Meu amigo
Desconhecia esse economista Ha-Joon Chang até
muito recentemente. Deparei-me com o livro dele, “23 Coisas que não nos
contaram sobre o Capitalismo”, há meses, na livraria Saraiva e assisti na
televisão recentemente à entrevista dele a um repórter da televisão Globo,
muito interessante, exatamente sobre esse livro, de cujo resumo você nos
faz esse precioso presente, que lerei detidamente. Espero que sempre me
faça compartilhar o que considerar mereça a nossa reflexão nesses assuntos
econômicos.
As considerações que farei a respeito e, à
medida que nelas avançar lhas comunicarei, NÃO SÃO REFUTAÇÕES (quem
sou eu?!). São mero aprimoramento de meus conhecimentos. O conhecimento se
aperfeiçoa no contraditório. A maiêutica de Sócrates, adotada pelos discípulos
Platão e Aristóteles, e pelo maior filósofo da Escolástica,
Tomaz de Aquino, era o contraditório. A Ciência, a modalidade de conhecimento
mais conceituada nos tempos modernos, não é um conhecimento individualista. É
um conhecimento COMUNITÁRIO, melhor, é um esforço da
HUMANIDADE, é um CONHECIMENTO DA HUMANIDADE.
Neste primeiro momento, detenho-me sobre a primeira
lição do livro de Mestre Há-Joon Chang:
"Pág.21: “Não existe algo como um
livre mercado.
“O que eles dizem:
“Os mercados precisam ser livres. ...As pessoas
precisam ser deixadas ‘livres para escolher’, como sugere o título do
famoso livro, Capitalism and Freedom (Capitalismo e Liberdade), de
Milton Friedman, visionário do livre mercado.”...
“O que eles não dizem:
“O livre mercado não existe. Todo mercado tem
algumas regras e limites que restringem a liberdade de escolha. O mercado só
parece livre..."
O Dr. Ha-Joon Chang, mestre da Universidade de
Cambridge, é, por isso mesmo, um SÁBIO. Ele tem conhecimento do que é ser
LIVRE. Liberdade não significa sem lei, sem regras, sem normas. Basta nos
juntarmos, dois seres humanos, e as normas de comportamento logo surgirão,
porque, do contrário, haverá GUERRA. Estou convencido de que ele tem
conhecimento da famosa expressão de Péricles em seu famoso discurso aos
atenienses: "Somos livres porque nos regemos por leis que nós mesmos
estabelecemos por consenso, e não pela vontade de outro homem." Ser
livre não significa sem lei, significa não se submeter à vontade de
outrem, autogovernar-se, ser autônomo, conviver consensualmente.
Veja como o Minivocabulário Econômico-
Financeiro define Mercado: Local determinado, onde compradores e vendedores se
encontram para o exercício de suas transações comerciais. Em sentido amplo, o
conjunto de NORMAS e costumes aplicados nas transações entre comprador e
vendedor (mercado em geral de bens e serviços), vendedor e investidor (títulos
e valores imobiliários). Conjunto de relações de demanda e oferta de bens e
serviços.
Por sinal, esse Minivocabulário desconhece o termo
MERCADO LIVRE. Ele define o MERCADO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA, a saber, o que
tem grande número de empresas e grande número de compradores, SEM QUALQUER
OBSTÁCULO PARA INGRESSO OU SAÍDA DA EMPRESA QUE ASSIM DESEJAR e, pela
similidade dos produtos fabricados, não se estabelece maior preferência entre
os consumidores. OS PREÇOS SÃO LIVRES, DITADOS PELO MERCADO, já que toda
empresa produz pequena quantidade do produto, não possuindo força para impor-se
ao todo.
Também Paul Krugman, em seu texto de
Economia, desconhece o termo MERCADO LIVRE. Ele distingue a ECONOMIA DE
MERCADO e a ECONOMIA DE COMANDO. Aquela é a economia em que a
produção e o consumo são o resultado de decisões descentralizadas das empresas
e dos indivíduos. Não há autoridade central dizendo às pessoas o que produzir e
para onde transportar. Cada produtor individual faz o que acredita ser mais
lucrativo; cada consumidor compra o que escolhe. Já a economia de comando tem
uma autoridade central tomando decisões sobre produção e consumo. Diz ele que
aquela existe nos Estados Unidos e cita o exemplo da Rodovia 1 de Nova Jersey,
onde vendedores e compradores regurgitam. E que a segunda existiu na União
Soviética, onde os pontos de venda se apresentavam desabastecidos ou com
produtos que desgostavam aos clientes.
Não sei se o Dr. Chang tem FATOS para negar essas
afirmações de Paul Krugman. Da minha parte, passo a descrever um fato da minha
vida de Gerente da Carteira de Câmbio do Banco do Brasil na década de 70. Era
por volta de meio-dia e entra no meu gabinete um funcionário da Iugoslávia, uma
das repúblicas socialistas soviéticas, que viera ao Brasil para entregar os
vagões ferroviários que o Brasil comprara para a Central do Brasil. Convida-me
para almoçar com ele no Restaurante do Clube Português (restaurante chique de
capitalista...). Lá fomos. Sabe qual foi a conversa? Quantos quilos de feijão e
arroz lhe são permitidos comprar por mês? Qual é a localização e
a dimensão do apartamento em que um cidadão da sua posição de trabalho
pode habitar? Sinceramente acho que não é esse o estilo de vida do
Dr. Chang...
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