quarta-feira, 20 de maio de 2009

126. Câmbio e Economia (continuação)


A desvalorização do dólar americano ocorre apesar de adotadas políticas restritivas fiscal e monetária que reduzem a inflação americana de 10% ao ano para 4% ao ano, embora continue gigantesco o déficit comercial. O déficit público é coberto pela gigantesca dívida pública americana, sempre mantendo nível de taxa de juros acima da vigente nos outros principais países em geral. Além disso, verifica-se a ocorrência de investimentos estrangeiros nos Estados Unidos, principalmente de origem árabe, japonesa e alemã, viabilizados pela desvalorização da moeda americana.
O que me parece mais importante ressaltar em todos esses fenômenos é que não é válido concluir-se que repentinamente a economia japonesa perdeu eficiência, ao passo que a americana se tenha tornado relativamente mais produtiva. Foi a procura americana por bens japoneses, que fez crescer a procura por iene. A procura derivada americana pela moeda japonesa encareceu o iene e, por conseqüência, tornou mais caros os produtos japoneses. A valorização do iene está reduzindo a capacidade de importar do americano à sua real capacidade de exportar. Essa restrição importadora americana só poderá ser aliviada via endividamento externo ou investimento estrangeiro. O combate aos déficits publico e de balanço de pagamento tem sido objeto de considerações de plataformas dos candidatos do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos.
O sistema de taxas flutuantes provoca, evidentemente, dissensos e atritos. É portanto natural que os governos tentem evitar o chamado sistema de taxas flutuantes limpo, onde as taxas cambiais são formadas pelas forças da oferta e da procura sem qualquer intervenção governamental corretiva, seja de que forma for. Os governos dos principais países desenvolvidos procuram obter um consenso de intervenção, de modo que se mantenha a oscilação das taxas de câmbio em nível aceitável pelos parceiros. Quando se aceita a intervenção reguladora do Estado, o sistema de taxas flutuantes é denominado sujo. Esses entendimentos têm sido secretos, e várias vezes têm sido obtidos nas reuniões do conhecido Clube dos Sete (Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Japão e Canadá).
As medidas consistem em oferta governamental de dólar americano, quando essa moeda valoriza demasiadamente, ou compra governamental do dólar americano, quando essa divisa se desvaloriza inconvenientemente. Essa é a fórmula clássica de intervenção no mercado de câmbio que respeita as forças da oferta e da procura, utilizando-as. Ao contrário do que ocorria no sistema de taxas fixas de câmbio, quando a solução do problema da escassez de divisas sempre competia ao governo do país que enfrentava a crise, agora o país que não passa pelo problema é convocado para colaborar na solução ou até mesmo arcar com o ônus total dele. Outro inconveniente da política cambial no sistema de taxas flutuantes sujo é que as soluções não apresentam aspecto de imparcialidade e generalidade como no sistema de taxas fixas. As medidas são adotadas sempre para certo prazo, mediante consensos de certa forma casuísticos, sujeitas a contínuas revisões e discussões.
O grande inconveniente é o sentimento de inconformidade e suspeita que faz nascer no ânimo dos agentes econômicos que atuam no mercado internacional e nos governantes dos diversos países. Constatamos que produtores e governo americano reclamam do protecionismo europeu e japonês de subsidiar exportações. Os japoneses reclamam do protecionismo europeu. Europeus e certos países periféricos reclamam do protecionismo e subsídios americanos. Esse ambiente, é claro, cria intranqüilidade e suspeita que são nocivas ao fluxo dos negócios. Já vimos que o desenvolvimento econômico exige clima de paz. A conseqüência natural é a redução do mercado internacional que, na visão da teoria econômica clássica, é prejudicial ao progresso de cada país e da sociedade humana.
(continua, palestra proferida no ano de 1988)

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