sábado, 22 de dezembro de 2018

426. Mudaremos (Exposição feita no almoço da AAFBB, de novembro/2008)



Na primeira quarta-feira deste mês, no almoço da AAPBB, o nosso estimado colega, ex-presidente do Banco do Brasil, o Cagliari, fez uma palestra, expondo o temor de que essa instituição venha a desaparecer tal qual ela é, instrumento governamental de progresso nacional. Desenvolveu a idéia de que as associações de funcionários e aposentados do Banco têm interesse na continuação do Banco tal qual ele foi, pilar necessário de desenvolvimento econômico e social do País. Conclamou, por isso, todas as associações de funcionários e ex-funcionários do Banco a que se unissem em torno daquela instituição. Isso seria bom para o Banco, para o País, para as associações, para os funcionários, para os aposentados e para os pensionistas. Colocou o assunto em debate pela assistência.
Expus meu pensamento naquela ocasião. Disse que a mudança é a inexorável Lei do Universo: Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. O Banco mudou. O Brasil mudou. Nós mudamos. E como mudamos!
Nós tínhamos, portanto, que aceitar a realidade, o Banco Comercial, e construir essa mudança do Banco e nossa, dos aposentados e pensionistas. Eu entendia que a resplendorosa mudança do Banco consistiria na mudança das pessoas, dos funcionários, dos aposentados e dos pensionistas. Essa transformação trará qualidade para o Banco, qualidade de que a sociedade brasileira não quererá prescindir. E, assim, o Banco  continuará, mudado.
Por quê? Porque o Banco do Brasil de fato são as pessoas, os acionistas, os funcionários e (por que não?) os aposentados e os pensionistas. Porque o que de fato existe é o que está na minha cabeça. Só na minha cabeça existe a luz, as cores, os sons, a música, a festa, o prazer, o sofrimento, a tristeza, o triunfo, a derrota, o amor, o ódio, a amizade, o companheirismo, a traição, a moral, a ética, os interesses, a família e a sociedade. Ai! Os interesses, os que agregam e os que desagregam! Fora de minha cabeça, diz a ciência, tudo é escuridão e silêncio.
Vamos refletir um pouco. Poucas coisas há tão importantes quanto as leis, a Constituição e os códigos. O que são as Leis! São os livros que os juízes consultam? Não. Aqueles livros são celulose borrada de tinta, são troncos de árvores manchados de produto químico líquido. Os cientistas dirão: são átomos, são gigantescos vazios onde coexistem bilhões de minúsculos, invisíveis sistemas planetários! As leis serão isso mesmo? Não, as leis não são os livros. As leis só existem na minha cabeça, na cabeça dos juízes, na cabeça de vocês, na cabeça das pessoas. É nas cabeças que se acham as leis e os julgamentos.
O que isso significa? Significa que a única coisa importante é o indivíduo humano, o povo. Os hinos nacionais pretendem lembrar-nos o que é importante em nossa pátria. Geralmente eles exaltam a riqueza de recursos naturais e o destemor na defesa da soberania nacional: Gigante pela própria natureza, és belo, és forte, impávido colosso... Mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta...  O hino da Finlândia, porém, exalta precisamente o seu povo: somos um país pobre, que não tem ouro. O recurso que temos é o nosso povo. E esse país pobre, sem recursos materiais, que importa toda a matéria-prima e alimento que necessita é, pelo índice de desenvolvimento humano, o décimo-primeiro mais desenvolvido país do mundo, no conjunto de cento e noventa e cinco países. A Finlândia, de fato, tem Homens, melhor dito, a Finlândia é composta de Homens, de cérebros, de cabeças.
O judaísmo diz: quem faz as pessoas honestas e desonestas é a Lei, quem cumpre a Lei é honesto, quem não a cumpre é desonesto. Quem cumpre a Lei, Deus abençoa; quem a descumpre, Deus mata. Jesus Cristo discordou e, por isso, morreu como um bandido na cruz: quem faz o homem honesto ou desonesto não é a Lei, mas a mente de cada pessoa, o espírito de Deus, dizia ele. O homem que se enxerga livre e igual aos demais não precisa de lei, nem de Estado, repetiram (vejam só!) os Anarquistas do século XIX, isto é, quase dois mil anos depois de Jesus Cristo.
Transponhamos tudo isso para a nossa realidade, isto é, Banco do Brasil, PREVI, CASSI, AAFBB, ANAB, AAPBB. O Banco do Brasil fomos nós. O Banco do Brasil é, no presente, os acionistas e os funcionários da ativa. A PREVI e a CASSI somos nós, os que nos acomodamos. Mas, nós podemos e precisamos mudar. Tudo isso mudará, o Banco do Brasil, a PREVI e a CASSI. Nós os mudaremos, quando as nossas cabeças mudarem.
Num artigo sobre a CASSI, que redigi em setembro, eu ressaltava as atitudes paradoxais do Banco do Brasil. Obrigou-me em 1958 a ingressar na CASSI, ainda que o próprio Banco mantivesse assistência médica própria para os funcionários. Cinqüenta anos depois, tergiversava em regularizar as contas da CASSI que as próprias negaças do Banco, afirmavam alguns entendidos, haviam levado ao desequilíbrio.
