David Ricardo nasceu em Londres, filho de um judeu
português, que migrou para a Holanda e se fixou definitivamente naquela cidade,
onde Ricardo já aos 14 anos trabalhava. Operador da Bolsa de Valores como o
pai, enriqueceu e ingressou na política, tornando-se membro do Parlamento, da
corrente política whig, partido liberal. Converteu-se ao cristianismo
protestante para casar-se com uma quaker e, por isso, foi deserdado pelo pai.
Leu Adam Smith. Assimilou suas ideias econômicas e por elas
se orientou na vida dos negócios e na vida política. Seus artigos jornalísticos
sobre assunto monetário provocou uma comissão parlamentar que endossou suas
teses. Ricardo granjeou prestígio no meio científico, e se envolveu num
maravilhoso relacionamento de amizade e debate com os grandes economistas de
seu tempo: Malthus, Say e, sobretudo, James Stuart Mill, sem cujo persistente
estimulo, Ricardo haveria desistido de elaborar a sua principal obra
“Princípios de Economia Política e Tributação”, que foi precedida por duas
outras destacadas produções suas: “O alto preço do ouro, uma prova da
depreciação das notas bancárias” e “Ensaio sobre a influência de um baixo preço
do cereal sobre os lucros do capital,”
Possuo o “Princípios de Economia Política e Tributação”,
editado por Victor Civita, com Apresentação primorosa de Paulo Singer, que
resume o papel de David Ricardo na História da Economia: “Com a publicação dos
Princípios, Ricardo tornou-se – ao ver dos contemporâneos e dos pósteros – o
legítimo sucessor de Adam Smith como o grande mestre da Economia Política.”
No prefácio, o autor declara que o livro se propõe a
esclarecer como se distribui o produto da terra pelo dono da terra, o
capitalista e o trabalhador: “determinar as leis que regulam essa distribuição
é a principal questão da Economia política.” E abre o primeiro capítulo
tratando da Teoria do Valor, que
pensa consistir, opondo-se a Adam Smith, na “quantidade relativa de trabalho
necessário para sua produção, e não da maior ou menor remuneração que é paga
por esse trabalho”. Ele julga provada sua tese com o fato de que a tecnologia,
o emprego da máquina, baixa o valor das
coisas, o que ele atribui ao decréscimo de trabalho humano ao produzi-las, ao
alívio da penosidade ao produzi-la, à diminuição da dificuldade de
produzi-la e à diminuição do tempo para
produzi-la. A teoria ricardiana do valor trabalho gestou a teoria do valor
trabalho de Karl Marx e transbordou as controvérsias acadêmicas para os embates
ideológicos políticos que dividem a sociedade contemporânea até em conflagrações
bélicas. Ressalte-se que o próprio autor da teoria Valor-trabalho nunca se
sentiu plenamente confortável intelectualmente com sua conclusão: “Admito que
ela não é rigorosamente verdadeira, mas creio que é a que mais se aproxima da
verdade como regra mais adequada que conheço para medir o valor relativo.”,
confidenciou em carta a Malthus.
Paulo Singer narra que David Ricardo ingressou no debate científico
econômico a convite do proprietário do jornal Morning Chronicle, expondo, em
carta anônima, o seu pensamento sobre o fato de a libra-papel estar sendo
negociada abaixo de sua cotação oficial em ouro, a inflação que então ocorria
na Inglaterra em razão da guerra napoleônica. Sobre essa matéria, no
Parlamento, ele teve a oportunidade de elaborar uma Teoria Quantitativa da Moeda, “que até hoje fundamenta a teoria
monetária.” e estabeleceu as regras do Padrão
Ouro que regulou as transações cambiais internacionais até a Primeira
Guerra Mundial. A inflação, explicou ele, derivava da existência de muito ouro
e pouca mercadoria. Se deixasse livre o comércio internacional, importar-se-ia
a mercadoria estrangeira barata e exportar-se-ia o ouro abundante inglês, até
estancar a exportação do ouro no nível normal do valor da moeda nacional;
fenômeno semelhante ocorre, ao inverso, quando o ouro inglês é escasso e a
mercadoria abundante, a exportação de mercadoria se avoluma e o
ingresso de ouro se opera até normalizar a taxa de câmbio e estabilizar
o mercado. David Ricardo preconizava o liberalismo econômico, o livre mercado,
o laissez-faire, o não intervencionismo estatal.
