terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

484.A Marucha, Nos Seus 70 Anos



            Felicito-a hoje, no dia dos seus setenta anos, tomando emprestadas as produções de alguns poetas famosos.

            Inicio, utilizando-me de uma poesia de Olavo Bilac, dizendo-lhe que para mim nada existe de mais grandioso na face da Terra, que o amor entre o Homem e a Mulher, e isso é tão impressionante que na primeira lenda bíblica, a da criação, no Gênesis, elaborada há uns cinco mil anos, lá está, veja só, que Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, macho e fêmea o criou, isto é, o Amor é a Criação, o Amor é Tudo, o Amor é o Universo.

Criação
Olavo Bilac

Há no amor um momento de grandeza,
Que é de inconsciência e de êxtase bendito:
Os dois corpos são toda a Natureza,
As duas almas são todo o Infinito.

É um mistério de força e de surpresa!
Estala o coração da terra, aflito;
Rasga-se em luz fecunda a esfera acesa,
E de todos os astros rompe um grito.

Deus transmite o seu hálito aos amantes:
Cada beijo é a sanção dos Sete Dias,
E a Gênese fulgura em cada abraço;

Porque, entre as duas bocas soluçantes,
Rola todo o Universo, em harmonias
E em glorificações, enchendo o espaço!

            Assim, folgo em renovar hoje, no dia que completa 70 anos, através de lindos versos do poeta do amor, o grande Vinicius de Moraes, a confissão que lhe fiz, perante a sociedade e o Estado, há cinqüenta e um anos, numa radiosa manhã da cidade de São Luís do Maranhão, na igreja de Nossa Senhora dos Remédios :

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, ...,
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
(Soneto do Amor Total)




Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.
(Soneto de Contrição)

Eu sem você
Não tenho porquê
Porque sem você
Não sei nem chorar
Sou chama sem luz
Jardim sem luar
Luar sem amor
Amor sem se dar

Eu sem você
Sou só desamor
Um barco sem mar
Um campo sem flor
Tristeza que vai
Tristeza que vem
Sem você, meu amor, eu não sou ninguém.
(Samba em Prelúdio)

Vai tua vida
Teu caminho ê de paz e amor
Ah, tua vida
É uma linda canção de amor.

Abre teus braços e canta
A última esperança
Esperança divina
De amar em paz.

Se todos fossem iguais a você
Que maravilha viver
Uma canção pelo ar
Uma mulher a cantar
Uma cidade a cantar
A sorrir, a cantar, a pedir
A beleza de amar

Como o sol
Como a flor
Como a luz

Amar sem mentir
Nem sofrer
Existiria a verdade
Verdade que ninguém vê

Se todos fossem no mundo
Iguais a você.
(Se todos fossem no mundo iguais a você)

            Mesmo assim, não me furtarei a tomar de empréstimo versos de Luís de Camões, porque, na minha opinião, ninguém soube como ele expressar a intensidade de um amor humano:

I
Julga-me a gente toda por perdido,
vendo-me, tão entregue a meu cuidado,
andar sempre dos homens apartado,
e dos tratos humanos esquecido.

Mas eu, que tenho o mundo conhecido,
e quase que sobre ele ando dobrado,
tenho por baixo, rústico, enganado,
quem não é com meu mal engrandecido.

Vão revolvendo a terra, o mar e o vento,
busquem riquezas, honras, a outra gente,
vencendo ferro, fogo, frio e calma;

que eu só em humilde estado me contento,
de trazer esculpido eternamente
vosso fermoso gesto dentro n'alma.

II
Olhos fermosos, em quem quis Natura
mostrar do seu poder altos sinais,
se quiserdes saber quanto possais,
vede-me a mim, que sou vossa feitura.

Pintada em mim se vê vossa figura,
no que eu padeço retratada estais;
que, se eu passo tormentos desiguais,
muito mais pode vossa fermosura.

De mim não quero mais que o meu desejo:
ser vosso; e só de ser vosso me arreio,
porque o vosso penhor em mim se assele.

Não me lembro de mim quando vos vejo,
nem do mundo; e não erro, porque creio,
que, em lembrar-me de vós, cumpro com ele

III

Quando da bela vista e doce riso,
tomando estão meus olhos mantimento,
tão enlevado sinto o pensamento
que me faz ver na terra o Paraíso.

Tanto do bem humano estou diviso,
que qualquer outro bem julgo por vento;
assi, que em caso tal, segundo sento,
assaz de pouco faz quem perde o siso.

Em vos louvar, Senhora, não me fundo,
porque quem vossas cousas claro sente,
sentirá que não pode merecê-las.

Que de tanta estranheza sois ao mundo,
que não é de estranhar, Dama excelente,
que quem vos fez, fizesse Céu e estrelas.

            Encerro esta confissão, valendo-me de versos de Cora Coralina, para afirmar-lhe que, de fato, não me atraiu o fascínio de realizações que me tornassem célebre na história de nossa sociedade, embora, sem dúvida, fui celebridade em minha época, você sabe, inclusive com retrato exibido com honra pelo Eximbank dos Estados Unidos na revista comemorativa do seu cinqüentenário. Meus planos sempre se concentraram na nossa vida familiar. E, por isso, você verá abaixo, concluo com versos de Fernando Pessoa, onde o grande poeta sintetiza notável visão da existência humana, fecunda em.revérberos de felicidade.
NÃO SEI...

Não sei... se a vida é curta...
Não sei...
Não sei...

se a vida é curta
ou longa demais para nós.

Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura...
enquanto durar.
         Cora Coralina

Ah, o mundo é quanto nós trazemos.
Existe tudo porque existo. Há porque vemos.
E tudo é isto, tudo é isto!
                                   Fernando Pessoa


Afinal, essa visão nos induz a pensar como Renan (O homem não se improvisa) e mais recentemente repetiu Sartre em pensamento mais afortunado (Tudo existe, mas o Homem, ele constrói a sua própria essência!). O que outros de forma mais vulgar também expressam, quando afirmam que a felicidade é o processo existencial, é a viagem, não é o destino!

Um beijo de quem muito a admira e ama


NOTA.- Composição produzida para comemorar os 70 anos de aniversário natalício, então completados por minha mulher.

           













Nenhum comentário:

Postar um comentário