terça-feira, 12 de maio de 2009

119. Câmbio e Economia (continuação)


Retornemos ao mercado internacional de bens e serviços. Os consumidores estão procurando os bens e serviços que lhe convêm e dispõem-se a pagá-los segundo suas necessidades, isto é, conforme o valor que individualmente atribuem a cada produto. Sob tal pressão, os empresários demandam os fatores de produção e a tecnologia, de maneira que satisfaçam da forma mais adequada a vontade dos consumidores.
Mas, já vimos que os bens e serviços são produzidos em diversos países e os fatores de produção e a tecnologia estão disponíveis nos diversos países também. Ora, já observamos que a principal característica de uma nação é soberania. Entre os principais rituais e instrumentos da soberania achava-se a moeda. A moeda só existe porque existe troca de bens e porque a moeda facilita a troca de bens. O mundo sem a moeda seria muito diferente. Teria estagnado. Seria muito atrasado. A sociedade do escambo jamais seria rica como a sociedade monetarizada é. A moeda, agilizando as trocas e constituindo reserva de valor, promove a produção, a estocagem, as trocas e o consumo. Marx disse que as duas mais importantes descobertas foram a divisão do trabalho e a moeda. Mas, a moeda é por excelência um bem público. Ela não pertence primordialmente a uma pessoa ou a um grupo de pessoas. É um bem da sociedade e, por isso, pertence ao Estado. Podemos dizer que a moeda é a representação da economia nacional ou da riqueza nacional. País rico como os Estados Unidos e o Japão tem moeda forte, conversível e internacional. Pais pobre tem moeda fraca, inconversível e nacional. Ao estado compete fornecer a moeda boa para a sociedade, e, portanto preservá-la contra o desgaste da desvalorização e da valorização, isto é, a inflação e a deflação. O câmbio é, pois, conseqüência da internacionalidade do comércio e da nacionalidade das moedas. Só existe câmbio porque há várias moedas, e só existem várias moedas porque existem vários países. Nada obsta, porém, a que um dia, permanecendo a pluralidade dos países, se venha a instituir a moeda única no mundo. Nessa época, todavia, que se antevê remotíssima, muitos óbices deverão estar aplainados. Entre os pré-requisitos para a moeda única acha-se a mitigação do conceito de soberania. A moeda é, por excelência, instituição nacional que serve aos interesses dos indivíduos de uma nação mediante a garantia de seu valor dada pelo Estado, que obriga o seu curso no âmbito da nação, de modo que a troca de qualquer bem pelo metal ou papel monetário está sempre garantida, sendo irrecusável a quitação de qualquer dívida através do recebimento da moeda. Além disso, Irwing Fischer demonstrou no começo do século que a moeda é fator proeminente na promoção do desenvolvimento e na manutenção da estabilidade econômica que é condição necessária para o investimento que cria empregos, eleva a renda e causa a prosperidade. O aumento da moeda estimula o desenvolvimento que vem acompanhado da inflação. Quanto mais a economia se aproxima da fronteira da possibilidade de produção, o aumento da massa monetária provoca inflação através do desenvolvimento. O crescimento da massa monetária numa economia de pleno emprego, gera inflação, ao invés de desenvolvimento.

(continua, palestra pronunciada no ano de 1988)

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