Jean Baptiste Say foi cidadão francês,
filho de um comerciante. Inicialmente trabalhou para empresas na França e na
Inglaterra. Tornou-se industrial e jornalista. Napoleão interessou-se por sua
colaboração na área econômica do governo da França. E é um dos economistas clássicos. Escreveu
vários estudos sobre Economia, entre eles sua obra célebre, o Tratado de
Economia Política.
Esta obra, que é dividida em três
livros, é precedida por um Discurso Preliminar, interessante composição, onde
ele tece varias considerações sobre o Tratado.
Surpreendeu-me na leitura dessa peça introdutória
a apreciação inicial que profere acerca da famosa obra “A Riqueza das Nações”
de Adam Smith: “A obra de Smith não passa de um agregado confuso dos princípios
mais sadios da Economia Política apoiados em exemplos esclarecedores e das
noções mais curiosas da Estatística misturadas a instrutivas reflexões; não é,
porém, um tratado completo de nenhuma das duas ciências Seu livro é um imenso
caos de ideias corretas de mistura com conhecimentos positivos.”
Logo voltei à normalidade, quando me
deparei com expressões elogiosas a Adam Smith: “Em 1776, Adam Smith publicou
seu livro intitulado “Investigações Sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das
Nações”. Nele demonstrou que a riqueza é o valor de troca das coisas, que
seríamos mais ricos quanto mais coisas possuíssemos que tivessem valor e que,
visto que o valor podia ser conferido, acrescentado à matéria, a riqueza podia
ser criada, fixar-se em coisas anteriormente desprovidas de valor, nelas
conservar-se, acumular-se, e destruir-se. Investigando o que confere valor às
coisas, Smith descobre que é o trabalho humano, que ele deveria ter chamado de
indústria...Dessa demonstração fecunda, ele tira consequências múltiplas e
importantes sobre as causas que, prejudicando o desenvolvimento das faculdades
produtivas, prejudicam a multiplicação
da riqueza.... Quando se lê Smith como merece ser lido, percebe-se que antes
dele não havia Economia Política...Como consequência, a prata e o ouro
monetizados tornaram-se apenas uma parcela e mesmo uma parcela pequena de
nossas riquezas, parcela pouco importante... Compreende-se que essas ideias
tenham permitido a Smith determinar, pela primeira vez em toda a sua extensão,
as verdadeiras funções da moeda da sociedade, e as aplicações que ele faz
dessas funções aos bilhetes dos bancos e ao papel-moeda são da maior aplicação
pratica. Tais aplicações forneceram-lhe o meio para provar que um capital
produtivo não consiste numa soma de dinheiro, mas no valor das coisas que
servem à produção... Antes de Smith. princípios certamente verdadeiros já
haviam sido propostos várias vezes, ele foi, todavia, o primeiro a mostrar por
que eram verdadeiros...Fez ainda mais, forneceu o verdadeiro método para
assinalar os erros; aplicou à Economia Política a nova maneira de abordar as
ciências, não mediante investigação abstrata de seus princípios, mas a partir
dos fatos mais constantemente observados às leis gerais das quais são consequência...
A obra de Smith constitui uma sequência de demonstrações que elevaram várias
proposições ao nível de princípios incontestáveis e que mergulharam um número
bem maior de outras proposições naquele sorvedouro onde as ideias vagas e
hipotéticas, os devaneios extravagantes, agitam-se certo tempo antes de submergir
para sempre.”
E prossegue numa crítica ao trabalho de
Smith, iniciada com a seguinte justificativa: “Após haver mostrado, tanto quanto
possível num esboço tão rápido, os progressos que a Economia Política deve a
Smith, será talvez útil indicar, de maneira igualmente sumária, alguns dos
pontos em que ele parece ter-se enganado ou que deixou de esclarecer”.
Mais à frente, ele justifica a
publicação do Tratado: “Ainda não tínhamos entretanto um verdadeiro tratado de
Economia Política, não dispúnhamos de nenhuma obra na qual boas observações
fossem reduzidas a princípios gerais capazes de serem aceitos por todos os
homens judiciosos, na qual essas observações e princípios estivessem acabados e
coordenados de maneira a se fortalecerem mutuamente, podendo ser estudados com
proveito em todos os tempos e lugares.
Para tornar-me capaz de tentar escrever obra tão útil, fui obrigado a estudar o
que havia sido escrito antes de mim e a esquecê-lo em seguida... para não me
deixar perder por nenhum dogmatismo e poder, a cada momento, consultar
livremente a natureza e o curso das coisas tais como a sociedade no-los
apresenta. Educado no comércio e para o comércio, mas chamado pelos
acontecimentos a ocupar-me dos assuntos públicos, levei para essa ocupação uma
experiência que os administradores e as pessoas formadas em letras nem sempre
possuem. Pode-se portanto considerar este livro como fruto tanto da prática quanto
do estudo. Ao escrevê-lo não tive em vista nenhum interesse pessoal, não tinha
nenhuma doutrina preconcebida a defender, nenhuma tese a demonstrar. Meu
objetivo era simplesmente expor como as
riquezas se formam, se distribuem e se destroem. Como podia conseguir o
conhecimento desses fatos? Observando-os. É o resultado dessas observações que ofereço aqui. Qualquer um poderá refazê-las.
Quanto às conclusões gerais que delas tiro, cada um deverá julgá-las... Isso
não é tudo: era preciso expor e provar, de maneira breve e clara, os sólidos
princípios já afirmados antes de mim, estabelecer aqueles que que ainda não
foram assentados e unir o todo de uma maneira tal que que todos estivessem
certos de que já não existe, nesse campo, nenhuma lacuna importante nem
princípio fundamental a descobrir... Era preciso, enfim, tornar a doutrina de
tal modo popular que qualquer pessoa dotada de reto bom senso pudesse
aprendê-la em seu conjunto e em seus detalhes e aplicar os seus princípios a
todas as circunstâncias da vida.”
No prefácio da edição brasileira do Tratado,
que possuo (Editor Vitor Civita,1983), Georges Photios Tapinos, demógrafo grego,
professor no Institut d’Études Politiques de Paris e diretor do Departement de
Démographie Économique do Institut National d’Études Démographiques, relata que,
de fato Say conseguiu realizar seu projeto: “O Tratado foi, na verdade, o
primeiro livro que ofereceu uma
exposição, seguindo um plano rigoroso, do conjunto da ciência econômica Ele tem
as qualidades e os defeitos de um manual, de um bom manual, É um livro claro,,,
organizado... completo... elegante, porém pesado... novo, porém rapidamente
obsoleto: aproximadamente quinze anos após a morte de Say, L. S. Mill publica
os seus Princípios, livro de cabeceira de várias gerações, até que os
Princípios de Marshall venham, por sua vez substituir os de Mill,”
(continua)
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