David Ricardo celebrizou-se também por expor uma teoria da renda da terra. No seu tempo, a sociedade inglesa compunha-se,
sob o critério da atividade econômica, de três classes: o dono de terra que não
trabalhava e vivia da renda do aluguel da terra para o capitalista (renda da terra), que vivia do lucro da atividade de cultivo da terra
proporcionado pela negociação dos produtos que a atividade dos trabalhadores
extraía da terra com os instrumentos fornecidos pelo capitalista, e os
trabalhadores sobreviviam com o salário
que o capitalista lhes pagava. Com o aumento da população, explica Ricardo,
aumenta a demanda por alimento e o capitalista, portanto, procura mais terra
para produzir mais alimento e lucrar com a venda de alimento. Assim, cada vez
mais terra menos fértil entra em atividade produzindo menos, com aluguel e
salários mais caros, o que resulta em lucro cada vez menor, até que atinja
valor que torne desinteressante o empreendimento agrícola. O salário se
valoriza limitadamente, porque sempre se mantém no nível da subsistência, como
explicara Malthus. Então, o grande beneficiário é, de fato, o dono da terra, o
beneficiário da renda da terra que cresce significativamente.
Assinale-se, por oportuno, que nesta teoria da renda,
Ricardo faz a utilização do importante princípio
dos rendimentos decrescentes, bem como da teoria do investimento como
propulsor do crescimento econômico.
Outro notável legado de Ricardo foi o Princípio da Vantagem Comparativa. Adam Smith definira a
importância da vantagem absoluta: cada um deve dedicar-se a produzir aquilo que
ele faz melhor que qualquer outra pessoa. Ricardo consagrou indelevelmente o
princípio da vantagem comparativa: cada um deve dedicar-se a produzir o que ele
faz melhor, mesmo que o faça pior que todos os outros. Esse princípio é
importantíssimo porque ele é o princípio basilar da produtividade, do
crescimento econômico, do progresso econômico, a razão de ser da existência da
pesquisa econômica, da ciência econômica.
Esse é o legado de David Ricardo para a ciência econômica e
para o bem da Humanidade. A Ciência econômica e a Humanidade devem imenso e
imorredouro reconhecimento ao tímido cidadão inglês, político e operador da
Bolsa de Valores de Londres, que tem origem lusitana e duvidava de sua
capacidade de gestar conhecimento, que o tempo demonstrou altamente benéfico
para a Humanidade.
Felipe Osório da Silveira disse...
ResponderExcluirO que vai acontecer com o dinheiro do P1 após o falecimento de todos os participantes?
8 de junho de 2020 14:04 (blog do Dr. Medeiros)
- Felipe e colegas de blog,
Entretanto, encontramos na Internet o seguinte fragmento de texto:
[...] Colchão de liquidez
Apesar do atual quadro conjuntural desfavorável, a entidade de previdência, que distribui anualmente R$ 13 bilhões em benefícios, não enxerga nenhum risco de descontinuidade dos pagamentos.
“Conseguimos passar pelo período de volatilidade sem ter de realizar a venda de qualquer ativo fora do preço justo pelo menos até o segundo semestre de 2021.”
Marcelo Wagner, diretor de investimentos da Previ [...]
(fragmento de texto encontrado na Internet: "Previ: as oportunidades que o maior fundo de pensão do país tem aproveitado na crise")
Três coisas chamam nossa atenção: (1) o fundo Previ é um fundo maduro, portanto, arrecada menos que distribui (R$ 13 bi /ano);(2) a parte de renda variável do fundo Previ é muito fragilizada, devido à concentração em títulos sem substância, eg. Vale e Petrobras; (3) ademais, sustentamos que o preço é secundário. A Bolsa, como toda conspiração, depois de revelada tende a deixar de existir. Em outros termos, o indicador ótimo é o tempo. Tempo que falta para o preço se igualar ao valor. Neste sentido, o seguinte fragmento de texto encontrado na literatura técnica:
[...] Les théoriciens de la valeur travail (Smith, Ricardo et Marx ) reconnaissent d'ailleurs explicitement que d'importants écarts peuvent exister entre ces deux grandeurs. En effet, à leurs yeux, si les évolutions de la valeur sont au fondement des évolutions des prix, la conformité entre valeur et prix ne prévaut que tendanciellement, sur le long terme. (18)
Traduzindo:
[...] De fato, os teóricos do valor do trabalho (Smith, Ricardo e Marx ) reconhecem explicitamente que pode haver grandes diferenças entre essas duas quantidades. De facto, na sua opinião, embora a evolução do valor seja a base da evolução dos preços, a conformidade entre o valor e o preço tende a prevalecer apenas a longo prazo. (18)
Farol amarelo?
