Malthus
dedica o capítulo XVII do Ensaio Sobre a População para afirmar que acata a
definição de Adam Smith para a riqueza de uma nação (o produto per capita), mas
que isso não significa que, numa nação rica, a classe dos trabalhadores sempre
se ache numa situação de conforto. Ele admite que somente em determinadas
ocasiões, quando acontece aumento vigoroso da produção primária, e pelo curto
período de reação aumentativa da população bem nutrida, a classe trabalhadora
frui de situação de vida melhorada. Por
isso, advoga que o Estado adote política de incentivo à produção agrícola.
O
próprio Malthus, portanto, confessa sua ideologia econômica capitalista. Ele
figura entre os economistas da Escola Clássica. A definição de riqueza de Adam
Smith implica que a riqueza de uma
nação está na razão direta da produtividade do trabalho e na razão inversa do
tamanho da população. Malthus foca esse relacionamento inverso, ideia dos
rendimentos decrescentes, que tende a manter a classe trabalhadora no nível de
renda de subsistência, bem como, na crítica a Godwin, arguía a ocorrência do
desemprego como consequência do acúmulo excessivo de poupança.
A
contribuição do pensamento malthusiano para a teoria econômica, relegada por
décadas para os locais menos iluminados do palco da ciência econômica, granjeou localização de relevância básica na
revolução keynesiana (poupança excessiva provoca a depressão e o desemprego).
Por sua vez, o crescimento fabuloso da produção de bens primários, graças ao
aumento prodigioso da produtividade proporcionado pela alta tecnologia descoberta
e adotada nos procedimentos trabalhistas, nos tempos modernos se mostra incapaz
de proporcionar, como previa Malthus, a abundância de bens que alimente
satisfatoriamente toda a humanidade. Muito ao contrário, vasta porção da
população mundial vive hoje no nível da pobreza, o maior e mais importante
problema social, econômico e político do tempo presente.
Entre
os grandes nomes históricos que analisaram o problema da fome, a História registra
o nome do brasileiro paraibano Josué de Castro, que em meado do século passado
escreveu dois mundialmente célebres livros sobre a fome, Geografia da Fome e
Geopolítica da Fome. A miséria, a insuficiência de meios de subsistência, a
fome, a pobreza continua sendo um problema para vasta camada da população
mundial, e hoje faz ela deslocar-se por vastas distâncias internacionais e
intercontinentais, arrostando os mais tenebrosos perigos de morte, para
adentrar os paraísos terrestres do bem estar social da Europa e dos Estados
Unidos, que lhe são politicamente vedados.
Por
fim, entendo que a própria ONU, criando o Índice de Felicidade Nacional, adotou
e aperfeiçoou a ideia daquela discrepância que afastava Malthus de Smith: a
riqueza de uma nação não se confunde com a riqueza da totalidade de sua
população. Assim uma Nação realmente rica, isto é, com sua população usufruindo
de nível digno de subsistência, a ONU não identifica simplesmente aplicando o
critério do PIB per capita. O IFM, o
Índice de Felicidade Nacional agrega ao PIB per capita, a menor discrepância
entre a dimensão patrimonial dos indivíduos, a universalidade e altura do nível
de instrução, a universalidade e
qualidade da assistência à saúde, a universalidade e qualidade da previdência
social, o nível de sustentabilidade da atividade econômica e outros índices de
condicionamentos do bem estar social. A riqueza de uma nação é a abundância dos
bens cuja fruição faz a felicidade de todos os indivíduos, o ideal epicurista
da vida boa, sem dor no corpo e sem angústia na alma.
Embora
Malthus, na minha opinião, em razão de sua oposição à “Caixa de Pensão e
Poupança” de Condorcet, não possa ser considerado um precursor do Estado do Bem
Estar Social, é claro que ele não considerava rica uma sociedade com a maioria
da população no nível da subsistência, a classe dos trabalhadores, embora rica
fosse a Nação, isto é, o erário, no seu tempo , o rei. No mundo atual, todavia, nação alguma pode
reputar-se rica, sem que rica igualmente seja a sua população, sem nichos onde
impere a desgraça da miséria.
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