E agora eu fico refletindo lá, na minha cabeça. Toda essa celeuma sobre distribuição de superávits só existiu, em grande parte, porque os diretores da PREVI, o Banco do Brasil e o Governo quiseram. Vejam bem. A correção anual tanto dos nossos benefícios quanto das reservas matemáticas é feita anualmente pelo mais baixo índice de inflação. É evidente que ele é insuficiente, não reflete a nossa inflação. A cada ano nós, os aposentados e pensionistas, ficamos mais pobres. A cada ano, a conta de reservas matemáticas fica mais deprimida. A cada ano, todavia, a PREVI gera mais superávits. E a expectativa de vida? Está ela, de fato, compatível com a realidade dos aposentados e viúvas?
Quem ganha com essa política financeira? Os administradores da PREVI, o Banco do Brasil, os acionistas do Banco do Brasil e o Governo. Quem perde? A PREVI e nós, os associados, os aposentados e os pensionistas. Isso não precisa de explicação. Se o índice de reajuste anual fosse o da verdadeira inflação, os superávits seriam muito mais reduzidos. Os associados estariam satisfeitos e o mal-estar entre as partes interessadas seria muito menor. A repartição de grande parte do indigitado superávit teria sido automática. Haveria muito menos a repartir. E tudo seria muito mais justo, mais ético, mais técnico e mais prudente.
Nós estamos situados em uma esquina da História. Ou seguimos o modelo atual (o da economia hegemônica, o da riqueza autônoma) e desapareceremos, os indivíduos e a espécie humana, ou dobraremos a esquina e sobreviveremos numa sociedade bem diferente da atual (o da economia humanista, o da economia ética). Há mais de setenta anos, Franklin Delano Roosevelt afirmou: "Nós sempre soubemos que o interesse impróprio insensato era moralmente ruim; agora nós sabemos que é economicamente ruim". Os governantes das vinte mais ricas nações do mundo acabam de reunir-se em Washington para resolver a maior crise econômica já experimentada pela Humanidade. Entre as medidas aprovadas está a da moralização da atividade financeira global: transparência e integridade (isto é, moralidade) nos negócios financeiros e remuneração comedida dos executivos.
Vejam como era a farra dos executivos. Há dois anos, uma das dez maiores firmas norte-americanas faliu pouco depois de seu presidente, o responsável pela desastrosa administração, aposentar-se recebendo gigantesca participação acionária na empresa, além de um palácio na Califórnia, outro na Flórida e um castelo na Alemanha, e mais uns trocados para manter e acrescer todo esse patrimônio. Agora mesmo, o presidente de outra prestigiadíssima instituição financeira, o mais fabuloso prestidigitador das finanças no mundo atual, o Midas moderno das finanças, ganhava fábulas de dinheiro para edulcorar produtos servidos à elite dos investidores globais, numa manipulação tão ultra-realista que quebrou a maior empresa financeira norte-americana, e levou de roldão o sistema financeiro mundial.
Esta é a mais importante esquina da História, mais importante que a esquina da Era Agrícola, que a esquina da Era Cristã, que a esquina da Era Renascentista, que a esquina da Era Industrial. Estamos vivendo a esquina crucial da Humanidade: ou ela segue reto e se extingue, ou dobra a esquina e a novidade salva-la-á.
Quero acreditar na sensatez humana. A Mente não existe para a Verdade. A Mente existe para a sobrevivência. A verdade científica nada mais é que modelos bem construídos pela Mente, para que a Humanidade se equipe de instrumentos mais eficazes para prolongar a sobrevivência. Modelos temporários, que se sucedem, ao sabor do apetite do deus Cronos.
Um dia no futuro, os nossos descendentes, se decidirmos dobrar a esquina do Tempo, contemplarão a nossa era presente, como uma daquelas épocas de loucura. E eles contempla-la-ão com certo espanto, porque terão dificuldade para entender que se possa dar mais valor ao econômico do que à vida, que o lucro seja valor superior à saúde. Terão dificuldade para entender que se acolha sem inconformismo a decisão de canalizar recursos de entidades sem fins lucrativos para sociedades com fins lucrativos. Jamais imaginei em minha vida assistir, justamente após o final do século do Estado do Bem-estar Social, à opção pelo lucro do capital, numa alternativa esquisita com o direito de propriedade da velhice.
Até que os fatos não parecem tão estranhos assim, já que tudo isso que acontece se deve ao espírito da época da globalização, comandada pela busca desenfreada do maior lucro, onde ele estiver, produzido pelo menor nível de salário!... Mesmo que seja às custas dos empregos no país de origem do capital! Pobre Barack Obama!


2 comentários:

  1. Palmas para essa parte do artigo, sr. Edgardo: "Quem ganha com essa política financeira ? Os administradores da Previ, o Banco do Brasil, os acionistas do Banco do Brasil e o Governo. Quem perde ? A Previ e nos , os associados, os aposentados e os pensionistas ...". Acrescento ao ganho dos administradores o Bônus (renomeado) e ao ganho do Banco a indevida meação no superávit.
    Feliz Natal e prospero ano novo.

    ResponderExcluir
  2. José Carlos,
    Como você e a LEI, penso que nós, os Participantes, somos os únicos que devemos ganhar!
    Edgardo

    ResponderExcluir