quarta-feira, 9 de agosto de 2017

389.Uma Vida Sem Questionamentos Não Vale a Pena Ser Vivida


Sabemos que Sócrates nada escreveu. Nem lhe interessava escrever coisa alguma. Infere-se o pensamento de Sócrates daquilo que seus discípulos, sobretudo Platão, deixaram escrito como sendo a doutrina socrática. Assim mesmo, não é tarefa fácil distinguir, nos escritos de Platão, o pensamento do mestre das ideias do genial discípulo. Admite-se que o pensamento socrático se acha, sobretudo, nos primeiros diálogos escritos por Platão, entre eles a Apologia.

A Apologia é o discurso que Platão escreveu como sendo o que Sócrates proferiu em sua defesa no julgamento da denúncia de perversão da juventude ateniense, que lhe fizeram, através do ensino da inexistência dos deuses da Mitologia Grega.

A defesa de Sócrates consistiu em afirmar que, diante do que professara em sua vida e as pessoas dele afirmavam, não existia opção naquele julgamento. Não podia fugir, nem suplicar clemência, nem comutação da pena de morte. Cabia-lhe unicamente transformar aquele julgamento no julgamento de sua vida e de suas ideias: “...digo que o maior bem para um homem é justamente este, falar todos os dias sobre a virtude e os outros argumentos sobre os quais me ouvistes raciocinar, questionando a mim mesmo e aos outros, e, que UMA VIDA SEM ESSE QUESTIONAMENTO  NÃO É DIGNA DE SER VIVIDA...”

Os primeiros filósofos ocuparam-se em explicar a Natureza. Os Sofistas, percebendo que a explicação da Natureza é uma atividade mental do Homem, concentraram sua pesquisa no Homem.
Sócrates, discípulo de sofistas, entendia que o conhecimento é um processo racional. O conhecimento racional, pois, é a atividade própria, distintiva, específica do Homem. A perfeição – a reunião de todas as qualidades concebíveis, o máximo de excelência a que uma coisa pode chegar – do homem, pois, consiste na conduta racional. A conduta racional é, portanto, a conduta virtuosa, isto é, adequada para que produza os efeitos certos, corretos, eficazes. O homem racional é o homem íntegro, honesto, digno.

Essa revelação Apolo lhe fizera, naquela peregrinação a Delfos: Somente Deus sabe, o homem nada sabe; o homem é apenas um ser racional. Essa missão o deus, então, lhe confiara: o uso contínuo da racionalidade e promover entre os homens o uso da racionalidade. A perfeição humana consiste em conduzir-se sempre com racionalidade. O homem racional é o homem virtuoso, perfeito, excelente, digno. Uma vida sem questionamentos não vale a pena ser vivida.

O tribunal de Atenas não aprovou o pensamento de Sócrates. Ele se submeteu à pena de morte imposta pela Cidade e sorveu a cicuta, o veneno mortífero. A Civilização contemporânea, todavia, extrai todo o seu dinamismo dessa filosofia socrática: a racionalidade é a característica da humanidade. A racionalidade é o instrumento característico e mais poderoso do indivíduo humano. A racionalidade é processo, é questionamento. Todo o bloco econômico da cultura (a agricultura, a mineração, o comércio, a indústria, os serviços, o transporte, as comunicações etc.), todo o bloco político da cultura (a organização do comando social), todo o bloco ético e jurídico da cultura (a organização da conduta e do relacionamento entre as pessoas) e todo o bloco das atividades científicas e artísticas da humanidade estão atualmente baseados nesta ideologia socrática e por ela são dinamizados.

Uma vida sem questionamentos não é digna de ser vivida.  





Um comentário:

  1. Caríssimo amigo Edgardo,

    Gostaria de ter o seu endereço eletrônico pessoal, a fim de enviar-lhe anexos, quando de interesse.

    O meu endereço é azarizanella@gmail.com

    Forte abraço.

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