Em primeiro
lugar, não acho que o bem e o mal, que nos sucedem, sejam obras de um Deus. A
Terra é nada entre cem bilhões só de estrelas, que compõem esta galáxia que é a
Via Láctea. Imagine o que é a Terra, se comparada com os cem bilhões de cem
bilhões só de estrelas, que existem no Universo! Todos os dias astros como a
Terra aparecem e desaparecem. Alguém já disse: Deus é silêncio. O Homem é o
grito. O som só existe em nossa mente. É fabricação nossa. Fora de nós,
só existe o estímulo que faz nossa mente fabricar o som, a saber, a vibração,
apenas a vibração do ar. Assim, também poderíamos dizer: Deus é a treva. O Homem é a luz.
A luz só existe em nossa mente. Fora de nós, só existe a vibração, isto é, a
onda eletromagnética que estimula nossa mente a produzir a luz e as cores.
Nenhum argumento,
que eu e você tantas vezes ouvimos na vida, para provar a existência de Deus, é
absolutamente convincente. Um exemplo: o argumento da perfeição do Universo, o
mais utilizado e o mais impactante. Você acha mesmo que o Universo é uma
máquina perfeitíssima? Considere só os distúrbios que são as tempestades e as
enchentes que todos os dias varrem a Terra espalhando desgraça e desespero sem
conta. Reflita sobre as desgraças que os vendavais e as correntezas d’água
desenfreadas espalham! Pondere sobre os desastres e as doenças que ceifam vidas
a cada instante. O sofrimento das mães, das crianças, dos inocentes, as injustiças,
o triunfo dos perversos, enfim, o sofrimento da Humanidade! Atente para as
explosões de estrelas e entrechoques de galáxias que ocorrem no Universo! Mas,
admitamos que o Universo seja uma máquina perfeitíssima. Por que ela tem que
ser feita por uma Inteligência Perfeitíssima?
Neste planeta
Terra, só a inteligência humana produz máquina. O Universo é uma máquina
perfeitíssima. Logo, o Universo foi produzido por uma inteligência
perfeitíssima. Este argumento tem uma premissa que não é evidente nem está
comprovada, a saber, se os objetos não-naturais terrestres são produzidos pela
inteligência humana, os fenômenos da Natureza são também produzidos por uma
Inteligência. Isso não pode ser comprovado. Esse argumento, explicam muitos
filósofos, forma-se por analogia, e por isso merece pouca confiabilidade. Ele é
muito usado na Ciência do Direito, e eu, como os demais aposentados do Banco do
Brasil, sofremos muito as consequências desse raciocínio mal aplicado...
Muitos filósofos,
pois, não reconhecem validade nessa argumentação. E, curioso, a mitologia grega
acha que tudo teve origem no Caos, isto é, no vazio abissal, na escuridão vazia
e ilimitada, na massa informe, mas fecundante. E Charles Darwin diz que tudo
foi produzido pelo acaso e as circunstâncias. E o filósofo Aristóteles afirma
que o “poder ser é uma realidade”, que ainda não é o ser, e acredite, compõe
tudo o que é ser material!... Tomaz de Aquino afirma que “esse poder ser” não
compõe os seres imateriais... Será que estes não podem ser?... O que Darwin e a
Ciência afirmam é que o organizado procede do desorganizado, do caos, do
disforme. O que a Ciência constata é que maior perfeição pode existir em seres
mais compostos. O importante é a sinergia das partes.
Assim, não vou
apelar para o argumento religioso na circunstância atual de sua existência. Não
acredito nele. Entre muitas outras coisas, não acredito em Deus e Homem
verdadeiro, numa só pessoa, a de Jesus Cristo. Esse ato de fé é muito difícil,
tanto que se diz que é um ato de fé, e não uma verdade que se prove. Não
acredito em pecado original, do qual a Humanidade toda seja dele herdeira, tal
qual herda o DNA. Não acredito em Unidade e Trindade divinas, ao mesmo tempo.
Não acredito que Deus possa ser tão amante do Homem, que se faça Homem e morra
para tornar o Homem seu irmão, isto é, Deus também. Não acredito que Deus seja
capaz de criar essa Humanidade toda – a que já existiu, os sete trilhões de
pessoas que hoje existem, e todas as que ainda existirão, até o fim dos milhões
de anos do planeta Terra – escolhendo apenas um grupinho delas para serem
felizes no Céu e relegando a quase totalidade para padecer castigos
atrocíssimos do Inferno sem fim. Acho mais fácil dizer que isso é uma evolução
da Mitologia Greco-romana (deuses que são homens imortais e poderosíssimos),
misturada com a fé em Jeová na mente genial de Paulo de Tarso, judeu por
nascimento e romano por cidadania.
Vou simplesmente
explicar como encaro a existência e como essa visão da existência me faz tranquilo
e feliz, seja qual for a circunstância.
A minha atitude
perante a vida se resume naquele verso de Virgílio: FELIZ É O HOMEM QUE COMPREENDE A
EXISTÊNCIA E CONTROLA TODAS AS ANGÚSTIAS, O IMPLACÁVEL DESTINO E A TRAGÉDIA DA
MORTE. Esse pensamento me diz que eu fui premiado pela Vida com a
existência. Eu tenho o privilégio entre um número incontável de espermatozoides
e óvulos de ter nascido, isto é, de ter um período de viver, de experimentar
tipos diversos de sensações agradáveis e desagradáveis. Um período, portanto,
um tempo limitado. A morte é para mim um fato natural. Ela não me angustia,
portanto. É o que me diz Virgílio sobre a morte. Se eu compreendo a existência,
isto é, que a morte faz parte da existência, a morte não me assombra.
