terça-feira, 23 de julho de 2019

457. Os Sinos Ainda Dobram Por Alexandre


Quando recebi a notícia do falecimento de Alexandre, fiquei tão triste que senti a necessidade de isolar-me. Não tinha o que dizer para ninguém. Eu gostava da companhia dele, de conversar com ele, de jogar conversa fora, conversa fiada. Poucos dias antes, no telefone, ele tentara, veja só!, convencer-me de que o Vasco iria evitar o rebaixamento. O Vasco era um dos assuntos inevitáveis em nossos encontros. Marucha me contou que ele não se separou das recordações do Vasco.

O retraimento foi reação irracional, porque, afinal de contas, neste momento o que devemos fazer é estar presente para transmitir solidariedade. E para isso o instrumento de que dispomos é a palavra.

Faço parte do mundo. A morte também faz parte do mundo. Mas, o falecimento do Alexandre me espreme o coração e o sumo da tristeza sobe pela garganta e atinge a vista sob a forma de lágrimas. Os passos de Alexandre deixaram marcas na minha vida, as marcas da convivência amiga de quarenta anos.

Vultos famosos da literatura antiga deixaram pensamentos altamente depreciativos a respeito da vida. Chegaram mesmo a afirmar ser preferível não nascer a nascer. O faustoso rei francês, Luís XV, afirmou no fim da vida: nada vale a pena. De fato, o bom da vida é simplesmente viver. O mesmo tipo de existência para um é felicidade, para outro é infelicidade. Alguém afirmou que o nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado: nele se encontram todos os segredos, inclusive o da felicidade.

De fato, se bem examinarmos, o que realmente existe de valor é fabricado pela nossa mente. Fora da mente humana, só existe escuridão e silêncio. Tudo o que vale a pena é fabricado pela nossa mente: a luz, as cores, o som, as palavras, a música, as sensações, os sentimentos e os pensamentos, sobretudo isto, o significado. Tem razão, pois, quem disse que a felicidade depende de nosso pensamento. E entre esses produtos maravilhosos da mente encontra-se a amizade, prazerosa convivência entre indivíduos humanos, maravilhoso produto da mente humana. A amizade é uma das maiores fontes de felicidade.    

A respeito de Alexandre, mais do que ninguém, você, R... e L... darão razão a quem disse: o homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de amar. Alexandre sempre viverá no coração de vocês e dos amigos. E vocês três e os amigos dele entenderão a frase de Carlos Drumond de Andrade: Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força jamais o resgata!

Você, prima querida, a respeito de Alexandre repetirá a frase soberba de Carlos Drumond de Andrade: Difícil é sentir a energia transmitida, aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa. E essa corrente elétrica manteve vocês dois unidos durante várias décadas, porque vocês souberam  mais que juntar anos à vida, acrescentar vida aos anos. Tenho certeza, prima, de que soubemos, ao longo dos anos, antes de sua ausência definitiva, expressar-lhe por gestos e atitudes o que lhe queríamos dizer, o quanto nos interessava dizer o que dessa forma lhe dissemos tantas vezes, isto é, quão preciosa para nós era a sua amizade tranqüila, cheia de mineirice.

Por tudo isso, como disse Carlos Drumond de Andrade, difícil é dizer adeus. Especialmente, quando esse adeus se estende por tempo tão indefinido que nos enche de saudade, a falta que fica ali instigantemente presente.














           

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