quarta-feira, 3 de junho de 2020

496. Jean Baptiste Say


Jean Baptiste Say foi cidadão francês, filho de um comerciante. Inicialmente trabalhou para empresas na França e na Inglaterra. Tornou-se industrial e jornalista. Napoleão interessou-se por sua colaboração na área econômica do governo da França.  E é um dos economistas clássicos. Escreveu vários estudos sobre Economia, entre eles sua obra célebre, o Tratado de Economia Política.
Esta obra, que é dividida em três livros, é precedida por um Discurso Preliminar, interessante composição, onde ele tece varias considerações sobre o Tratado.
Surpreendeu-me na leitura dessa peça introdutória a apreciação inicial que profere acerca da famosa obra “A Riqueza das Nações” de Adam Smith: “A obra de Smith não passa de um agregado confuso dos princípios mais sadios da Economia Política apoiados em exemplos esclarecedores e das noções mais curiosas da Estatística misturadas a instrutivas reflexões; não é, porém, um tratado completo de nenhuma das duas ciências Seu livro é um imenso caos de ideias corretas de mistura com conhecimentos positivos.”
Logo voltei à normalidade, quando me deparei com expressões elogiosas a Adam Smith: “Em 1776, Adam Smith publicou seu livro intitulado “Investigações Sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”. Nele demonstrou que a riqueza é o valor de troca das coisas, que seríamos mais ricos quanto mais coisas possuíssemos que tivessem valor e que, visto que o valor podia ser conferido, acrescentado à matéria, a riqueza podia ser criada, fixar-se em coisas anteriormente desprovidas de valor, nelas conservar-se, acumular-se, e destruir-se. Investigando o que confere valor às coisas, Smith descobre que é o trabalho humano, que ele deveria ter chamado de indústria...Dessa demonstração fecunda, ele tira consequências múltiplas e importantes sobre as causas que, prejudicando o desenvolvimento das faculdades produtivas, prejudicam  a multiplicação da riqueza.... Quando se lê Smith como merece ser lido, percebe-se que antes dele não havia Economia Política...Como consequência, a prata e o ouro monetizados tornaram-se apenas uma parcela e mesmo uma parcela pequena de nossas riquezas, parcela pouco importante... Compreende-se que essas ideias tenham permitido a Smith determinar, pela primeira vez em toda a sua extensão, as verdadeiras funções da moeda da sociedade, e as aplicações que ele faz dessas funções aos bilhetes dos bancos e ao papel-moeda são da maior aplicação pratica. Tais aplicações forneceram-lhe o meio para provar que um capital produtivo não consiste numa soma de dinheiro, mas no valor das coisas que servem à produção... Antes de Smith. princípios certamente verdadeiros já haviam sido propostos várias vezes, ele foi, todavia, o primeiro a mostrar por que eram verdadeiros...Fez ainda mais, forneceu o verdadeiro método para assinalar os erros; aplicou à Economia Política a nova maneira de abordar as ciências, não mediante investigação abstrata de seus princípios, mas a partir dos fatos mais constantemente observados às leis gerais das quais são consequência... A obra de Smith constitui uma sequência de demonstrações que elevaram várias proposições ao nível de princípios incontestáveis e que mergulharam um número bem maior de outras proposições naquele sorvedouro onde as ideias vagas e hipotéticas, os devaneios extravagantes, agitam-se certo tempo antes de submergir para sempre.”
E prossegue numa crítica ao trabalho de Smith, iniciada com a seguinte justificativa: “Após haver mostrado, tanto quanto possível num esboço tão rápido, os progressos que a Economia Política deve a Smith, será talvez útil indicar, de maneira igualmente sumária, alguns dos pontos em que ele parece ter-se enganado ou que deixou de esclarecer”.

Mais à frente, ele justifica a publicação do Tratado: “Ainda não tínhamos entretanto um verdadeiro tratado de Economia Política, não dispúnhamos de nenhuma obra na qual boas observações fossem reduzidas a princípios gerais capazes de serem aceitos por todos os homens judiciosos, na qual essas observações e princípios estivessem acabados e coordenados de maneira a se fortalecerem mutuamente, podendo ser estudados com proveito  em todos os tempos e lugares. Para tornar-me capaz de tentar escrever obra tão útil, fui obrigado a estudar o que havia sido escrito antes de mim e a esquecê-lo em seguida... para não me deixar perder por nenhum dogmatismo e poder, a cada momento, consultar livremente a natureza e o curso das coisas tais como a sociedade no-los apresenta. Educado no comércio e para o comércio, mas chamado pelos acontecimentos a ocupar-me dos assuntos públicos, levei para essa ocupação uma experiência que os administradores e as pessoas formadas em letras nem sempre possuem. Pode-se portanto considerar este livro como fruto tanto da prática quanto do estudo. Ao escrevê-lo não tive em vista nenhum interesse pessoal, não tinha nenhuma doutrina preconcebida a defender, nenhuma tese a demonstrar. Meu objetivo era simplesmente expor  como as riquezas se formam, se distribuem e se destroem. Como podia conseguir o conhecimento desses fatos? Observando-os. É o resultado dessas observações  que ofereço aqui. Qualquer um poderá refazê-las. Quanto às conclusões gerais que delas tiro, cada um deverá julgá-las... Isso não é tudo: era preciso expor e provar, de maneira breve e clara, os sólidos princípios já afirmados antes de mim, estabelecer aqueles que que ainda não foram assentados e unir o todo de uma maneira tal que que todos estivessem certos de que já não existe, nesse campo, nenhuma lacuna importante nem princípio fundamental a descobrir... Era preciso, enfim, tornar a doutrina de tal modo popular que qualquer pessoa dotada de reto bom senso pudesse aprendê-la em seu conjunto e em seus detalhes e aplicar os seus princípios a todas as circunstâncias da vida.”
No prefácio da edição brasileira do Tratado, que possuo (Editor Vitor Civita,1983), Georges Photios Tapinos, demógrafo grego, professor no Institut d’Études Politiques de Paris e diretor do Departement de Démographie Économique do Institut National d’Études Démographiques, relata que, de fato Say conseguiu realizar seu projeto: “O Tratado foi, na verdade, o primeiro livro  que ofereceu uma exposição, seguindo um plano rigoroso, do conjunto da ciência econômica Ele tem as qualidades e os defeitos de um manual, de um bom manual, É um livro claro,,, organizado... completo... elegante, porém pesado... novo, porém rapidamente obsoleto: aproximadamente quinze anos após a morte de Say, L. S. Mill publica os seus Princípios, livro de cabeceira de várias gerações, até que os Princípios de Marshall venham, por sua vez substituir os de Mill,”
(continua)

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