E aqui entra o
outro pensamento básico de minha compreensão da vida. Ele está na frase famosa
de Ortega y Gasset: EU SOU EU E MINHAS CIRCUNSTÂNCIAS. Você, meu amigo, é esse
filme que se desenrola em sua mente, quando você se recolhe dentro de si mesmo.
É esse filme, que a memória lhe exibe com um começo, lá em sua distante cidade
natal, e que, em se acabando com a morte, não mais existe. Esse seu filme é
único, é você. Eu já sou outro filme.
Eu sou, até certo
ponto, produtor desse meu filme, é verdade. Mas, muita coisa, mesmo as minhas
reações e o que produzo, é fruto das circunstâncias também. É o implacável
destino de que fala Virgílio. Tudo o que acontece na Natureza e na vida humana
se faz condicionado pelas circunstâncias, pelo meio ambiente. Há até alguns
filósofos que dizem que a liberdade humana é uma ilusão! Robert Lent,
neurologista famoso da UFRJ, e autor de
notável livro texto de neurociência, chama a atenção para isso: até onde somos
verdadeiramente livres?
Então, meu amigo,
esta é a minha vida. Boa ou ruim, ela é única, é a minha, ela foi e é assim até
hoje. Daqui para a frente, talvez eu a possa mudar. Não sei se poderia tê-la
feito diferente. Talvez até pudesse. Mas, não a fiz. Ela é esse processo
cinematográfico que a memória me desenrola na mente. Foi cheia de momentos
prazerosos. Teve fases difíceis. Constam até recordações, que eu desejaria
apagar. Deixemo-las lá. Elas fazem parte da minha vida. Sem elas, não mais
seria a minha vida.
A vida é um
processo, isto é, é um fluir encadeado de fatos. É um processo de aprendizagem,
desde o nascimento até a morte. E o método natural de aprendizagem é o de
tentativas e erros. E os erros contribuíram para construir a minha vida. Por
isso, dizia o poeta latino Terêncio: SOU HOMEM, NADA DO QUE É HUMANO ME É
ESTRANHO. Ele quis dizer que todos os sentimentos, emoções e paixões,
bons ou maus, que geraram ações boas ou más, praticadas por outras pessoas, ele
também as experimentava. O passado só existe hoje na nossa memória e nas consequências
concretas que nos constituem hoje. Por tudo isso, o passado é valioso para mim.
É o que eu sou. E sou muita coisa maravilhosa. E sou uma coisa singular.
Thomas Hobbes
disse que a própria felicidade é um processo, não é um bem a conquistar.
Outros, como o Henfil, expressam essa ideia com aquela imagem de que a
felicidade é a viagem, não é o destino. E isso está bem de acordo com o
pensamento de Ortega y Gasset e com o fenômeno da plasticidade da mente
descrito pela neurociência. A mente humana é de tal forma adaptável que as
circunstâncias, o ambiente natural e social, a cultura, podem fazer do homem
qualquer coisa. Habite entre as feras quadrúpedes e o homem será uma fera
quadrúpede. Habite entre músicos e será músico. Habite entre trapaceiros e será
trapaceiro. Habite entre bandidos e será bandido. Habite entre cientistas e
será cientista. É o que diz aquele ditado popular: DIZE-ME COM QUEM ANDAS E
DIR-TE-EI QUEM ÉS. E assim entende-se por que existem bandidos,
trapaceiros, artistas, desportistas e cientistas. Eles são como o ambiente os
moldou e são felizes em sendo o que são. Felizes como cientistas, como
bandidos, como trapaceiros, como artistas, como jogadores de futebol.
Entende-se, assim, porque o filósofo Pierre Baile afirmava: ENCONTRO
DOÇURA E REPOUSO NOS ESTUDOS EM QUE ME TENHO EMPENHADO E QUE ME DELEITAM.
Nem mesmo isso,
porém, implica em determinismo absoluto e previsível do futuro humano, porque,
como ensina a teoria do caos, até mesmo insignificante e imperceptível vetor
ambiental pode avolumar-se, prevalecer e definir o futuro!
Esta reflexão já
está longa em demasia. Mas, quero lembrar-lhe uma coisa: o passado já não
existe, o futuro ainda não chegou nem mesmo sei se virá, só o presente existe e, por isso, se chama presente. Este presente eu
posso moldar.
E vou encerrar
com alguns pensamentos que colhi por aí nas mensagens que recebo
cotidianamente:
A razão de sua
vida é você mesmo.
Pare de pensar
mal de você mesmo e seja seu melhor amigo sempre.Pare de colocar sua felicidade cada dia mais distante de você. Não coloque objetivo longe demais de suas mãos, abrace os que estão ao seu alcance hoje.
Ninguém é dono da sua felicidade, por isso não entregue sua alegria, sua paz, sua vida nas mãos de ninguém, absolutamente ninguém.
Somos livres, não pertencemos a ninguém e não podemos querer ser donos dos desejos, da vontade ou dos sonhos de quem quer que seja.
Trabalhe, trabalhe muito a seu favor.
Pare de esperar a felicidade sem esforços.
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