sábado, 9 de maio de 2009

116. Câmbio e Economia (continuação)


Voltemos às trocas, ao comércio e ao mercado. Atenas foi rica, porque os cidadãos eram livres e comercializavam. Roma foi rica, porque comercializava. O início da Idade Moderna registrou notável expansão da riqueza, em virtude da ampliação do comércio, uma vez abertas as vias de transporte de mercadorias dos novos mundos recém-descobertos. A ampliação dos mercados viabilizou a revolução industrial, o ápice do sistema capitalista que é a produção em massa para a massa. É a democratização da economia. É a produção, segundo os gostos e caprichos da massa consumidora. É o consumidor que comanda a produção. Ele fecha a fábrica ou lhe promove o desenvolvimento. Quanto maior o mercado, maior a variedade, maior a especialização.
O mercado, pois, tende para a internacionalização e exige a paz como condição. Nada há mais oposto à mentalidade do comerciante que a guerra, disse o grande filósofo Emanuel Kant. O comércio é um contrato. O contrato é um consenso entre indivíduos livres. E indivíduos livres só entram em consenso quando há vantagens mútuas. Pensar que a essência do comércio consiste em que um ganha e outro perde é ilogismo. A lei do comércio é o ganho mútuo. É ingenuidade supor que a lei do comércio é o enriquecimento de uns às custas do empobrecimento de outros. O comércio existe para que todos ganhem. As perdas são acidentes de percurso, são exceções. A riqueza de poucos não se acumula com a pobreza de muitos. A História mostra que o mundo marchou e marcha rumo a nível sempre mais elevado de vida, através do mercado.
Nos primórdios da humanidade havia famílias, clãs e povos. Não havia ou havia pouco comércio. Vieram depois alguns impérios e as cidades-estados, com razoável comércio. Vieram em seguida os feudos, com grande redução do comércio. Surgiram então as nações com economia sob regime mercantilista. A economia mercantilista é a economia dominada pelos equívocos e preconceitos da política nacionalista. Richelieu, Mazzarini e Colbert pretenderam conduzir a França ao status da mais rica e poderosa nação do mundo. Mas a França foi suplantada pela Inglaterra que professou o liberalismo econômico. O “A Riqueza das Nações” foi escrito por Adam Smith exatamente para esclarecer que o mercantilismo, o protecionismo e o nacionalismo, ao invés de tornarem mais ricas as nações, fazem-nas menos ricas ou mais pobres. As nações e o nacionalismo são fenômenos da história recente. Como nada no mundo é permanente e tudo se submete à lei da transformação, nação e nacionalismo têm sofrido modificações, sendo que ultimamente o continente europeu, onde nasceram a nação e o nacionalismo, evolui para um realidade estatal supranacional, em decorrência de várias condicionantes, entre as quais se situa a de natureza econômica.

(continua, publicado no ano de 1988)

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