É a sociedade orgânica, bem diferente da sociedade organizada e planejada, como disse Ludwig von Mises. A sociedade orgânica surge espontaneamente, controlada pelos encontros e desencontros dos interesses individuais, e a organização tem nela papel secundário tal qual a intervenção cirúrgica é empregada no processo imprescindível de corrigir anomalias do funcionamento biológico. A sociedade organizada segue seu planejamento que é sempre elaborado por uns poucos indivíduos e imposto à totalidade dos indivíduos, segundo o arbítrio dos planejadores, e indiferente aos gostos, humores e valores de cada indivíduo. A sociedade organizada é um convento ou um exército. Não é sociedade civil de indivíduos livres. A sociedade ocidental herdou da civilização grega o respeito ao indivíduo. Péricles, o notável líder da Idade de Ouro de Atenas, que constitui o núcleo original da civilização ocidental e a mais esplendorosa fase da História, disse para os seus concidadãos: “Somos ricos porque somos livres e somos livres porque somos ousados”. Os grandes exemplos históricos da sociedade organizada são a Alemanha nazista, a Itália fascista e a URSS. A respeito desta última, Gorbachev afirma que a sociedade russa não realizou o prometido ideal ético: é profundamente corrupta. Não realizou a prometida fraternidade: é caracteristicamente opressora, torturadora e sanguinária (os historiadores dizem que o que Stalin mais apreciava era descobrir um inimigo, planejar-lhe a morte, executar o plano e deitar na cama em seguida para dormir!). Não realizou o ideal igualitário: os líderes do partido comunista gozam de privilégios desconhecidos pela massa operária. Não realizou o ideal de sociedade trabalhadora: é praxe a ausência ao trabalho, e as longas escapadas diárias, durante o expediente de trabalho. Não proporcionou alto nível de vida para o povo: Gorbachev tenta convencer os líderes comunistas a produzir bens de consumo ao invés de armas. Não é uma sociedade leal: vive-se a hipocrisia da economia subterrânea. O povo russo é frustrado e deprimido, daí o difundido vício do alcoolismo tão combatido atualmente por Gorbachev. A Rússia corre o risco de se tornar definitivamente defasada em tecnologia em relação às economias ocidentais e ao Japão.

(continua)

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