(18) digamo.free.fr/empirval.pdf;
PIOROU . MORREU CARLOS FERES
ResponderExcluirquinta-feira, 11 de junho de 2020
[...] O FED manifestou preocupação com o reaquecimento da economia e sinalizou pessimismo com a retomada das atividades. Bastou isso é a bolsa que vinha de um rali espetacular de sete altas seguidas, quase atingindo 100 mil pontos, recuou para 94.000 e teve duas baixas expressivas, a última de dois por cento. [...]
Postado por Medeiros às 17:10
- [...] Les théoriciens de la valeur travail (Smith, Ricardo et Marx ) reconnaissent d'ailleurs explicitement que d'importants écarts peuvent exister entre ces deux grandeurs. En effet, à leurs yeux, si les évolutions de la valeur sont au fondement des évolutions des prix, la conformité entre valeur et prix ne prévaut que tendanciellement, sur le long terme. (18)
Traduzindo:
[...] De fato, os teóricos do valor do trabalho (Smith, Ricardo e Marx ) reconhecem explicitamente que pode haver grandes diferenças entre essas duas quantidades. De facto, na sua opinião, embora a evolução do valor seja a base da evolução dos preços, a conformidade entre o valor e o preço tende a prevalecer apenas a longo prazo. (18)
Ademais, sustentamos que o preço de mercado é secundário. A Bolsa, como toda conspiração, depois de revelada tende a deixar de existir. Em outros termos, o indicador ótimo é o tempo. Tempo que falta para o preço se igualar ao valor, como o fragmento de texto acima sugere.
Por oportuno, sustentamos que a Tendência da Bolsa Brasileira é de Baixa Irreversível, doravante "TIBBB".
Em "TIBBB", os últimos a vender são os que mais perdem...
(18) digamo.free.fr/empirval.pdf;
Colamos no blog do Dr. Medeiros
ResponderExcluirContinuação de nosso comentário de 15 de junho de 2020 00:15
No comentário mencionado sustentamos duas coisas: (1) o "preço de mercado" é apenas um indicador secundário; (2) o indicador ótimo em Bolsa de Valores é o "tempo".
Igualmente, podemos sustentar tais afirmações por meio da leitura e posterior interpretação do seguinte fragmento de texto encontrado na literatura técnica:
[...] In the modern financial economy, the main effect of QE* is to boost asset prices, as market gyrations of recent weeks have clearly illustrated. But is the pursuit of higher asset prices an effective or desirable means of promoting economic growth? The distributional impact of the policy demands attention; the one certain consequence of boosting asset prices is that those with assets benefit relative to those without. Many people own houses – but, although in the UK, for example, we need more houses, we do not need another housing boom. The public also holds financial assets indirectly, largely through pension funds. But here there has been a paradoxical effect: because of the way pension funds are valued, QE has generally increased pension funds’ liabilities more than their assets.(49)
*Quantitative Expansion
Traduzindo:
Na economia financeira moderna, o principal efeito do QE é aumentar os preços dos ativos, como as oscilações do mercado das últimas semanas têm ilustrado claramente. Mas será a busca por maiores preços de ativos um meio eficaz ou desejável de promover o crescimento econômico? O impacto distributivo desta política exige atenção; a única consequência certa do aumento dos preços dos ativos é que aqueles com ativos se beneficiam em relação àqueles sem ativos. Muitas pessoas possuem casas - mas, embora no Reino Unido, por exemplo, precisemos de mais casas, não precisamos de outro boom habitacional. O público também detém ativos financeiros indiretamente, em grande parte por meio dos fundos de pensão. Mas aqui tem havido um efeito paradoxal: devido à forma como os fundos de pensão são avaliados, o QE tem geralmente aumentado mais as obrigações dos fundos de pensão do que dos seus ativos.(49)
O “QE” é a espécie mais recente de desenvolvimento do gênero “liquidez”. O economista britânico, John Kay, acima sustenta, que "o principal efeito do QE é aumentar os preços dos ativos, como as oscilações de mercado das últimas semanas têm ilustrado claramente". Entretanto, pretendemos aqui enfatizar o efeito paradoxal igualmente acima observado pelo mencionado economista: "devido à forma como os fundos de pensão são avaliados, o QE tem geralmente aumentado mais as obrigações dos fundos de pensão do que dos seus ativos".
Adicionalmente, quer nos parecer que a observação do economista britânico, acima mencionada, seria igualmente um exemplo de algo que sustentamos na primeira hipótese: a liquidez NÃO é uma vantagem para TODOS. Em outros termos, não nos parece equivocado dizermos: (1) o "preço de mercado" é apenas um indicador secundário; (2) em Bolsa de Valores o indicador ótimo é o "tempo".
(49)http://www.johnkay.com/2013/07/10/ quantitative-easing-and-the-curious- case-of-the-leaky-bucket/;